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Mostrando postagens com marcador Marcelo Oliveira. Mostrar todas as postagens
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Rincão Da Alma

Rincão Da Alma

(Rodrigo Bauer, Marcelo Oliveira)

Existe um rincão presente
Donde eu me faço cativo
Rincão de pasto nativo
Sombra de mato e vertente
Está guardado na gente
É igual a pampa, se espalma
É o velho rincão da alma
Sábio que ensina silente!

Pulsando a vida nas veias
O coração não descansa
Nele reside a esperança
Que não respeita maneias
O coração corcoveia
Noutras tranqueia com calma
É o velho rincão da alma
Onde a consciência mateia!

Rincão da alma é um galpão
Onde se guarda o que é raro
O inestimável mais caro
Além do sim e do não
Cada um faz seu rincão
De sonho ou ponta de faca
Uns no bolso da guaiaca
E outros no coração

Rincão da alma é um ranchito
De pau-a-pique e capim
Erguido dentro de mim
E onde eu me escuto solito
Mas é um palácio bonito
Pra quem cultiva o apreço
Pelos valores sem preço
Por isso mesmo infinitos

Pulsando a vida nas veias
O coração não descansa
Nele reside a esperança
Que não respeita maneias
O coração corcoveia
Noutras tranqueia com calma
É o velho rincão da alma
Onde a consciência mateia!

Rincão da alma é um galpão
Onde se guarda o que é raro
O inestimável mais caro
Além do sim e do não
Cada um faz seu rincão
De sonho ou ponta de faca
Uns no bolso da guaiaca
E outros no coração           

Olhar


Olhar
(Lisandro Amaral, Cristian Camargo)

Lua que busca o silêncio dormido entre as sombras
Alma que guarda saudade dormida em silêncios
Beijo que dorme em saudade de alma e desejo
Corpo que grita no canto, pois quer o teu beijo

Paz que não tenho a distância e nas sombras que venho
Alma que dói por saber da saudade que tenho
Brilho da luz escondida na lua que espera
O beijo que grito e que traz teu amor primavera

Um dia o meu olhar, quem sabe, encontre o teu
E acorde pra um novo mundo que o tempo adormeceu
E o brilho que em ti virá da luz da lua é meu
E a calma da sombra mansa da paz que amanheceu
O teu olhar se encontra ao meu
Reflete os sonhos dormidos que buscam achar os teus

Olhar de estrela recente em meio ao que penso
Adeus ao sorriso que parte e não sabe se volta
E o pouco de mim que ficou já não sabe se canta
Fez lua e saudade chorar no olhar da garganta

Um dia o meu olhar, quem sabe encontre o teu
E acorde pra um novo mundo que o tempo adormeceu
E o brilho que em ti virá da luz da lua é meu
E a calma da sombra mansa da paz que amanheceu
O teu olhar se encontra ao meu
Reflete os sonhos dormidos que buscam achar os teus

Em Silêncio


Em Silêncio
(Lisandro Amaral, Carlos Madruga)

A sombra da noite linda
Sereno e campo florido
Derrama um corpo de amor
Sobre meu poncho estendido

Provo teu gosto em silêncio
Como quem bebe o luar
No proibido da noite
Não tive medo de amar

Provo teu corpo num sonho
Deste que ardem por dentro
Guardo comigo, em silencio
O próprio gosto do vento

Talvez não saibas quem sou
Porque cruzei teu silencio
No proibido da noite
Não viste a cor do meu lenço

Aos olhos da mañanita
Acorda o campo florido
Goteja um poncho em silêncio
Sobre a garupa do pingo

Talvez não saibas quem sou
Porque cruzei teu silencio
No proibido da noite
Não viste a cor do meu lenço

A Memória Da Pedra


A Memória Da Pedra
(Gujo Teixeira, Cristian Camargo)

Era pedra e seguiu pedra
Por eterna, a vida inteira
Que um dia ficou no campo
Cansou de ser boleadeira.

A pedra da boleadeira
Nesta terra se perdeu
Mas nos meus olhos de campo
Um dia assim, renasceu...

Brotou do ventre da terra
Com paciência secular
Esperando pra ser vento
E assim, de novo voar.

Não voou por muitos anos
Perdida das outras duas
Mas sempre guardou a forma
Redonda, em feito de lua...

Foi surgir desenterrada
Do mesmo jeito que veio
Junto de um cocho de sal
Num parador de rodeio.

Pela lembrança da terra
Muitos séculos de história
Que guardou fundos de campos
No rastro de sua memória...

Por fora suja de terra
Mas com mistérios por dentro
Mostrando o vinco do couro
Bem recortado em seu centro.

Trezentos anos talvez!!!
Renascida sobre a terra
Mansa, serena qual pedra
Quem já foi arma de guerra.

No alto de um coxilhão
Bem onde foi esquecida
Ganhou palavra de terra
Pois meu olhar lhe deu vida

Das mãos de um índio charrua
Pra minhas mãos de campeiro
A pedra da boleadeira
Tem sempre rumo certeiro...

Tino Sestroso

Tino Sestroso
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Eu tenho um tino sestroso de potro maula,
Que mostra o branco do olho pra quem quiser;
A alma que nem um tigre dentro da jaula
E um jeito de olhar a vida como ela é...

A vida é égua gaviona que não se cansa
E ensina a gente do campo sempre bem mais...
Por isso é que sei que o homem de fala mansa
É muito mais perigoso que os animais !

Mas quem me ganha a confiança numa bolada,
Encontra um amigo bueno de coração;
Parceiro sempre de jeito pra uma quarteada
E pode contar nas tarcas mais um irmão...

E assim a alma se amansa de andar no pêlo,
Desarmo as mãos pra cevar o meu chimarrão.
Meu tino xucro retorna pra ser sinuelo
E a vida vem ser tambeira neste galpão !

Porém é sempre preciso ser desconfiado !
Que bom seria se a história não fosse assim !
E o homem fosse sincero que nem o gado
Que pasta comunitário o mesmo capim !

Eu tenho um tino sestroso de gado alçado
E um coração de menino que canta, enfim...
Por bem me levam o pala, o chapéu tapeado !
Por mal nem mesmo um chinelo levam de mim !

Pelo Fio Do Alambrado

Pelo Fio Do Alambrado
(Evair Soares Gomez , Fernando Soares, Leonel Gomez)

Ao passo clareia o dia tranqueando igual ao cavalo
A cerca do alambrado pelos fios levava a vida
A D’alva já se escondia no aconchego das macegas
E a trança firme da rédea baixo o poncho se perdia.

Chora o sereno caído, o fio liso do alambrado
Mágoas que guardou o farpado pra enferrujar-se em seguida
Se vai a cerca estendida guardando limo na trama
Donde uma teia de aranha tece seu rumo de vida.

O mesmo fio do alambrado que já me foi guitarreiro
Atorou a pata do oveiro entre o machinho e o casco
Junto ao potreiro dos guachos de uma estância alheia
Relincha pro volta e meia sentindo quando eu me aparto.

Vou olhando o alambrado, pois entre as coisas que guarda
Fica um naco da minha alma ali na estância, pra trás
E por certo muito mais quando chegar lá nas casas
O meu piá com olhos d’água e um cabrestito no más.

O alambrado no passo, como uma potra gateada
Guarda a crina da cruzada de alguma enchente matreira
Me apeio na porteira, desprendo a argola da trama
E uma estrada se derrama por duas cercas lindeiras.

E ao passo se achega à noite num mesmo trote, o cavalo
E a lua traz seu regalo luzindo o arame de cima.
A D’alva na sua rotina de espiar o dia passado
E a cerca do alambrado pelos fios levava a vida.

Vou olhando o alambrado, pois entre as coisas que guarda
Fica um naco da minha alma ali na estância, pra trás
E por certo muito mais quando chegar lá nas casas
O meu piá com olhos d’água e um cabrestito no más.

Feito Um Cincerro De Prata

Feito Um Cincerro De Prata
(Lisandro Amaral, Cristian Camargo, Márcio Rosado)

Feito um cincerro de prata que se apartou do badalo
Lua minguante contemplo no lombo do meu cavalo
Com a mãe tordilha que apeia do ventre a potranca estrela
No negro escuro da noite somente o céu pode tê-la

E assim o céu testemunho dos meus caminhos mirantes
Viram que lua e destino são mais que luzes e andantes
Com a mãe tordilha que apeia para o carinho fraterno
Mesmo no vulto da noite o escuro nunca é eterno

E a luz que vem do teu olhar
Beijou o mar e a imensidão
Rompeu o tempo e foi morar no amor

Se a luz que vai do meu olhar
Querendo estar num coração
Rompeu a noite e amanheceu amor

E assim o céu testemunho dos meus caminhos mirantes
Viram que lua e destino são mais que luzes e andantes
Com a mãe tordilha que apeia para o carinho fraterno
Mesmo no vulto da noite o escuro nunca é eterno

E a luz que vem do teu olhar
Beijou o mar e a imensidão
Rompeu o tempo e foi morar no amor

Se a luz que vai do meu olhar
Querendo estar num coração
Rompeu a noite e amanheceu amor

De Alma Campo e Silêncio

De Alma, Campo e Silêncio
(Fernando Soares, Juliano Gomes, Everson Maré)

Noite de campo que vejo numa lembrança de outrora
Beira de um fogo que acalma, triste cambona que chora
Alma povoada em silêncio deste meu rancho fronteiro
Mateando alguma saudade costeando o sono da espora

Vento que geme na quincha feito um basto na estrada
Resmunga o som de tesoura do picumã amorenada
Quem sabe traga de arrasto alguma manga pras casa
E um cheiro bruto de terra pra invadir a madrugada

Noite que chora pro campo tocando a tropa na sanga
Batiza os lábios da china num galho flôr de pitanga
Somente o sonho que cresce num distanciar de povoeiro
Que parte junto com a aguada pra alguém que vive de changa

E a primavera se estende com olhos claros pra lida
Bolear a perna na estância, este é meu rumo na vida
Solito eu cruzo as horas num camperear de invernada
De rédea firme por diante com alguma mágoa contida


Seival

Seival
(Lisandro Amaral, Guilherme Collares)

Vagalumes no varzedo
Cada qual brilhando mais
Meu tordilho não tem medo
Dos assombros dos chircais
Meu tordilho não tem medo
Dos assombros dos chircais

Não fosse o grito de Netto
Chamando para o Seival
Não fosse o grito guerreiro
Ter Bento por general

Não fosse a lança certeira
Sangrando guerreiros por um ideal
Não fosse o grito das pedras
Que as sogas conduzem no bem e no mal
Cada garrucha é uma boca gritando
Que os tauras não vão se entregar
Quem for farrapo dirá

Não fosse a lança certeira
Sangrando guerreiros por um ideal
Não fosse o grito das pedras
Que as sogas conduzem no bem e no mal
Cada garrucha é uma boca gritando
Que os tauras não vão se entregar
Quem for farrapo sempre será, sempre será

Adaga e lança
Razões de ser
Um grito pampa a florescer
E a tricolor hasteada
Nos olhos rubros da indiada
Que ia ao rumo do nada
Buscar o sol,
Buscar o sol pra viver

Não fosse o grito de Netto
Chamando para o Seival
Não fosse o grito guerreiro
Ter Bento por general

Não fosse a lança certeira
Sangrando guerreiros por um ideal
Não fosse o grito das pedras
Que as sogas conduzem no bem e no mal
Cada garrucha é uma boca gritando
Que os tauras não vão se entregar
Quem for farrapo dirá

Não fosse a lança certeira
Sangrando guerreiros por um ideal
Não fosse o grito das pedras
Que as sogas conduzem no bem e no mal
Cada garrucha é uma boca gritando
Que os tauras não vão se entregar
Quem for farrapo dirá

Seival...

De Saltar Calando

De Saltar Calando
(Fernando Soares, Juliano Gomes)

É de vereda parceiro, que o golpe firma na trança
Se o braço busca a distância, no estender da canhada
Uma terneira abichada, que achata a cola por conta
Ritual gaúcho na estampa, desta querência sagrada.

É de vereda parceiro,com a bota sempre estrivada
Que aparto um boi na invernada, pra garantir o sustento
Chapéu tapeado com o vento, num barbicacho apertado
E um peleguito virado, nesse “fundão mormacento”

Salta calando parceiro, salta calando!!
Faz um bichinho e afirma a perna no más
Soca as esporas e “afrouxa” a boca do pingo
Que a zebuada, sobra pata por “demás”.

E de vereda parceiro, “vamo” rangindo a carona
Num resmungar da chorona, n'alguma folga domingueira
E a sina por balconeira, faz esbarrar na cancela
Pra tira a poeira da goela, num bolicho de fronteira.

E de vereda parceiro, que a noite vem espiando
Junto aos buracos do rancho, de uma peleia passada
E o vício ronda a indiada, num destorcido com canha
Piscando um olho na sanha e metendo sorte clavada

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma
(Adriano Alves, Osmar Proença, Marcelo Oliveira)

Uma lágrima encheu os rios da face
De um bisavô, ao visitar o seu passado
Entre lembranças dissipadas pelo tempo
Iguais retratos que envelhecem, desbotados

E na cacimba de água clara das retinas
Se refletiu aquele tempo que se foi
Do povo índio defendendo a sua terra
Até os tropeiros das canções do êra boi

Falou de escravos derramando suor e sangue
Cercas, mangueiras, levantando em pedras mouras
De mãos rurais antes de lanças e garruchas
Pelos galpões, firmando o pulso nas tesouras

Cordas sovadas pelas mãos de homens campeiros
Cimbrando golpes no sustento dos rituais
As nazarenas nos garrões dos domadores
E as boleadeiras em mundéus para os baguais

E através do espelho da alma pude ver
Que o ancestral e o campo sentem a mesma dor
Feito uma tropa que se vai, gastando léguas
Sem nem saber o que há no fim do corredor

Mirando o largo um horizonte dos meus olhos
Sentiu o campo, maltratado em sua essência
Falsos herdeiros reclamando a velha terra
Sem nem notícias das origens ou querência

E viu que os homens continuam sendo escravos
Que há fios de arame no lugar de pedras mouras
Que mãos ociosas erguem foices e bandeiras
Enquanto isso, enferrujam-se as tesouras

Viu os arreios encilhando cavaletes
Sovéus e laços sem espaço pra os pealos
Que sem garrões, as nazarenas silenciaram
E as boleadeiras se esqueceram dos cavalos

E através do espelho d'alma, pode ver
Que a tropa anda e mais comprido é o corredor
E que o campo, embora guapo, se ressente
E sem querer, segue sofrendo a mesma dor

Flor de Yuyo

Flor de Yuyo
(Evair Gomez, Juliano Gomes)

Minha florzita de yuyo
Mas de yuyo perfumado
Mantendo os olhos assim
Te trago frente aos meus lábios
Por isso ao guitarrear
Me gusta tê-los fechados

Sei que me fiz guitarreiro
Quando Deus deu-me destreza
Trazendo a lua pro bojo
Desta guitarra campeira
E que emprestaste teus lábios
Pra dar cor a corticeira
E que emprestaste teus lábios
Pra dar cor a corticeira

Tive ciúmes do sereno
Flor de yuyo por regala
E fiquei preso nos basto
Me perdendo em tua mirada
Mas não teve medo o vento
E te abanou com meu pala

Depois da rosilha flor de yuyo
Tive muitas outras potras
Que estendi até teu rancho
Pois até perdi a conta
Mas só topei com a saudade
Que cutucava ainda a outra
Mas só topei com a saudade
Que cutucava ainda a outra

Fiz do inverno primavera
Por mais que andasse emponchado
Pois fechando os olhos assim
Te trazia frente aos lábios
Minha florzita de yuyo
Mas de yuyo perfumado.



Colaboração de Lutiani Espelocin

Comparsão De Janeiro

Comparsão De Janeiro
(Evair Gomez, Juliano Gomes)

Olha a verdura, cancheiro
Que os velo vêm se estendo
Qual nuvens pelos setembros
Que o vento manso tropeia

Venho minguando o rebanho
A tec-tec de tesoura
E tu garreando a vassoura
Num comparsão de janeiro

Uma botella rolhada
Sacudo num trago largo
Ritual campeiro do pago
Pra evita a tremedeira
E largo de foia inteira
Bolcando a lã pra um costado
Cancheiro me alcança outra
Que to desmaneando esta
Pois até o silêncio se inquieta
Ao não escutar minha tesoura

Escuto o golpe da ficha
Pagando o toso na lata
E arremangando as bombacha
Me curvo, tocando ficha
Assim, a safra se espicha
Por este pago fronteiro
A tec-tec de tesoura
Num comparsão de janeiro

Uma botella rolhada
Sacudo num trago largo
Ritual campeiro do pago
Pra evitar a tremedeira

E largo de foia inteira
Bolcando a lã pra um costado
Cancheiro me alcança outra
Que to desmaneando esta
Pois até o silencio se inquieta
Ao não escutar minha tesoura



Enviada por Lutiani Espelocin