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ROMANCE FRONTEIRO

Título
ROMANCE FRONTEIRO
Compositores
LETRA
GUJO TEIXEIRA
MÚSICA
JULIANO GOMES
Intérprete
MARCELO OLIVEIRA
Ritmo
CHIMARRITA
CD/LP
19ª VIGÍLIA DO CANTO GAÚCHO
Festival
19ª VIGÍLIA DO CANTO GAÚCHO
Declamador

Amadrinhador

Premiações
2º LUGAR
MELHOR POESIA
MELHOR INTÉRPRETE – MARCELO OLIVEIRA

ROMANCE FRONTEIRO
(Gujo Teixeira, Juliano Gomes)

Um dia desses fronteiro, me larguei de alma bem vinda
Rumo aos floreios de um rancho, aonde mora minha linda
Meu pingo baio escarceia num tranco de madrugada
Gasta distância de léguas buscando o rumo e mais nada

Um vento bom de saudade me assopra das laranjeiras
Me adoça a estrada comprida e por nada a vida inteira
Meu coração de campanha parece que sabe a volta
Chega bem antes de mim, conhece o atalho e se solta

Quem tem a alma nos olhos de uma florzita de campo
Faz das estrelas da noite um lume de pirilampo
E junta o silêncio claro de basto, espora e barbela
Com um assobio compassado, sonando coplas pra ela

Pelo acalanto do vento que desce desde a coxilha
Minha saudade se achega e assim no más desencilha
Um mate é quase um saludo no doce-amargo de um beijo
Pelo carinho das mãos e um jujo bom de poejo

Trouxe de tiro esta lua, num riso em quarto crescente
Só pra alumbrar os olhos negros da noite que cai silente
Se enfeita minha primavera com a flor do meu rincão
E um canto de chimarrita que encanta o meu coração

Canto um romance fronteiro desses que a noite ainda encobre
Nos alvoroços de um pala minguado de rima pobre
Quedando a noite serena que prometia um abraço
E ela de pala no ombro sonhando aqui nos meus braços.


Por Que Choram As Nazarenas

Por Que Choram As Nazarenas
(Zé Renato Borges Daudt, Mateus Neves Da Fontoura, Marcelo Oliveira)

Conheço a balda do potro, feito as cismas que carrego
Num par de estrelas de ferro, nos papagaios da espora,
Pois compreendi campo à fora por que choram as nazarenas
- Refletem todas as penas duma condena de outrora!

Neste par de estrelas bugras há um calvário de espinho
Onde as rosetas são ninhos pros lamentos de um domero
Que sabe a dor de um parceiro que teve o couro riscado
No repechar compassado dos rituais garroneiros.

Nazarena campo à fora, chora porque é preciso,
Uma ausência de sorriso, um pranto na voz do vento...
Que a mágoa do teu lamento pro domero é uma sentença:
De Cristo vem sua crença, da doma vem seu sustento

Não há quem corte um cavalo que não se sinta cortado
Que esqueça a cruz do pecado no silêncio da oração
De joelho frente ao galpão, altar sagrado do campo,
Ao desatar tento e grampo feito quem pede perdão.

Não foi à toa o batismo, chamarem de nazarena,
Ao que impõe a condena a um livre por seu caminho
Pois são coroas de espinho, rosetas, pontas de grampo,
E lembram espinhos santos que Cristo agüentou sozinho.


Intérprete: Marcelo Oliveira

Na Meia Lua De Barro

Na Meia Lua De Barro
(Zé Renato Borges Daudt, Cauê Machado, Gustavo Oliveira)

Ao passo abanando as rédeas
Vem meu baio ao fim da lida
As vezes num contrapasso
Por uma ânsia contida...

De quem avista o galpão
Num fim de tarde silente
Enxergando cristalino
A mansidão a sua frente

E com ela vem a estrada
E um resto de fronteira
Que a poeira busca o tino
Toda vez que aperta a volta
Sei bem onde desencilho
O meu baio por parceiro
Nunca canso meu cavalo
Por querer chegar primeiro

E soube pelos caminhos
O que a vida nos revela
O que é trazer essência
E o que aprendemos com ela

Na meia lua de barro
Que o casco recém soltou
Ficou pelo galpão
O que a espora recortou


Intérprete: Marcelo Oliveira

Terra

Terra
(Adriano Silva Alves, Cristian Camargo)

Choro o mesmo pranto, que guarda o encanto
Quando escuto teu silêncio;
Na ilusão do tempo, que repete ao vento,
Um canto...

Com razões contidas, chegada e partida
Benção clara de semente;
Que acolhe em teu ventre, que banha em vertente,
A vida...

Alma peregrina em seu destino de cruzar
Paciência que ensina, a cada dia um caminhar;
Andar...

Choro o pranto terra,
Que teu pranto encerra, na flor, vida que se abriu;
Lágrima que escorre e em silêncio dorme,
Em rio...

Solitário o tempo,
Andarilho o vento, face clara, lua inteira;
Fruto que envelhece, que renasce e cresce,
Poeira...

“Sou filho em teu ventre, me banha em vertente a vida
Fruto que envelhece, que renasce e cresce, poeira,
Alma peregrina em seu destino de cruzar;
Choro o mesmo canto, que vive em teu pranto, terra”...



Intérprete: Marcelo Oliveira e Quarteto Coração de Potro

Canto a Fidelço Pechada

Canto a Fidelço Pechada
(João Sampaio, Xiruzinho)

Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.

Quando assinalo as orelhas, dum recuerdo terneirada
Vejo Fidelço Pechada, com sol e pampa nas veias
De alma solta sem maneias, poncho de gola vermelha
Dois pingos, uma parelha, das de tourear delegado
E um nagão cabo pintado com tinta de "marcá" ovelha.

Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.

Naquele perfil taurino, ventava sempre um assobio
Murmúrio de pasto e rios, cincerros do seu destino
Assim o vejo, ladino, com um cético saber
E em seu crioulo parecer, falquejado nos galpões
O mundo tinha indagações, que ninguém vai responder.

Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.

Mas um cambicho com a morte há muito que o perseguia
Como estranha bruxaria e alucinado Vento Norte
E embora um taura suporte por esta vida tirana
Tanta rodada aragana lá de longe ela acenava
E com encanto lhe assobiava igual sereia pampeana.

Depois que terminou o apero, desquinado tento a tento
Escutou na voz do vento, o chamado derradeiro
E com um cabresto campeiro, primor de paciência e sonho
Nesse namoro medonho, resolveu com gana louca
Beijar a morte na boca num fim de tarde tristonho.

Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto esta milonga, com uma orelha assinalada.

Por isso entre a gauchada, tua ausência nos desgosta
E batendo casco pela costa, tuas verdades pastam juntas
Pois esta vida tem perguntas que ficarão sem resposta.

Desceu em ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...


INTÉRPRETE: XIRUZINHO, MARCELO OLIVEIRA

Sina Das Almas

Sina Das Almas                                            
(Caine Teixeira Garcia, Zulmar Benitez)

São almas que cruzam...
Numa sede de caminhos,
Numa busca de carinhos,
Num carência de afagos...

São almas que lutam...
De uma forma insistente,
Prá que não morram sementes
No ventre antigo dos pagos!

São almas que anseiam...
Pelas refregas, peleias
Por defender a bandeira
Deixada como legado...
                                                                                             
Eterna sina das almas,
Que são campeiras de fato
De andar repisando rastros
Que o tempo jamais apaga
                                  
Sina das almas, eternas,
Que temem a despedida
Da pampa, que foi em vida
Bem mais que sua morada...
                                  
São almas que habitam...
O ermo dos campos santos
Tantos no meio de tantos
Tiveram destinos logrados...

São almas que insistem...
Em renegar a distância
Que “hay” entre céu e pampa
Entre presente e passado...

São almas que voltam...
Para junto das fogueiras
Prá no chiar das chaleiras
Renascerem num amargo....


INTÉRPRETE: MARCELO OLIVEIRA

Ressaca Das Cheias

Ressaca Das Cheias
(André Oliveira, Marcelo Oliveira)

Escoa o manto das águas
No cepilhado da várzea
Destapando sangue e passo
Que afogaram o santa fé

Entre a grama boiadeira
Suspensa sobre o banhado
Exalto o azul desbotado
Da linda flor do aguapé

Uma vaca redemunha
Mugindo grosso e tristonho
Empurrando seu terneiro
Pra ressaca da crescente

Se atira escorando a cria
Entre a paleta e o vazio
Costeando a barranca do rio
Contra os resquícios da enchente

A ovelha berra o cordeiro
Desce a coxilha ao rodeio
Quando a cheia se aniquila
Com a mesma força das águas
Também afogo minhas magoas
No manancial das pupilas

A crescente se destapa
Deixando sempre armadilhas
Trampas de olho de boi
Com flexilhas rebrotadas

Atoradouros profundos
Formando belas miragens
De verdejantes pastagens
Sobre o mundéu das aguadas

O campo enxuga as águas
Mas não apaga a ressaca
Ficou de herança da cheia
Alguns touros estaquiados

Ossamentas pelo passo
E um varal de palha estendida
Da macega ressequida
Nos sete fios do alambrado


Tempos Lindos


Tempos Lindos
(Eron Vaz Mattos, Cristian Camargo)

Tenho canções no assovio
Que juntei dos corredores
Misto de amargos e flores
Refrãos de sangas e grotas
Sinais de loros nas botas
Riscos de espinho e espora
Ontem marcando o agora
Em cada verso que brota

Final de esquila na Estância do Arbolito
A trotezito larguei meu rumo na estrada
Pealei uns potros lá na Estância do Açude
Vim “jogá” um truco na venda da encruzilhada

Comprei uns “vício” no “boliche” do Quintino
Por teatino me fui de trote chasqueado
Seguindo rumo chapéu com poeira na copa
“Faturá” tropa no Rodeio Colorado

Osvaldo Moura, João da Guarda e o Marino
Tavam domando na Estância das Casuarinas
Potrada linda com vigor de campo bueno
Trote sereno e maçaroca nas crinas

O negro Cléo laçava rindo de tirão
No mangueirão que o negro Adão embuçalava
Ciência de doma nas voltas do maneador
Fibra e valor nas tropilhas que amansavam

Escola antiga do tempo do Diamantino
Índio sulino com sabedoria pampa
Tinha marcantes traços da gente charrua
Na fronte nua livro de história na estampa

Xucras vivências pelos rincões do meu pago
Por isso trago no meu olhar de lagoa
Saudade funda nublando os rumos que tenho
De onde venho e a própria vida encordoa

Nesses caminhos beirando canhadas
Enxergo meu tempo na sombra que faço
Colhendo milongas das aves que cantam
E os pastos levantam depois do meu passo

Vive a carência no meu canto de a cavalo
No jeito antigo que tenho de tempos findos
Da gente nobre que tinha campo no rosto
Da estância ao posto naqueles tempos tão lindos!!

À Meia Tarde No Açude

À Meia Tarde No Açude
(Davi Teixeira, Tiago Abibb)

Meio janeiro, meia tarde, céu inteiro
Tahãs, marrecas cada qual mais tagarela
Um touro berra em comando à sua esquadra
Que avança lenta até bater meia costela

Ali se plantam ancorados junto à taipa
Tendo por diante a cerca viva de aguapé
E logo ao lado em alambrado imaginário
Vai demarcando território um jacaré

Cerco fechado apequenando a invernada
E de lambuja um lambarizal nos jarretes
E o gadario não se assusta, mas entende
Que atropa miúda requisita o ambiente

Trocam olhares preguiçosos assolhados
Equanto a eguada bóca firme a boiadeira
E um quero-quero lá no alto da coxilha
Toca um clarim reconvocando a tropa inteira

Enfileirados, passo a passo sem alarde
Na mesma marcha lá se vão campeando um verde
Mas amanhã no mesmo sol à meia tarde
Retornarão pra saciar calor e sede

Fiel visagem rotineira de campanha
Que enche os olhos de quem busca a quietude
Pra esses campeiros que recorrem todo dia
Passa batida a sesmaria do açude

Meio janeiro, meia tarde, céu inteiro



A Meia Tarde no Açude - Jean Carlos Kirchoff by Guascaletras

Estampa Domingueira


Estampa Domingueira
(Alex Silveira, Carlos Madruga)
                     
Linda minha estampa domingueira
Quando chego no povoado
Trago além da minha fronteira
Uma sina musiqueira
De quem vem contrabandeado.

Bueno este potro de rendilha
Num trancão de pisa-flor
De uma pelagem tordilha
Traz a origem da tropilha
Pela mão do domador.

Chego, já na frente da janela
De um ranchito bem cuidado
Assoviando algo pra ela
Que esta copla tão singela
Eu compus pra o seu agrado.

Olhos de pealar um coração
Na minha vida tão pequena
Do aguapé de um lagoão
Trago a flor do meu rincão
Pra o cabelo da morena.

Pra estância que vou cantando uma tirana
Mas eu sei que vou voltar
Que passe logo a semana
Pois deixei pra queromana
Meu pala pra ela guardar.

Bueno este potro de rendilha
Num trancão de pisa-flor...


Das Cruzes


Das Cruzes
(Severino Moreira, Cristian Camargo, Zulmar Benitez)

“Uma cruz é bem mais que uma cruz.
Depende da forma que se vê”.

São tantas a Cruzes, que o mundo tem
Porém raras vezes, se para pra pensar,
Que nem todas simbolizam suplicio
Nem todas nos plantam, argueiros no olhar.

O olhar que cruza. É um buenas tarde
Saúda quem chega, acena quem vai
E quando a mão é cruz sobre o peito
Simboliza a fé. “Em nome do Pai”.

Uma cruz que envelhece no vazio da Pampa,
É de quem carregou a cruz mais pesada,
E a cruz que ressalta n´algum mausoléu,
Traduz uma vida, que não faltou nada.

As cruzes que voam, em tarde de sol,
Se tem asas negras, são funerais,
Mas quando aparecem, com branco nas asas,
Retinas vislumbram os tempos de paz.

A cruz das estrelas, na quincha do pago,
É que da o sentido, na cruz da estrada
E as cruzes do pingo, que uso por trono
É onde eu cruzo feliz nas canhadas.

Os braços abertos é a cruz do corpo
É alma aberta, sentimento fraterno,
E esse calor, que brota por dentro,
Ameniza agruras, de qualquer inverno.

Na cruz de uma adaga, escora-se o golpe
A cruz no estanho é fogo mortal,
A cruz missioneira multiplica braços
E revive a história, num canto imortal.

A cruz na boca pede silencio,
A cruz a quem benze, tem dialeto,
A cruz no papel é escola da vida,
O aval na palavra, do analfabeto.

Esta na cruz, a paixão de Cristo
Da Cruz se fez o nome de alguém
Se a cruz representa, santíssima Trindade,
Tem a fé que traduz, o caminho do bem.

Me Perdeste Ou Te Perdi


Me Perdeste Ou Te Perdi
(Guilherme Collares, Cristian Camargo)

Meu verso pergunta a si
O que fizeste de mim
Que não mais me encontro em ti?
Eu que fui tua morada,
Tua sombra e tua aguada
Pergunto sem pedir nada
- Me perdeste ou te perdi?

Teu rumo tinha querência
Inquietude e dor de ausência
Que me levavam a ti
E hoje que vives plantado
Eu sou parte do passado
Pergunto resignado
- Me perdeste ou te perdi?

Fui teu basto, tuas botas
E as curvas dessas cambotas
Fui teu baio, tua cruz
Fui o som de tua terra
Tua lança, tua guerra
Fui essa sombra que encerra
Teu espírito de luz

Muitas vezes fui a voz
Que escoou-se pela foz
Do rio de tua ilusão
Fui o teu verso campeiro,
Teu sentimento estradeiro
Eu fui o aboio tropeiro
Que canta o teu coração

E me pergunto descrente
- Que fizeste em tua mente
Que não mais te encontro em ti?
Eu o teu verso campeiro
Teu sentimento estradeiro
O teu aboio tropeiro
- Me perdeste ou te perdi?

Fui teu basto, tuas botas
E as curvas dessas cambotas
Fui teu baio, tua cruz
Fui o som de tua terra
Tua lança, tua guerra
Fui essa sombra que encerra
Teu espírito de luz

Meu verso pergunta a si
- Me perdeste ou te perdi?


Campeiros


Campeiros
(André Oliveira, Marcelo Oliveira)

Olha a mangueira cavalo ecoa lá do potreiro
Vem se trompando matreiro sobre o charco do barral
Encostam encontros na forma roncando venta e virilha
Até que toda tropilha mete a cara no bucal

Graxa pingando na brasa, ronco de mate e cambona
E tilintar de choronas lavrando o chão do galpão
O movimento da encilha deixa a cuscada latindo
E eu adelgaço meu pingo no abraço do cinchão

Quatro galhos bem atados lá na grimpa do sabugo
Que eu sou de pecha refugo contra a estronca da porteira
Depois de bem estrivado sobre os esteios dos loros
Solto um silvido sonoro pra minha escolta ovelheira

“É em direção do rodeio que se laça terneiro novo
E eu não aprendi no povo esta ciência campeira
Ando sovando o cavalo, curtindo o couro do basto
Bolqueando o rastro de casco, benzendo peste e bicheira”

Saio ao tranquito pro campo assobiando uma toada
Mirando a estampa encarnada do horizonte fronteiro
A berbela com o coscorro duetam com maestria
Regendo uma sinfonia no aço branco do freio

Aparto a vaca com cria é um mandamento pampeiro
Que a precisão do campeiro ta no punho e na armada
Num pealo de sobre-lombo abro pra fora o picaço
E o terneiro tá no laço e a vaca com a cachorrada.

A Encomenda


A Encomenda
(João Ari Ferreira, Piero Ereno, Sabani Felipe de Souza)

A tecelã em seu tear bem compassado
Tecia sonhos pelas noites de serão
A lã macia em densos fios enrodilhada
Trançava as horas pra abrandar a solidão

Findando a esquila o serviço aumentava
Chergões de garras bicharás de pura lã
Mas o cansaço jamais faria amargar
Os sonhos doces da menina tecelã

Até que um dia o amor soprou as brasas
Pra aquecer aquelas noites de invernia
Quando chegou de muito longe um rude moço
Trazendo em bolsas os suores de uma esquila
A encomenda de um pala dos bem gaúchos
Fez a mocita desatar – se num sorriso
Num breve mate o enlace da paixão
Acalentou nos corações um sonho lindo

Ficaram garras e velos bem separados
Feito os olhares na hora da despedida
Depois o moço seguiu rumo à fazenda
Deixando nela uma paixão adormecida

Passou o tempo aprontou – se a encomenda
Findou – se a espera na chegada do amado
Que além de um pala feito de lã e ternura
Levou a moça na garupa do gateado

Coração de Madeira


Coração de Madeira
(Adriano Alves, Cristian Camargo)

Pulso em ti, sou coração
Pulso em ti, a vida inteira
Trago em mim, a saudade dos teus tempos
Pulso em ti, em ti, madeira

Ouço o idioma que vive nos matos
Na lágrima que espelha junto à sanga
No céu dos ventos e asas solitárias
No chão que abriga os passos quando anda

Ouço a voz das luas claras, madrugadas
Sua intenção mais pura, poesia
Que beija a face d'alma e bebe em cantos
Vertente cristalina em melodia

Sou eu, teu coração vida e madeira
Silêncios, nostalgia e oração
Saudade, melodia em minhas veias
Que vibram no pulsar de outro coração

"Sou eu, pulsando em ti a vida inteira
Tenho marcas que colhi no céu dos tempos
E que abriguei junto ao meu corpo
Madeira, cada marca em mim batizo melodias
Que o timbre rouco da minha voz mostra seu jeito
Pois sou teu coração a traduzir
O que diz o coração dentro do peito"

Sou eu, teu coração vida e madeira
Silêncios, nostalgia e oração
Saudade, melodia em minhas veias
Que vibram no pulsar de outro coração

Pulso em ti, sou coração
Pulso em ti, a vida inteira
Trago em mim, a saudade dos teus tempos
Pulso em ti, em ti, madeira

Pulso em ti, a vida inteira
Sou eu, teu coração vida e madeira
Sou eu, teu coração vida e madeira

Romance De Estrada


Romance De Estrada
(Xirú Antunes, Marcelo Oliveira, Cristian Camargo)

Morena potykuru, deusa bugra dos meus sonhos
Teus olhos de noite buena, teu corpo cheirando a campo
Os olhos negros profundos são serenatas dormidas
Fugindo aos tristes do mundo pras horas calmas da vida

Amanhecia o herval com brisas de primavera
Te vi linda, enfeitiçada pelos aromas da terra
Eu já andava solito, mirando o tempo que passa
E ao te ver pelo caminho, arrastando alpargatas

Recorri à minha ternura sem murmúrios de palavras
Resguardei os meus encantos pra os acordes da guitarra
Outras manhãs, mais ardentes, recordaram a palavra
Que o vinho dos teus lábios derramou na madrugada

Depois vieram as lágrimas, veio a lembrança morena
Veio o teu nome na imagem das rondas de lua cheia
Ainda me encontro solito, abraçado na guitarra
Recuerdos da lua branca, dormida de serenata

Morena potykuru, deusa bugra dos meus sonhos
Teus olhos de noite buena, teu corpo cheirando a campo





potykuru : palavra do idioma guarani- botão de flor

Morada


Morada
(Lisandro Amaral, Luciano Fagundes, Marcelo Oliveira)

Venho aos teus olhos sorrindo
Chego ao teu corpo, morada
Por saber que a luz do teu olhar
É bem maior que a escuridão, mais nada

Vim do meu mundo inseguro
Chego ao teu corpo e mais nada
Sem saber que a luz do teu olhar
Já vem de ti e é bem melhor
Sorrir por ti, minha morada

Se renasci meu rancho olhando o sol florir
E na alvorada bebo a luz que o campo traz em si
Pequeno mundo aqui me faço ouvir teu próprio ser, mais nada

E a cada gole Bueno o araçá me diz
Que viemos do sereno pra firmar alma e raiz
Imenso rancho aqui te posso ouvir, morada

Se renasci meu rancho olhando o sol florir
E na alvorada bebo a luz que o campo traz em si
Pequeno mundo aqui me faço ouvir teu próprio ser, mais nada

E a cada gole Bueno o araçá me diz
Que viemos do sereno pra firmar alma e raiz
Imenso rancho aqui te posso ouvir, morada
Minha morada, além do nada
Morada

A Tropa Fez Que Se Ia


A Tropa Fez Que Se Ia
(Gujo Teixeira, Cristian Camargo)

A tropa fez que se ia num canhadão sem costeio
Mas se não fosse meus cusco faltava boi no rodeio
Eram dois baios coleras e um brazino cimarrón
Três campeiros de respeito e ainda por cima dos bom

Se eu fosse mete o gateado e atropelar aquela ponta
Deixava o resto da tropa desgovernar-se por conta
Foi um pampa de aspa guacha, já com fama de matreiro
Que disparou mais adiante entre o chircal do potreiro

Mas foi estender um silvido e um grito de olha a volta
Se apresentaram os campeiros meus três soldados da escolta
Era um acôo e mais outro de vez em quando um ganiço
Juntando quem se desgarra por conta do compromisso

Cachorro que cuida a tropa é quase um campeiro e tanto
Não faltam quando é preciso e chegam que lhes garanto

Só avistava de longe os três pegando de trás
Um atracando a dentada o outro volteando no más
Levaram uns cinqüenta metros o boi pampa num volteio
Depois a dente e pegada por conta foi que o boi veio

Depois juntou-se na tropa, meio entendo o motivo
E eu chamei os companheiros pra sombra abaixo do estrivo
E é bem assim nestes campos quando se manda se pega
Cachorro que tem comando não dorme pelas macega

De riba do meu gateado a coisa é bem do meu jeito
Quem pode mais atropela e os cusco botam respeito

Era um acôo e mais outro de vez em quando um ganiço
Juntando quem se desgarra por conta do compromisso
Cachorro que cuida a tropa é quase um campeiro e tanto
Não faltam quando é preciso e chegam que lhes garanto

A tropa fez que se ia num canhadão sem costeio
Mas, se não fosse meus cusco faltava boi no rodeio 

Me Procurando


Me Procurando
(Xirú Antunes, Marcelo Oliveira)

Me procurando me fui ao trote,
Depois ao tranco,não quis galope,
Que este meu mouro é pensativo igual ao dono

Me procurando achei teus olhos
Pelos caminhos de flor e encanto
E a sede grande dos acalantos
Me fez pousar sob teu manto

Me procurando, me procurando
Fui sacramento, depois Rio Grande
E pela idade do couro zaino
Fui farroupilha e castelhano
Brotando em versos de "Don Caetano"

Me procurando (sempre),me procurando
É num pialo de armada grande
É bem ali que me agiganto
E encontro a raça dos meus avós
Pisando firme no céu dos campos.
Na infância bugra, no andar pampeano,
Um gurizito varre o galpão
Levanta poeira e a mesma poeira
Encontra o rasto dos meus garrão.

Me procurando (sempre), me procurando
Me procurando
No olhar do índio revi meu povo
Nos arremates do alambrador
Na esquila antiga feita a martelo
Na polvadeira de um redomão
Nos olhos tristes de algum poeta
Que canta coisas do coração
Que viu o tempo, matando o tempo
Num rancho tosco, quincha e torrão

Me procurando de um lado a outro
Neste Rio Grande guacho de mão
Jeito de vento quando amanhece,
De alma branca de cerração
Me procurando (sempre), me procurando
Me encontrei simples
(de alma, me encontrei simples)
De alma rincão