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TORMENTA

TÍTULO

TORMENTA

COMPOSITORES

LETRA

SEVERINO RUDES MOREIRA

MÚSICA

ZULMAR BENITEZ

INTÉRPRETE

JOCA MARTINS

RITMO

CHAMARRITA

CD/LP

5ª RAMADA DA CANÇÃO NATIVA

FESTIVAL

5ª RAMADA DA CANÇÃO NATIVA

DECLAMADOR

AMADRINHADOR

PREMIAÇÕES

 

Tormenta

(Severino Rudes Moreira, Zulmar Benitez)


Se tisnam tons de fumaça

De contra o fio do horizonte

E o vento traz num reponte

Gavionas de cola alçada

Lobunas entropilhadas

Redemoneadas na poeira

Rompendo pelas porteiras

Que nem tropa estourada.

 

A pampa se empardece,

Prenúncio de temporal

E uma tropilha bagual

Alinha a cola pra chuva.

O céu, manto de viúva,

Se desbota no aguaceiro

Quando um raio matreiro,

Afocinha na timbaúva.

 

Trovoadas que se repetem

Como touro em desafio

E o vento faz corrupio

Na crista dos arvoredos

A lua talvez com medo

Nem dá sinal de vida

E a tarde estremecida

Já se recolhe mais cedo.

 

Um raio na cola do outro

Se reflete no açude

Rasgando a negritude

Dessa tarde azarenta

Lembro o taura que aguenta

N´alguma ronda de tropa

Onde até a alma se ensopa

Na fúria de uma tormenta.

 



DÉCIMA DE UMA RIMA SÓ

TÍTULO
DÉCIMA DE UMA RIMA SÓ
COMPOSITORES
LETRA
SEVERINO RUDES MOREIRA
MÚSICA
ZULMAR BENITEZ
INTÉRPRETE
NILTON FERREIRA*
RICARDO COELHO**
RITMO
VANEIRA
CD/LP
18º PONCHE VERDE DA CANÇÃO*
DO RINCÃO**
FESTIVAL
18º PONCHE VERDE DA CANÇÃO
DECLAMADOR

AMADRINHADOR

PREMIAÇÕES



DÉCIMA DE UMA RIMA SÓ
(Severino Rudes Moreira, Zulmar Benitez )

Encilhei atei a cola, da minha égua estradeira
E sai num trote largo desses de buscar parteira.
Cruzei três ou quatro campo, e uma duzia de porteira
Procurando um baile chucro, pra rebola a qualhera
Esfola as botas novas, surrar calos e frieiras.

Era um rancho de barro, desfolhado na cunhera
No salão um genteril se amuntuava pelas beira.
Eu já gritei lá da porta, num jeito de brincadeira
Danço de espora e mango, mesmo que o diabo não queira
'Inda' sirvo um azevem pras gurias caborteiras.

Foi mexer nos camoatins, e cutucar as cruzeiras
Já me prenderam o grito, vou surrar o bagaceira.
Se está com sarna no lombo, eu te tiro as coçeira.
Manusiei o dom formiga e uma adaga companheira
E já fui servindo boia pra um montão de barejeira.

A gaita ninguem ouvia, com tamanha lambanceira
Os caramelo zuniam, parecia uma abelheira.
Facilita nessa feita, tô virado em peneira
Me grudei numa gorduxa e fiz ela de trincheira
Pelei que nem tamanduá, recostado na tronqueira.

Fui mexer nos camotins, e cutucar as cruzeiras
Já me prenderam o grito, vou surrar o bagaceira.
Se está com sarna no lombo, eu te tiro as coçeira.
Manusiei o dom formiga e uma adaga companheira
E já fui servindo boia pra um montão de barejeira.

O lampião já tinha ido, só ficava a fumaceira
E eu buscava no escuro, um buraco na ratoeira.
Quando avistei um clarão, fui derrubando cadeiras
Medi o vão da janela, e a altura da soleira
E saltei que nem um gato, em cima de uma roseira.

Escapei todo 'lanhado', mas a carcaça inteira
Minha égua, benza deus, me esperava na porteira.
Montei sem tocar estribo, descanpei numa ladeira
Sem tomar nenhuma canha, sem dançar uma vaneira
Por causa desse surungo, hoje eu vivo na fronteira.

Foi mexer nos camotins, de cutucar as cruzeiras
Já me prenderam o grito, vou surrar o bagaceira.
Se está com sarna no lombo, eu te tiro as coçeira.
Manusiei o dom formiga e uma adaga companheira
E já fui servindo boia pra um montão de barejeira.




URUCUNGO

Título
URUCUNGO
Compositores
LETRA
SEVERINO RUDES MOREIRA
MÚSICA
ALMIRO DORNELLES
Intérprete
ALMIRO DORNELLES E GRUPO QUEROMANA
Ritmo
VANEIRA
CD/LP
10ª RECULUTA DA CANÇAO CRIOULA
Festival
10ª RECULUTA DA CANÇAO CRIOULA
Declamador

Amadrinhador

Premiações
MÚSICA MAIS POPULAR

URUCUNGO
(Severino Rudes Moreira, Almiro Dorneles)

Encilhei ainda escuro, um malacara tostado,
Matungo podre de manso e por desgraça estropeado
Os colmilhos só os tocos e o beiço dependurado
Animal virado em osso que já amanhece cansado.

O Campo um matagal, lajeado e “unha de gato”
Uma terneirada xucra, bordada de carrapato,
Um rebenque sem fiel, laço comido dos ratos,
Um “guaipeca muy” atoa e o matungo de arrasto.

Toquei a tropa por diante, pressentindo a enrascada,
Trinta “vaquitas” de cria e meia dúzia de falhadas,
Um touro velho baldoso, três novilhas amojadas...
Não há Cristo que aguente “mala suerte” enfestada.

Carrapato tipo bicho e princípio de aftosa,
“Mutucal e carrapicho” deixando a tropa nervosa.
Mas a pé do que á cavalo, “oigalê” vida custosa,
Riscado de “japecanga” “urumbeva e cancorosa”.

Quando voltei lá no rancho, abria um canto de galo
“Na quase boca da noite, ardendo tudo que é calo”,
Misérias passa na vida, um índio mal á cavalo,
Na falta de quem me creia, muita coisa eu nem falo.


Na Paz do Campo

Na Paz do Campo
(Severino Moreira, Paulo Ricardo Costa, Diego Muller, Sergio Rosa)

Quem olhar pr’o campo num final de tarde,
Guarda os silêncios de sombras compridas,
Enxerga as almas no ermo das taperas...
Desses que foram, e voltam “pra vida”!

No branco das nuvens imagens flutuam,
Molduram retratos nos olhos que veem...
E o vento morno que baila guanxumas,
Parece que traz o sussurro de alguém!

A paz do campo povoa sonhos...
Traduz mistérios, da noite estrelada...
Olhares perdidos... Coisas taperas...
A alma degusta o “sabor do nada”!

No escuro da noite a paz se confunde
Com olhos de campo, mirando o interior...
“Solito” mateio, consumindo as horas,
Sedento de auroras, tão seco de amor!

São tantas as vidas que o tempo levou,
Fazendo “apartes”... Que não apartaram...
Tapearam chapéu, acenaram lenços...
Mas no fundo d´alma sempre ficaram!

Então me pergunto, se o tanto que vejo,
De fato parecem tão claros assim?...
– Será que escuto os cochichos da noite,
Ou é uma saudade mentindo pra mim?

Intérprete: Francisco Oliveira


O Fio Do Horizonte

O Fio Do Horizonte.
(Severino Moreira, Sergio Rosa)

No olhar cabe inteiro
A mão não pode tocar
Evita a nossa presença
Se mudando de lugar

Do cerro parece imenso
Da canhada só um tirão.
É um espaço aberto
Que prende pela visão.

Amanhece colorado
E anoitece cor de breu
Por vezes é silhueta
Que a neblina escondeu

Parece potreiro grande
Que na retina encerra
É um lugar abençoado
Onde o céu beija a terra.

A lua mostra o dorso
Na beleza que seduz
Madrugada da “Bom Dia”
Com os seus raios de luz.

No verão estremecido
Primavera enfumaçado,
No inverno dorso grisalho
No outono desfolhado.

Numa noite de tormenta
Mescla negrume e clarão
Resume em palmo e pico
Ou mostra a imensidão.

Estampa dois sentimentos
Na imagem cruzando o fio
Alegria de quem chega
E a dor de quem já partiu.



Intérprete: Analise Severo

Carneando Oveia

Carneando Oveia
(Severino Rudes Moreira, Zulmar Benitez)

Bichos criados “cousa” linda na mangueira,
Aperta a cola pra ver qual o mais gordito.
Me dá uma mão p’ra pendurar lá na tronqueira,
Depois sossega, eu carneio o bicho solito.
Ponta de faca procurando o sangrador,
Se abre a goela já me obrigo a soltar...
Que ovelha é bicho protegido do Senhor,
Depois que berra é um pecado matar.

“Garrear” as patas pra mim não é segredo,
Risco de faca desde o queixo ao “recavem”,
E vou soqueando esses “seis ou sete dedos”,
Pelego Bueno pros arreios me convém.
Abrir o bicho para mim é sem demora.
Fazendo a faca lamber o osso do peito,
E vou sacando toda a buchada p’ra fora...
Que o pior da lida eu já considero feito.

Sebo das tripas e o “graxedo” dos rins,
É coisa buena pra canjica e o feijão.
E um torresmo sendo gordito assim,
Como enriquece uma “gamela de rolão”.
Só livro o “fel” e manoteio as “frussuras”
Corto a cabeça e entrego p’ra gurizada;
A tripa gorda e a “coalheira” são frituras
Que retemperam o chimarrão da madrugada.

Deixo o espinhaço pra uma canjica de trigo,
E as costelas pra respingar no braseiro,
Uma paleta pro rancho de cada amigo,
Depois charqueio os quartos pro carreteiro.
E desse jeito se carneia a “caponada”,
Lida buenacha, folclore do meu rincão.
Quem cria pouco não costuma perder nada...
E até as tripas se aproveita pra sabão.

E as pata loco véio?
- Das pata eu vou fazer um azeite de mocotó.
É aí que me refiro!!!


Intérprete: Tiago Cesarino


Negro Tronqueira

Negro Tronqueira
(Severino Moreira, Cristiano Viégas Medeiros, Volmir Coelho)

Rancho barreado, negro velho
Um perro por companheiro
Um radiozito caturritiando
Os versos de um pulpero.

É uma imagem de campo
Que o tempo não apagou
Que tantos olhos viram
E a alma triste gravou.

Mãe preta na janela
Como a espera do retrato
E alguém beba a saudade
Na consistência do fato.

La dentro o fogo manso,
Feijão preto galopeando,
Se a alforria não chegou,
O retrato fica mostrando.

Será um João Barreiro,
Que fez rancho para si
Ou será algum “Chopin”
Que o acaso botou ali.

Na pele a cor do barro,
Que sustenta o “cupiar”,
No garrão, raiz de salso,
Entranhado no lugar.

É a estampa do Rio Grande
Pelos grilhões do passado,
Que prendem numa grota
A ilusão dos alforriados...

Indefinido porém
O rancho e a sua gente,
Na arte feita do barro
E a pobreza do vivente.


Intérprete: Volmir Coelho

Da Porteira Pra Dentro

Da Porteira Pra Dentro
(Severino Moreira, Cristiano Medeiros, Volmir Coelho)

Meu coração um aporreado
“Meio tocado pelo vento”,
E quando lembra da linda,
“Patrona” do pensamento,
Que quando bati na marca
Ficou da porteira pra dentro.

Não quero cantar tristezas
Nem recordar a partida,
Tua imagem ainda persiste,
E a saudade me convida
Pois da porteira pra dentro
Que palanqueei minha vida.

Meu coração é a porteira.
Tem dentro um bem querer...
Um semblante terno de amor,
Vertente de paz e saber,
Sangra quando me aparto
Se abre quando te vê,

Estrada longa esta
Que me leva de roldão
A porteira entre aberta,
Por onde verte a canção
E bebe o sal da lagrima
Que te sangra o coração...

E ao trote deste sonho,
Que sabe onde ela está,
Tenho ânsias de carinho.
E essa gana de voltar,
Levando o calor do teu abraço,
Pois o coração já está lá.


Despedida

Despedida
(Vasco Velleda, Severino Moreira, Tiago Cesarino)

Fechei o último baio
Tomei o último amargo
Deixei o resto de mim,
E me larguei pelo pago.
Vai ao tranco meu cavalo
Que a sorte é mesmo assim
Vem comigo meu cachorro
Fazendo fiador para mim.

Não quis olhar para trás
O que tinha não quis ver,
Mas minha alma enxergava
E me fazia sofrer
No mais não deixava nada
Na face crua do chão
Afora a marca afundada,
Com a forma do meu garrão.

Indefinido destino,
Na incerteza do amanhã,
Sem a vastidão do campo
Sem o canto de um tahã.

Eu só levava comigo
Um retrato amarelado,
Uma estampa torena,
Um semblante enrugado,
Minha escola de campo,
Meu acervo sagrado,
... Semblante terno do avô,
Que a terra tinha levado.

Um amargor pela boca...
O campo todo vendido,
A vida no fio da faca
E o meu olhar perdido...
O rancho velho a mangueira,
E logo adiante a carreteira
Uma saudade veiaca
Me esperando na porteira

Desenredando Linhas

Desenredando Linhas
(Severino Moreira, Zulmar Benitez)

A linha do alambrado
Nunca serviu para costura
O trem só anda na linha
Guiado por linha dura
A linha do horizonte
Na retina se segura
E o índio fora da linha
Caminha para a sepultura.

Quem anda na linha reta
Não adentra em confusão,
A linha que afunda na água
Pousa na linha da mão.
A linha deste meu verso,
Agüenta qualquer tirão,
Por ter rabicho cravado,
Nas profundezas do chão.

A linha da folha branca
Também alinha os escritos
E falar por entre linhas,
Fica o dito por não dito,
Está na linha do rosto
O semblante mais bonito
Só não conheço a linha
Que demarque o infinito.

Tem a linha imaginária
Que reparte o hemisfério
Também a linha da vida,
Entroncada no cemitério
Quando uma moça “Dá Linha”,
O causo fica mais sério,
Pois não há linha que prenda,
O coração de um gaudério.

A linha dos alinhavos
Faz rodilha num torçal
Tem linha definindo raças
No sangue de um animal,
E linhas depois da vida
Que fogem do natural,
É a linha clara do bem
Ou linha turva do mal.


Cismando Com O Vento

Cismando Com O Vento
(Severino Moreira, Caine Teixeira Garcia, Zulmar Benitez)

Igual a um potro desbocado
Que se perde campo à fora
Treme barbelas e argolas
E assobia no alambrado
Arrepia os descampados
E o pêlo da cavalhada
Vem numa copla afinada
Duetando o berro do gado

Desbocado vento norte
Que vem me bater à fronte
Já chega de três ontonte
Me açoitando o chapéu
Vem fazendo escarcéu
Num redemoinho de fumaça
Por certo depois que passa
Nuvens choram lá no céu

Eu também sou desbocado
Cruzando a mesma querência
Tu abstrato, eu essência
Tu no ar e eu no chão
Tens no sopro a razão
Com a força que nos norteia
Tu cantas por boca alheia
E eu pelo coração

Vem mareteando os açudes
Levantando geada preta
Quando o dia faz careta
E não dá vaza ao campeiro
E quando vira pampeiro
E vai da alma até o osso
Vazando o pano grosso
Que abriga um fronteiro

Quando O Homem Se Aparta Da Lida

Quando O Homem Se Aparta Da Lida
(Severino Moreira, Mauro Nardes, Sérgio Rosa)

Beirando a estrada real,
Mirando a terra batida,
Homem cheirando a pampa
Tem sede de campo e lida.

Cuidando léguas de campo,
“Criando” vacas de cria,
Sovando lombo de potro,
Para sustento dos dias.

Habita casa e galpão
Num “pedaço de fronteira”
Numa espera que se estende,
Por quase “a vida inteira”.

Porém um dia o sonho,
“Caminha na contramão”,
Uma queda um estalo,
Apaga o rastro do chão.

Parou quase a metade,
Mas ta vivo um coração,
E a saudade da lida,
Se faz rumo e razão.

As ideias se arrefecem
Mirando campo e o gado,
E a mão de tantos calos,
Só manuseia o rodado.

Padece do “ostracismo”,
Com tanta pampa pra ver,
As pernas perderam forças,
“E já não querem obedecer”.

E o homem fibra de aço
“Hoje está na previdência”
Mas sobra força na alma
Pra nortear sua existência.

Das Cruzes


Das Cruzes
(Severino Moreira, Cristian Camargo, Zulmar Benitez)

“Uma cruz é bem mais que uma cruz.
Depende da forma que se vê”.

São tantas a Cruzes, que o mundo tem
Porém raras vezes, se para pra pensar,
Que nem todas simbolizam suplicio
Nem todas nos plantam, argueiros no olhar.

O olhar que cruza. É um buenas tarde
Saúda quem chega, acena quem vai
E quando a mão é cruz sobre o peito
Simboliza a fé. “Em nome do Pai”.

Uma cruz que envelhece no vazio da Pampa,
É de quem carregou a cruz mais pesada,
E a cruz que ressalta n´algum mausoléu,
Traduz uma vida, que não faltou nada.

As cruzes que voam, em tarde de sol,
Se tem asas negras, são funerais,
Mas quando aparecem, com branco nas asas,
Retinas vislumbram os tempos de paz.

A cruz das estrelas, na quincha do pago,
É que da o sentido, na cruz da estrada
E as cruzes do pingo, que uso por trono
É onde eu cruzo feliz nas canhadas.

Os braços abertos é a cruz do corpo
É alma aberta, sentimento fraterno,
E esse calor, que brota por dentro,
Ameniza agruras, de qualquer inverno.

Na cruz de uma adaga, escora-se o golpe
A cruz no estanho é fogo mortal,
A cruz missioneira multiplica braços
E revive a história, num canto imortal.

A cruz na boca pede silencio,
A cruz a quem benze, tem dialeto,
A cruz no papel é escola da vida,
O aval na palavra, do analfabeto.

Esta na cruz, a paixão de Cristo
Da Cruz se fez o nome de alguém
Se a cruz representa, santíssima Trindade,
Tem a fé que traduz, o caminho do bem.

De Volta Às Origens


De Volta Às Origens
(Severino Moreira , Xirú Antunes, Jari terres)
                                    
(Recitado)
Eu que nasci num galpão
Por entre um cheiro de garras
Tive por sinuelo a Dalva
E os ruflos de um redomão
Fazendo uma oração
Pra um batismo meio cru
Talvez por isso retorne
Fui sempre o mesmo xirú...

...Eu hoje amanheci
Com as retinas na querência
Sentindo a clarividência
Que o lombilho proporciona
Minha alma se emociona
Quando a pampa aparece
O sonho bom se arrefece,
E a verdade vem à tona.

Sou outro no mesmo eu
Sou mais pampa e menos povo
Me apego e me comovo
Pelos grotões do meu pago
Cevando no meu amargo
A doçura da essência
Se reveste de querência
O bagualismo que trago.

(Recitado)
E quando eu estendo a vista
Entre coxilhas e várzeas
Repassando nas guitarras
O meu eco mais profundo
Recordo meu velho mundo
Que já nasceu de a cavalo
E me legou de regalo
Esse canto topetudo.

E no compasso das chilenas
Recordo as tolderias
Os vícios e as pulperias
Os dialetos de galpão
Na mesma comunhão
A domingueira bem querença
Reafirmando a crença
Desses filhos de galpão.

Se acendem velhas patriadas
Nas fumaças do horizonte
Neblina que junto aos montes
Com minha alma enfeitiçada
Por isso eu amanheci
Com a ventana arregaçada
Sentindo cheiro de pastos
Pelas grotas e canhadas.

Madrugadas De Agosto


Madrugadas De Agosto
(Severino Moreira, João Bosco Ayala)

“Imagens de um inverno brabo aos olhos de um guri acostumado a quebrar geada na sola do pé.”

Que geada velha lobuna
É de renguear a cuscada
De rachar teto de vaca
E amontoar a porcada
Criar natas de gelo
No espelho das aguadas.

Encorujar pinto guaxo,
Numa lampana de frio
Fazer o vento sumir
Sem deixar um assobiu
Levantar a bruma branca
Pelos caminhos do rio.

O mato dormir chorando
Alumiando o folharedo
Pelego branco estendido
Na extensão do varzedo
Que o piazito campeiro
Nem sente a ponta dos dedos.

Cobrir o pelo da quincha
E os flecos de picumã
Manojo de pasto seco,
Na sombra do tarumã
Emenda a geada de hoje
Noutra que vem amanhã.

São madrugadas de agosto
Neste pago estremecido,
A fome rondando tropas,
No pastiçal ressequido
Saudades de primavera,
De pasto e campo florido.

Entre Baguais

Entre Baguais
(Severino Moreira, Rui Pedro Schimtz)

 “O campeiro e o cavalo são eternos inimigos, até que um deles se dobre”.

Só largo o bagual pro campo
Depois de arrocinado
É mais um condenado
A andar por onde vou,
Pois cavalo e domador
Nasceram como inimigos
E só se tornaram amigos,
No dia que um se dobrou.

Levanto de manhã cedo,
Dando de mão nas esporas,
Arrasto as garras pra fora,
A um flete de primeira encilha.
Se a cincha vai para as virilhas,
Deixo que arqueie o lombo
Pois só nunca levou tombo
Quem não conhece tropilha.

De guacho não me boleio
Desafio é que me enfeza,
Eu nunca precisei de reza
Pra arrocinar um potrilho,
Na espora deixo rosilho,
Mas mostro quem pode mais.
Sou bagual entre os baguais,
Se caio não peço auxilio.

Comigo esgarranchado
O ventana se vê em apuros,
Pois na briga entre baguais,
Ganha o de queixo mais duro.

Que me importa se um corcovo
Me aparta um pouco do chão
Eu firmo a rédea na mão
Esporeando da marca ao toso
E se o guapo é baldoso
Mais me agrada o combate
Doma tem sabor de mate
Amargo, quente e gostoso.