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DONA LUA E SENHOR SOL

 

TÍTULO

DONA LUA E SENHOR SOL

COMPOSITORES

LETRA

ROGÉRIO VILLAGRAN

MÚSICA

KIKO GOULART

INTÉRPRETE

INDIO RIBEIRO

VITOR AMORIN

FABIANO BACCHIERI

RITMO

ZAMBA CARPERA

CD/LP

12º ACAMPAMENTO DA CANÇÃO NATIVA

FESTIVAL

12º ACAMPAMENTO DA CANÇÃO NATIVA

MÚSICOS

Violão: Índio Ribeiro

Violão: Vitor Amorim

Bombo Leguero: Fabiano Bacchieri

Violão: Kiko Goulart

Guitarron: Michel Martins

Violino: Douglas Mendes

PREMIAÇÃO

MÚSICA MAIS POPULAR

MELHOR INSTRUMENTISTA – DOUGLAS MENDES

 

DONA LUA E SENHOR SOL
(Rogério Villagran, Kiko Goulart)

Dona lua, toda branca,
"Nochera" em céu destapado,
Cheia de tantos mistérios,
Num firmamento estrelado,
Senhor sol, rompendo as barras,
Estende o manto da aurora,
A noite volta pra dentro,
E o dia, surge lá fora...

Dona lua, atira um beijo,
Senhor sol, faz um aceno,
A brisa entrega o carinho,
Respingado de sereno,

Senhor sol, fica sem jeito,
Porque um campeiro da estância,
Talvez tenha presenciado,
Este romance a distância...

Dona lua e senhor sol,
Por momentos se avistaram,
E este pouco foi bastante,
Pois muito se apaixonaram,
Ficou ele com saudade,
E ela querendo ser sua,
Quando o dia, pela noite,
Trouxe o sol e foi-se a lua...

Dona lua, então sumiu,
Foi dormir no seu exílio
Mas levou dentro de si,
Os encantos de outro brilho,

Senhor sol, tão majestoso,
De uma certeza que tinha,
Bronzeou os seus carinhos,
Pra entregar pra sua rainha.
Um amor pra eternidade,
Anseios de andar buscando,
O sentido que mantém,
Um saindo, outro chegando

Mas a gana de estar junto,
Por si só se perpetua
Quando um dia a luz do sol,
Cobrir o corpo da lua.

Da Alma de Dom Emílio


Da Alma de Dom Emílio
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

"Foi bem assim desde cedo e a filosofia é essa
Que bem mais taura é quem empeza o dia com pé esquerdo
E entre manhas e segredos o meu instinto vagueia
Minha alma troca orelha meu coração escramuça
Até parece que pulsa sangue crioulo em minhas veias"

Vem das bibocas da historia a causa que me aprofundo
Quando o mundo se fez mundo na ânsia demarcatória
Que perpetuou na memória deste meu povo caudilho
Coisas que de pai pra filho botam na forma o consolo
E que o rasto de um crioulo é a alma de Dom Emílio

Assim no temblor das patas bagualas pátrias nasceram
E macharronas cresceram sendo aos crioulos "muy" gratas
Este é um nó que não desata por que em cada um se arrancha
A força que pede cancha unindo no mesmo açoite
Sul e norte, dia e noite lua e sol, "gato e mancha"

E agora frente ao futuro sinto a mesma ansiedade
E não escondo a vaidade quando encilho o pelo duro
Num aparte não me apuro por que ele sabe o volteio
Pois se o boi me faz floreio um "buen criollo" dá o troco
Se arranca e por muito pouco não me tira dos arreios

Crioulo pingo campeiro que enche os olhos da gente
Na paletada é um valente sendo sereno e certeiro
Do ginete é um companheiro um do outro testemunho
Agarrados punho a punho são payador e guitarra
Um ajoja o outro esbarra e sobre patas um só redemoinho

Foram zainos e rosilhos, virão picaços e mouros
Em busca do mesmo ouro reluzindo o mesmo brilho
Marcando bem mais o trilho onde a beleza é a função
Nos mostram que a evolução é a força que nos garante
Que o crioulo siga a diante sem perder a tradição

Bastos Potros e Guitarras


Bastos Potros e Guitarras
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Bastos, potros e guitarras
Guitarras, potros e bastos
Cantigas cheirando a pastos
Milongas, polcas, chamarras

Um maula berrando forte
Um recal ringindo os tentos
Contra-punteando com os ventos
Que se levantam do norte

Se eu pudesse cantar versos
Como sou esporeador
Conquistava a china Rita
Cantando versos de amor

De um potro faço a guitarra
Da guitarra faço um potro
E antes que a noite me alcance
Largo um e encilho o outro

Quem me dera ter na alma
O corpo de um Martin Fierro
E as batidas de um cincerro
Me atormentando a calma

Quem me dera ter nos dedos
O que sobra nas esporas
Pra guitarrear nas nas auroras
E revelar mil segredos

Porém me sobra o que tenho
Pois tenho pouco floreio
Meu canto é mescla das ânsias
Dos que vivem dos arreios

Sovéus, maneias e riendas
Fazem parte dessa farra
Porque a vida entreverou
Bastos, potros e guitarras

Apegos E Anseios Do Meu Canto

Apegos E Anseios Do Meu Canto
(Rogério Villagrán)

Rezo esta prece frente ao altar que me atrai
Aquerenciado nesta crença que levanto
Junto ao apego que sustenta minha gana
De ser terrunho, crioulo do chão que canto
Junto ao apego que sustenta minha gana
De ser terrunho, crioulo do chão que canto

Trago comigo tropilhas de pingos buenos
Rodeios grandes costeados nos paradouros
Gritos de venha que requintavam lonjuras
Em meio à poeira baguala dos corredores
Gritos de venha que requintavam lonjuras
Em meio à poeira baguala dos corredores

Levo por diante repontando pela força
Desta cantiga que alimenta um sonho pampa
O anseio pátrio que eu herdei dos que pelearam
Pra que hoje em dia seja um marco à nossa estampa
O anseio pátrio que eu herdei dos que pelearam
Pra que hoje em dia seja um marco à nossa estampa

Erguerei ranchos na imensidão do meu mundo
Deixarei rastros de tanto cruzar distâncias
Pra que a existência do meu canto se eternize
Com o mesmo entono de um grito de um peão de estância
Pra que a existência do meu canto se eternize
Com o mesmo entono de um grito de um peão de estância

Que ainda ecoa em algum fundo de campo
Alto e liberto num repique fascinante
Ganhando espaço a cada romper de aurora
Que o sol destapa levando o resto por diante
Ganhando espaço a cada romper de aurora
Que o sol destapa levando o resto por diante

Assim meu canto será mais que o meu destino
E algo disso deixarei pelos caminhos
Pra que algum dia eu escute em alguma boca
Coisas que eu sei que nunca cantei sozinho
Pra que algum dia eu escute em alguma boca
Coisas que eu sei que nunca cantei sozinho

Coisas que eu sei que eu nunca cantei sozinho…

Alma de Fronteira

Alma de Fronteira
(Rogério Villagrán, Enio Medeiros)

Chapéu tapeado pra enxergar de ponta a ponta
Lenço vermelho, bandeira de um maragato
Estampa guapa, tronqueira do nosso Estado
Enforquilhado num baio ovo-de-pato

Espora buena, buzinuda, tilintando
Marca o compasso do meu pingo troteador
Jeito atrevido de quem vem pedir bolada
Alma tisnada da poeira do corredor

Trago em reponte batidas de algum cincerro
Gritos de forma, por isso sou da fronteira
Meu berço xucro, sagrado torrão sulino
Onde o teatino cheira a terra de mangueira

Me criei taura, laçando e boleando potro
E abrindo a perna de alguma bolcada feia
Quando preciso, abro o peito companheiro
Por que um fronteiro não se enreda nas maneias

O meu cantar fala de doma e campereada
A minha voz é xucra igual berro de touro
E as minhas penas são queimaduras de laço
Que num guascaço nos deixam marcas no couro

Trago em reponte batidas de algum cincerro
Gritos de forma, por isso sou da fronteira
Meu berço xucro, sagrado torrão sulino
Onde o teatino cheira a terra de mangueira

À Uma Tropilha Veiaca

À Uma Tropilha Veiaca
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Inté parece que o chão vem se abrindo aos poucos
Quando esses loucos se entropilham na invernada
E vem roncando marcando a casco este pampa
Mostrando estampa, topete e cola aparada.

Zainos, tordilhos, gateados, baios e mouros
Pingos de estouro que se aporrearam por malos
Negando o estribo ao índio que joga sorte
De encontro à morte no lombo desses cavalos.

É das baguala esta tropilha que eu canto
E lhes garanto não hay eguada mais dura
Um querosena da marca de Dom Reinaldo
Deixa arrepiada a mais taura das criaturas.

Quem tem coragem, força na perna e destreza
Sente firmeza quando um sotreta se atora
Porque um veiaco da tropilha da floresta
Enruga a testa do guasca que calça espora.

Esta tropilha é conhecida por veiaca
Pra maritacas e rebenques não se entrega
De ponta a ponta cruza o meu pago sagrado
Com lombo arcado dando coice nas macegas.

Eguedo quebra se entona soprando as ventas
Porque sustenta mil marcas entreveradas
Pois o destino d’um flete que não se amansa
Deixa lembranças numa tropilha aporreada.

Pingos de fama pato preto e chacarera
Moura cruzeira, rebordosa e temporal
São entre outros malevas que escondem o rastro
Em pêlo e basto seja argentino ou oriental.

Por isso aonde o cincerro bater mais forte
E o vento norte assoviar junto das frestas
Andarão soltos na fumaça do entrevero
Os caborteiros da tropilha da floresta.

Pra O Índio Que Gineteia

Pra O Índio Que Gineteia
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Quando me salta um floreio
De milonga pela boca
Me dá uma vontade louca
De “atorá” a guitarra ao meio
Sou um homem dos arreios
Conheço parada feia
Pois trago dentro das veias
Minha estampa palanqueada
E esta cantiga aporreada
Pra o índio que gineteia

Ginetear é uma vocação
Que o índio já trás de berço
Onde aprende a rezar o terço
Desta chucra religião
Pois quem trás no coração
Tropilhas de mal-costeados
Crinudos e descrinados
Maulas da marca borrada
São mestres das gineteadas
Entre potros e aporreados.

O mundo troca de ponta
E a vida toreia a morte
Porque o destino e a sorte
De gineteadas nos contam
De baguais que se desmontam
No meio da polvadeira
Treme o chão da fronteira
Quando um paysano se atora
Amarrando um par de esporas
Num par de botas “potreiras”.

Quem tem alma de palanque
Conhece a força do lombo
Mas não se entrega num tombo
Se algum corcóvo lhe arranque
Porque a volta do rebenque
Num floreio rasga o vento
A coragem é um sentimento
Que fez do taura um sulino
Esporeador dos malinos
Que sentem “cosca” do tento.

Pra o índio que gineteia
Este cantar é um regalo
Pois quando empeço a cantá-lo
O meu sangue corcoveia
Uma ânsia se boleia
“Inté” parece feitiço
Pois me agrada o reboliço
Que se apronta mano a mano
Co’as garras de algum paysano
Ou os ferros de um fronteiriço.

Na Boca Da Noite

Na Boca Da Noite
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Na boca da noite costeando a picada meu zaino que é um gato se para carancho
Bombeando distante pras bandas do poente parece que sente o calor de algum rancho
Eu trago na estampa um jeito teatino porque o destino quis que eu fosse andejo
E a noite serena chega e me provoca campear a chinoca e roubar-lhe um beijo

Um ventito manso me alvorota o pala então eu me aprumo e tapeio o chapéu
Enxergo teu corpo no clarão da lua e os teus lindos olhos brilhando do céu
Eu sinto no peito um guascaço mui forte, inté acho que tenho coração de potro
Que bate ligeiro quando enxergo a flor, se é meu este amor não preciso de outro

A alma de um taura que vaga solito se para mais quebra rumbiando pra o fim
E as ânsias que tenho acolherei com a gana de ver a paisana que espera por mim
Já não vejo a hora de encontrar minha linda e dizer que trago entalado na goela
A felicidade que tanto preciso achei no sorriso que Deus deu pra ela

Que lindo seria se um dia eu pudesse te erguer na garupa do meu zaino bueno
Talvez me perdesse no toque dos dedos campiando os segredos de um corpo moreno
Mas numa volteada te levo comigo pro posto do fundo da estância da barra
Pra ser minha dona e cuidar dum ranchinho e dum pichonzinho que herdará minhas garras

Na boca da noite

Vida De Peão

Vida De Peão
(Enio Medeiros, Rogério Villagrán)

Com minha mala no ombro chapéu de aba tapeada
Um pañuelo colorado e o pala da cor da geada
Quando o sol mostra o fucinho entre os ramos da canhada
Eu já tô com as trouxa pronta esperando na parada

A embarcação barulhenta se arrasta batendo lata
Levo lembranças amigas, recuerdo, saludo e plata
Esta noite eu perco a doma e arrasto as alpargatas
Lá no rancho do Abrelino, nos braços de uma mulata

De vez em quando, quando posso
Dou uma voltita no povo
Tiro uns três ou quatro dias
De retoço com as guria
E volto pra estância de novo

Já paguei conta atrasada
Sempre fui um bom pagador
E na rua do chapéu
Posei enredado de amor
Comprei um par de bota nova
E um pala bueno de fato
E domingo gastei uns trago
Com as moça do maragato

Segunda-feira bem cedo, me acordo lôco de pena
De não ter guardados um quilo dos carinhos da morena
Volto à estância novamente, pois esta vida é um confronto
Rebentando aspa de boi, trompando égua dos encontro

De vez em quando, quando posso
Dou uma voltita no povo
Tiro uns três ou quatro dias
De retoço com as guria
E volto pra estância de novo

Paleteada

Paleteada
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Vem se escorando no freio
Se enforcando na peiteira
E quase que se debruça
No grito de upa e se foi
Meu gateado frente aberta
Brazino nas quatro patas
Devereda se desata
E se acolhera com o boi

Num mouro marca de H
O Junico me faz costado
E o osco canela fina
Se para cheio de assombro
Meu gateado vem por cima
E mouro não frouxa um tento
E o osco espragueija o vento
Quando lhe cuspo no lombo.

Grito a grito, peito a peito;
Repontemo até o rodeio
Este matreiro teimoso
Que refugou na picada,
De à cavalo eu não refugo
Embora o tempo desabe
E o mais matreiro já sabe
Que me gusta a paleteada.

Paleteada é lida bruta
Nascida nas escramuças
Quando se apartavam tropas
Em machaços atropelos
A encontro e a bico de bota
Tirava o boi do refugo
Que reboleava o sabugo
Na direção do sinuelo.

Grito a grito, peito a peito;
Repontemo até o rodeio
Este matreiro teimoso
Que refugou na picada,
De à cavalo eu não refugo
Embora o tempo desabe
E o mais matreiro ja sabe
Que me gusta a paleteada.