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Volta de Tropa

Volta de Tropa
(Eliezer Tadeu Dias De Sousa, Luiz Marenco)

Tropa entregue, trote largo, retorno hoje a querência
Vou ruminando ausência que pastejei nos caminhos
E essa ânsia de carinhos numa carência baguala
Que aos tropeiros embuçala quando andejam sozinhos

Meu flete trocando orelhas, sonorizando esporas
Como uma dança das horas de cascos ferindo pastos
E este rangido de bastos se completa em melodias
Na gaita das sesmarias, por onde deixo os meus rastros

Que lindo ver a querência, cada serro, cada aguada
Pra quem cruzou madrugadas nas rondas sonhando vê-las
Vem uma lágrima sinuela ponteando a felicidade
De quem viveu na saudade entre a pampa e as estrelas

No oitão do rancho a china, sangrando noites de espera
Num riso de primavera, reflorescendo faceira
É uma flor de corticeira da minha pampa bravia
Que ficou contando os dias, mirando a luz da boieira



INTÉRPRETE: LUIZ MARENCO


Décima Dos Potreadores

Décima Dos Potreadores
(Eliezer Tadeu Dias de Sousa, César Oliveira)

Enquanto o mundo for mundo e um potro arrastar o toso
Se orquetá num cusquilhoso, será uma ginete constância
E na mangueira das estâncias ao formar a cavalhada
Haverá uma reservada prá que alguém prove o tranco
E há de estar um minga blanco prá topar essa bolada.

Filósofo de à cavalo, Saragoza, um cruzador
Esse platino condor que tempo adentro revoa
E a sua fama encordoa para amansar os anseios
Socando bocal e freios nas esperanças potreadas
No seu reino das estradas sobre o trono dos arreios.

Sid Vigil, potreador, por todo pago que ande
Ginete do meu Rio Grande, raiz de pátria e querência
Largando sua descendência sobre petiços d’em pêlo
É um gauchaço modelo, grudado em lombos de potros
E mesmo que surjam outros, servirá qual um sinuelo.

Dom Raul Beliciartu, irmão de pátria parceira
Que atravessou a fronteira trazendo potros por diante
Um ginetaço, um andante, amanuciando as distâncias
Domando léguas de ânsias, repassa sonhos bolidos
E galopeia os sentidos no varzedo das estâncias.

Almeida, melena branca, centauro nesta fronteira
No laço e na boleadeira traz maçarocas de crina
É um cacique na campina com lunarejos de allá
O rancho de lado de cá, a divisa, um fio de lombo
E as esporas que é um assombro nos costilhar do Aceguá

Jardim Silva e Alberdanha e outros que omiti
Me perdoem, porque aqui o tempo se pára escasso
Já na presilha do laço o verso é tropa, se afina
Já rebentou toda crina e falta força na perna
É a lei que nos governa, o que começa termina

Canto Ao Pastoreio

Canto Ao Pastoreio
(Eliezer Tadeu Dias De Sousa, João Bosco Ayala)

Boleio a perna num verso...
Do verso faço uma prece...
A inspiração transparece
Num simbronaço de luz
Que este negrinho traduz
A devoção da minha raça,
Que vive pedindo graças,
Como a um segundo Jesus...

E, como tantos, pedi
E também fui atendido,
Achei os sonhos perdidos,
De adelgaçados anseios...
E agora que sento arreios,
No lombo desses rosilhos,
É graças a ti, que encilho,
Negrinho do Pastoreio...!

Escreves por linhas tortas,
De forma certa e parelha...
E segue batendo orelha
Com tantos santos sangrudos...
Canonizados, fachudos
No pedestal das igrejas,
Mas tu tens campo e carqueja
E o Rio Grande acima de tudo...!

Te quarteou outro moreno,
Entre o tempo e a distância,
Também crioulo de estância,
Mesma alma em transparência...
Mesma cor na descendência
E o mesmo gosto por potros,
Encarnados um no outro
Pra sinuelar a querência...

Vos agradeço, parceiros,
Por esta graça alcançada,
Me deste céu e estradas,
E rumos a percorrer...
Pingos de lida e lazer,
Meus troféus de casco e crina,
O bem maior da campina
Que um Gaúcho pode ter!

Escreves por linhas tortas,
De forma certa e parelha...
E segue batendo orelha
Com tantos santos sangrudos...
Canonizados, fachudos
No pedestal das igrejas,
Mas tu tens campo e carqueja
E o Rio Grande acima de tudo...!