Canto a Fidelço Pechada
(João
Sampaio, Xiruzinho)
Desceu em
ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto
esta milonga, com uma orelha assinalada.
Quando
assinalo as orelhas, dum recuerdo terneirada
Vejo Fidelço
Pechada, com sol e pampa nas veias
De alma
solta sem maneias, poncho de gola vermelha
Dois pingos,
uma parelha, das de tourear delegado
E um nagão
cabo pintado com tinta de "marcá" ovelha.
Desceu em
ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto
esta milonga, com uma orelha assinalada.
Naquele
perfil taurino, ventava sempre um assobio
Murmúrio de
pasto e rios, cincerros do seu destino
Assim o
vejo, ladino, com um cético saber
E em seu
crioulo parecer, falquejado nos galpões
O mundo
tinha indagações, que ninguém vai responder.
Desceu em
ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto
esta milonga, com uma orelha assinalada.
Mas um
cambicho com a morte há muito que o perseguia
Como
estranha bruxaria e alucinado Vento Norte
E embora um
taura suporte por esta vida tirana
Tanta rodada
aragana lá de longe ela acenava
E com
encanto lhe assobiava igual sereia pampeana.
Depois que
terminou o apero, desquinado tento a tento
Escutou na
voz do vento, o chamado derradeiro
E com um
cabresto campeiro, primor de paciência e sonho
Nesse namoro
medonho, resolveu com gana louca
Beijar a
morte na boca num fim de tarde tristonho.
Desceu em
ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
Eu te aparto
esta milonga, com uma orelha assinalada.
Por isso
entre a gauchada, tua ausência nos desgosta
E batendo
casco pela costa, tuas verdades pastam juntas
Pois esta
vida tem perguntas que ficarão sem resposta.
Desceu em
ti, Fidelço Pechada, pra sempre, uma noite longa...
INTÉRPRETE: XIRUZINHO, MARCELO OLIVEIRA