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POR UM ABRAÇO

Título
POR UM ABRAÇO
Compositores
Gujo Teixeira
Jairo Lambari Fernandes
Intérpretes
César Oliveira (Festival)
Jairo Lambari Fernandes
Ritmo

CD/LP
Sapecada da Canção Nativa – 10ª
Cena de Campo (Jairo Lambari Fernandes)
Festival
Sapecada da Canção Nativa – 10ª
Declamador

Amadrinhador




POR UM ABRAÇO
(Gujo Teixeira, Jairo Lambari Fernandes)

Deu saudade, minha linda, deu saudade!
Pra dizer bem a verdade foi assim...
Era tarde e o meu rancho, por solito
Te encontrou nessa lembrança, junto a mim

Repontou saudades doces, feito um beijo
No destino mais amargo que ela tem
Quem me dera este mate em outra tarde
Tomar um e alcançar outro pra alguém

Só depois que desencilho, o dia acalma
Nas quietudes costumeiras da querência
Nos teus olhos cor de noite domingueira
Me transporto e conto os dias dessa ausência

Mês passado, minha linda, tu bem sabes
O temporal encheu o passo da cruzada
E o gateado que não sabe o que é saudade
Por cismado, não cruzou o vau da estrada

Eu aqui, entre os mates faço uns versos
Desses largos para enganar a solidão
Porque a alma tem razões desconhecidas
Que nos fazem ser por vezes coração

Quem sabe o tempo soberano das esperas
Fim do mês não abra o céu e eu cruze o passo
Pra matear um fim de tarde no teu rancho
Trocar a ausência assim! Por um abraço!



 




Senhora dos Descampados

Senhora dos Descampados
(Gujo Teixeira, Rodrigo Bauer, Jairo Lambari Fernandes)

Senhora dos Descampados, ouve essa prece a lo largo!
Que eu rezo em frente ao fogo, solito com meu amargo...
Senhora dos Descampados, escuta aquilo que falo
Com meu olhar estendido, que já nasceu de a cavalo!

Eu sou campeiro e me habito nesse galpão de invernada;
Um posto humilde, mas donde, Deus sempre teve morada...
Não sei o terço e na igreja não fui mais que umas três “vez”
Mas minha fé me acompanha nos trinta dias do mês!

Rezo em silêncio nos campos, na sombra de algum capão...
E, embora eu não fale nada, escuta a minha oração!
Livra o campeiro do tombo, do coice e do manotaço;
Desvia o fogo do raio e as contra voltas do laço!

Junto a esta cruz solitária, lhe deixo velas acesas
Pra lhe pedir que não falte, nunca, bóia sobre a mesa.
Trago outra cruz de Lorena, dependurada no peito
Na bendição que me guarda, em ser cristão, deste jeito !

Na minha reza de campo, faltam palavras, eu sei...
Mas tem a fé, verdadeira, por tudo que eu conquistei...
Te faço imagem em meus olhos, te vejo plena de céu
E frente a ti, me condeno, me calo e saco o chapéu.

Embora cuide dos campos, encontra um tempo pra mim!
Eu nunca perco a esperança, alçada pelos confins...
Eu sei que vida da gente, tem sempre um rumo traçado
Por isso, rezo e lhe peço, proteja estes descampados...


INTÉRPRETE: JAIRO LAMBARI FERNANDES 


Antes da Sombra do Tarumã

Antes da Sombra do Tarumã
(Gujo Teixeira, Nilton Ferreira)

Estendeu seu poncho o Tarumã das sombras
Pra corpear a tormenta das chuvas de agosto
Mas suas raízes de garras na terra
Não foram tão fortes pra um vento imposto

Por ser boa a terra ganhou seus limites
De semente miúda a copa e raízes
Mas perdeu seu ímpeto de guerreiro nobre
Quando sua garra forjou cicatrizes

Perdeu a imponência o Tarumã das sombras
Galhos, troncos, folhas em outro sentido
Quem saiu da terra retornou pra ela
Um taura em combate que fora vencido

Legendário ao tempo que copou suas frontes
Por entre os invernos que passei aqui
Abrigo de tropa, pousada de andantes
Dá uma tristeza hoje olhar pra ti

Quero ver agora nessas ressolanas
Nas sualheiras brabas que o dezembro estampa
Descansar cavalos, estender pelegos
Com mesmo sossego de sombras pras “pampas”

Vai ser alimento à boca dos machados
Desgalhar sua copa, repartir seu cerno
Já não vai ser sombra, vai ser lenha boa
Pra eu corpear os ventos do próximo inverno


A Uma Espora Perdida

A Uma Espora Perdida
(Gujo Teixeira, Jari Terres)

Pela mansidão, já nem faz caso o pago
Há bocais e garras a esperar a lida
Só restou saudade na parede branca
Uma espora inerte cutucando a vida.

Como que uma espora já sem presilha
Pode ser partilha de uma história assim?
Ser bem mais que o tempo que nos envelhece
E ter em seu aço o que herdei pra mim.

Quanto par de botas, quantos tauras guapos
Num fim de setembro amansando potras
Teve nos garrões esse par de puas
Que hoje anda uma sem saber da outra.

Tanta coisa muda, nesse campo largo
Que uma ausência assim tem tanto sentido
A vida nos mostra e nos ensina o tempo
Só quem teve amores pode os ter perdido.

Que coisa estranha os homens de hoje
Tenham na lembrança o imenso fascínio
Recordar seus tempos numa espora velha
Que por mal domada guardou seu domínio.

Irmã de feitio não sabe que o tempo
Nos templa a seu modo por mais que se ande
Quem sabe perdida consumiu-se a terra
Ou ande na herança de quem foi Rio Grande.

Quem sabe perdida consumiu-se a terra
Ou ande na herança de quem foi Rio Grande.

Ou ande na herança de quem foi Rio Grande.


De Campo e Rio

De Campo e Rio
(Gujo Teixeira, Sabani Felipe de Souza)

Um tem alma de invernada
E no lombo de uma gateada
Tem o mundo nas esporas
Tem o campo por sustento
E copia o assovio do vento
Pondo a tropa estrada a fora
Sabe de tropa estourada
Das rondas nas madrugadas
Cuidando o gado de perto
Sabe seguir de fiador
Quando acaba o corredor
Pra achar o atalho mais certo

O outro tem alma na proa
E leva a noite e a canoa
Onde o sangrador deságua
Sabe dos vaus e das canchas
E que a lua se desmancha
Quando um remo bate na água
Quem conta estrelas no céu
Enquanto estende o espinhel
Nos galhos do sarandi
Embala o corpo e a vida
Numa canoa sofrida
Que ainda sabe aonde ir

Por isso que campo e rio
De campeiro e pescador
Sabem que a paz é um momento
Em que a vida na voz do vento
Leva a gente aonde for

Quem é de campo bem sabe
O destino que lhe cabe
De encilhar a vida inteira
Banca o cavalo no freio
E aperta bem os arreios
Pra apeiar só nas porteiras
Quem é de rio sabe as sedes
Sabe os remansos e as redes
E as cheias que o rio tem
Mas também sabe os pesqueiros
Quando o tempo por matreiro
Nos leva a vida também


Tocando Um Baio Por Diante


Tocando Um Baio Por Diante
(Gujo Texeira, Vitor Amorim)

Não facilita morena
Que esse baio é redomão
Vem de bocal bem atado
Nas rédea firme da mão.
Apertei um basto novo  
No cinchão da barrigueira
Pra fazer quase seis léguas
Desde de lá das “Cordilhera”.

Ganhei folga, é dia santo
Mas vim bem recomendado
Pra voltar segunda, cedo
Pois tem aparte no gado.
Apeiei lá nas Parada
Só pra compor os arreio
Pingo novo, pelas pedra
Tem que tocar com receio.

Cruzei, mas nem apeiei
Numa Estância Macanuda
Se eu não viesse bem montado
Eu pedia um pingo de muda.
Lá na cruzada do Arroio
Tirei o pó das mangueira
E acomodei minha estampa
Por que ainda é sexta feira.

Vim de fora, me cuidando
Pois se “se pega” eu não caio
Mas vim cansando meus pulso
Querendo parar esse baio.
Comecei firmar na boca
Puxando “de vagarinho”
Veio só parar aqui dentro
No pátio do teu ranchinho.

Não deixo tu “dá uma volta”
Que ainda não tá bem manso
Quando voltar, mês que vem
Pelo buçal, eu te alcanço.
Falta só ajeitar da boca
Esse meu baio torena
Que se não firmo na rédea
Te atropelava, morena !

Minha estampa de fronteira
Ajeitei quando saí...
Pra trazer esse baio oveiro
Que eu tô amansando pra ti.

Sonho Em Flor

Sonho Em Flor
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

Faz tempo que eu madrugo versos quase sem querer
Pra alma recordar seu jeito de não te esquecer...
E trazer para o redor do fogo mais lembranças tuas
Dessas que a gente, depois das luas,
Cevava um mate pra amanhecer.

Parece até que o mesmo mate esqueceu seu gosto
Depois que uma velha saudade repontou teu rosto...
E um jeito que trazia o brilho de olhar moreno
Chegou povoando meus sonhos pequenos
Que tinham cismas de serem teus.

Ah! Minha flor pequena...
(Dessas que nascem pelos rincões)
Trazendo a graça das corticeiras
Enfeita a tarde por ser tão bela.
Deixa meu sonho acordar o teu
E o meu silêncio te adormecer
Quando a saudade vier me ver
Com teu sorriso...
...Na minha janela.

Sempre que meus sonhos tantos saem por aí
E levam junto minha alma pra perto de ti...
Eu guardo bem os meus silêncios porque eles sabem que são só meus
E quase já não cabem na casa grande do coração.

E eu que andei tão distante me encontrei em mim
Sem mesmo perceber que a vida pode ser assim...
Ter a graça de uma flor bonita, dessas corticeiras
E ao mesmo tempo ser por inteira
Aquilo tudo que já sonhou

Ah! Minha flor pequena...
Que traz guardada sonhos demais
Deixa que a alma mostre teu rumo
Que anda hoje perto do meu.
Traz teu sorriso de flor vermelha
E aquele brilho do teu olhar
Toda saudade pra se matar...
Que o dia ainda...
...Não anoiteceu!!



Luiz Marenco- Sonho Em Flor by Guascaletras

No Calor das Labaredas


No Calor das Labaredas
(Gujo Teixeira, Érlon Péricles)

Vou guardar estes momentos
Que há muito tempo procuro
No mesmo clarão maduro
Da lua potra sinuela
Que repontou uma estrela
Pra me guiar no escuro.

E a mesma noite que antes
Era silêncio e tapera
Já floresceu primaveras
Pelos campos da morada
Pondo rosas coloradas
No caminho das esperas.

E o rancho se encheu de risos
E o vazio virou oposto
Para os rigores do agosto
Que me mostraram depois
Que o mate tomado a dois
Sempre tem o melhor gosto.

Então quando os meus olhos
Campeiam os dela por perto
Revelam o rumo certo
Pra um coração sem fronteiras
Que às vezes acha porteiras
Mesmo estando liberto.

Quando chega a madrugada
Vestindo rendas e sedas
Trazendo das alamedas
Um vento feito oferenda
Vou me aquecer junto à prenda
No calor das labaredas.


Enquanto A Cordeona Chora


Enquanto A Cordeona Chora    
(Gujo Teixeira, Everson Maré)

Um pandeiro debochado batido só pelas bordas
E um violão de seis cordas com três ou quatro sonoras
Formam um trio de campanha pra o causo de um bailezito
Pra ninguém ficar solito enquanto a cordeona chora

Essa cordeona chorando dá uma tristeza na gente
E a alma faz que não sente pra buscar nova alegria
Pelo sorriso trigueiro da linda que eu quero bem
Que me conhece também daquele baile outro dia

Enquanto a cordeona chora bombeio um canto da sala
Atiro no ombro o pala cuido de longe a morena
Que do outro lado revida e me estende cada vistaço
De me juntar pelos braços e fazer a noite pequena

Uma vaneira se alarga a meia luz de um candeeiro
Que fumaceia em luzeiros quietito junto ao oitão
Clareia sombras na quincha de vez em quando balança
Quando ela desata a trança me prendendo o coração

Nos olhos dela me vejo quando lhe olho de perto
Meu coração anda certo mas bate noutra cadência
Na mesma rima do dela que é a mesma desta vaneira
Pensando pra vida inteira trocar de rumo e querência

Enquanto a cordeona chora tem quem se alegre também
Quem sonha sabe ainda bem por onde a vida nos guia
Nos braços dessa morena meu coração logo embarca
É outra volta e outra marca e por mim que amanheça o dia

Milonga Para Pensar


Milonga Para Pensar
(Gujo Teixeira, Everson Maré)

Milonga para pensar
Deve sangrar, deve doer
Deve estar bem informada,
Mostrar a cara, comprometer...
Deve ter honra e palavra,
Alma lavada, vida e paciência,
Deve entregar-se aos poucos,
Juntar-se aos loucos pela querência.

Milonga para pensar
Deve enfrenar, saber da encilha,
Deve ser buena num pealo,
Muntá a cavalo e cruzá a coxilha...
Deve apartar do rodeio
O tempo feio dos temporais
Deve ser lá da campanha
E tirar a manha de alguns baguais.

Milonga, sistema nosso de casa,
Atiça as brasas, enquanto há lenha...
Milonga, sistema nosso de fora,
Se for assim, deixa que venha!

Milonga para pensar
Deve contar, deve escrever,
Deve falar de quem canta
E ter garganta pra sobreviver...
Deve buscar lá no fundo
Seu próprio munda, ir mais além,
Deve mudar os conceitos
Mas ter respeito, que alguns não tem.

Milonga para pensar
Deve prosear pelo galpão,
Deve cevar mais um mate
Num fim de tarde com o violão...
Deve saber do campo,
Saber o quanto vale esta terra,
Deve esconder o medo
E algum segredo que a vida encerra.

No Tranco Que O Zaino Faz


No Tranco Que O Zaino Faz
(Gujo Teixeira, Rafael Teixeira Chiappetta, Everson Maré)

Eu ia ao trote, assobiando uma milonga aos pedaços,
Rédea frouxa no meu zaino, numa cruzada do passo,
Quando este pingo, no freio, gachou o toso por conta,
Que se eu não sou dos “ligeiro”, não saía na outra ponta.

Daí que se dá valor a um par de espora grongueira,
Que firmam bem no sovaco, entre o suor e a barrigueira,
Depois que pega não solta, igual meus cusco em rodeio,
Pena não terem mais fio que eu partia o zaino ao meio.

Foi querendo se estender onde o passo era mais raso,
Entre o barranco e a aguada, foi aí que criou caso,
Meu zaino é passarinheiro, mas eu sempre me cuidava,
Acho até que não gostou da marca que eu assobiava.

Perdi o entono mas não perdi o assovio,
Me fui, perdendo e juntando, que pena que ninguém viu,
Oigalê zaino maleva que se enfeiou por bravata,
Entre as pedras do lageado mal se formava nas patas.

Perdi o entono mas não perdi o assovio,
Em cada golpe que dava, ia roncando o vazio,
Mas quando a coisa se enfeia, um golpe curto se alonga
E o zaino “inté’ parecia que dançava esta milonga.

Levei o zaino assobiando, numa tremenda epopéia
E o tino desta milonga não me saía da idéia,
Neste combate chairado que se fazia em trovoada,
Se foi negando os carinhos pra esporas mal afiada.

Creio que agora meu zaino entende meu assobio,
Cruzou adiante do arroio e até as casa seguiu,
E eu fui juntando os pedaços desta milonga no más
Pra chegar com ela bem pronta, no tranco que o zaino faz.

Coplas de Terra Morena


Coplas de Terra Morena
(Gujo Teixeira, Xirú Antunes, Gustavo Teixeira)

Enquanto a terra morena florescer sonhos e cardos
E as tranças forem o rumo dos buçais bem reforçados,
Pra escorarem os tirões dos baguais de primavera
Então serei um dos poucos a não me tornar tapera.

Donde provém meu sustento é donde o baio relincha
E o vento que venta norte toreia o capim da quincha
Eu sei meu mundo é pequeno, vai pouco além da invernada
Mas sei que tem muito mundo pra onde segue esta estrada.

O mundo que segue a estrada eu muito pouco conheço
Mas sei dos que aqui voltaram que é um mundo do avesso
Onde os sonhos valem pouco e a alma dos campeiros
São escravas dos fantasmas que lhe apartaram do arreio.

E enquanto eu tiver meu baio e a força sustenta o braço
De certo não passo fome, como com a boca do laço
Pois quando se abre no céu armada depois rodilha
Meu mundo fica por conta só do botão da presilha.

Sou campo, terra e bem mais do que eu possa desejar
E um dia a terra morena vem por certo nos cobrar
Então serei só recuerdos povoando sonhos e fatos
E um semblante gaúcho na palidez dos retratos.



Onde Andará


Onde Andará
(Gujo Teixeira, Joca Martins, Fabiano Bacchieri)

Onde andará a silhueta desses antigos campeiros
Que desenhavam saudade na fumaça dos palheiros
E madrugavam setembros na voz clara dos braseiros

Onde andará a "mañanita" dos mates de gosto bueno
Da encilha dos gateados contraponteando o sereno
E a humildade dos ranchos guardando sonhos morenos

Onde andará o verso claro ponteado numa canção
Que se espalhava em floreios pelas tardes do galpão
E matizavam campeiros ao som da gaita e violão

Onde andará a tarde longa das ressolanas campeiras
Onde a alma desses tantos cruzava além da porteira
Pra o mundo das invernadas por não saber das fronteiras

Por onde andará o semblante de um avô maragato
Que eternizou seu silêncio na moldura de um retrato
E dos seus causos antigos desses campeiros de fato

Quem sabe andam perdidas na saudade dos avós
Ou presas dentro do peito querendo saltar na voz
Mais bem certo elas se acham guardadas dentro de nós

Motivos de Campo


Motivos de Campo
(João Fontoura, Gujo Teixeira, Marcello Caminha)

Um relincho de potro,
Um berro de touro e um cantar de galo
O ringir de um arreio,
O acôo de um cusco e o tombo de um pealo

Um aboio de tropa,
Um murmúrio de sanga, um tinir de argola
O Minuano nas quincha,
Um ringir de cancela e um arrastar de espora

Uma tropa estendida, uma pega de potro
Um prosear no galpão
Um ronco de mate, e um rufar de patas
Que hace tambores no couro do chão

Um pontear de guitarra, um floreio de gaita
Um cantar de fronteira
Um gateado de tiro, um chapéu bem tapeado
Um adeus na porteira

Esse é o pago que trago é o rio grande antigo
Pois meu verso garante essas coisas que digo
São motivos de campo que carrego comigo



De Cantar em Versos


De Cantar em Versos
(Gujo Teixeira, Joca Martins, Márcio Rosado)

A noite escura se enfeitou de lua
Flor amarela nos cabelos da morena
E trouxe estrelas bonitas como a saudade
Deste sorriso pra inspirar meus poemas

Estes teus olhos de estrelas pirilampas
Cristais de luas que brilham nas labaredas
De um fogo grande bichará pro inverno
Que põe lembranças a dançar na seda

E já faz tempo que a saudade vem gelando
Toda campanha e a imensidão do céu azul
Só o braseiro do angico aquece a alma
E o agosto nem chegou aqui no sul

Quando a saudade ganha força nas esporas
Logo se encilha um cismar sem fim
Minha alma voa nas asas do vento
Até seus olhos anoitecerem em mim

Então os mates ganham novo gosto
Pois são cevados no calor da tua mão
E junto a ti meus olhos se acham
Pois não precisam te buscar na imensidão

E nesta noite linda, a flor no cabelo
Lembrou da lua só no universo
Que brilha tanto e vem prá matar saudades
Dessas bonitas, de cantar em versos





Da Alma Branca dos que Têm Saudade


Da Alma Branca dos que Têm Saudade
(Gujo Teixeira, Joca Martins)

Da alma branca dos que tem saudade
Brotam luzeiros pra clarear o dia
E na madrugada junto a um fogo grande
Repontam a querência que estava vazia
E se repetem por saberem o rumo
Que a vida toma por andar vadia

Nem mesmo o tempo por ter contratempos
Reconhece o sonho entre os temporais
Que a alma inventa cada vez que a gente
Se perde de um jeito de não se achar mais
E se desespera por saber que a espera
Pode ser pequena ou não findar jamais

Cada vez que a alma por não ter morada
Acha novo ninho pra pousar as asas
Uma outra alma oferece abrigo
Que a gente às vezes o transforma em casa
E quando então uma saudade fica
Junto a um fogo grande pra soprar as brasas

E a gente chora de chover por dentro
Por mais que essa dor nos siga as pegadas
Nem mesmo que a chuva com suas nuvens negras
Apague seus rastros que marcaram a estrada
Daí então meu rumo possa ter destino
De vencer distâncias e topar paradas

E da alma branca dos que tem saudade
O que a gente então pode perceber
Que a luz dos olhos pode ser o brilho
Que vamos tentando em vão esconder
Pois quem tem os olhos de olhar por dentro
Reconhece a alma por saber querer

À Flor da Terra


À Flor da Terra
(Gujo Teixeira, Leonel Gomez)

Cada vez que o sol desponta erguendo um rubro pañuelo
Minh' alma vai lá prá fora como uma estrela por sinuelo
E se perde nas coxilhas e várzeas que sempre ando
Só se encontra ao fim da tarde no galpão desencilhando

Parece que a alma inteira tem sombras de corunilha
Por entre campos extensos floridos de maçanilha
Por certo também tem noites com o luzir de uma estrela
Aquerenciada aos olhos de quem tem olhos pra vê-la

Vou transpassando meu tempo e as ânsias redomonas
Num verso escrito a lápis sobre a caixa da cordeona
Me encontro num chamamé quando a saudade me bate
Ponteando a alma em floreios nos intervalos do mate

Só quem já teve nas botas unhadas de japecanga
E pitangueiras floridas junto às barrancas da sanga
Consegue ter pela alma flores brancas e espinhos
E olhas d'água de campo prá seus extensos caminhos

Daí então à flor da terra onde o destino floresce
É que guardei uma imagem Que o olhar jamais esquece
É que lá fora as manhãs tem som de gaita em floreio
E eu me vejo campereando pela invernada do meio

A Tropa Fez Que Se Ia


A Tropa Fez Que Se Ia
(Gujo Teixeira, Cristian Camargo)

A tropa fez que se ia num canhadão sem costeio
Mas se não fosse meus cusco faltava boi no rodeio
Eram dois baios coleras e um brazino cimarrón
Três campeiros de respeito e ainda por cima dos bom

Se eu fosse mete o gateado e atropelar aquela ponta
Deixava o resto da tropa desgovernar-se por conta
Foi um pampa de aspa guacha, já com fama de matreiro
Que disparou mais adiante entre o chircal do potreiro

Mas foi estender um silvido e um grito de olha a volta
Se apresentaram os campeiros meus três soldados da escolta
Era um acôo e mais outro de vez em quando um ganiço
Juntando quem se desgarra por conta do compromisso

Cachorro que cuida a tropa é quase um campeiro e tanto
Não faltam quando é preciso e chegam que lhes garanto

Só avistava de longe os três pegando de trás
Um atracando a dentada o outro volteando no más
Levaram uns cinqüenta metros o boi pampa num volteio
Depois a dente e pegada por conta foi que o boi veio

Depois juntou-se na tropa, meio entendo o motivo
E eu chamei os companheiros pra sombra abaixo do estrivo
E é bem assim nestes campos quando se manda se pega
Cachorro que tem comando não dorme pelas macega

De riba do meu gateado a coisa é bem do meu jeito
Quem pode mais atropela e os cusco botam respeito

Era um acôo e mais outro de vez em quando um ganiço
Juntando quem se desgarra por conta do compromisso
Cachorro que cuida a tropa é quase um campeiro e tanto
Não faltam quando é preciso e chegam que lhes garanto

A tropa fez que se ia num canhadão sem costeio
Mas, se não fosse meus cusco faltava boi no rodeio 

Toda Saudade É Um Silêncio


Toda Saudade É Um Silêncio
(Luiz Marenco, Gujo Teixeira)

Toda saudade é um silêncio que vem do campo com calma
Na transparência comum de quem escuta sua alma
E aquilo que vem do centro das emoções construídas
Que fazem parte de tudo, por isso precisam vida

Todo silencio é uma ausência quando faz falta um assobio
Que vaga no céu inteiro e não preenche o vazio
É a simples falta de um grilo quando o galpão silencia
Quando o mate bebe a água de um claro resto de dia

Toda saudade é bem vinda quando se chega em visita
É um, dois mates se vai, pra mais é dor e desdita
Mas quando pede pousada e desencilha seu pingo
É pra tirar mais de mês sem afrouxar um domingo

Todo silêncio é uma prece pedindo de mãos bem juntas
Que toda saudade explique ou não me faças perguntas
Que ainda não há respostas pra algumas coisas da gente
Seja da alma ou do corpo, mas vive em nós simplesmente

Toda saudade é um silêncio quando se cala por nada
E se vê que tantos sonhos pegaram o rumo da estrada
Por isso que ando cantando algumas coisas perdidas
Que encontrei no caminho por onde cruzei com a vida

Toda saudade é bem vinda quando se chega em visita
É um, dois mates se vai, pra mais é dor e desdita
Mas quando pede pousada e desencilha seu pingo
É pra tirar mais de mês sem afrouxar um domingo

Senhor das Manhãs de Maio


Senhor das Manhãs de Maio
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

Meu galpão, de alma tranqüila, ressuscita, todo dia
Cada vez, que o sol destapa, sua silhueta sombria
E desenha, cinamomos, na minha querência vazia

Senhor, das manhãs de maio, ceva, este mate pra mim
Que eu venho, há tempos de lua, minguando sonhos assim
Os que eu posso sonho aos poucos, os que eu não posso, dou fim

Silencio quando posso, quando quero sou estrada
Diviso as coisas do tempo bem antes da madrugada
Numa prece, que nem lembro, refaço minhas orações
Pai nosso que estais no céu, precisai vir aos galpões

No descaso, dos galpões, solito, quando me vejo
É que se achega, a saudade, com seus olhos de desejo
Pondo estrelas madrugueiras, neste céu de picumã
Parecendo, que se adentra, pra contemplar minha manhã

Meus sonhos, domei pra lida, pra minha rédea, ao meu gosto
Pras dores, da minha alma, se ela cruzar esse agosto
Por favor, senhor dos mates, não deixe a manhã tão triste
Mateia junto comigo, que eu sei que tu ainda existe

Silencio quando posso, quando quero sou estrada
Diviso as coisas do tempo bem antes da madrugada
Numa prece, que nem lembro, refaço minhas orações
Pai nosso que estais no céu, precisai vir aos galpões