Um dia desses eu tava carneando um touro,
Fazendo um charque bem forte e lonqueando o couro
Quando anunciaram no rádio o Freio de Ouro
E eu fui no fundo do campo e volteei meu Mouro
Deixei posar de mangueira e tosei volteado
Ficou com pose de pingo de delegado
Então eu pensei comigo, bem entonado:
- Segunda-feira nós dois tamo consagrado!
Botei o freio com palmo e meio de perna
Senão o meu mouro enqueixa e se desgoverna
Tapeei meu chapéu na testa que eu sou da cosa
E entrei no parque com pose de Wilson Souza
De pronto vi a má vontade com o meu cuiudo
Porque tava meio magro e meio peludo
Ouvi quando um dos jurados falou em esquila,
E de vereda eu já tava no fim da fila...
Então eu disse pro mouro que nesse dia
Nós ia ter que mostrar tudo que sabia!
E enquanto os outros entravam de tranco e trote
Pra impressionar nós entramos a todo galope!
Mas veio a tal da figura amaldiçoada
Olhei pros feno e senti que ia dar cagada
Meu mouro loco de fome da adelgaçada
Parava em tudo que é fardo pra dar bocada...
O tal do giro nas patas eu não conhecia
Mas fiz na base do mango e da judiaria
E quando atirei o corpo pruma esbarrada
Partiu as canas da rédea e não vi mais nada!
Me ergui pra não fazer feio, numa tonteira,
Atei as rédeas, montei e fui pra mangueira
Me toca uma vaca preta, flor de ligeira
De vez em quando eu achava o rastro e a poeira...
Mas eu sou um índio campeiro e pedi socorro
E já saltaram pra dentro meus três cachorros,
Deixaram a tal polianga bem estaqueada
E eu quase parti no meio duma pechada!
Quando fomos paletear eu já tava em primeiro,
Corri com um tal de Coringa, mui traiçoeiro
O tipo fechou o novilho só por artista,
E o mouro parou nas tábuas do fim da pista!
Foi quando um jurado, um tal de Marcelo Coelho
Ameaçou levantar um cartão vermelho
E eu fui ver ele de perto e virei meu relho
Ele me deu um amarelo e largou o vermelho...
Voltei pra casa pensando que era verdade
El Freno de Oro no es changa, mire compadre!
Soltei o mouro nas égua e me fui pras tia,
Pois vi que meu mouro e eu damos só pra cria!!