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Aquel Viejito


Aquel Viejito
(Hélvio Luis Casalinho, Fabiano Bacchieri)

Ayer estuve em aquel rancho amigo
Pa escuchar al hombre que mucho me há dicho
Me alzo um mate y se quedo callado
Em um silencio que yo nunca he visto.

Aunque su brazo temblando estuviera
Cebava em calma y lo hacia sabroso
Y me dijo siempre que mate lavado...,
Solo después de haberse muerto.

Entonces, suave, le hable despacio
- porque el silencio em um dia tan claro?
Y el viejo pronto contesto tranqüilo
...- hoy solo quiero mirar tu sonrisa.

Y asi em mi pecho como um potro alzado
Mi corazón se puso a abrir a golpes
Y comprendi que solo escucharia
El ronco amargo y el tarariar del fuego.

Y alli yo supe que no más tendria
Las cosas buenas que el viejito hablava
Quien sabe em reza com mi tata dios
Mate la sede de las tardes serenas...



Natal Nativo


Natal Nativo
(João Fontoura)

Quando chega o Natal
Aqui no sul do país
O céu é mais azul
E o povo é bem mais feliz

A esperança se renova
No coração das pessoas
Desejo paz e saúde
E de muitas coisas boas

Então louvamos à Deus
Nosso patrão celestial
Pra que o menino Jesus
Renasça neste Natal

Que traga misericórdia
Tranquilidade e amor
E que os ranchos mais humildes
Sejam o templo do Senhor

Brotam sentido de fé
Pelas nossas pulsações
O mundo ganha mais luz
Através das orações

Que traga misericórdia
Tranquilidade e amor
E que os ranchos mais humildes
Sejam o templo do Senhor

Então louvamos à Deus
Nosso patrão celestial
Pra que o menino Jesus
Renasça neste Natal

De Volta Às Origens


De Volta Às Origens
(Severino Moreira , Xirú Antunes, Jari terres)
                                    
(Recitado)
Eu que nasci num galpão
Por entre um cheiro de garras
Tive por sinuelo a Dalva
E os ruflos de um redomão
Fazendo uma oração
Pra um batismo meio cru
Talvez por isso retorne
Fui sempre o mesmo xirú...

...Eu hoje amanheci
Com as retinas na querência
Sentindo a clarividência
Que o lombilho proporciona
Minha alma se emociona
Quando a pampa aparece
O sonho bom se arrefece,
E a verdade vem à tona.

Sou outro no mesmo eu
Sou mais pampa e menos povo
Me apego e me comovo
Pelos grotões do meu pago
Cevando no meu amargo
A doçura da essência
Se reveste de querência
O bagualismo que trago.

(Recitado)
E quando eu estendo a vista
Entre coxilhas e várzeas
Repassando nas guitarras
O meu eco mais profundo
Recordo meu velho mundo
Que já nasceu de a cavalo
E me legou de regalo
Esse canto topetudo.

E no compasso das chilenas
Recordo as tolderias
Os vícios e as pulperias
Os dialetos de galpão
Na mesma comunhão
A domingueira bem querença
Reafirmando a crença
Desses filhos de galpão.

Se acendem velhas patriadas
Nas fumaças do horizonte
Neblina que junto aos montes
Com minha alma enfeitiçada
Por isso eu amanheci
Com a ventana arregaçada
Sentindo cheiro de pastos
Pelas grotas e canhadas.

Campeiros


Campeiros
(André Oliveira, Marcelo Oliveira)

Olha a mangueira cavalo ecoa lá do potreiro
Vem se trompando matreiro sobre o charco do barral
Encostam encontros na forma roncando venta e virilha
Até que toda tropilha mete a cara no bucal

Graxa pingando na brasa, ronco de mate e cambona
E tilintar de choronas lavrando o chão do galpão
O movimento da encilha deixa a cuscada latindo
E eu adelgaço meu pingo no abraço do cinchão

Quatro galhos bem atados lá na grimpa do sabugo
Que eu sou de pecha refugo contra a estronca da porteira
Depois de bem estrivado sobre os esteios dos loros
Solto um silvido sonoro pra minha escolta ovelheira

“É em direção do rodeio que se laça terneiro novo
E eu não aprendi no povo esta ciência campeira
Ando sovando o cavalo, curtindo o couro do basto
Bolqueando o rastro de casco, benzendo peste e bicheira”

Saio ao tranquito pro campo assobiando uma toada
Mirando a estampa encarnada do horizonte fronteiro
A berbela com o coscorro duetam com maestria
Regendo uma sinfonia no aço branco do freio

Aparto a vaca com cria é um mandamento pampeiro
Que a precisão do campeiro ta no punho e na armada
Num pealo de sobre-lombo abro pra fora o picaço
E o terneiro tá no laço e a vaca com a cachorrada.

Onde Andará


Onde Andará
(Gujo Teixeira, Joca Martins, Fabiano Bacchieri)

Onde andará a silhueta desses antigos campeiros
Que desenhavam saudade na fumaça dos palheiros
E madrugavam setembros na voz clara dos braseiros

Onde andará a "mañanita" dos mates de gosto bueno
Da encilha dos gateados contraponteando o sereno
E a humildade dos ranchos guardando sonhos morenos

Onde andará o verso claro ponteado numa canção
Que se espalhava em floreios pelas tardes do galpão
E matizavam campeiros ao som da gaita e violão

Onde andará a tarde longa das ressolanas campeiras
Onde a alma desses tantos cruzava além da porteira
Pra o mundo das invernadas por não saber das fronteiras

Por onde andará o semblante de um avô maragato
Que eternizou seu silêncio na moldura de um retrato
E dos seus causos antigos desses campeiros de fato

Quem sabe andam perdidas na saudade dos avós
Ou presas dentro do peito querendo saltar na voz
Mais bem certo elas se acham guardadas dentro de nós

À Flor da Terra


À Flor da Terra
(Gujo Teixeira, Leonel Gomez)

Cada vez que o sol desponta erguendo um rubro pañuelo
Minh' alma vai lá prá fora como uma estrela por sinuelo
E se perde nas coxilhas e várzeas que sempre ando
Só se encontra ao fim da tarde no galpão desencilhando

Parece que a alma inteira tem sombras de corunilha
Por entre campos extensos floridos de maçanilha
Por certo também tem noites com o luzir de uma estrela
Aquerenciada aos olhos de quem tem olhos pra vê-la

Vou transpassando meu tempo e as ânsias redomonas
Num verso escrito a lápis sobre a caixa da cordeona
Me encontro num chamamé quando a saudade me bate
Ponteando a alma em floreios nos intervalos do mate

Só quem já teve nas botas unhadas de japecanga
E pitangueiras floridas junto às barrancas da sanga
Consegue ter pela alma flores brancas e espinhos
E olhas d'água de campo prá seus extensos caminhos

Daí então à flor da terra onde o destino floresce
É que guardei uma imagem Que o olhar jamais esquece
É que lá fora as manhãs tem som de gaita em floreio
E eu me vejo campereando pela invernada do meio

Senhor das Manhãs de Maio


Senhor das Manhãs de Maio
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

Meu galpão, de alma tranqüila, ressuscita, todo dia
Cada vez, que o sol destapa, sua silhueta sombria
E desenha, cinamomos, na minha querência vazia

Senhor, das manhãs de maio, ceva, este mate pra mim
Que eu venho, há tempos de lua, minguando sonhos assim
Os que eu posso sonho aos poucos, os que eu não posso, dou fim

Silencio quando posso, quando quero sou estrada
Diviso as coisas do tempo bem antes da madrugada
Numa prece, que nem lembro, refaço minhas orações
Pai nosso que estais no céu, precisai vir aos galpões

No descaso, dos galpões, solito, quando me vejo
É que se achega, a saudade, com seus olhos de desejo
Pondo estrelas madrugueiras, neste céu de picumã
Parecendo, que se adentra, pra contemplar minha manhã

Meus sonhos, domei pra lida, pra minha rédea, ao meu gosto
Pras dores, da minha alma, se ela cruzar esse agosto
Por favor, senhor dos mates, não deixe a manhã tão triste
Mateia junto comigo, que eu sei que tu ainda existe

Silencio quando posso, quando quero sou estrada
Diviso as coisas do tempo bem antes da madrugada
Numa prece, que nem lembro, refaço minhas orações
Pai nosso que estais no céu, precisai vir aos galpões

Contraponto

Contraponto
(Paulo de Freitas Mendonça, Fabiano Bacchieri , Cristiano Quevedo)

Esse meu jeito de alçar a perna
De mirar ao longe o horizonte largo
É o contraponto de beber auroras
Quando cevo a alma pra sorver o amargo

Esse silêncio que me traz distância
Que me agranda o canto entre campo e céu
É o contraponto de acender o fogo
Meço um metro e pouco da espora ao chapéu

Essa coragem de pelear de adaga
De ser um gigante pela liberdade
É o contraponto de ajuntar terneiros,
De acenar aos velhos e ter humildade

Essa audácia de buscar o novo
Sem pisar no rastro ou reacender as brasas
É o contraponto de ter prenda e filhos
E ficar tordilho ao redor das casas.

Changueiro De Vida E Lida

Changueiro De Vida E Lida
(Adair de Freitas)

Quando acabarem-se as esquilas
Pra onde irei, pra onde irei?
Talvez changuear para juntar mais alguns pilas
Que sempre gasto mais depressa que ganhei
Vou assoliar meu poncho velho
Fiel parceiro, fiel parceiro...
O João Maria me avisou de lá do povo
Conta comigo pra tropear pra um saladeiro

E assim será,
Porque haverá de ser assim a vida de um peão
Changueando a lida vida a fora sem buscar razão
Nem me interessa outro moldes se não for assim
E viverá
Porque viver sendo changueiro é tudo o que aprendeu
Sabe que as preces nada valem pra quem é ateu
Nem catecismos pra quem não tem fé.

Quando acabarem-se as esquilas
Pra onde irei, pra onde irei?
Talvez changuear para juntar mais alguns pilas
Que sempre gasto mais depressa que ganhei
Vou assoliar meu poncho velho
Fiel parceiro, fiel parceiro...
O João Maria me avisou de lá do povo
Conta comigo pra tropear pra um saladeiro

Vou madrugar
Passar na venda, encher a mala de garupa e sair
Galope alegre rumo ao rancho pra fazer sorrir
Minha chinoca e os piazitos que esperando estão
E vou ficar
Dois ou três dias para matar essa saudade enfim
Juntar as garras e partir, pois tem que ser assim
Meu rancho é o mundo e as estradas... se nasci peão

Quando acabarem-se as esquilas
Pra onde irei, pra onde irei?
Talvez changuear para juntar mais alguns pilas
Que sempre gasto mais depressa que ganhei
Vou assoliar meu poncho velho
Fiel parceiro, fiel parceiro...
O João Maria me avisou de lá do povo
Conta comigo pra tropear pra um saladeiro

Então irei,
Mais uma vez, pingo de tiro pelo corredor
A repassar meu próprio rastro sempre campeador
E auroras novas que iluminam o pago de onde vim
E cantarei,
Meu canto alerta terra e fogo changueador também
Com a certeza que na vida nada nem ninguém,
Há de domar o potro xucro que escarceia em mim.

Ritual De Fronteira

Ritual De Fronteira
(Rogério Ávila, Márcio Rosado)

E há quem diga
Que a lida do campo năo é mais a mesma,
Que os tiros de laço somente restaram
Pra historia do pampa
E não são mais a estampa da vida rural

Que os homens terrunhos de vozes serenas
Não são mais torenas no trono dos bastos
Que a base de cascos não se faz mais nada
E que a terra plantada não vale um real

Por certo não sabe que lá na fronteira
A fibra campeira é o retrato do pago
Que gosto do amargo é o mesmo de outrora
E que a pua da espora ainda amansa bagual

Que tiros de laço se acha por farra
Sobre lombo, cucharra, ou do jeito que queira
Manhãs fogoneiras de pingo encilhado
Com o cacho quebrado no velho ritual

Que os homens terrunhos de vozes serenas
Ainda são os torenas no sul do país
E se vivem no campo e charlam com calma
É por terem na alma este mundo feliz

Mas há quem diga
Que a lida no campo não é mais a mesma
Que os homens terrunhos de vozes serenas
Não são mais torenas e que a terra plantada
Não vale um real

Por certo não sabe que lá na fronteira
A fibra campeira é o retrato do pago
Que gosto do amargo é o mesmo de outrora
E que a pua da espora ainda amansa bagual

Que tiros de laço se acha por farra
Sobre lombo, cucharra, ou do jeito que queira
Manhãs fogoneiras de pingo encilhado
Com o cacho quebrado no velho ritual

Cansando O Cavalo

Cansando O Cavalo
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

Por estas voltas de campo andei cansando o cavalo
Tocando o gado por diante mandando a vida pra frente
Sabendo que o sul pra gente é bem maior do que tantos
Tamanho os olhos dos outros querendo o verde dos campos

Andei rodando esporas sovando tantas badanas
Trazendo junto dos tentos minha querência em rodilha
Olhando a alma dos campos renascer junto as flechilhas
Mesmo que o verde mais lindo fique pra lá da coxilha

Por estas léguas manda cavalo
Mas vai tranqueando por diante
Que o mango vem de regalo

Mas ando sempre no tranco que minha prosa aguenta
Pois meu gateado sustenta as coisas quanto ele quer
Se tem o mundo por conta coiceia achirca e se some
Trocando a lida de ponta, perdendo a doma dos homens

Pra quem olhasse depois duas estampas pacholas
Levando o verde nos olhos e a querência a bate cola
Nem se daria por conta que o sustento vem da gente
E só bebe a melhor água quem descobrir a vertente

Por estas léguas manda cavalo
Mas vai tranqueando por diante
Que o mango vem de regalo

Só quando a lida me deixa descubro o mundo que eu vejo
Um pouco além da coxilha tão as coisas que eu desejo
Pra dizer bem a verdade são bem iguais as daqui
Mas sempre canso o cavalo só pra dizer que eu vi

Por estas léguas manda cavalo
Mas vai tranqueando por diante
Que o mango vem de regalo

De Vento E Garoa

De Vento E Garoa
(Christian Davesac, Ricardo Rosa)

Um poncho negro no arreio, carregador de distâncias,
E o vento carda fragrâncias de terra e lombo suado,
Num passo firme o gateado da marca antiga do avô,
Que o Rio Grande enfrenou na várzea pechando bois,
Silhueta que o tempo pôs quando a noite se atorou!

Boiada ponta de tropa, pesada de sobre-ano,
Tranqueia solta de mano seguindo o passo das pedras
O campo verde apodera, põe graxa na capadura,
É a primavera que apura pro rumo do saladeiro,
Estilo guapo fronteiro, desde guri se assegura!

Tem cara negra mochado e baios de cola branca
Cruza da marca da estância lá da costa da lagoa
Bem mansa chega a garoa desato o poncho da mala
Ainda longe das casas, refuga um pampa brasino,
Meu pampa é cerno e abrigo pajando de cola atada!

Pito um crioulo de rolo, com palha seca de milho,
Depois aperto o lombilho no olho da tarde cheia,
Um cusco guapo se achega, me dá uma mão no rodeio,
Cuidando a tropa se veio, sem olvidar da culatra,
Sacode a cola de prata este picaço ovelheiro!

A tropa encordoa mansa pros lados do parador,
Chega do posto o olor dum borreguito nas brasas,
O gateado enxerga as casas, tapeio bem o chapéu,
Desaba o tempo do céu, afrouxo boca de espora,
O tempo não se apavora, e nunca nega o sovéu!

Na porteira da invernada saudade é cerne de lei,
Sossego léguas que andei de tropa no corredor,
Um truco me canta flor, campeando estrada e galpão,
Nas cordas do violão uma canção já ressonga,
Batendo vento e garoa de mate gordo na mão!

Um poncho negro no arreio, carregador de distâncias...

Tordilho Vinagre

Tordilho Vinagre
(Lauro Antonio Correa Simões, Luiz Cardoso)

Quando se doma um tordilho
Só existem dois caminhos
Ou se faz dele um amigo
Com paciência e com carinho
De outro modo é cascavel
Batendo o guizo no ninho

Quando encilho o meu tordilho
A cincha no osso do peito
Enfrenado em lua certa
E arrocina do apreceito
Qualquer rancho é um postal
Com ele no parapeito

Nas festas da gauchada
Emprestado da fazenda
Seu trote é um vôo de garça
Ao selim que faz legenda
Tosado de cogodilho
Para o andar de uma prenda

Dizem que o mar é um tordilho
Se não é quem dera fosse
Quando um raio se despenca
É um baio que desgarrou-se
Pois meu tordilho vinagre
Nasceu do vinho mais doce

Sendo de pelo tordilho
Não existe outro regalo
Melhor ponteiro de tropa
Um peão dá de à cavalo
Engolindo os horizontes
Assim me gusta de um pealo

Enquanto o verso gaucho
Cantar pingos nos lombilhos
Esses parceiros de lida
Legado de pai pra filho
Segue o Rio Grande à cavalo
Sobre o lombo de um tordilho

De Fogões E Inverneiras

De Fogões E Inverneiras
(Xirú Antunes, Joca Martins, Jari Terres)

Um vento forte me reboja o pensamento
Desquino um tento pra não ter o que pensar
Mergulho os sonhos no banhado do potreiro
E a noite grande vem me por a guitarrear.

Traço caminhos pra seguir no outro dia
E a alma encilha novos fletes pra domar
Nas invernadas que se perdem nas distância
Mato essas ânsias extraviadas no cantar.

Fogões me agradam no clarim das inverneiras
Almas campeiras que povoam no galpão
São sonhos xucros mesclados com o Minuano
Que este haragano há muito tempo já domou

Lá fora a vida se desmancha em chuva fria
Cordoando tropas, buscando se acomodar
Um quero-quero se anuncia na coxilha
Ensaia rimas de saudade a recordar.

Negra parceira que o fogão te viu ausente
E até o poente se perdeu do teu olhar
Repasso rimas de fogões e inverneiras
Almas campeiras que me põe a guitarrear

Fogões me agradam no clarim das inverneiras
Almas campeiras que povoam no galpão
São sonhos xucros mesclados com o Minuano
Que este haragano há muito tempo já domou

Assombração

Assombração
(Rodrigo Bauer, Jari Terres)

No campo da frente das casas da estância
Gritou o quero-quero, anunciando a chegada
O perro criollo alardeou na distância
Ninguém entendeu aquilo por nada

O ermo do campo estendia-se em léguas
Nenhum andarilho se via chegando
Somente as tambeiras, potrilhos e éguas
E o pasto nativo seguia brotando

São tantas as vezes que isso acontece
Os bichos pressentem que alguém vai chegar
E a gente que pensa, às vezes esquece
Que há coisas que os olhos não podem olhar

Barulhos de cascos chegando nas casas
E vozes que chamam por entre arvoredos
Imaginação que por vez cria asas
Ou velhos fantasmas na sombra do medo

A voz das taperas chorando pedaços
De um tempo remoto, em que o pago era moço
Histórias do velho enforcado no laço,
Da moça encontrada no fundo do poço

Taperas, restingas, grotões, cemitérios
Herança de um tempo de adaga e garrucha
Projeta incertezas, crendices, mistérios
No imaginário da gente gaúcha

São tantas as vezes que isso acontece
Os bichos pressentem que alguém vai chegar
E a gente que pensa, às vezes esquece
Que há coisas que os olhos não podem olhar

Barulhos de cascos chegando nas casas
E vozes que chamam por entre arvoredos
Imaginação que por vez cria asas
Ou velhos fantasmas na sombra do medo

Alma De Estância E Querência

Alma De Estância E Querência
(Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco, Jari Terres)

Da gadaria faz silhueta a madrugada
Das quatro quadras da invernada do branquilho
Rodeio grande, saltou cedo a peonada
Levando a lua na cabeça do lombilho

A mim me toca repontar o fundo do campo
Na hora santa em que a manhã tira o seu véu
Levo na testa do gateado a última estrela
Que aquerenciada não quis mais voltar pra o céu

E o meu cavalo que "le gusta" ouvir um silvido
Olha comprido e põe tenência nas orelhas
Enxergo o gado e o assobio sai tão sentido
Que acende o sol num gravatá crista vermelha

O boi compreende o chamado da melodia
E a gadaria pisoteia um Santa Fé
Chegam no passo da restinga, e uma traíra
Atira um bote à flor azul de um aguapé

Olhando a ponta que encordoa pra o rodeio
Cresce o anseio de viver nestas lonjuras
Bárbara é a lida no lombo dos arreios
E alma de campo é a bendição destas planuras

Já me disseram que se acabam as invernadas
Que retalhadas marcam o fim dessa existência
Mas trago a essência e a constância de um olho d'água
E a alma penduada com sementes de querência

Quando O Verso Vem Pras Casa

Quando O Verso Vem Pras Casa
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

A calma do tarumã ganhou sombra mais copada
Pela várzea espichada com o sol da tarde caindo
Um pañuelo maragato se abriu no horizonte
Trazendo um novo reponte prá um fim de tarde bem lindo

Daí um verso de campo se chegou da campereada
No lombo de uma gateada frente aberta de respeito
Desencilhou na ramada já cansado das lonjuras
Mas estampando a figura campeira bem do seu jeito

Cevou um mate pura-folha jujado de maçanilha
E um ventito da coxilha trouxe coplas entre as asas
Prá querência galponeira onde o verso é mais caseiro
Templado à luz de candeeiro e um quarto gordo nas brasa

A mansidão da campanha traz saudade feito açoite
Com olhos negros de noite que ela mesma querenciou
E o verso que tinha sonhos prá rondar na madrugada
Deixou a cancela encostada e a tropa se desgarrou

E o verso sonhou ser várzea com sombra de tarumã
Ser um galo prás manhãs, um gateado prá encilha
Sonhou com os olhos da prenda vestidos de primavera
Adormecidos na espera do sol pontear na coxilha

Ficaram arreios suados e um silêncio de esporas
Um cerne com cor de aurora queimando em fogo de chão
Uma cuia e uma bomba recostada na cambona
E uma saudade redomona pelos cantos do galpão

Réstia De Vida

Réstia de Vida 
(Carlos Omar Vilella Gomes, Jari Terres)

Talvez as palavras não bastem e os olhos não vejam o que existe além
Quando os versos florescem discretos as paixões do poeta florescem também
Talvez seja um cheiro de mato essa réstia de vida que me leva a lutar
Nesta terra onde encontro a pureza vou largando as tristezas que somei neste andar
Nesta terra onde encontro a pureza vou largando as tristezas que somei neste andar

O que seria do poeta se não existisse a beleza de cada lugar
Se a lua sumisse da noite e o vento em açoite gemesse ao soprar

Mas enquanto existir um a estrela algum rio que vagueia uma garça no céu
Sempre verde será a esperança e por estas distâncias o poeta terá seu papel
Pois o verso é um pequeno resumo a essência do sumo do que há em cada ser
E o poeta é quem busca esses rumos nesta parte do mundo que insiste em viver
E o poeta é quem busca esses rumos nesta parte do mundo que insiste em viver

O que seria da vida se um dia o poeta sem luz resolvesse calar
Sem a sanga pra matar a sede sem a flor sem o verde sem razões pra cantar
O que seria da vida, o que seria da vida, o que seria da vida sem razões pra cantar

Coplas Para Um Galpão De Estância

Coplas Para Um Galpão De Estância
(Xirú Antunes, Severino Moreira, Jari Terres)

Estes cernes consumidos em tua alma de brasedo
Por certo foram segredos no centro das inverneras
De repousar as basteras retovando o garreril
Principiando o assobio de uma milonga galponera

Quem tem lembranças guardadas como regalo
Dos velhos tempos quando tudo era estância
Cruzar querência sobre o lombo do cavalo
E  por instinto ter o tempo e a distância

Rever as garras penduradas num galpão
Chiar de tição nos respingos da cambona
Sentir o gosto desta xucra infusão
Bebendo acordes de guitarras redomonas

Galpão de estância marca viva do meu mundo
Cheiro de garras e pingos suados da lida
Tosca cantiga do estralar dos gravetos
Ar de sereno com carqueja ressequida

É a mais antiga das crenças de um payador de ofício
Mescla de guitarra e vício, és meu galpão centenário
Que por certo foi o cenário de improvisos e saudades
No bordonear de ansiedades de algum poeta visionário

Quando o soluço do inverno abre o poncho
Ou mormaceando o verão traz sualheiras
Tua tronqueira de saludo abraça a gente
Ilha quinchada no mar verde sem bandeira

Testemunha da raça dos potreadores
Que no teu chão conceberam bruxarias
Benzer as cismas dos lampejos de aurora
E atar esporas antes do clarear do dia

Galpão de estância marca viva do meu mundo
Cheiro de garras e pingos suados da lida
Tosca cantiga do estralar dos gravetos
Ar de sereno com carqueja ressequida

Tudo é Milonga Pra Mim

Tudo é Milonga Pra Mim
(João Sampaio, Odenir dos Santos, Jari Terres)

Tudo pra mim é milonga, tudo é milonga pra mim
Até o “tirim” da minha espora milongueia no capim
Até quando o Vento Norte castiga as tardes de agosto
Escuto os fios do alambrado milongueando no sol posto

Quando um teatino refuga e eu desato os quatro tentos
Ouço o bufo da milonga se esparramando no vento
Quando a argola beija a aspa e o meu trançado se alonga
Chego a escutar os acordes de um bordonear de milonga

Me disse um cantor paisano da terra de San Martín
Carrego a pátria na goela por isso que canto assim
E até o relincho de um potro é uma milonga pra mim

Outra milonga pra mim é o rangido do arreio
Tocando de contraponto com a barbela do freio
Até o latir de um cachorro atrás de um sorro matreiro
Retumba cabeça adentro soluços de um milongueiro

À tarde quando mateio no oitão do rancho sozinho
Ouço duetos de milongas no bico dos passarinhos
Nas noites que perco o sono minh’alma sai por ai
Mangueia velhas milongas e traz pra eu poder dormir

Me disse um cantor paisano da terra de San Martín
Carrego a pátria na goela por isso que canto assim
E até o relincho de um potro é uma milonga pra mim