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Mostrando postagens com marcador César Passarinho. Mostrar todas as postagens
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Tropeiro Dos Quatro Ventos

Tropeiro Dos Quatro Ventos
(Ernani Amaro de Oliveira)

Tropeiro que enfrenta o tempo,
A noite, a chuva e o vento
E em cada pouso relembra,
Que a tropa é a sua única prenda.
Se existem outros amores
Não são amores, são lendas.

Vai, tropeiro, levando o teu andor.
Vai, tropeiro, o destino te marcou.
No rastro da tua tropilha
Fica tua trilha
De amor.

Tropeiro que vai seguindo,
Curtindo o frio dos rigores,
Não sabe que o tempo passa,
Que existem outros amores:
Não sabe além da fumaça
E a poeira dos corredores.

Vai, tropeiro, levando o teu andor.
Vai, tropeiro, o destino te marcou.
No rastro da tua tropilha
Fica tua trilha
De amor.

Tropeiro dos quatro ventos
Andei puxando a memória,
Buscando na tua história
Amores na tua agenda,
Mas triste fiquei sabendo
Que a tropa é tua única prenda.

Um Pito

Um Pito
(Nenito Sarturi, Cláudio Patias, Nelcy Vargas)

Olha, Guri ! Repara o que estás fazendo,
Depois que fores é difícil de voltar;
Passei-te um pito e continuas remoendo,
Teu sonho moço deste rancho abandonar.

Olha, Guri ! Lá no povo é diferente,
E certamente, faltará o que tens aqui;
Eu só te peço: Não esqueça de tua gente,
De vez em quando, manda uma carta, guri.

Se vais embora, por favor não te detenhas,
Sigas em frente e não olhes para trás;
Assim não vais ver a lágrima insistente,
Que molha o rosto do teu velho, meu rapaz

Olha, Guri! Prá tua mãe, cabelos brancos,
E pra este velho que te fala sem gritar;
Pesa teus planos, eu quero que sejas franco,
Se acaso fores, pega o zaino pra enfrenar.

Olha, Guri! Leva uns cobres de reserva,
Pega uma erva pra cevar teu chimarão;
E leva um charque, que é pra ver se tu conservas,
Uma pontinha de amor por este chão

Se vais embora, por favor não te detenhas,
Sigas em frente e não olhes para trás;
Assim não vais ver a lágrima insistente,
Que molha o rosto do teu velho, meu rapaz

Último Grito

Último Grito
(Kenelmo Amado Alves)

Cutucou suas esporas
Na paleta do Minuano
E galopou pelo tempo
Na cancha reta dos anos.
E dando rédeas ao flete
Deu um grito no más:
Biribibiujuju...e o tempo ficou pra trás.
Biribibiujuju...agora já não se escuta.
Biribibiujuju...perdeu a força da luta.

Lá vai pelo tempo vencido,
Dobrado, esquecido, o Velho Xirú
E nos alambrados o vento
Lhe grita zombando biribibiujuju...

Agora, no fim do caminho,
No sono do vinho,
Jogado no chão,
Adormece na beira da estrada,
Não pede pousada
Pois sabe do “não”.
E ainda o perseguem nos sonhos
Os uivos medonhos do vento a gritar:
Biribibiujuju... Biribibiujuju... Biribibiujuju...

Moirão a Moirão

Moirão a Moirão
(Mauro Moraes)

De certa feita lá pelas tantas
Troquei de manhas meu andejar
Lanhei meu braço, tiro de laço
Na picardia do linguajar
Num gole feio de um tira gosto
Num buenas tardes me fui chegando
Desencilhando qualquer domingo
Onde termino me aquerenciando

E vez por outra num lusco-fusco
De brilho um forte me tapo o rastro
Onde me escapo da marcação
E num boleio de despedida
Me desespero levando a vida
Como alambrado
Moirão a moirão

Por certo ainda de muito andar
Meu fim de mundo terá lugar
E as distâncias que peregrinam
Darão aos lírios onde brotar
De palo a palo tranqueando a sorte
Por invernadas irei seguir
Arremedando os vagalumes
Meus queixumes virão bulir

E vez por outra num lusco-fusco
De brilho um forte me tapo o rastro
Onde me escapo da marcação
E num boleio de despedida
Me desespero levando a vida
Como alambrado
Moirão a moirão



Enviada por Liane

Sonho de Seresteiro

Sonho de Seresteiro
(Neto Fagundes)

Lembro cantigas, poemas
Sobre a imagem da janela
Surgiu a face mais bela
Nas grades da casa antiga

No chão senta o seresteiro
Rasga viola e garganta
Empolgado quando canta
Excitado quando mira

Surgiu na porta um semblante
Quebrando o negro da noite
Sentou, escutou e trouxe
A inspiração pra quem canta

A lua prateada e ouro
Da cor daquela morena
Pra quem dediquei meus versos
Atriz principal da cena

Queria parar o mundo
Mesmo que fosse uma hora
Pra continuar madrugadas
E a noite não ir embora

Depois descansar no leito
Feito de nuvens macias
Querendo laçar a lua
Pra galopear pelos dias

Nos canteiros do universo
Colherei as Três-Marias
Da inspiração dos planetas
Guardei pra ti mil poesias

Queria parar o mundo
Mesmo que fosse uma hora
Pra continuar madrugadas
E a noite não ir embora

Depois descansar no leito
Feito de nuvens macias
Querendo laçar a lua
Pra galopear pelos dias

Nos canteiros do universo
Colherei as Três-Marias
Da inspiração dos planetas
Guardei pra ti mil poesias

Da inspiração dos planetas
Guardei pra ti mil poesias




Enviada por Liane

Cambichos

Cambichos
(Luiz Bastos, Jorge Rodrigues de Freitas)

Quando escaramuça no meu peito uma saudade
Agarro as garras pra encilhar meu estradeiro
E enquanto a tarde já se apaga pelos cerros
Minh'alma acende suas paixões e seus segredos

Depois a noite trás a lua leve e calma
Estes banhados erguem vozes e cochichos
Eu abro as asas onduladas do meu pala
Porque me bate a sede louca dos cambichos

Tiranas lindas que me arrastam pra um surungo
Num fim de mundo onde geme uma cordeona
Onde se embala minha alma de campeiro
Pelos luzeiros das miradas querendonas

Gringas mestiças e morenas cor de aurora
Negras e claras se confundem na fumaça
Meu coração é um barco errante nessas horas
Passando a noite sem saber que a noite passa

Mas quando o sol braseia as barras do horizontes
Só restam rumos e recuerdos pra seguir
Porém mais vale pra um gaudério esta saudade
Do que não ter saudade alguma pra sentir.



Enviada por Liane

Não Há Pandorgas No Céu

Não Há Pandorgas No Céu
(Lenin Nunez)

Quando morre um menino
Reza o vento sua prece
O destino fecha a porta
E o dia não amanhece

Quando morre um menino
Se quebra a vida em pedaços
As horas correm vazias
Sem travessuras e abraços

Quando morre um menino
Choram as águas da sanga
Amadurecem inúteis
Figos, melões e pitangas

Quando morre um menino
A tristeza mata a fome
E crescem ervas daninhas
Pelos caminhos de um homem

Quando morre um menino
Tem o pão gosto de fel
A alegria sai da casa
E não há pandorgas no céu

Quando morre um menino
Não há pandorgas no céu



Enviada por Liane

Clarão Rural

Clarão Rural
(João de Almeida Neto)

Já está chegando no Rincão do Touro Passo
A luz mais clara do que a luz de lampião
Vem pelos fios a energia destes tempos
Pra iluminar o mundo só de cada peão.

É o jeito novo de clarear salas antigas
Braseiro novo preso ao teto do galpão
E se debruça nos açudes da fronteira
Ajuda os homens a dar água a plantação.

Prolonga o dia nos oitões das casas grandes
Aquece a sanga rotineira dos rurais
E quando estrelas lá no céu piscam-lhe os olhos
Ela responde das ramadas dos quintais.

E assim que venha pelo bem desta querência
Gerar o sonho mais humilde e mais comum
Calar na alma dos campeiros do meu pago
Dando mais brilho a luz do olhar de cada um.



Enviada por Liane

Que Homens São Esses

Que Homens São Esses
(Francisco Castilhos, Carlos Moacir Rodrigues)

Que homens são esses que fogem a luta?
Será que não sabem as glórias do pago?
Que homens são esses que nada respondem,
Que calam verdades, que reprimem afagos
Que homens são esses que trazem nas mãos,
O freio, o cabresto, a rédea e o buçal
Que homens são esses que tem o dever
De fazer o bem, mas só fazem o mal

Eu quero ser gente igual aos avós
Eu quero ser gente igual aos meus pais
Eu quero ser homem sem mágoas no peito
Eu quero respeito e direitos iguais

Eu quero este pampa semeando bondade
Eu quero sonhar com homens irmãos
Eu quero meu filho sem ódio nem guerra
Eu quero esta terra ao alcance das mãos

Que sejam mais justos os homens de agora
Que cantem cantigas antigas e puras
Relembrem figuras sem nada temer
Procurem um mundo de paz na planura
E encontrem na luta, na força e na raça
Um novo caminho no alvorecer

Desperta meu povo do ventre de outrora
Onde marcas presentes não são cicatrizes
Desperta meu povo liberta teu grito
Num brado mais forte que as próprias raízes


Faz de Conta

Faz de Conta
(Colmar Duarte, Armando Vasquez, Valdir Santana, João Chagas Leite )

Calça curta, pés descalços,
E pra defender meu pago,
Uma espada de alecrim,
Fui o leão do Caverá,
Fui feliz quando fui piá,
Tive um mundo só pra mim.

Eu fui herói, fui bandido,
Fui senhor das sesmarias,
Nestas minhas fantasias,
Tive muitos inimigos,
E o cardeal das laranjeiras,
Me avisava dos perigos.

À cavalo Honório Lemes,
Pegue as "arma" e te prepara.
Que aí vem Flores da Cunha
No seu flete de taquara.

Tempos de doces lembranças
Que o faz de conta criou
Mundéus de crinas trançadas
Forcas que o vento balança,
Para os tempos de crianças
Que o próprio tempo ariscou.

Homens de um tempo sem medo,
Para exemplo nos brinquedos,
Que a vida deixou passar.
E o piá de estância de agora,
Já não tem a quem copiar.



Enviada por Liane

Desalentos

Desalentos
(Mauro Marques, Mário Barros)

Desencilhei a esperança
Tirei o pala e a espora...
E largeui a campo fora
Meus ideais de criança.

Se perderam nas esperas
Das promessas esquecidas,
Na fala de falsos qüeras,
Na chaga de vis feridas.
Se perderam nos enganos,
Nos sonhos, desilusões,
Na falsidade dos planos,
Nas pobres conspirações.

Me passa um mate, parceiro,
Que esta noite vai ser longa,
No bordão deata milonga,
No calor desse braseiro.
Amigo, me manda um trago,
Que um gole de canha pura
Me amansa essa amargura,
Me serve de companheiro.

Quem sabe um sonho bonito
Ganhe a garupa do vento
E se achegue, "despacito",
No coração de um rebento.
Quem sabe, dia mais dia,
Rebento não mais rebento
A mágoa dê rédeas ao tempo
Na cancha do sentimento.
Quem sabe renasça a crença,
Como forma de oração!
A fé, num simples sorriso...
A paz, no aperto de mão.




Enviada por Liane

Fim de Mês

Fim de Mês
(Mauro Moraes, Juliano Trindade)

Fim de mês, é minha vez
Outra vez ao teu encontro estou indo
Pra rever o teu sorriso infindo
E também beijar os teus lábios tão lindos
Fim de mês, estou feliz
Os meus rumos cantam, o coração me diz
É chegada a hora de bandear aquela estrada
Pra poder rever a minha namorada

(Não sei viver sem tua cantilena
Morena linda que é meu bem querer
Tudo que eu preciso são tardes de domingo
Aflorando o nosso conviver
Tudo que eu preciso são tardes de domingo
Aflorando o nosso conviver)

Toda vez que estou por vir
A saudade é um campo que não tem mais fim
Teus anseios são gorjeios em serenata
Festejando a anunciação das madrugadas

 
Enviada por Liane

O Negro de 35

O Negro De 35
(José Rufino de Aguiar Filho, Clóvis Souza)

A negritude trazia a marca da escravidão
Quem tinha a pele polianga vivia na escuridão
Desgarrado e acorrentado, sem ter direto a razão
Castrado de seus direitos não tinha casta nem grei
Nos idos de trinta e cinco, quando o caudilho era o rei
E o branco determinava, fazia e ditava a lei

Apesar de racional, vivia o negro na encerra
E adagas furavam palas, ensangüentando esta terra
Da solidão das senzalas tiraram o negro pra guerra

(Peleia, negro, peleia, pela tua independência
Semeia, negro, semeia, teus direitos na querência)

Deixar o trabalho escravo, seguir destino campeiro
As promessas de igualdade aos filhos no cativeiro
E buscando liberdade o negro se fez guerreiro

O tempo nas suas andanças viajou nas asas do vento
Fez-se a paz, voltou a confiança, renovaram pensamentos
A razão venceu a lança e apagou ressentimentos

Veio a Lei Afonso Arinos cultivando outras verdades
Trouxe a semente do amor para uma safra de igualdade
Porque o amor não tem cor, sem cor é a fraternidade

(Peleia, negro, peleia, com as armas da inteligência
Semeia, negro, semeia, teus direitos na querência)




Mais uma enviada por Liane

Negro da Gaita

Negro Da Gaita
(Gilberto Carvalho, Airton Pimentel)

Mata o silêncio dos mates, a cordeona voz trocada
E a mão campeira do negro, passeando aveludada
Nos botões chora segredos, que ele juntou pela estrada

Quando o negro abre essa gaita
Abre o livro da sua vida
Marcado de poeira e pampa
Em cada nota sentida

Quando o pai que foi gaiteiro, desta vida se ausentou
O negro piá solitário, tal como pedra rolou
E se fez homem proseando, com a gaita que o pai deixou

E a gaita se fez baú para causos e canções
Do negro que passa a vida, mastigando solidões
E vai semeando recuerdos, por estradas e galpões.



Colaboração enviada por Liane

Galope dos Sonhos

Galope dos Sonhos
(Mauro Marques)

Liberdade é campo aberto
Réreas soltas, galopar
O longe está mais perto
Para quem pode sonhar.

Alma a dentro campo a fora
No atropelo da razão
Campereada não tem hora
Na fronteira da ilusão.

Mas na raia desta vida
É preciso conciliar
A chegada tão festiva
E a partida sem chegar.

A galope vão os sonhos
No tropel do coração
Deixam marcas de saudades
Que jamais se apagarão.

Gineteando apaixonado
Vai o sonho do amor
Num flete colorado
Que também é sonhador

Por lugares encantados
Um convite a ser feliz
Velhos sonhos renovados
A campear outro matiz

Mas no lombo do destino
Em galopes desiguais
Muitos sonhos de meninos
Lembram tombos nada mais



Enviada  por Liane

Assim no Más

Assim no Más
(Mauro Moraes)

Por conhecer a lida que a vida me deu
Meu galopar de moço escramuça de dor
Quando te vejo vindo meu fruto da mata
Arrastando alpargata carente de amor

Parece que o silêncio das rondas noturnas
Amontam o potro arisco da imaginação
Quando te espero cedo meu rumo isolado
Lavando o amargo apesar da ilusão

Esporiei reminiscências com pesadas nazarenas
Na esperança que a saudade amansasse as minhas penas
Mais dias menos dias domando pelegos
Vou arranjar sossegos que a espera me deu
Embriagando mágoas nas águas da sanga
Onde sovei as pampas meus sonhos nos teus

Nas ressolanas tardes de anseios trocados
A terra prometida arando restevas
Guardando pra semana o mel da lichiguana
E a manhã castelhana que habita as estrelas

E assim no más me perco alumbrado de achegos
Em meio a circunstância dos mesmos juncais
Que te acolheram nua meu resto de lua
No poente charrua emponchado de paz



Gracias Liane

Os Cardeais

Os Cardeais
(Elton Saldanha)

Não chora menina, não chora
porque foram-se os cardeais
se cantavam na prisão
campo afora cantam mais.

Tanta gente que anda vagando
sem saber onde pousar
mas as aves só voando
é que podem se encontrar

Você ainda não sabe
o que cabe nessa paz
quando a gente abre as asas
nunca mais, nunca mais

Era tão triste menina
não tinha aceno este cais
na despedida eram dois
depois, depois serão mais

A gaiola abriu as asas
porque até a prisão se trai
e o campo se fez casa
para ocanto dos cardeais

Tinham as asas de punhais
e levavam os olhos em brasa
é por isso que estes pássaros
sempre fogem e voltam pra casa.


Mais uma enviada por Liane

Guri

Guri
(João Batista Machado, Júlio Machado da Silva Neto)

Das roupas velhas do pai,
queria que a mãe fizesse
uma mala de garupa, uma bombacha e me desse.

Queria boinas, alpargatas,
e um cachorro companheiro
para me ajudar a botá as vacas
no meu petiço sogueiro.

Ei de ter uma tabuada,
e o meu livro queres ler,
vou aprender a fazer contas,
e algum bilhete escrever
prá que a filha de seu Bento saiba,
que ela é meu bem querer.
E se não for por escrito,
eu não me animo a dizer.

Quero gaita de 8-baixo,
prá ver o ronco que sai;
botas, feitio do Alegrete,
esporas são do Ibiracaí
lenço vermelho e guaiacas,
compradas lá no Uruguai.
É prá que digam quando eu passe,
saiu igualzito ao pai.

E se Deus não achar muito,
tanta coisa que eu pedi,
não deixe que eu me separe,
deste rancho onde nasci.

Nem me desperte tão cedo,
desde sonho de guri,
e de lambuja permita,
que eu nunca saia daqui.



Colaboração de Liane