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Proseando

Proseando
(Marcelo D'Ávila, Telmo Vasconcelos, Clóvis de Souza)

Pulpeiro, me serve um liso
Que ando sovado da lida
Um bom cavalo é preciso
Quando a estrada é comprida

Venho apanhando faz tempo
E a vida descolorida
Não cuida, nem faz de conta
De amadrinhar as feridas

Solito, vou refletindo
Que o mundo roda ligeiro
Que falta faz um cavalo
Bueno de rédea e parceiro

Pulpeiro, me serve um liso
Que ando sovado da lida
Um bom cavalo é preciso
Quando a estrada é comprida

Pulpeiro, venho cansado
Levando o mundo nos ombros
Não tenho folga e ninguém
Que amacie os meus tombos

Trago o lombo calejado
Das rodadas repetidas
Que falta faz um cavalo
Quando a estrada é comprida


Intérprete: Maurício Oliveira, Clóvis Souza e Marciano Reis Filho

A Cor Do Verde

A Cor Do Verde
(Marcelo D´Ávila, Clóvis de Souza)

Que sombra é essa que desbota a pampa
Semeando cinzas sob o céu aberto,
Vertendo o verde numa cor mais triste
E dando ao campo ares de deserto?

Outros matizes brotam nas coxilhas
Em tons de bronze, apagando rastros
E as sesmarias já não tem mais viço,
Somente poeira, onde crescia o pasto.

Acorda, campo! Pois te vais aos poucos
Em outras cores que não são teu verde
Nesta aridez, que é mais sertão que pampa,
Ou a querência vai morrer de sede.

E restarão cravadas nas areias -
Neste amarelo vasto que se some -
As ossamentas brancas, ressequidas,
Da gadaria quem mermou de fome.

Desperta, pampa, que ainda é tempo
De renascer das tuas próprias brasas:
Pintar de verde o verde, novamente,
Rever o pasto ao redor das casas.

Do Meu Feitio

Do Meu Feitio
(Clovis de Souza, Marcelo D´Ávila)

É bem do meu feitio cantar milongas
Com a justa melodia e a rima exata
Na voz que vem do campo – e vem de dentro –
Pilchado de bombacha e alpargata.

É bem do meu feitio cevar um mate
Nas horas mais silentes da manhã,
Deixar que lave a erva lentamente
Largando na estrada as coisas vãs.

Se sou assim, assim me fez o Sul,
De um jeito simples, e sei que por isso
Essa mania de cantar o pago
É bem do meu feitio de fronteiriço.

É bem do meu feitio compor uns versos
Ao frágil candeeiro da boeira
E oferecer, na janela do rancho
Pra prenda que escolhi por companheira.

É bem do feitio bolear a perna
Prum trago e uma prosa com os amigos:
Riquezas que esta vida me regala
Num relicário que guardo comigo


Zamba De Viento Y Arena

Zamba De Viento Y Arena
(Marcelo D’Ávila, Clóvis Soares de Souza)

Soy como el viento en el monte
Cantando por las cornizas
Y mi voz será silencio
Cuando yo sea cenizas.

Y si acaso fuera río
Desde mi cuna de arena
Cantaría mis canciones
Para mecer las sirenas.

Cuando se vayan mis ojos
A mirar pagos lejanos
Dejaré esta zambita
En la voz de mis hermanos.

Hermana luna, alumbra
Mi cita con las estrellas!
Hermano tiempo, no borres
El recuerdo de mis huellas!

Tal vez quede mi guitarra
Sonando en manos ajenas
Zamba de monte y de río
De campo, viento y arena.


Além Do Mate


Além Do Mate
(Marcelo D´Ávila, Clóvis Souza)

Que coisa linda
Se abraçar no pinho
E bordonear rasguidos
Com a luz da lua
A fazer as vezes
De candieiro antigo

Uma coruja pia
Em contraponto
Um sol em sustenido
Buscando um ninho
Embaixo das estrelas
Que lhe dê abrigo

Que coisa linda
Se abancar à sombra
De alguma figueira
Trançando rimas
Num sovéu de versos
Em ritual terrunho

É o catecismo
Dos poetas xucros
De alma galponeira
Que nos altares
De tantas tertúlias
Dão seu testemunho

Mas verso e pinho
Só terão sentido
Se semearem ânsias
De um novo tempo
Onde não falte erva
Pelos ranchos pobres

E além do mate
As bocas desnutritas
Sorvam a esperança
De que a palavra
Vale mais que o brilho
Enganador dos cobres

Admirável Mundo Novo


Admirável Mundo Novo
(Marcelo D´Ávila, Clóvis Souza)

Quando um largo caminho se bifurca
Na circunstância de uma encruzilhada
A travessia torna-se mais lenta,
Tanto mais estreita fica a estrada.

Também assim é o resultado do trabalho,
Obedecendo esta simples equação:
Pra construir um mundo novo e melhor
A soma sempre é maior que a divisão.

Admirável mundo novo que se ergue
No horizonte desta nossa era
Enraizado em firmes alicerces
Pelas zelosas mãos de quem coopera.

Pois é preciso entender que o vento
Sopra a favor de quem sabe onde vai
E que o futuro se constrói com todos
Que juntam forças pra poderem mais.

Quando o trabalho é compartilhado
Surgem os frutos, grandes e fecundos;
No braço forte da cooperativa
Está a base deste novo mundo.

O Negro de 35

O Negro De 35
(José Rufino de Aguiar Filho, Clóvis Souza)

A negritude trazia a marca da escravidão
Quem tinha a pele polianga vivia na escuridão
Desgarrado e acorrentado, sem ter direto a razão
Castrado de seus direitos não tinha casta nem grei
Nos idos de trinta e cinco, quando o caudilho era o rei
E o branco determinava, fazia e ditava a lei

Apesar de racional, vivia o negro na encerra
E adagas furavam palas, ensangüentando esta terra
Da solidão das senzalas tiraram o negro pra guerra

(Peleia, negro, peleia, pela tua independência
Semeia, negro, semeia, teus direitos na querência)

Deixar o trabalho escravo, seguir destino campeiro
As promessas de igualdade aos filhos no cativeiro
E buscando liberdade o negro se fez guerreiro

O tempo nas suas andanças viajou nas asas do vento
Fez-se a paz, voltou a confiança, renovaram pensamentos
A razão venceu a lança e apagou ressentimentos

Veio a Lei Afonso Arinos cultivando outras verdades
Trouxe a semente do amor para uma safra de igualdade
Porque o amor não tem cor, sem cor é a fraternidade

(Peleia, negro, peleia, com as armas da inteligência
Semeia, negro, semeia, teus direitos na querência)




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