Mostrando postagens com marcador Sérgio Carvalho Pereira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sérgio Carvalho Pereira. Mostrar todas as postagens

O PREÇO DA DOMA


TÍTULO
O PREÇO DA DOMA
COMPOSITORES
LETRA
SÉRGIO CARVALHO PEREIRA
MÚSICA
LEONEL GOMEZ
INTÉRPRETE
MARCELO OLIVEIRA
LEONEL GOMEZ
RITMO
MILONGA
CD/LP
04ª GALPONEIRA DE BAGÉ
FESTIVAL
04ª GALPONEIRA DE BAGÉ
DECLAMADOR
AMADRINHADOR
PREMIAÇÕES
01º LUGAR

O PREÇO DA DOMA
(Sérgio Carvalho Pereira, Leonel Gomez)

O preço da doma no 5º Distrito do Piratini
É o mesmo que pagam na costa do mato do Upamaroty
Não há diferença de São Gabriel para o Cacequi
O preço é igual do Rio Jaguarão até o Quarai

Pra agarrar de campo, tironear dos queixo, sacar cósca e balda
É sempre um salário não importa o bruto de cada pegada
Pra adoçar de boca, amansar de cincha, cabresto e garupa
Ninguém mais pergunta, um salário basta pra esta lida bruta

O que não se sabe é quanto cobra a doma para o domador
A peso de ouro nos pulsos e no couro do amansador

A doma que engana, quando empresta a fama respeito e altura
Vai cobrar no cerno a dor dos invernos pelas quebraduras
Ofício antigo, de corda e coragem, de ferro e linhagem,
De braço e nobreza, ofício de campo, de campo e pobreza



Estradas De Mim


Estradas De Mim
(Sérgio Carvalho Pereira, Sérgio Aristimuno, Jorge Renato Rodrigues)

De há muito eu sonho uma estrada poeirenta
Destas que hay tantas pelos fundos das campanhas
Os corredores de cruzar em marcha lenta
Nas domingueiras depois das semanas ganhas

Ouvir os cascos contra o saibro nas subidas
Sentir o cheiro da poeira nos baixios
Ver pela sombra das taperas coloridas
Os sabiás me saludando no assobio

Ter um cachorro pra trotear no meu costado
Sentir-me amado na quietude deste amigo
Ver meu gateado escarceador jogando o freio
Mostrando anseios de passear junto comigo

Ter outro mundo no embalo do meu pingo
Num só domingo sofrenar minhas tristezas
Estas estradas hoje longe na distância
Nutrem as ânsias e apoderam minhas certezas

Nem que os caminhos onde cruzo sejam feios
E falte anseios ao meu pingo de chegar
Quebrem os cascos se extraviem meus arreios
Ergo no freio e dou-lhe forças pra tocar

E sigo as pedras destas luas até ao fim
E o matraquear destes botões como enxames
Busco nos rastros de retornos que há em mim
As estraditas de pelincho nos arames

De há muito eu sonho uma estrada poeirenta...

O Primeiro Canto


O Primeiro Canto
(Sérgio Carvalho Pereira, Roberto Borges)

Descampado, sin alambre
Várzea, sanga e canhadão
No céu a constelação
Da cruz del sur alumbrando
Vento gelado arrepiando
Pasto e gado cimarrón.

Foi a época do couro
Carnal, carneadeira e flor
Garrão cortado de touro
Mão certeira e sangrador
A soga, a pedra, o estouro
E o grito do boleador.

Subiu a poeira do tombo
E a poeira do esquecimento
Só uma payada, um lamento
Prendeu a voz deste estrondo
El cantar siempre es más hondo
Si al canto lo carga el tiempo.

Se o livro ainda não sabia
Que já chegara o gaúcho
O payador, monge e bruxo
Teimava que ele existia
Dos gritos tirou poesia
Do couro tirou seu luxo.

Três séculos... quase nada
Pras estrelas e os fogões
Que escutaram as orações
Dessa primeira payada
Na pureza desta aguada
Bebem todas gerações.

E aqui estou, e este meu canto
Na outra ponta da história
Tem muito desta memória
E tem de mim outro tanto
Da mesma poeira levanto
Pra riscar minha trajetória.

O Evangelho Segundo Martin Fierro


O Evangelho Segundo Martin Fierro
(Xirú Antunes,Sérgio Carvalho Pereira)

Do sacramento pampeano
Nasceu o livro sagrado,
O crioulo apostulado
Que a terra testemunhou,
E minha alma forjou
Nas contas do velho tempo,
Os primeiros documentos
Na escrita do pajador.

Com o terço da guitarra
E o sem fim dos descampados,
Sobre o lombo do cavalo,
Defini o dialeto
Ao reforçar o trajeto
Do primeiro cruzador
Que emprestou sua dor
Aos rumos do universo.

Eu que fui , um cristiano
Crucificado em guitarra,
Jamais feri a palavra
Do alfabeto dos fatos,
Ao escrever cada salmo
Acriolado de história,
"Esqueci o que foi ruím
Pra seguir tendo memória".

Do sacramento pampeano
Nasceu o livro sagrado,
O crioulo apostulado
Que a terra testemunhou,
E minha alma forjou
Nas contas do velho tempo,
Os primeiros documentos
Na escrita do pajador.

Com o terço da guitarra
E o sem fim dos descampados,
Sobre o lombo do cavalo,
Defini o dialeto
Ao reforçar o trajeto
Do primeiro cruzador
Que emprestou sua dor
Aos rumos do universo.

Eu que fui , um cristiano
Crucificado em guitarra,
Jamais feri a palavra
Do alfabeto dos fatos,
Ao escrever cada salmo
Acriolado de história,
"esqueci o que foi ruím
Pra seguir tendo memória".

Lembro um amigo e irmão,
Que morreu no meu costado,
Feito eu um tigre alçado,
Que à noite o instintoconduz,
Se eu só lhe fiz uma cruz,
Pois cruz carregou no nome,
É que rezar não consome
A imensa fome de luz.

Me roubaram a claridade
Nesta vida de desterro,
Um cortejo de enterro
Foi minha passagem na pampa,
Minhas mortes foram tantas
Que eu aprendi o segredo
De pulsar ferro sem medo,
Quando a foice se levanta.

E afinal ressucitei
Na biblia capa de couro,
Eu, minha adaga, meu mouro,
Meu evangelho, minha lei,
Toda fronteira troquei
Pela imensidão do verso
E fui viver no universo
Das almas que não tem rei.

Cantador de Campanha

Cantador de Campanha
(Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco)

Meu trabalho é de peão campeiro
Conforme diz meu documento
Sigo sem afrouxar nenhum tento
De campanha, crioulo e fronteiro
Mas eu trago outro oficio no mundo
Que esses fundos já sabem qual é
Canto baile nos ranchos de campo
Do Retiro a Azevedo Sodré

Bendição que carrego comigo
Ser um peão cantador de campanha
Com o gaitero eu me entendo por sanha
Pra pobreza eu até já nem ligo
Me chamaram pra sábado agora
Cantar um baile na costa do areal
Eu não tenho no bolso um real                             
Mas eu sou o cantador dessa gente de fora

Chão batido de saibro vermelho
Meia água de quatro por cinco
Vou mirando os buracos do zinco
E cantando ao clarão do cruzeiro

Que faz anos a guria mais nova
Lá do rancho do seu Gomercindo
Eu não sei qual o semblante mais lindo
Das três filhas da comadre Mosa
A Izabel, a Canducha e a Rosa
Nem te digo qual a mais bonita
Todas três com vestido de chita
Com pregueado de fita mimosa

O Amadeus na gaita de botão
E o Condonga no violão canhoto
E um zumbido igual gafanhoto
No pandeiro do negro Bujão
Duas moças vem do parador
E uma prima de São Gabriel
Pode ser que a menina Izabel
Faça uns olhos de graça pra este cantador

Se clareia agarremo a estrada
Que a pegada é só segunda feira
Vou cantando mais duas vaneiras
Dessas de iluminar madrugada

Chão batido de saibro vermelho
Meia água de quatro por cinco
Vou mirando os buracos do zinco
E cantando ao clarão do cruzeiro

Alma De Estância E Querência

Alma De Estância E Querência
(Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco, Jari Terres)

Da gadaria faz silhueta a madrugada
Das quatro quadras da invernada do branquilho
Rodeio grande, saltou cedo a peonada
Levando a lua na cabeça do lombilho

A mim me toca repontar o fundo do campo
Na hora santa em que a manhã tira o seu véu
Levo na testa do gateado a última estrela
Que aquerenciada não quis mais voltar pra o céu

E o meu cavalo que "le gusta" ouvir um silvido
Olha comprido e põe tenência nas orelhas
Enxergo o gado e o assobio sai tão sentido
Que acende o sol num gravatá crista vermelha

O boi compreende o chamado da melodia
E a gadaria pisoteia um Santa Fé
Chegam no passo da restinga, e uma traíra
Atira um bote à flor azul de um aguapé

Olhando a ponta que encordoa pra o rodeio
Cresce o anseio de viver nestas lonjuras
Bárbara é a lida no lombo dos arreios
E alma de campo é a bendição destas planuras

Já me disseram que se acabam as invernadas
Que retalhadas marcam o fim dessa existência
Mas trago a essência e a constância de um olho d'água
E a alma penduada com sementes de querência

Das Precisão Prá Viver

Das Precisão Prá Viver
(Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco)

Não preciso quase nada pra vida de peão campeiro
Espora, cincha, baixeiro, boieiras, luas e aguadas
Um galo pras madrugadas, e uma guitarra pra noite
Flor de trevo nas canhadas, maçanilha do horizonte

Tão pouco é o que se requer, prá vida das invernadas
Um ranchito meia água que dê prá filho e mulher
Cavalo forte altaneiro, boa rédea, boa cabeça
Que se lembre se eu me esqueça das precisão de campeiro

Pingo de muitos segredos, sabe o que falta prá mim?
Pelo cheiro do remédio que se aboca o criolim
Pelo tinir das argolas que falta chave e cambona
Pelo aroma do perfume que me vou pras querendonas

Não saio nunca das casa sem levar poncho imalado
Pra um campeiro é um pecado as manga d'água do agosto
Trago nas rugas do rosto as precisão da experiência
Que a vida é como ciência, foi me lavrando a seu gosto

Então não me falta nada prá cruzar por estes campos
Um clarão de pirilampos e o pó da terra na mala
O campo me deu a calma e o vento me deu a crença
E a precisão da querência como municio pra alma

Funeral de Coxilha

Funeral de Coxilha
(Sérgio Carvalho Pereira , Luiz Marenco)

Repousa o corpo tranqüilo
No funeral da coxilha
Terra bordada em flechilha
É o catre de quem retorna
A tarde encomprida a forma
Das guanxumas e alecrins

Não há tristezas nem fins
Na morte que o campo adorna
Não há tristeza no pio
Da perdiz ciscando a vida
Não há fim quando a partida
Vai se tornando chegada
Quem foi de campo e de estrada
Não quer melhor companhia
Que o largo da sesmaria
O luxo de uma invernada

Morreu num final de tarde
Entre pasto rebrotado
Quando uma ponta de gado
Buscava a paz de algum capão
A noite acende um clarão
Prendendo velas miúdas
Em dois olhos de coruja
No castiçal de um moirão

E o campo todo recebe
Corpo e alma em funeral
Se tornará cinza e sal
Fundida com terra e água
E o choro da madrugada
Que entre seus pêlos se entranha
Dá brilho a teia da aranha
que a macega deu pousada

Por isso que minha gente
Jamais enterra um cavalo
O campo sabe cuidá-lo
Quando pra nós tudo encerra
A natureza não erra
Ressuscita na coxilha
Nas flores da maçanilha
Graça e força sobre a terra

Morreu num final de tarde
Entre pasto rebrotado
Quando uma ponta de gado
Buscava a paz de algum capão
A noite acende um clarão
Prendendo velas miúdas
Em dois olhos de coruja
No castiçal de um moirão


Enviada por Lutiani Espelocin

Os Da Última Tropa

Os Da Última Tropa
(Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco)

A poeira dos cascos,
Baixava de manso,
Ganhando a canhada,
E o eco morrente da tropa pesada,
Termava no léu,
Como envolto em um véu,
Um par de aspas claras,
A Deus levantava,
Um franqueiro ponteava
Mugindo tristonho,
Olhando pra o céu.

O capataz pensa em seis dias de marcha,
E mais cinco rondas,
E bombeia o horizonte,
Pra ler pela barra
Que a chuva não vem.
Com os anos que tem,
Encordoa a tropa
Que estende e se alonga,
Pra rede do areal o passo do rio,
Até embarcar no trem.

Se finava o maio,
Que já fora mês de tão grandes tropas,
Campeiros regressam em capas e ponchos,
Depois de dez dias.
Como estátuas de cerne,
Quebrados de aba,
E batidos de copas.
Descortejam a volta,
Coruja na trama,
A estrada vazia.

Se foram sumindo os da última tropa,
Na volta da estrada.
E um ventito sureño.
Assobiava cantigas,
Chamando a invernia.

Vai com mãos macias,
Brincando com areia
De apagar pegadas
Das tropas mais nada,
Que marcas de fogo pelas sesmarias.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão debaixo dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão debaixo dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

Se finava o maio,
Que já fora mês de tão grandes tropas,
Campeiros regressam em capas e ponchos,
Depois de dez dias.
Como estátuas de cerne,
Quebrados de aba,
E batidos de copas.
Descortejam a volta,
Coruja na trama,
A estrada vazia.

Se foram sumindo os da última tropa,
Na volta da estrada.
E um ventito sureño.
Assobiava cantigas,
Chamando a invernia.

Vai com mãos macias,
Brincando com areia
De apagar pegadas
Das tropas mais nada,
Que marcas de fogo pelas sesmarias.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão debaixo dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão que baixou dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

Eeeera boi!