Mostrando postagens com marcador Rogério Melo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rogério Melo. Mostrar todas as postagens

Estampa Domingueira


Estampa Domingueira
(Alex Silveira, Carlos Madruga)
                     
Linda minha estampa domingueira
Quando chego no povoado
Trago além da minha fronteira
Uma sina musiqueira
De quem vem contrabandeado.

Bueno este potro de rendilha
Num trancão de pisa-flor
De uma pelagem tordilha
Traz a origem da tropilha
Pela mão do domador.

Chego, já na frente da janela
De um ranchito bem cuidado
Assoviando algo pra ela
Que esta copla tão singela
Eu compus pra o seu agrado.

Olhos de pealar um coração
Na minha vida tão pequena
Do aguapé de um lagoão
Trago a flor do meu rincão
Pra o cabelo da morena.

Pra estância que vou cantando uma tirana
Mas eu sei que vou voltar
Que passe logo a semana
Pois deixei pra queromana
Meu pala pra ela guardar.

Bueno este potro de rendilha
Num trancão de pisa-flor...


Regional


Regional
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Regional é uma criolla; arte, cultura campeira
Um rangido de basteira, um redomão de bocal
Um universo rural num sentimento profundo
Que antes de sermos do mundo, temos que ser regional

Meu canto crioulo é qual pasto nativo
Que brota com força e se estende na pampa
Juntou rebeldias pelas recolutas
Da raça mais bruta herdou essa estampa

É grito tropeiro, é mugido de tropa
E assim se alvorota pedindo bolada
Cincerro de bronze chamando a tropilha
Clarim farroupilha anunciando alvorada

Curtido a Minuano e a pó de mangueira
A berro de touro e relincho de potro
Moldei este canto pra hino campeiro
Por ser verdadeiro é sinuelo pra os outros

Se quedou então Regional
Pela tradição que traduz o seu jeito
Tendo sentimento de pátria no sangue
E amor ao Rio Grande batendo no peito

Regional por devoção, regional de nascimento
Regional no pensamento, na conduta e na emoção
Lá num oco do rincão trancando o pé na macega
Que um regional não se entrega tendo ou não tendo razão

Mistura de verso e resmungo de gaita
Conceito de povo templado na guerra
Que fez seu destino arrastando choronas
Gravando o idioma no lombo da terra

Carrega nas cinzas de cada memória
A alma e a história do pago ancestral
Forjadas num lenço, parte de bandeira
Brasão de fronteira, padrão Regional

Curtido a Minuano e a pó de mangueira
A berro de touro e relincho de potro
Moldei este canto pra hino campeiro
Por ser verdadeiro é sinuelo pra os outros

Se quedou então Regional
Pela tradição que traduz o seu jeito
Tendo sentimento de pátria no sangue
E amor ao Rio Grande batendo no peito

Meu canto crioulo é qual pasto nativo…

Aos Olhos Da Gente


Aos Olhos Da Gente
(Osmar Proença, Luciano Rodrigues)

O rumo que dei aos olhos se ergueu no lombo do cerro
E a moldura do meu pago se ajeitou no horizonte
Com paixões de três ontonte voltei beber na querência.
Porque a sede das ausências não se mata em outras fontes

O canto da siriema contraponteava o silêncio,
E as patas do meu confiança pisavam plumas no chão
Do freio a velha canção duetava com as esporas,
Estrelas frias de auroras que o céu moldou no clarão

Ao sul as garças voltavam pra querência do açude,
De sobrelombo nas nuvens que pastavam na campina,
Qual uma tropa teatina que se soltou do infinito
E esse rodeio bonito povoou-me alma e retina

Uma casinha modesta me cuidava lá de baixo,
Esperançando um aceno pra silhueta na janela
Talvez alguma donzela com paixões a florescer
Buscando ao entardecer um sonho além da cancela

O sol que aquece os andantes gastava as últimas brasas,
Mesclando sombra e clarão nas dobras das invernadas,
Nesta hora abençoada que traz grilos pras taperas
E a lua china gaudéria pra cirandar nas aguadas

Quanta coisa nos revela uma paisagem de estrada
Se o coração sabe ver e a alma sabe escutar,
Qualquer lugar é lugar para as mãos da natureza
Derramarem sua beleza e nos prender pelo olhar

Identidade De Campo

Identidade De Campo
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Ergo meu canto e me acho
“Muy gaúcho... Cual Martin Fierro”
E em qualquer lombo de cerro
Faço morada e me planto

Por Rio Grande me garanto!
Sempre que calço as esporas
E largo assim, campo a fora
Toda emoção deste canto.

Canto de pampa e estância
Mais novo a cada manhã,
Na goela de algum “tajã”
Semeia a sina andarilha...

É cheiro de maçanilha
Que brota xucra da terra,
Voz de querência que berra
Num parador de coxilha.

Num entrevero de patas
Meu canto é doma e carreira
É rangido de porteira
No vai e vem das cruzadas,

É a alma da gauchada
Nos gestos da minha gente
Que vive e morre contente
Só por se livre...e mais nada!

Sempre que canto... renasço!
Volto às planuras de novo
Buscando origens de um povo
Que fez pátria de a cavalo
E que deixou de regalo
Pra nós, herdeiros da história!
Um torrão pleno de glória
E a identidade ao cantá-lo.

Canto de tropa estendida,
Seiva de grama pisada
Pelos cascos da potrada
Que no varzedo retoça,

Fruta que aos poucos se adoça
A cada noite de geada
É chuva forte, guasqueada
Que nas estradas faz poça.

Canto as coisas do meu povo
Suas crenças, tradições
Campos, mangueiras, galpões
Gineteadas e bochinchos

Berros de touro, relinchos
Orquestrando as invernadas
Marcas de laço queimadas
Num tirador de capincho

Sempre que canto... renasço!
Volto às planuras de novo
Buscando origens de um povo
Que fez pátria de a cavalo
E que deixou de regalo
Pra nós, herdeiros da história!
Um torrão pleno de glória
E a identidade ao cantá-lo.

Os Loco Da Fronteira

Os Loco Da Fronteira
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Não afroxemo nem os lançante
Pois semo loco de dá com um pau
Cruzemo a nado se o rio não dá vau
Neste mundo véio flor de cabuloso
E o mala bruja quando esconde o toso
Nós esporiemo bem no sangrador
Em rancho de china, se campiemo amor
Entremo sem sono e garantimo o poso

Semo medonho no cabo da dança
Gostemo mesmo é do bochincho grosso
Que é pra sair tramando o pescoço
Ao trote largo nalguma rancheira
E bem campante, levantando poeira
Coisa gaúcha, vício de campanha
Limpemo a goela num trago de canha
Pois semo loco de lá da fronteira

Semo bem loco, loco de bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve e viremo a cabeça
Por Deus, paysano! Ninguém ataca

Nós semo loco lá da fronteira
De raça tranquila, mas de pouca cincha!
E de vereda quando o lombo incha
Saiam de perto que a xucreza é tanta
Cremo em percanta que seja percanta
Apartemo os maula pra outra invernada
E a nossa bebida mais sofisticada
É canha gelada, num “samba com fanta”

Nós semo loco, mas não semo bobo
Semo parceiro de quem é parceiro
Nas horas brabas e no entrevero
Nunca dexamo um amigo solito
Pode ser feio pode ser bonito
Mas é nosso jeito de levar a vida
Por ser de campo e por gostar da lida
É que volta e meia nós preguemo o grito

Semo bem loco, loco de bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve e viremo a cabeça
Por Deus, paysano! Ninguém ataca

O Campo

O Campo
(André Oliveira, Rogério Melo)

Parou o pampeano
Esbarrou um picaço
Estendeu-se o laço
Da ilhapa à presilha
Do outro lado um gateado
Cinchava uma pata
O boi berra e se estaca
Prevendo a sangria
Na ponta da faca
O destino é traçado
E o sangrador e cortado
Manchando as flexilhas

Afrouxaram-se os laços
O pampeano se ajoelha
Sobre a mancha vermelha
No chão do potreiro
A folha chairada
Já risca o couro
No ritual crioulo
De um pago fronteiro
Se foi mais um boi
Pra “corda” e munício
E o matambre pro vício
Do assado campeiro

A força do campo
Rebrota invernadas
Engorda boiada
E sustenta a nação
É a mesma contida e vivida
Ostentando esta vida
Deste sul de rincão.
E o campo de novo
Viçoso floresce
Pois tem alicerce
De várzea e coxilha
Renasce na morte
E se torna mais forte
Bebendo a sangria.

E assim segue a lida
Tranqueando na estância
Firmando a constância
De manter existência
Levando a pecuária
Em ranchos e galpões
Em sobrados e mansões
Em longínquas querências
Pra que o mundo conheça
O valor de uma raça
Mostrando o que passa
O campo e sua essência

A força do campo
Rebrota invernadas
Engorda boiada
E sustenta a nação
É a mesma contida e vivida
Ostentando esta vida
Deste sul de rincão.
E o campo de novo
Viçoso floresce
Pois tem alicerce
De várzea e coxilha
Renasce na morte
E se torna mais forte
Bebendo a sangria.

Coplas De Tosador

Coplas De Tosador
(Francisco Luzardo, Rogério Melo, Giovani Vieira)

Tá chegando as esquilas!
Já sinto cheiro de cera, e as comparsas da fronteira
Já andam reculutando a indiada flor de tesoura
Que grude de toda folha e o couro fique alumiando!

Já desaguachei a moura
Afiei bem as tesouras
Tô pronto pro que vier
Ferro com as folha benzida
E os braços pra ganhá a vida
No cabo desses talher

Vou me enturmar na comparsa
Que vai lá pra Paz das Garças
Tosar miles de capão
Corriedale sem escolha
De mete de toda folha
Acolherando as duas mãos

Sendo pra lotá ficheira
Me tapo de lã e cera
Pouco me importa o calor
Se resolvo soltá o braço
Quase mato no cansaço
Quem se mete a agarrador

É dois pulsos no martelo
Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador
Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada
Berrando pra o tosador

Grudo a marca santaninha
Solto lisa e rosadinha
Porque o braço não se micha!
E n’alguma escapada
Boto cortiça queimada
Garanto que não abicha!

Se me topo com as mirina
Apelo pra cangibrina
Arrolhadita atrás da porta
E no couro murcilhado
Sigo de ferro embuchado
Nas rugas campeando as volta

A pobreza é igual capacho
E só biqueando por baixo
Que um pobre cristão se safa
Quando largo da tesoura
Nas patas da minha moura
Prossigo espichando a safra!

É dois pulsos no martelo
Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador
Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada
Berrando pra o tosador

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma
(Adriano Alves, Osmar Proença, Marcelo Oliveira)

Uma lágrima encheu os rios da face
De um bisavô, ao visitar o seu passado
Entre lembranças dissipadas pelo tempo
Iguais retratos que envelhecem, desbotados

E na cacimba de água clara das retinas
Se refletiu aquele tempo que se foi
Do povo índio defendendo a sua terra
Até os tropeiros das canções do êra boi

Falou de escravos derramando suor e sangue
Cercas, mangueiras, levantando em pedras mouras
De mãos rurais antes de lanças e garruchas
Pelos galpões, firmando o pulso nas tesouras

Cordas sovadas pelas mãos de homens campeiros
Cimbrando golpes no sustento dos rituais
As nazarenas nos garrões dos domadores
E as boleadeiras em mundéus para os baguais

E através do espelho da alma pude ver
Que o ancestral e o campo sentem a mesma dor
Feito uma tropa que se vai, gastando léguas
Sem nem saber o que há no fim do corredor

Mirando o largo um horizonte dos meus olhos
Sentiu o campo, maltratado em sua essência
Falsos herdeiros reclamando a velha terra
Sem nem notícias das origens ou querência

E viu que os homens continuam sendo escravos
Que há fios de arame no lugar de pedras mouras
Que mãos ociosas erguem foices e bandeiras
Enquanto isso, enferrujam-se as tesouras

Viu os arreios encilhando cavaletes
Sovéus e laços sem espaço pra os pealos
Que sem garrões, as nazarenas silenciaram
E as boleadeiras se esqueceram dos cavalos

E através do espelho d'alma, pode ver
Que a tropa anda e mais comprido é o corredor
E que o campo, embora guapo, se ressente
E sem querer, segue sofrendo a mesma dor