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Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma
(Adriano Alves, Osmar Proença, Marcelo Oliveira)

Uma lágrima encheu os rios da face
De um bisavô, ao visitar o seu passado
Entre lembranças dissipadas pelo tempo
Iguais retratos que envelhecem, desbotados

E na cacimba de água clara das retinas
Se refletiu aquele tempo que se foi
Do povo índio defendendo a sua terra
Até os tropeiros das canções do êra boi

Falou de escravos derramando suor e sangue
Cercas, mangueiras, levantando em pedras mouras
De mãos rurais antes de lanças e garruchas
Pelos galpões, firmando o pulso nas tesouras

Cordas sovadas pelas mãos de homens campeiros
Cimbrando golpes no sustento dos rituais
As nazarenas nos garrões dos domadores
E as boleadeiras em mundéus para os baguais

E através do espelho da alma pude ver
Que o ancestral e o campo sentem a mesma dor
Feito uma tropa que se vai, gastando léguas
Sem nem saber o que há no fim do corredor

Mirando o largo um horizonte dos meus olhos
Sentiu o campo, maltratado em sua essência
Falsos herdeiros reclamando a velha terra
Sem nem notícias das origens ou querência

E viu que os homens continuam sendo escravos
Que há fios de arame no lugar de pedras mouras
Que mãos ociosas erguem foices e bandeiras
Enquanto isso, enferrujam-se as tesouras

Viu os arreios encilhando cavaletes
Sovéus e laços sem espaço pra os pealos
Que sem garrões, as nazarenas silenciaram
E as boleadeiras se esqueceram dos cavalos

E através do espelho d'alma, pode ver
Que a tropa anda e mais comprido é o corredor
E que o campo, embora guapo, se ressente
E sem querer, segue sofrendo a mesma dor