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Aquel Viejito


Aquel Viejito
(Hélvio Luis Casalinho, Fabiano Bacchieri)

Ayer estuve em aquel rancho amigo
Pa escuchar al hombre que mucho me há dicho
Me alzo um mate y se quedo callado
Em um silencio que yo nunca he visto.

Aunque su brazo temblando estuviera
Cebava em calma y lo hacia sabroso
Y me dijo siempre que mate lavado...,
Solo después de haberse muerto.

Entonces, suave, le hable despacio
- porque el silencio em um dia tan claro?
Y el viejo pronto contesto tranqüilo
...- hoy solo quiero mirar tu sonrisa.

Y asi em mi pecho como um potro alzado
Mi corazón se puso a abrir a golpes
Y comprendi que solo escucharia
El ronco amargo y el tarariar del fuego.

Y alli yo supe que no más tendria
Las cosas buenas que el viejito hablava
Quien sabe em reza com mi tata dios
Mate la sede de las tardes serenas...



Guitarreando A Existência


Guitarreando A Existência
(Flori Wegher,  Luis Carlos Alves)

Despacito tranço tentos
De cantigas em versos largos
Que assim no mais, sem embargos
Brotam deste manancial
Ouvindo um xucro coral
Em forma de melodia
Que me vem da saparia
Do palco do banhadal.

Meu verso abarbarado
Tem cheiro de lida e campo,
É querência onde me acampo
A cantar com emoção,
Esporeando a inspiração
Prá sinuêlo do relato
Emoldurando o retrato
Do meu ser e do meu chão.

Busco acalanto em meu canto
Prá diminuir minhas penas,
Tenho prateada as melenas
Grizalhadas de experiências
Canto a raiz e a essência
Deste pampa sul nativo
Garrão de Pátria onde vivo
Guitarreando a existência.

O tempo que vai rodando
Não ressuscita o passado,
Mas cura os machucados
Dos recuerdos caborteiros,
Fantasmas fanfarroneiros
A judiar o coração
Que bate contra o violão
Nos meus cerões galponeiros.
Despacito tranço versos,
Guitarreando a existência.


À Sombra de um Cinamomo


À Sombra de um Cinamomo
(Zé Renato Borges Daudt, Joca Martins)

Junto à parede do rancho
Fim de tarde amarelado
A sombra de um cinamomo
Tem saudades do passado

Tardes breves na importância
Trazem recuerdos consigo
A saudade é casa cheia
Pra quem mateia entre amigos

Se a distância nos separa
Enchendo o peito de dor
As lembranças são regalos
De alto e caro valor

Indelével é o tempo
Assim feito bons parceiros
O destino é que nos torna
Da saudade prisioneiros

Tardes calmas e tranqüilas
Nos reportam a ausentes
Mesmo que em nossa memória
Se façam sempre presentes

E quando vier o meu reponte
Quero ter o que mereço
Dou valor àquelas tardes
Pois paguei um alto preço

E se essa for a minha sina
Me vou feliz mesmo assim
Prá trás deixei um passado
Que tem saudades de mim

Onde Andará


Onde Andará
(Gujo Teixeira, Joca Martins, Fabiano Bacchieri)

Onde andará a silhueta desses antigos campeiros
Que desenhavam saudade na fumaça dos palheiros
E madrugavam setembros na voz clara dos braseiros

Onde andará a "mañanita" dos mates de gosto bueno
Da encilha dos gateados contraponteando o sereno
E a humildade dos ranchos guardando sonhos morenos

Onde andará o verso claro ponteado numa canção
Que se espalhava em floreios pelas tardes do galpão
E matizavam campeiros ao som da gaita e violão

Onde andará a tarde longa das ressolanas campeiras
Onde a alma desses tantos cruzava além da porteira
Pra o mundo das invernadas por não saber das fronteiras

Por onde andará o semblante de um avô maragato
Que eternizou seu silêncio na moldura de um retrato
E dos seus causos antigos desses campeiros de fato

Quem sabe andam perdidas na saudade dos avós
Ou presas dentro do peito querendo saltar na voz
Mais bem certo elas se acham guardadas dentro de nós

De Cantar em Versos


De Cantar em Versos
(Gujo Teixeira, Joca Martins, Márcio Rosado)

A noite escura se enfeitou de lua
Flor amarela nos cabelos da morena
E trouxe estrelas bonitas como a saudade
Deste sorriso pra inspirar meus poemas

Estes teus olhos de estrelas pirilampas
Cristais de luas que brilham nas labaredas
De um fogo grande bichará pro inverno
Que põe lembranças a dançar na seda

E já faz tempo que a saudade vem gelando
Toda campanha e a imensidão do céu azul
Só o braseiro do angico aquece a alma
E o agosto nem chegou aqui no sul

Quando a saudade ganha força nas esporas
Logo se encilha um cismar sem fim
Minha alma voa nas asas do vento
Até seus olhos anoitecerem em mim

Então os mates ganham novo gosto
Pois são cevados no calor da tua mão
E junto a ti meus olhos se acham
Pois não precisam te buscar na imensidão

E nesta noite linda, a flor no cabelo
Lembrou da lua só no universo
Que brilha tanto e vem prá matar saudades
Dessas bonitas, de cantar em versos





Da Alma Branca dos que Têm Saudade


Da Alma Branca dos que Têm Saudade
(Gujo Teixeira, Joca Martins)

Da alma branca dos que tem saudade
Brotam luzeiros pra clarear o dia
E na madrugada junto a um fogo grande
Repontam a querência que estava vazia
E se repetem por saberem o rumo
Que a vida toma por andar vadia

Nem mesmo o tempo por ter contratempos
Reconhece o sonho entre os temporais
Que a alma inventa cada vez que a gente
Se perde de um jeito de não se achar mais
E se desespera por saber que a espera
Pode ser pequena ou não findar jamais

Cada vez que a alma por não ter morada
Acha novo ninho pra pousar as asas
Uma outra alma oferece abrigo
Que a gente às vezes o transforma em casa
E quando então uma saudade fica
Junto a um fogo grande pra soprar as brasas

E a gente chora de chover por dentro
Por mais que essa dor nos siga as pegadas
Nem mesmo que a chuva com suas nuvens negras
Apague seus rastros que marcaram a estrada
Daí então meu rumo possa ter destino
De vencer distâncias e topar paradas

E da alma branca dos que tem saudade
O que a gente então pode perceber
Que a luz dos olhos pode ser o brilho
Que vamos tentando em vão esconder
Pois quem tem os olhos de olhar por dentro
Reconhece a alma por saber querer

Marca Gaúcha


Marca Gaúcha
(Anomar Danúbio Vieira,Fabrício  Harden)

Oiga-lê verão de maio
Sol quente e caindo raio
Depois que eu digo que saio
Eu saio e ninguém me ataca
Um chá de casca de vaca
Sempre foi bom conselheiro
Pra metido a bochincheiro
E pra burro quando se empaca!

Gosto do “urco” veiaco
Que se atore corcoveando
Que se destorça berrando
Calçado num par de “ferro”,
No contraponto do berro
Um sapucay fachudaço
E os “estoro” dos “laçasso”
Da trança do quero-quero

Eu falo com os meus cavalos
Converso com a cachorrada
Podem me chamar de louco
Que eu saio dando risada
Se domingo “hay carrerada”
Me sobra bom parelheiro,
E uns quatro ou cinco ovelheiros
Pra juntá boi nas “canhada”.

Sacando o bocal do potro
Eu deixo bem ajustado
Que assim seguro minha doma
Serviço “garantizado”....
Eu sou metade daqui
Metade do outro lado
O coração de guri
E um sangue “acastelhanado”.

Oiga-lê  marca gaúcha
Num ala-pucha te levo!

Na chuleada, um calaveira
Rouba - três real envido -
- Tenho flor seu atrevido
E te prendo um truco na testa -!
Pra mim o que presta, presta...
E o que não presta é refugo
Pois anda muito sabugo
Se achando o bom dessa festa.

“Una cosa es una cosa
Otra cosa es otra cosa”
Já dizia por astuto
Don Alfredo Zitarroza,
Macaco em loja de “loça”
É estrago grande parceiro
E o meu verso mais matreiro
Guardei pra “dize” pras moça.

Sacando o bocal do potro
Eu deixo bem ajustado
Que assim seguro minha doma
Serviço “garantizado”....
Eu sou metade daqui
Metade do outro lado
O coração de guri
E um sangue “acastelhanado”. 

Chasque Pra Dom Munhoz


Chasque Pra Dom Munhoz
(Gaspar Machado, Airton Pimentel)

Amigo Élbio Munhoz meu chasque não tem floreio
Eu uso bombacha larga e um chapéu de um metro e meio
Botas de garrão de potro laço, pealo e gineteio
E me sustento pachola na serventia do arreio

Por voltas que a vida faz para açoitar um cristão
Ando cortado dos trocos freio e pelego na mão
Sem um cavalo de lei pra visitar meu rincão
O nosso caiboaté é grande e guardo no coração

A tia Maria me disse que tua tropilha é de lei
E o José Rodrigues ramos confirmou quando eu pensei
Em te pedir um cavalo nesses versos que eu criei
Pra cantar em São Gabriel querência que eu sempre amei

Entrega pro tio Adil lá na costa do lajeado
E diz pra Anilde e a Silvinha que eu chegarei afogado
Num borrachão de saudade do tamanho do meu pago
E a negra Juci que espere com chimarrão bem cevado

Dom Élbio guarde consigo que um dia arranco do peito
E pago esta obrigação que me deixa satisfeito
E o pelo é da tua conta baio ou rosilho eu aceito
Que o velho Moacir Cabral me fez assim por direito

Décima do Trançador


Décima do Trançador
(Rodrigo Bauer, Joca Martins, Negrinho Martins)

Aprendi a lidar com o couro
Quando um franqueiro aluado
Pranchou cruzando um lajeado
E se quebrou num estouro...
Já nem se ergueu mais o touro
Quando eu apeei, me cuidando,
Olhando o pobre berrando,
Saquei a cabo de osso
E fiz sumir no pescoço a
Folha inteira, alumiando!

Tirei-lhe o couro com jeito,
Fui descascando aos poquitos
Nada, sem ser despacito,
Se aproxima do perfeito.
Depois do serviço feito,
Ganha as estacas cravadas
Sessenta e quatro, estiradas,
Num terreno decrescente,
Deixando a parte da frente
Para o lado da baixada!

Só depois de bem curtido
Com o mormaço lhe ardendo,
Foi que a Coqueiro, lambendo,
Lhe recortou o tecido.
O seu pêlo enegrecido,
Com a pitoca eu fui raspando,
Tento por tento, tirando
Pra rédeas, buçais e relhos,
Tento por tento, parelhos,
Um por um, os desquinando!

Aprendi a lidar com lonca
Quando um lobuno do meio
Me despejou de um arreio
E se atirou numa estronca...
Eu saí liso da bronca,
Mas o lobuno, coitado,
Além de ser retalhado,
Quebrou a mão e, lutando,
Se degolou, pataleando,
No velho arame farpado!

Aprendi a lidar com trança
Quando um baio, sem pretexto,
Arrebentou o cabresto
Sentando que nem criança!
Eu danço conforme a dança,
Seguindo o antigo adágio...
Trancei outros nesse estágio,
Pra um sentador que mereça,
Fugir, deixando a cabeça
Para pagar o pedágio!

Por isso é que trago os dedos
Picados de tantos talhos,
O coração em frangalhos
De tanto trançar segredos...
Sovei o couro do medo
Com o macete da dor...
No aço do cravador abri
Caminhos da história
Escrita com a trajetória
Das mágoas do trançador!

Das mágoas do trançador!

Estampa


Estampa
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Fulgor de tropa no entrevero de um combate
Sabor de mete no romper das madrugadas
Mescla de sangue com fumaça de candeeiro
Clarim campeiro dos tahãs pelas aguadas

Sina andarilha e rancho a beira da estrada
Onde a pousada para o andante será eterna
Linha de espera ressojando na barranca
Graxa na anca da potrada que se inverna

É goela rouca de um cantador flor de taita
Ronco de gaita deusa borra do fandango
É um bagual que perde a doma e se retrata
Pra serenata das esporas e do mango

Isso é querência, isso é pátria, isso é nação
Isto é Rio Grande assim moldou-se a sua estampa

Rudes arados rebolcando a terra bruta
Mil recolutas e tropéis de gado alçado
Tiro de laço e boleadeiras nos varzedos
Velhos segredos de um galpão mal assombrado

É cancha reta e patacoadas nos domingos
Cacho de pingo bem quebrado a cantagalo
Olhar matreiro da morena, china linda
Que eu lembro ainda quando tive que campeá-lo

Catedral


Catedral
(Lisandro Amaral, Guilherme Collares)

Também - de pedra - meu cantar não se termina
Caído ao solo beijo a terra e escrevo a sina...
Terra vermelha é minha cor no arrebol
Pois tenho sol no sangue em paz que me ilumina.

Também, de bronze, estou de joelhos catedral
No pedestal que cala os sinos, faço prece...
Quem não merece – a terra em si – terá perdão
Pois gratidão a vida tem e nunca esquece!

Seguem aqui ruinas índias e horizontes,
Bebendo a fonte do silêncio natural...
Senti teu cheiro, mãe divina, em berço livre
Hoje o que eu tive foi tua benção Catedral.

Seguem aqui, hoje emplumados Guaranys
No bem-te-vi, no João Barreiro e entre os guardiões
Querendo sempre querer mais o quero-quero

Sei o que espero e busco, aqui, muitos perdões...
Também de vento estou soprando - em ti - templário
No pedestal que fala o tempo a crosta esquece,
Ouvindo os prantos que derramam tua imagem
Achei coragem e sou guardião com pena e em prece.



Levando O Corpo

Levando O Corpo
(Fabrício Harden, Eduardo Soares)

Levando o corpo num pingo bueno eu me garanto
Se hay descampado e o maula topa a parada
A toda pata faço que volte para o rodeio
E esbarro manso meu doradilho junto da aguada
    
Levando o corpo na lida bruta repasso os dias
Tocando gado pelas estâncias deste torrão
E ao fim da tarde ao se calarem as nazarenas
Aperto um mate junto ao brasedo lá do galpão

Se a gaita chora, nalgum surungo beira de estrada
Peço a bolada, golpeio um trago junto a balcão
E bem campante entro na sala ao trotezito
Levando o corpo numa morena flor do rincão

Se a volta é feia levando o corpo livro a rodada
Pra “cruzá” a perna  e saí ao trote  num despraiado
E vez por outra levando o corpo ajeito as garras
Firmando a estampa para o costeio de um desbocado

Levando o corpo procuro a volta no pingo bueno
Que sai ao trote remoendo o freio por melodia
Por certo volta mais altaneiro para a querência
Se vier na anca uma morena ao clarear do dia

Pela Querência

Pela Querência
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Minha querência tem várias querências,
O sol atende o chamado dos galos
E acende o pampa com calma e paciência
Emoldurando o campeiro a cavalo!

Lá nas missões, onde a estância inicia,
O bronze canta o seu hino de fé...
Terra vermelha onde brota a poesia
E nunca morre o ideal de Sepé!

Violão e gaita a camperear pela querência...
A voz do tempo a se espalhar por esse chão...
O pampa estampa a nossa própria referência,
O seu mapa é a querência do meu coração!

Tem a fronteira, seus rios e coxilhas;
Sua influência que nos determina...
Campos e várzeas, rodeios, tropilhas
Mesclam Brasil, Uruguai e Argentina!

Pela campanha, a força do braço
Ainda domina o bovino gavião...
Voam nos ventos os tentos do laço
E o cinchador não refuga o tirão!

Na capital uma estátua demarca
Um território de gente campeira
Que, na cidade, conserva essa marca
De sua origem de campo e mangueira!

No coração do Rio Grande a legenda
De quem habita a região mais central...
O sul do sul com seus doces e lendas,
Neve na serra, sol no litoral!

A Memória Da Pedra


A Memória Da Pedra
(Gujo Teixeira, Cristian Camargo)

Era pedra e seguiu pedra
Por eterna, a vida inteira
Que um dia ficou no campo
Cansou de ser boleadeira.

A pedra da boleadeira
Nesta terra se perdeu
Mas nos meus olhos de campo
Um dia assim, renasceu...

Brotou do ventre da terra
Com paciência secular
Esperando pra ser vento
E assim, de novo voar.

Não voou por muitos anos
Perdida das outras duas
Mas sempre guardou a forma
Redonda, em feito de lua...

Foi surgir desenterrada
Do mesmo jeito que veio
Junto de um cocho de sal
Num parador de rodeio.

Pela lembrança da terra
Muitos séculos de história
Que guardou fundos de campos
No rastro de sua memória...

Por fora suja de terra
Mas com mistérios por dentro
Mostrando o vinco do couro
Bem recortado em seu centro.

Trezentos anos talvez!!!
Renascida sobre a terra
Mansa, serena qual pedra
Quem já foi arma de guerra.

No alto de um coxilhão
Bem onde foi esquecida
Ganhou palavra de terra
Pois meu olhar lhe deu vida

Das mãos de um índio charrua
Pra minhas mãos de campeiro
A pedra da boleadeira
Tem sempre rumo certeiro...

Estância Velha Sou Eu


Estância Velha Sou Eu
(Guilherme Collares, Zulmar Benitez)

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e canto
Ofereço este acalanto
Ao que foste e que resiste
Ao progresso duro e triste
Que ameaça teu valor
Dor, angústia e dissabor
Que a despatriar nos insiste

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e sonho
Como um Angüera tristonho
Pelos ermos campos vastos
Com saudade dos meus bastos
Sanga, grotões e peraus
São tropas cruzando o vau
Do rio desses tempos gastos.

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e sei
És o legado que herdei
Dos sonhos dos meus antigos
Testamento proferido
Timbrado a pó de mangueira
Inventário de fronteira
Dos meus terrunhos sentidos

Estância velha, sou eu
Que sinto que penso e faço
Sou o derradeiro lanssaço
Da resistência em defesa
Da cultura e da nobreza
De não suportar teu fim
Que não quer que seja assim
A roubarem-te a beleza

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e falo
Sou centauro de à cavalo
A render-te este lamento
A nombrar-te aos quatro ventos
Como Gaúcho sem dono
Testemunha do abandono
Dos teus últimos intentos

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e sei
És o legado que herdei
Dos sonhos dos meus antigos
Testamento proferido
Timbrado a pó de mangueira
Inventário de fronteira
Dos meus terrunhos sentidos

O Sábio Do Mate

O Sábio Do Mate 
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

No fundo desse meu mate habita um sábio,
Um velho de barbas brancas que tudo entende...
Das trenas, das longitudes, dos astrolábios;
Encerra tudo o que apaga, tudo o que acende!

Na água – suave remanso – de rio tão largo,
Na erva verde-coxilha virgem de arado;
Procuro a luz do caminho dentro do amargo
No sábio que me responde, mesmo calado...

Pra ele não há segredos, não há mistérios...
Por velho, sovou as rédeas do coração...
Talvez por isso, a lo largo, todo gaudério
Aceita tantos conselhos do chimarrão!

Um dia vai, outro chega, é esta a jornada...
Começa outro caminho se um chega ao fim...
E em cada mate que cevo na madrugada
O velho sábio se acorda dentro de mim!

Quem ouve o sábio do mate, sabe da vida!
Mateia, assim solitário, com toda a calma...
Pois no silêncio do mate, em contrapartida,
Se escuta a voz experiente da própria alma!

Pois dormem dentro da cuia: pialos, bravatas!
A história desta querência em seus alfarrábios,
Sorvida pela memória em bomba de prata...
No fundo desse meu mate habita um sábio!

Pra ele não há segredos, não há mistérios...
Por velho, sovou as rédeas do coração...
Talvez por isso, a lo largo, todo gaudério
Aceita tantos conselhos do chimarrão!

Um dia vai, outro chega, é esta a jornada...
Começa outro caminho se um chega ao fim...
E em cada mate que cevo na madrugada
O velho sábio se acorda dentro de mim!

Pampa

Pampa
(Rodrigo Bauer, Fabrício Harden)

A Pampa é um país com três bandeiras
E um homem que mateia concentrado,
Seus olhos correm por sobre as fronteiras
Que o fazem tão unido e separado!

A Pampa é um lugar que se transcende,
Fronteiras são impostas pelas guerras;
“y el gaúcho”, com certeza, não entende
Três nomes, três brasões pra mesma terra!

O campo a se estender, imenso e plano,
Alarga o horizonte “mas allá”...
Talvez seja por isso que o pampeano
Enxerga além... De onde está!

Assim é o povo fronteiro,
Tropa, cavalo e tropeiro
Vão na mesma vez...
Pátria e querência na estampa,
Somos um só nesta pampa,
Mas se contam três...
Por que se contam três?

Meu verso vem de Jaime e Aureliano,
De Rillo e Retamozo – um céu azul!
Sou Bento e Tiaraju, heróis pampeanos
Da forja desse Rio Grande do Sul!

A voz vem de Cafrune e canta assim,
A rima de Lugones, minha sina,
E a fibra de Jose de San Martín;
A História é quem me inscreve na Argentina!
Meu canto vem de Osíris, voz antiga
Da Pampa que em meu sangue não se esvai...
Comigo vem Rivera, vem Artigas..
Legenda eu sou... No Uruguai

Rumos dessa Pampa Grande,
Viemos dos versos de Hernandez,  
Somos céu e chão...
Todo o pampeano, sem erro,
Tem muito de Martin Fierro
Pelo coração...
Dentro do coração!

Junto À Um Casal De Barreiros

Junto À Um Casal De Barreiros
(Eduardo Soares, Joca Martins)

Um potreiro junto às casas
Pra cavalhada da encilha
Silhueta de estância grande
Mouras, gateadas, rosilhas
Se perfilando na forma
Aos gritos do peão ponteiro
No ritual velho campeiro
De embuçalar a tropilha

Um casal de “joão barreiros”
No galho da pitangueira
Que amanhaceu florecida
Com brilhos de primavera
Bombeiam longe seu rancho
Erguido junto à tronqueira
No costado da porteira
Portal de campo e espera

Num florão de pingo
Num trote chasqueiro
Se vai o campeiro
De novo pra lida,
O jeito de estância
A alma de campo
Saudade de um rancho
Num sonho de vida

Na volta da campereada
No fim de mais outro dia
Um mate bueno cevado
Com gosto de nostalgia
Quem sabe as almas do campo
Deixem a prenda na espera
Para me abrir a cancela
Com saudade e alegria

Quem sabe a tarde se finde
Num pôr de sol da campanha
E eu siga mateando manso
Bombeando ao largo o potreiro
Talvez por ser um fronteiro
Tenha o destino de tantos
Cuidar tropilhas e campos
Junto à um casal de barreiros.