Décima Dos Potreadores
(Eliezer Tadeu Dias de Sousa, César Oliveira)
Enquanto o mundo for mundo e um potro arrastar o toso
Se orquetá num cusquilhoso, será uma ginete constância
E na mangueira das estâncias ao formar a cavalhada
Haverá uma reservada prá que alguém prove o tranco
E há de estar um minga blanco prá topar essa bolada.
Filósofo de à cavalo, Saragoza, um cruzador
Esse platino condor que tempo adentro revoa
E a sua fama encordoa para amansar os anseios
Socando bocal e freios nas esperanças potreadas
No seu reino das estradas sobre o trono dos arreios.
Sid Vigil, potreador, por todo pago que ande
Ginete do meu Rio Grande, raiz de pátria e querência
Largando sua descendência sobre petiços d’em pêlo
É um gauchaço modelo, grudado em lombos de potros
E mesmo que surjam outros, servirá qual um sinuelo.
Dom Raul Beliciartu, irmão de pátria parceira
Que atravessou a fronteira trazendo potros por diante
Um ginetaço, um andante, amanuciando as distâncias
Domando léguas de ânsias, repassa sonhos bolidos
E galopeia os sentidos no varzedo das estâncias.
Almeida, melena branca, centauro nesta fronteira
No laço e na boleadeira traz maçarocas de crina
É um cacique na campina com lunarejos de allá
O rancho de lado de cá, a divisa, um fio de lombo
E as esporas que é um assombro nos costilhar do Aceguá
Jardim Silva e Alberdanha e outros que omiti
Me perdoem, porque aqui o tempo se pára escasso
Já na presilha do laço o verso é tropa, se afina
Já rebentou toda crina e falta força na perna
É a lei que nos governa, o que começa termina
Pra O Índio Que Gineteia
(Rogério Villagrán, César Oliveira)
Quando me salta um floreio
De milonga pela boca
Me dá uma vontade louca
De “atorá” a guitarra ao meio
Sou um homem dos arreios
Conheço parada feia
Pois trago dentro das veias
Minha estampa palanqueada
E esta cantiga aporreada
Pra o índio que gineteia
Ginetear é uma vocação
Que o índio já trás de berço
Onde aprende a rezar o terço
Desta chucra religião
Pois quem trás no coração
Tropilhas de mal-costeados
Crinudos e descrinados
Maulas da marca borrada
São mestres das gineteadas
Entre potros e aporreados.
O mundo troca de ponta
E a vida toreia a morte
Porque o destino e a sorte
De gineteadas nos contam
De baguais que se desmontam
No meio da polvadeira
Treme o chão da fronteira
Quando um paysano se atora
Amarrando um par de esporas
Num par de botas “potreiras”.
Quem tem alma de palanque
Conhece a força do lombo
Mas não se entrega num tombo
Se algum corcóvo lhe arranque
Porque a volta do rebenque
Num floreio rasga o vento
A coragem é um sentimento
Que fez do taura um sulino
Esporeador dos malinos
Que sentem “cosca” do tento.
Pra o índio que gineteia
Este cantar é um regalo
Pois quando empeço a cantá-lo
O meu sangue corcoveia
Uma ânsia se boleia
“Inté” parece feitiço
Pois me agrada o reboliço
Que se apronta mano a mano
Co’as garras de algum paysano
Ou os ferros de um fronteiriço.