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ESPERA

Título
ESPERA
Compositores
LETRA
ANDRÉ OLIVEIRA
MÚSICA
ANDRÉ TEIXEIRA
Intérprete
ANDRÉ TEIXEIRA
Ritmo
ZAMBA
CD/LP
14ª ESTÂNCIA DA CANÇÃO GAÚCHA
Festival
14ª ESTÂNCIA DA CANÇÃO GAÚCHA
Declamador

Amadrinhador

Premiações
3º LUGAR
MELHOR MELODIA

ESPERA
(André Oliveira, André Teixeira)

Ficou um silêncio e as noites mais longas
Na baeta do poncho, o cheiro da flor
Nem há mais a pressa de volver da estância
Atorando distâncias pelo corredor

Até o gosto do mate ficou maias amargo
Sem os beijos na bomba da doce morena
Não se alça a cuia, para o toque dos dedos
Trocarem segredos nas horas amenas

E a linda boieira que nos contemplava
Ficou la no alto, talvez pra sinuela
Quem sabe na noite quando a brisa acalma
Se unam duas almas nessa mesma estrela

Ficaram lembranças tão vivas no rancho
Que até a guitarra por vezes se cala
Quando encontro na carta, maneado entre os pelos
Teu fio de cabelos nas franjas do pala

Quem sabe, morena, eu ceve outro mate
Assoleie meu poncho sobre o alambrado
Afine a guitarra pra pontear a saudade

Quando vir de verdade, ser feliz ao meu lado.

Manifesto de Campo

Manifesto de Campo
(André Oliveira, André Teixeira)

Um potro senta
Golpeando o palanque
Manoteando e roncando
Contra o domador.
Sem pressa se estanca,
Coice e manotaço
No couro sovado
De um maneador

Um “polhango” refuga,
Recusa o sinuelo,
Se aparta alçado
Encontrando a cuscada.
Uma “parelha” de cueras
Sobre o aço do estrivo
Encostam seus pingos
Numa paleteada.

A ovelha despeja
O cordeiro no pasto
No lençol da geada
Do inverno do agosto.
Vem cheirando a cria,
Farejando a placenta
E oferta seu úbre
Brindando o colostro.

Uma tropa desfiada
Entre uma porteira
E a conta clavada
Na talha de ouro.
Dois tauras terciando
O poder do rodeio
E um “ñandú” ergue ninho
Nas covas de touro. 

Manifesto de campo
Da pátria torena
Aos que vivem do canto
De um par de chilenas.
Acordam distâncias
Pelas madrugadas
Nestas invernadas
De fundo de estância.

Manifesto de campo
Da pátria torena
Aos que vivem do canto
De um par de chilenas. 

A armada que cerra
No tronco das aspas
Virando o brazino
Pra presilha do laço.
Se “queda” o matreiro
E se cura a bicheira
Benzendo a ferida
Na marca do rastro.

A enchente que ronca
Subindo a barranca
Formando uma espuma
No leito do rio.
A novilhada retoça
Costeando o alambrado
E uma vaca que “salta”
Anuncia o cio.

O terneiro junta
As peçunhas na ilhapa
Num pealo certeiro
Semeado em bolcada
O sinal nas orelhas,
O ferro que queima
E a casta que rompe
No fio da prateada

Um pampa laçado
Dois laços cinchando
A faca que sangra,
O berro que esguia.
Ronca o sangrador,
O boi se ajoelha
E o campo renasce
Bebendo a sangria.

Manifesto de campo
Da pátria torena
Aos que vivem do canto
De um par de chilenas.
Acordam distâncias
Pelas madrugadas
Nestas invernadas
De fundo de estância.

Manifesto de campo
Da pátria torena
Aos que vivem do canto
De um par de chilenas.


Intérpretes: Jari Terres, Juliano Moreno, André Teixeira


Ressaca Das Cheias

Ressaca Das Cheias
(André Oliveira, Marcelo Oliveira)

Escoa o manto das águas
No cepilhado da várzea
Destapando sangue e passo
Que afogaram o santa fé

Entre a grama boiadeira
Suspensa sobre o banhado
Exalto o azul desbotado
Da linda flor do aguapé

Uma vaca redemunha
Mugindo grosso e tristonho
Empurrando seu terneiro
Pra ressaca da crescente

Se atira escorando a cria
Entre a paleta e o vazio
Costeando a barranca do rio
Contra os resquícios da enchente

A ovelha berra o cordeiro
Desce a coxilha ao rodeio
Quando a cheia se aniquila
Com a mesma força das águas
Também afogo minhas magoas
No manancial das pupilas

A crescente se destapa
Deixando sempre armadilhas
Trampas de olho de boi
Com flexilhas rebrotadas

Atoradouros profundos
Formando belas miragens
De verdejantes pastagens
Sobre o mundéu das aguadas

O campo enxuga as águas
Mas não apaga a ressaca
Ficou de herança da cheia
Alguns touros estaquiados

Ossamentas pelo passo
E um varal de palha estendida
Da macega ressequida
Nos sete fios do alambrado


Campeiros


Campeiros
(André Oliveira, Marcelo Oliveira)

Olha a mangueira cavalo ecoa lá do potreiro
Vem se trompando matreiro sobre o charco do barral
Encostam encontros na forma roncando venta e virilha
Até que toda tropilha mete a cara no bucal

Graxa pingando na brasa, ronco de mate e cambona
E tilintar de choronas lavrando o chão do galpão
O movimento da encilha deixa a cuscada latindo
E eu adelgaço meu pingo no abraço do cinchão

Quatro galhos bem atados lá na grimpa do sabugo
Que eu sou de pecha refugo contra a estronca da porteira
Depois de bem estrivado sobre os esteios dos loros
Solto um silvido sonoro pra minha escolta ovelheira

“É em direção do rodeio que se laça terneiro novo
E eu não aprendi no povo esta ciência campeira
Ando sovando o cavalo, curtindo o couro do basto
Bolqueando o rastro de casco, benzendo peste e bicheira”

Saio ao tranquito pro campo assobiando uma toada
Mirando a estampa encarnada do horizonte fronteiro
A berbela com o coscorro duetam com maestria
Regendo uma sinfonia no aço branco do freio

Aparto a vaca com cria é um mandamento pampeiro
Que a precisão do campeiro ta no punho e na armada
Num pealo de sobre-lombo abro pra fora o picaço
E o terneiro tá no laço e a vaca com a cachorrada.

Meu Chasque Não Tem Floreio


Meu Chasque Não Tem Floreio
(André Oliveira, Luciano Maia)

No velho Caiboaté grande, tua crioula querência
Até os ventos da pampa choram triste tua ausência
Mas tu como um carreteiro não findou tua existência
De freio e pelego na mão ou num pai-de-fogo em galpão
Vive tua alma em essência

Meu verso faz reverencia ao saudoso poeta-doutor
Nas minhas primeiras rimas me inspirou por professor
Também batemos estribos nos setembros campo em flor
Ao lembrar me embarga a voz
Foi te encontrar Elvio Munhoz nos campos de nosso Senhor

Usava bombacha larga e um chapéu de metro e meio
Laçava de toda trança, pealava boi sem costeio
Usava botas de potro, pechava touro no meio
Riscava lombo com a espora
Sacando boi campo afora só na barbela do freio

Deixou teu pingo gateado e um laço de doze braças
Que enrodilhava graúdo quando cruzava na praça
Vinha espumando na anca da argola grande machaça
Luzindo vinha ponteando com o tarumã desfilando
Honrando o garbo da raça

“Amigo Gaspar Machado,  meu chasque não tem floreio
Sou taura que calço a espora também sou homem do arreio
Peça a Deus patrão do céu e a São Pedro sem enleio
Que te ajuste no pago santo
Pra recorrer estes campos com o Negro do Pastoreio”

Sob As Mangas Do Aguaceiro

Sob As Mangas Do Aguaceiro
(André Oliveira, Rogério Melo)

A manga calma se transforma em aguaceiro,
O chuvisqueiro desentoca um campomar
Que se tolda em cima dum baio-oveiro,
Com meu sombreiro que tombeia ao desaguar.
Fecho seis dias que eu lido no alagado
E o banhado já virou um tremendal
Onde é várzea se tornou tudo encharcado
Campo dobrado vertente de lamaçal

Até a baeta do meu poncho está molhada,
Garra ensopada de varar passo e sanga
O galpão virou um varal de arreios
Oreando aperos enxaguados pela manga
O gado berra nostalgeando tempo feio
E a parelha do arreio calechou-se das basteiras
Lombo molhado pra pisar foi bem ligeiro.
Ainda a força do potreiro ta de baixo da aguaceira

Uma estiada negaceia por matreira
Com cisma de caborteira vem escondendo a cara
Do meu galpão sorvo as horas tramando tentos
Desquinando pensamentos, remendando alguma garra.

Então me olvido empreitando esta faina
Pois a força divina já mais falha e nunca erra
Talvez a chuva seja o adubo já gasto
Que veio firma o pasto e larga uma graxa na terra

O Campo

O Campo
(André Oliveira, Rogério Melo)

Parou o pampeano
Esbarrou um picaço
Estendeu-se o laço
Da ilhapa à presilha
Do outro lado um gateado
Cinchava uma pata
O boi berra e se estaca
Prevendo a sangria
Na ponta da faca
O destino é traçado
E o sangrador e cortado
Manchando as flexilhas

Afrouxaram-se os laços
O pampeano se ajoelha
Sobre a mancha vermelha
No chão do potreiro
A folha chairada
Já risca o couro
No ritual crioulo
De um pago fronteiro
Se foi mais um boi
Pra “corda” e munício
E o matambre pro vício
Do assado campeiro

A força do campo
Rebrota invernadas
Engorda boiada
E sustenta a nação
É a mesma contida e vivida
Ostentando esta vida
Deste sul de rincão.
E o campo de novo
Viçoso floresce
Pois tem alicerce
De várzea e coxilha
Renasce na morte
E se torna mais forte
Bebendo a sangria.

E assim segue a lida
Tranqueando na estância
Firmando a constância
De manter existência
Levando a pecuária
Em ranchos e galpões
Em sobrados e mansões
Em longínquas querências
Pra que o mundo conheça
O valor de uma raça
Mostrando o que passa
O campo e sua essência

A força do campo
Rebrota invernadas
Engorda boiada
E sustenta a nação
É a mesma contida e vivida
Ostentando esta vida
Deste sul de rincão.
E o campo de novo
Viçoso floresce
Pois tem alicerce
De várzea e coxilha
Renasce na morte
E se torna mais forte
Bebendo a sangria.