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A Flor Do Chamamé

A Flor Do Chamamé
(Vinicius Brum, Luiz Carlos Borges, Alegre Corrêa)

Quando a barca do silêncio
Cruza as águas frias do teu coração
Quando a lua empalidece
E as palavras fogem para imensidão

Quando já não resta nada
Nem cegueira nem visão
Quando a queda do teu pranto
Perder a razão

Quando as cores da paisagem
Vestem de saudade tua oração
Repetindo em cada passo
O tempo da memória, o tempo da canção

Quando andares pela casa
Nua, feito assombração
E tua vela solitária
Arder na escuridão

Talvez fique gravada
No livro a branca voz
Lágrima perdida, lua comovida
Que sobrou de nós

O espelho se quebrou
Mas não perdeu a fé
O amor ainda existe
Quando chora triste
A flor do chamamé


Mãe

Mãe
(Vinicius Brum, Luiz Carlos Borges)

Mãe,
Tem um sorriso que é diploma e flor
Ventre de cacimba pras chuvas do amor
Mãe é quem avisa, quem prepara o ninho
Garra pros cuidados, cenas pros carinhos

Mãe,
Ela é quem canta enquanto o filho dorme
É quem defende se o filho fez arte
Fica rezando pra que ele retorne
E chora escondida quando um filho parte

Mãe,
É quem pressente outro coração,
Que lhe bate ao ventre inquieto bordão
Mel na flor do peito, oferenda e pão
Anjo guardião

Mãe,
É calmaria e explosão de vento
Luz que não tem fim no túnel do tempo
Mãe de braço brado, mãe de braço erguido
Força pro cansado, beijo pro ferido

Mãe,
Um beija flor com força de leoa
Um vendaval se magoada ou ferida
Sacerdotisa que ama e perdoa
E é mais feliz quando nos dá a vida

Mãe,
É quem pressente outro coração,
Quem lhe bate ao ventre inquieto bordão
Mel na flor do peito, oferenda e pão
Anjo guardião

Timbaúva

Timbaúva
(Luiz Carlos Borges, Luiz Antero Peixoto)

Timbaúva, foste árvore
Foste casa, foste chão
Hoje é cinza, é saudade
Tapera em meu coração

Em teus galhos, muitas vezes,
Me abriguei do vento norte
Tempo xucro, chuva forte
E também de cerração
Abriguei-me até da morte
Em arruaça de galpão

Timbaúva, foste árvore
Foste casa, foste chão
Hoje é cinza, é saudade
Tapera em meu coração

O teu tronco forte e rijo
Se elevava nas coxilhas
Enxergavas pelas trilhas
Compridas como um sovéu
Te erguias até o alto
Como se tocasses o céu

Timbaúva, foste árvore
Foste casa, foste chão
Hoje é cinza, é saudade
Tapera em meu coração

Foste mais do que um pulmão
Para toda a humanidade
Mas o homem por maldade
Te curvou de sol e chuva
O machado e o fogo
Te levaram, timbaúva

Foi timbaúva
Veja o tempo que passou
Os anos foram troteando
Minha hora também chegou

Os anos foram troteando
Minha hora também chegou


Evocação

Evocação
(Luiz Carlos Borges, Dirceu Pombo)

Vida boa, vida boa, vida boa, vida boa
Vida boa, vida boa, vida boa, vida boa
Vida boa, vida boa, vida boa ...
Cuidado o bicho papão

A noite boleava o dia
Com as três-marias do céu
E a sombra descia o véu
Na hora da Ave-Maria

Menino, acende o candeeiro
Que a luz do sol já morreu
E o pavio que acende o lume
É igualzinho ao vaga-lume
Que lá no campo acendeu

Vida boa, vida boa

E um coro de vozes claras
Ressoa lá na lagoa
Vida boa, vida boa, vida boa, vida boa

Menino, reza uma prece
Que a tua mãe te ensinou
Olha que é noite fechada
E o menino não rezou

Mansa e doce a noite desce
Com mão negra a sombra tece
Mistérios e assombração
Menino, dorme que é tarde
Cuidado o bicho papão

Noite alta, silenciosa
Vem da sanga a viração
O tempo bom passa augúrios
De colheitas e searas
De lagoa, só murmúrios

E um coro de vozes claras
Por toda a várzea ressoa
Vida boa, vida boa
E um coro de vozes claras
Ressoa lá na lagoa
Vida boa, vida boa, vida boa ...


O Bugio

O Bugio
(Luiz Carlos Borges, Luiz Guilherme do Prado Veppo)

Aqui é o Rio Grande onde o Brasil termina
E o sol se inclina pra dizer adeus
Onde a mutuca tira o boi do mato
E nesse fato muito ensina Deus

Onde o UruguaI com sua voz mais pura
Doce murmura um cantochão de paz
Tropeando almas pelo pampa bruto
Flores e frutos vai deixando atrás

É do Brasil esta paisagem
Fronteira imposta pela coragem
É brasileiro este bugio
Que vem pro palco em desafio

Onde os pelinchos sempre zombeteiros
Cantam brejeiros nos maracujás
E a garça branca, de um açude à beira
Pousa faceira entre os caraguatás
Onde os capinchos sobre as barranqueiras
Horas inteiras fingem meditar
Quando anoitece a perdiz afoita
Procura a moita pra se agasalhar

É do Brasil esta paisagem
Fronteira imposta pela coragem
É brasileiro este bugio
Que vem pro palco em desafio

Aqui onde o homem olha o horizonte
Sente o reponte mesmo nesse olhar
E campereando pela imensidade
A liberdade leva em seu sonhar
Onde o chimarrão vai correndo à roda
Como é a moda ainda no galpão
E um índio vago de avançada idade
Canta a saudade do seu coração

É do Brasil esta paisagem
Fronteira imposta pela coragem
É brasileiro este bugio
Que vem pro palco em desafio

Aqui é o Rio Grande onde o Brasil termina ...

É do Brasil esta paisagem...



Luiz Carlos Borges E Grupo Horizonte - O Bugio by Guascaletras

Canto Do Vento

Canto Do Vento
(Antônio Carlos Machado, Luiz Carlos Borges)

Camboneando um café quente
Que ajuda o poncho a esquentar
Me enrolo na pelegama
E escuto o vento assobiar

Fresteando no galpão velho
O vento sopra tão forte
Se embrenhando no galpão
Gelando a alma do guasca
Na madrugada do pampa

Vento frio de tantas lendas
Te chamam de minuano
Fazes parte da história
Do meu Rio Grande aragano

Quero gelar minha orelha
Ouvindo as tuas verdades
Que são canções das coxilhas
Que descem da eternidade
Em gritos soltos do tempo
Gemidos de liberdade

Camboneando um café quente
Que ajuda o poncho a esquentar
Me enrolo na pelegama
E escuto o vento assobiar



CANTO DO VENTO by Guascaletras

Minuano

Minuano
(Humberto Zanatta, Luiz Carlos Borges)

É um vento xucro que tem nome, tem história
Sua canção sobe a coxilha e se consome
Quem não conhece este vento meio gente
Jeito de índio, Minuano é teu nome

Chega de longe no seu tranco conhecido
Como um irmão que veio o outro visitar
E se entrevera nas rodadas galponeiras
Soprando o fogo pra chaleira esquentar

Fala de paz, fala de guerra, lembra o amor
Conta a verdade, pois mentir não aprendeu
A sua voz tem os lamentos do Rio Grande
E a viva marca de um povo que não morreu

Encilho o pingo despacito e, noite adentro,
Saio assobiando, cavalgando pensativo
Sinto no peito a força rude desse vento
Saudando o índio minuano em mim cativo

Olhando o céu, as estrelas e o pampa
Na estampa linda que se perde na distância
Tenho vontade de reunir todos os índios
Em um rodeio de irmãos na mesma estância

Vento de paz, vento de guerras e de amor
Conta verdades a teu povo que é o meu
Canta o Rio Grande e o gaúcho te dirá
Que o bravo índio Minuano não morreu

É um vento xucro que tem nome, tem história
Sua canção sobe a coxilha e se consome
Quem não conhece este vento meio gente
Jeito de índio, Minuano é teu nome



MINUANO - Luiz Carlos Borges by Guascaletras

Peñarol

Peñarol
(Luiz Carlos Borges, Mauro Ferreira)

Quem é de Lavras se lembra do meu galgo Peñarol
Baio, brasino, bragado, olhos gateados de sol
Quando meu galgo arrancava com o lombo que era um anzol
Bicho que fizesse rastro saía do campo vasto
Pra os dente do Peñarol.

Me regalou Gim Pinheiro de lá de Tacuarembó
Era um filhote franzino, magrinho que dava dó
Quem ia dizer que aquilo fosse empurrar mocotó
Ganhar dezoito carreiras e os galgos desta fronteira
Entupiu os olhos de pó.

Lebrinha de pêlo fino, sorrito do pêlo grosso,
Depois de ele botar o olho não tinha muito retoco.
Cruzava dos outros galgos que nem dos cachorros "grosso",
Quadrava o corpo pra o lado, cortava de atravessado
E grudava atrás do pescoço.

Um dia o Cássio Bonotto, proseando e tomando um trago,
Me contou de um sorro baio que havia lá por Santiago,
Corria mais que os cachorros, vivia fazendo estrago,
De tanto comer cordeiro, já nem botavam carneiro
Nas ovelhas deste pago.

Eu disse pra este amigo: mês que vem vou na tua casa,
Me espera com uma de vinho e um chibo em cima da brasa.
O Peñarol vai na piola porque ele não perde vaza,
Te garanto que o tal sorro pra escapar do meu cachorro,
Só que entoque ou crie asa.

Cheguei no dia marcado, tinha gente até de farda,
Nunca vi tanto gaúcho, nunca vi tanta espingarda.
Diziam: o sorro é bruxo cruzado com onça parda.
Eu disse: deixem comigo! Quem tem medo do perigo
Que espere na retaguarda.

Quando batemos no rastro vi que o bicho era escolado,
Fez que ia pra coxilha e respingou rumo ao banhado,
Meteu o dente num galgo, depois cruzou no costado,
Com a cuscada na escolta, gambeteava e dava volta,
Parecia enfeitiçado.

Eu dei cancha pro meu galgo, que saiu erguendo pó,
Porque no fim do banhado era um capão de timbó.
Tinha que alcançar o maleva antes desse cafundó,
E eu também larguei com tudo, num lobuno topetudo
Que era marca da Itaó.

De fato o sorro corria como pouco sorro faz,
Mas peão só se governa onde não tem capataz.
Em seguida, meu cachorro fez ele virar pra trás,
E desceram sanga abaixo, "cosa" de macho com macho,
Trançando dente no más.

Foi quando eu ouvi um tiro vindo de lá do sangão,
Estouro de arma de chumbo de um louco sem precaução,
Apeei por cima do toso pra dar fé da situação,
Meu galgo tava sangrando, mas continuava peleando,
Baleado no coração.

Agarrou o sorro "das goélas" e apertou contra o capim,
Pra dar fim naquela lida, antes da vida ter fim.
Depois "periga" a verdade, mas juro que foi assim,
Deitou por cima do sorro, gruniu pedindo socorro
E morreu olhando pra mim.

Enterrei ele no campo florido de “Maria Mol”,
Se foi meu galgo bragado do lombo que era um anzol.
Lembro dele com tristeza quando sangra o pôr-do-sol.
O causo vem pra memória e a saudade conta a história
Do meu galgo Peñarol!




Peñarol - César Oliveira E Rogério Melo by Guascaletras

Chamamecero


Chamamecero
(Mauro Moraes)

Como se a escuridão trouxesse luz
Como se o coração fosse explodir
Mastiguei a fala negaceei a mágoa
Só pra ver a lágrima feliz

Quis amansar a dor, me vi pela vida
Quis conhecer o amor fiz um chamamé
Cheio de carinho louco de faceiro
Mas que chamameceiro me senti

Coisa de bom menino abraçando o pai
Coisa de mão saudosa mimando o filho
Fui me emocionando a mando do gaiteiro
Mas que chamamecero repeti

A mão vem me dando o soco eu prendo-lhe um sapucay
O pé pisoteia a marca e a alma arrepia em pelo
E quase arrebenta o fole e torce pra vida melhorar

Misionera


Misionera
(Luiz Carlos Borges)

Yo, por la noche negra de tus cabellos,
Tú, encendiendo estrellas para alumbrar.
Yo, a buscar la llave de tus secretos,
Tú, ocultando el rastro de tu mirar.

A que rincón la vida llevó tus pasos
Flor de Misiones que me ha mandado Diós.
Como entender que un día, estando en mis brazos,
Con luz de sol me sonrió,
Y dijo adiós con un río
En la voz.

Y es ese amor que me tiene así
Peregrino en busca de tu querer,
Y en el rocío lloró por ti              
Un clavel del aire al amanecer.        

Linda misionera con voz de río,
Flor que en la frontera de la pasión
Me entibió la boca y dejó este frío
Que anidó por siempre en mi corazón.

Por donde andarás, por donde andaré,
Donde está el amor que juré por ti?
Quién te amará como yo te amé,
Lejos de tu amor, como iré a vivir?

Sangra del barrancal tierra colorada,
Arde en la sal del rostro el sol que se va,
Yo, caminante triste por las quebradas,
Solo a seguir mi rumbo de soledad.

Loco por no olvidar tu mirar salvaje,
Ciego al ver que tu imagen ya no es verdad,
Sin comprender que cruzas por el paisaje
Cual flor del camalotal,
Que es linda, pero de nadie será.

O Forasteiro



O Forasteiro
(Vinícius Brum, Mauro Ferreira, Luiz Carlos Borges)

Na sombra de um bolicho à beira estrada, daqueles que do mundo se perdeu
Encontra-se uma gente reunida, a espera de um chamado de seu Deus
Perfumes de bom fumo amarelido, paredes com suas almas penduradas
Paciências de um lugar envelhecido, e uma coragem de quem não tem nada

Apeia um forasteiro: O que é da vida?
Responde o bolicheiro: Está cansada,
A gente de bombacha anda esquecida, desiludida nos beirões da estrada
Buscamos nossa terra prometida um mundo pras crianças e pros velhos
O sul que nós sonhamos onde a vida devolva o que branqueou nossos cabelos
Mas cada ano a seca de janeiro, precede um novo inverno de asperezas
Parece que o destino do campeiro não pode pedir mais que pão na mesa

E aos poucos, o que diz o bolicheiro se multiplica em vozes pelo ar
E volta a se calar o forasteiro, junta o violão no peito pra cantar

Já vi quase de tudo em minha vida, há séculos que ando pela estrada
Vi a morte sobre a terra prometida, e a vida sobre a terra abandonada
Vi um homem pondo fogo na colheita, enquanto outro semeava num deserto
Já vi perto o que ontem era um sonho, e longe vi o que sempre fora certo
Um povo sonha Deus a sua imagem, e Deus devolve a terra a cada povo
Moldada no trabalho e na coragem que o povo usou pra levantar o sonho
Aqui é nosso inferno e paraíso, a vida é uma planta por cuidar
A que morrer por ela se preciso, o sul somente o sul pode salvar

Assim falou pro povo o forasteiro, depois montou e envolto num clarão
Sumiu emoldurado pela tarde, bem como o sol dissipa a serração
Uns dizem que mais altos que os cerros ele segue abençoando este rincão
Mas muitos acreditam que essa gente ouviu a voz do próprio coração
O certo é que um a um se foi às casas, por que havia uma planta por cuidar
Arar a terra a cada madrugada, para a semente que há de germinar
O homem faz seu Deus que faz o sonho, um sonho azul maior que este lugar
Na luz que vem dos olhos dessa gente, o sul um dia se iluminará

A Copla de Assobiar Solito


A Copla de Assobiar Solito
(Luiz Carlos Borges, José Fernando Gonzales)

Meu pai um dia me fazia moço e me levando para camperear
Assobiava qualquer coisa doce como se fosse de luz de luar
Aquela copla que não era um hino e era simples e era só sua
Ia amansando nossa vida adulta ia amansando duas almas puras

A copla terna que meu pai trazia
Não transcendia para alguém mais eu
Era a essência do lugar da arte
Ensimesmado no seu próprio ser

Não se achegava ao de redor do fogo
Nem vinha junto pro galpão da estância
Era parceira apenas campo afora
Só sem querer me acalentava a infância

Hoje a lo largo na cidade grande quando vagueio a procurar por mim
Me dou de conta assobiando a esmo e me interrompo sem chegar ao fim
A minha copla de assobiar solito tropeando ruas numa relembrança
É aquela mesma que meu pai trazia que estranhamente me deixou de herança

Pergaminho


Pergaminho
(Luiz Carlos Borges, Mauro Ferreira)

Quando boto o pé no estribo do meu zaino Pergaminho
Não tem chuva, não tem vento e não tem pedra no caminho
Busco a volta e tô a cavalo no meu zaino Pergaminho

Largo a galope de Lavras, Bagé fica bem pertinho
O casco bate na estrada, bate a franja no focinho,
O vento brinca na cola fazendo redemoinho
E o meu lenço bate asas sobre o pala azul-marinho,
Como uma garcinha branca voando num céu de linho
Quando largo de galope no meu zaino Pergaminho.

Quando boto o pé no estribo do meu zaino Pergaminho
Os amigos me acompanham mesmo que eu ande sozinho
E as lembranças dão de rédeas no meu zaino Pergaminho

Se me esporeia a saudade que é pior que ponta de espinho
Giro na pata e “avôo” como “avoa” um passarinho
Só paro no parapeito do rancho do meu vizinho
Onde a paisanita linda que costeia o meu carinho
Vem se aninhar no meu braço como uma pomba no ninho
Escarvando em frente ao rancho fica o zaino Pergaminho

Quando boto o pé no estribo do meu zaino Pergaminho
Brasil, Argentina e Chile vão no sangue cor de vinho
Correm séculos de história no meu zaino Pergaminho

Quando estou enforquilhado no cavalo Pergaminho
Zaino colorado estrela, pata branca até o machinho
Aparto boi na barbela, focinho contra focinho,
Se o boi não vai eu sujeito, se ele vai eu adivinho,
Quando salta tá apertado como abraço de padrinho,
Agarrado nos encontros do meu zaino pergaminho.

Quando boto o pé no estribo do meu zaino Pergaminho...