(Luiz Carlos
Borges, Mauro Ferreira)
Quem é de
Lavras se lembra do meu galgo Peñarol
Baio,
brasino, bragado, olhos gateados de sol
Quando meu
galgo arrancava com o lombo que era um anzol
Bicho que
fizesse rastro saía do campo vasto
Pra os dente
do Peñarol.
Me regalou
Gim Pinheiro de lá de Tacuarembó
Era um
filhote franzino, magrinho que dava dó
Quem ia
dizer que aquilo fosse empurrar mocotó
Ganhar
dezoito carreiras e os galgos desta fronteira
Entupiu os
olhos de pó.
Lebrinha de
pêlo fino, sorrito do pêlo grosso,
Depois de
ele botar o olho não tinha muito retoco.
Cruzava dos
outros galgos que nem dos cachorros "grosso",
Quadrava o
corpo pra o lado, cortava de atravessado
E grudava
atrás do pescoço.
Um dia o
Cássio Bonotto, proseando e tomando um trago,
Me contou de
um sorro baio que havia lá por Santiago,
Corria mais
que os cachorros, vivia fazendo estrago,
De tanto
comer cordeiro, já nem botavam carneiro
Nas ovelhas
deste pago.
Eu disse pra
este amigo: mês que vem vou na tua casa,
Me espera
com uma de vinho e um chibo em cima da brasa.
O Peñarol
vai na piola porque ele não perde vaza,
Te garanto
que o tal sorro pra escapar do meu cachorro,
Só que
entoque ou crie asa.
Cheguei no
dia marcado, tinha gente até de farda,
Nunca vi
tanto gaúcho, nunca vi tanta espingarda.
Diziam: o
sorro é bruxo cruzado com onça parda.
Eu disse:
deixem comigo! Quem tem medo do perigo
Que espere
na retaguarda.
Quando
batemos no rastro vi que o bicho era escolado,
Fez que ia
pra coxilha e respingou rumo ao banhado,
Meteu o
dente num galgo, depois cruzou no costado,
Com a
cuscada na escolta, gambeteava e dava volta,
Parecia
enfeitiçado.
Eu dei
cancha pro meu galgo, que saiu erguendo pó,
Porque no
fim do banhado era um capão de timbó.
Tinha que
alcançar o maleva antes desse cafundó,
E eu também
larguei com tudo, num lobuno topetudo
Que era
marca da Itaó.
De fato o
sorro corria como pouco sorro faz,
Mas peão só
se governa onde não tem capataz.
Em seguida,
meu cachorro fez ele virar pra trás,
E desceram
sanga abaixo, "cosa" de macho com macho,
Trançando
dente no más.
Foi quando
eu ouvi um tiro vindo de lá do sangão,
Estouro de
arma de chumbo de um louco sem precaução,
Apeei por
cima do toso pra dar fé da situação,
Meu galgo
tava sangrando, mas continuava peleando,
Baleado no
coração.
Agarrou o
sorro "das goélas" e apertou contra o capim,
Pra dar fim
naquela lida, antes da vida ter fim.
Depois
"periga" a verdade, mas juro que foi assim,
Deitou por
cima do sorro, gruniu pedindo socorro
E morreu
olhando pra mim.
Enterrei ele
no campo florido de “Maria Mol”,
Se foi meu
galgo bragado do lombo que era um anzol.
Lembro dele
com tristeza quando sangra o pôr-do-sol.
O causo vem
pra memória e a saudade conta a história
Do meu galgo
Peñarol!
Peñarol - César Oliveira E Rogério Melo by Guascaletras
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