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DEPOIS DO LOMBO DO PINGO

Título
DEPOIS DO LOMBO DO PINGO
Compositores
LETRA
OSMAR PROENÇA
MÚSICA
ANDRÉ TEIXEIRA
Intérpretes
QUARTETO CORAÇÃO DE POTRO
Ritmo
MILONGA
CD/LP
22ª VIGÍLIA DO CANTO GAÚCHO
Festival
22ª VIGÍLIA DO CANTO GAÚCHO
Declamador

Amadrinhador

Premiações
1º LUGAR
MELHOR TEMA CAMPEIRO
MELHOR CONJUNTO INSTRUMENTAL




DEPOIS DO LOMBO DO PINGO
(Osmar Proença, André Teixeira)

Abre o peito e chama a tropa
Que assoma em seu devaneio
Venha, venha, venha boi
Com assobios pelo meio
Olha por cima do ombro
E banca o pingo no freio

É bem assim que lhe vejo
Porque a razão me permite
Quem já esbarrou no horizonte
Agora tem seu limite
Casou com a lida de campo
E a idade fez o desquite

A se julgar pelos feitos
Quem poderá afinal
Justificar tanta maula
Levantado em pedestal
E um índio cria da estância
Sem nome e ser desigual

Depois do lombo do pingo
O que sobra é quase nada
Uma tapera sem sombra
Quase no fim da estrada
E uma lembrança remota
Chamando bois nas tropeadas

O avestruz não faz mais ninho
Campeando as covas de touro
O cusco não sai pra o campo
Perdeu a sombra do mouro
E a tropa é só uma quimera
Que não tem alma nem couro

Depois do lombo do pingo
O que sobra é quase nada
Uma lembrança remota
Chamando boi nas tropeadas
Venha, venha, venha boi...



Aos Olhos Da Gente


Aos Olhos Da Gente
(Osmar Proença, Luciano Rodrigues)

O rumo que dei aos olhos se ergueu no lombo do cerro
E a moldura do meu pago se ajeitou no horizonte
Com paixões de três ontonte voltei beber na querência.
Porque a sede das ausências não se mata em outras fontes

O canto da siriema contraponteava o silêncio,
E as patas do meu confiança pisavam plumas no chão
Do freio a velha canção duetava com as esporas,
Estrelas frias de auroras que o céu moldou no clarão

Ao sul as garças voltavam pra querência do açude,
De sobrelombo nas nuvens que pastavam na campina,
Qual uma tropa teatina que se soltou do infinito
E esse rodeio bonito povoou-me alma e retina

Uma casinha modesta me cuidava lá de baixo,
Esperançando um aceno pra silhueta na janela
Talvez alguma donzela com paixões a florescer
Buscando ao entardecer um sonho além da cancela

O sol que aquece os andantes gastava as últimas brasas,
Mesclando sombra e clarão nas dobras das invernadas,
Nesta hora abençoada que traz grilos pras taperas
E a lua china gaudéria pra cirandar nas aguadas

Quanta coisa nos revela uma paisagem de estrada
Se o coração sabe ver e a alma sabe escutar,
Qualquer lugar é lugar para as mãos da natureza
Derramarem sua beleza e nos prender pelo olhar

Depois Das Léguas Da Carreteira

Depois Das Léguas Da Carreteira
(Osmar Proença, Igor Silveira)

Na carreteira a estrela D’alva acorda os bois
Um galo canta, outro responde mais ao léu
Mate lavado, cafezito camboneado
E o dia avança luzindo um florão no céu

Madrugadita enserenada no potreiro
Luar prateando, boi no pasto, água na sanga
Enquanto a légua arranca notas do cincerro
O boi da aurora vem lamber o sal da canga

Meu pensamento encontra o vento e cria asas
Pra estar nas casa em meio a moda no rincão
Enternecer este motivo que eu sustento
Junto ao rebento e a mulher do coração

E da cantiga do cincerro bem atado
Faço um legado para os outros que virão

"Lenha embarcada e os avio das precisão...
Chamo do arreio a junta mestra veterana;
Meus bois da ponta tem muita estrada nos cascos
Que nem carece o marimbondo da picana..
Rancho andarengo na cadência da boiada,
Calmo assovio pra acompanhar tua cantiga,
No teu costado encho os olhos de Querência
E lavo a alma no regresso à gente amiga."

Cascos de bois fizeram rastro lado a lado
Na paz, na guerra, no plantio e na colheita
Enquanto o homem, o cachorro e o cavalo
Envelheceram no costado da carreta

Resta aos antigos um recuerdo, um devaneio...
Mirar nublado por debaixo do chapéu
Cada carreta um barco amigo no horizonte
Singrando as pontas entre os campos no céu

Meu pensamento encontra o vento e cria asas
Pra estar nas casa em meio a moda no rincão
Enternecer esse motivo que eu sustento
Junto ao rebento e a mulher do coração

E da cantiga do cincerro bem atado
Faço um legado para os outros que virão

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma

Quando Uma Lágrima Se Fez Espelho Na Alma
(Adriano Alves, Osmar Proença, Marcelo Oliveira)

Uma lágrima encheu os rios da face
De um bisavô, ao visitar o seu passado
Entre lembranças dissipadas pelo tempo
Iguais retratos que envelhecem, desbotados

E na cacimba de água clara das retinas
Se refletiu aquele tempo que se foi
Do povo índio defendendo a sua terra
Até os tropeiros das canções do êra boi

Falou de escravos derramando suor e sangue
Cercas, mangueiras, levantando em pedras mouras
De mãos rurais antes de lanças e garruchas
Pelos galpões, firmando o pulso nas tesouras

Cordas sovadas pelas mãos de homens campeiros
Cimbrando golpes no sustento dos rituais
As nazarenas nos garrões dos domadores
E as boleadeiras em mundéus para os baguais

E através do espelho da alma pude ver
Que o ancestral e o campo sentem a mesma dor
Feito uma tropa que se vai, gastando léguas
Sem nem saber o que há no fim do corredor

Mirando o largo um horizonte dos meus olhos
Sentiu o campo, maltratado em sua essência
Falsos herdeiros reclamando a velha terra
Sem nem notícias das origens ou querência

E viu que os homens continuam sendo escravos
Que há fios de arame no lugar de pedras mouras
Que mãos ociosas erguem foices e bandeiras
Enquanto isso, enferrujam-se as tesouras

Viu os arreios encilhando cavaletes
Sovéus e laços sem espaço pra os pealos
Que sem garrões, as nazarenas silenciaram
E as boleadeiras se esqueceram dos cavalos

E através do espelho d'alma, pode ver
Que a tropa anda e mais comprido é o corredor
E que o campo, embora guapo, se ressente
E sem querer, segue sofrendo a mesma dor