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JOÃO SEM MEDO


TÍTULO
JOÃO SEM MEDO
COMPOSITORES
LETRA
KENELMO ALVES
MÚSICA
FRANCISCO ALVES
INTÉRPRETE
ORISTELA ALVES
OS URUCHÊS
RITMO
CD/LP
07ª CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA
FESTIVAL
07ª CALIFÓRNIA DA CANÇÃO NATIVA
DECLAMADOR
AMADRINHADOR
PREMIAÇÕES


JOÃO SEM MEDO
(Kenelmo Alves, Francisco Alves)

Olha o bicho
Tá me espiando
Olha o bicho que tá me espiando
De traz do umbu

Se ele é boi, e não é zebu
Será o tal de Boi Tatá?
Salta fogo dos seus olhos
Salta chispas do focinho
Vou chegando de mansinho
Pra ele não me atropela

Olha o bicho
Tá me espiando
Olha o bicho que tá me espiando
De traz do umbu

Vou chegando mais pra perto
E esse fogo não se paga
Já não sei se estou bem certo
Pela cruz da minha adaga
Já cacei um lobisomem
Lacei mula sem cabeça
Se eu não pego o bicho some
Antes que o sol apareça

Olha o bicho
Tá me espiando
Olha o bicho que tá me espiando
De traz do umbu
Do couro da cobra grande
Fiz um laço bem trançado
Pra laçar o boi de fogo
Lá do umbu amaldiçoado
Não tenho medo do diabo
Nem dos chifres retorcidos
Da carne faço guisado
Dos ossos faço fervido



Um Canto Para O Dia

Um Canto Para O Dia
(Ernani Amaro Oliveira)

Um naco de um sol de ouro
Dourando a copa do angico
Pé por pé se levantando
Pra acordar o tico-tico

É o frescor da madrugada
E a passarada já se assanha
E o sereno em gotas de prata
Enfeita teia de aranha

Sol, lua, estrela boieira
Num rastro de poeira
O dia começou

Metade de um sol vermelho
Listrando o céu na planura
Agachando-se matreiro
Que nem sorro em noite escura

É a tarde, é o caminheiro
Que vai chegando à pousada
Tem mate e churrasco quente
Pra seguir na madrugada

Sol, lua, estrela boieira
Num rastro de poeira
O dia continuou

Um quarto de lua fria
Iluminando a coxilha
Que filtrada mais se enfeita
Nos cabelos da flechilha

E a noite, pra ser encolhida
Um causo, uma gauchada
E o fogo comendo a lenha
No sorriso da peonada

Sol, lua, estrela boieira
Num rastro de poeira
O dia terminou

Novos Tempos

Novos Tempos
(Kenelmo Amado Alves, Francisco Scherer)

Levanta, caudilho, do sono da campa
Defende teus filhos, ameaçam a pampa

Na garupa da moto de seu companheiro
Que fuma fuminhos, mas não de palheiro
Uma gata mui louca, chicletes de bola estoura na boca
Dizendo palavras da gíria mais tola

Chapéus de vaqueiro ou caubóis do Tio Sam
No mais puro estilo de heróis bang-bang
Aos roncos da moto qual um terremoto
Cruzando a querência eu juro que vi
É a morte rondando aqui

Levanta, caudilho, das brumas do tempo
Reúne teus filhos num fogo de chão
Dá-lhes a cuia, estende tua mão
Que sorvam a seiva de um bom chimarrão

Um traguito de canha, aquela da boa
Que tinhas na guampa durante as batalhas
Que piquem o fumo, que escolham a palha 
Que pitem crioulo, se o caso é fumar

Levanta, guerreiro, que o novo inimigo
Traz o mesmo perigo das lutas primeiras
Desperta teu povo, ensina tua gente a não se entregar
Levanta, caudilho, com tua bandeira
Que a onda estrangeira nos quer afogar



Joao Chagas Leite E Os Uruches - Novos Tempos by Guascaletras

Galopada


Galopada
(Knelmo Alves, Francisco Alves)

Debrucei-me na janela
Noite linda enluarada
Na brisa o perfume dela
A distância não é nada

Não é nada essa distância
Essa distância não é nada
Mas por que toda essa ânsia
De chegar antes que a estrada

Madrugada vai-te embora
Deixa que o dia apareça
P’ra eu sair estrada fora
Antes que ela me esqueça
Vou saindo estrada afora
Minha alma desespera

Upa, Upa, meu cavalo que a saudade não espera
Upa, upa, meu cavalo que a saudade não espera

Nas patas do meu cavalo
Corre louca uma saudade
Na pampa, verde esperança
Trança minha felicidade

Madrugada vai-te embora
Deixa que o dia apareça
P’ra eu sair estrada fora
Antes que ela me esqueça
Vou saindo estrada fora
Minha alma desespera

Upa, Upa, meu cavalo que a saudade não espera
Upa, upa, meu cavalo que a saudade não espera



Penas


Penas
(Francisco Alves, Kenelmo Alves)

Uma estampa da pampa vai desaparecer
Não tem liberdade e não pode correr
Não pode correr, não pode correr....
A máquina e o homem cortaram distâncias
E léguas de estância não existem mais
Não existem mais, não existem mais.

Inhandu tuas penas, são penas que chegam
Nas tardes amenas as lembranças de um piá
Que apenas queria nas correrias
Roubar-te uma pena pra poder brincar.

Nas grandes cidades vi festa... vi plumas
Enfeitando a vaidade e alegria fugaz
Na loucura da festa luz e esplendor
Na tristeza das penas um grito de dor.

O avestruz do meu pago vai desaparecer
São penas que trago e nada posso fazer
A falta de espaço encurtou o seu passo
E sem liberdade não pode viver.





Décima do Candinho Bicharedo

Décima do Candinho Bicharedo
(Francisco Alves)

Toda mentira pode ser verdade
Toda verdade pode ser mentira
Candinho enganou a vida
E partiu mentindo pra eternidade

"Eu vim pra contar a estória
De alguém que já morreu
Sempre contando lorotas
Por este mundo de Deus"

Candinho provou ser ligeiro
Acendendo um palheiro
Na chispa do raio
Ganhou uma carreira do vento,
Outra do pensamendo
Montado num baio

Contava que em horas de apuro
Num potreiro escuro
Seu pingo buscou
Pensando montar seu tubiano,
Num bárbaro engano
Um tatu gineteou

Com toda a força do braço
Jogou o seu laço pialou uma estrela
Prendeu-a a guisa de espora
Montou o destino e saiu campo afora

Candinho Bicharedo sou capaz de apostar
Que até pra Deus, agora, estás mentindo
Imagino até vê-lo sorrindo
Fingindo acreditar em suas aventuras

Lorotas tão puras...
Lorotas tão puras...

E assim eu contei a história
De alguém que já morreu
Sempre contando lorotas
Por este mundo de Deus.

Ofício-Solidão

Ofício-Solidão
(Rejane Fernandes, Francisco Alves)

De ouvido sempre alerta,
Artista em cada cercado,
O alambrador musicista
Afina os fios do aramado.

As cordas do instrumento
Invadem campos distantes.
Enfeitam moirões cativos,
Perseguem os caminhantes.

A família vai crescendo,
Marcada pelo aramado,
Que aprisiona gente e terra,
Nos sete fios afinados.

Em mansas noites de prosa, ao abrigo do galpão,
O artista conta causos desse ofício-solidão.
Alambrador por herança, gosto e profissão,
Ama as coxilhas do pampa, cercadas por sua mão.

Sentindo o peso do tempo,
Passa pros filhos ciência,
Ensina os sons do alambrado,
Mostra o valor da querência.

Sabe que o homem do campo
Não tem lugar na cidade.
Morre operário de obra,
Com sonhos, sem liberdade.
Ama as coxilhas do pampa, cercadas por sua mão.
Alambrador por herança, desse ofício-solidão.

De ouvido semapre alerta,
Marcado pelo aramado,
Sentindo o peso do tempo,
Ensina os sons do alambrado.

Queimada

Queimada
(Cide Guez)

Na boca da queima há um grito sentido
E a mão que incendeia, não pede perdão
Nem ouve os gemidos dos lírios feridos
E o choro de morte no verde do chão

A fumaça se ergue em negra romaria
O campo se veste cor dos temporais
As chamas se afundam pelas sesmarias
Vermelhas manadas de chucros baguais

É campo queimando, vai perdendo o pêlo
E a mão que incendeia não pede perdão
Nem ouve os gemidos dos lírios queimados
E o choro de morte no luto do chão

Agoniza o campo num manto de fogo
E um negro sudário se estende no chão
E um pássaro clama em tristes lamentos
O filho no ninho ainda embrião

É hora do homem parar de agredir
Ou gerações futuras serão caravanas errantes
Condenadas a morte da fome
Numa terra que não vai parir

Tropeiro Dos Quatro Ventos

Tropeiro Dos Quatro Ventos
(Ernani Amaro de Oliveira)

Tropeiro que enfrenta o tempo,
A noite, a chuva e o vento
E em cada pouso relembra,
Que a tropa é a sua única prenda.
Se existem outros amores
Não são amores, são lendas.

Vai, tropeiro, levando o teu andor.
Vai, tropeiro, o destino te marcou.
No rastro da tua tropilha
Fica tua trilha
De amor.

Tropeiro que vai seguindo,
Curtindo o frio dos rigores,
Não sabe que o tempo passa,
Que existem outros amores:
Não sabe além da fumaça
E a poeira dos corredores.

Vai, tropeiro, levando o teu andor.
Vai, tropeiro, o destino te marcou.
No rastro da tua tropilha
Fica tua trilha
De amor.

Tropeiro dos quatro ventos
Andei puxando a memória,
Buscando na tua história
Amores na tua agenda,
Mas triste fiquei sabendo
Que a tropa é tua única prenda.

Cantiga do Amor Distante

Cantiga do Amor Distante
(Onéo Prati Molina)

A gauderiar,
Pialei auroras de ilusão sem fim,
Sentindo em mim
A ânsia fera de me atar a ti.
E ao soprar
Xucro minuano da desilusão,
Só meu cantar
Foi poncho triste para mim.

Quantas noites, teatino, vi passar
A lua, pérola andarenga, e quis gritar,
P’ra um pontaço de saudade te alcançar,
Como flete de luz.

A galopar,
Tenho ganas de voltar pra ver
O teu olhar,
Lagoa mansa sob um céu febril.
E hei de te dar
Minha tropilha de amor demais,
Pra me perder
Até a morte em teu viver.

No palanque do passado vou deixar
Mal domada a solidão.
Para depois,
Cortando léguas de ansiedade te enlaçar,
Num enleio de amor.

Último Grito

Último Grito
(Kenelmo Amado Alves)

Cutucou suas esporas
Na paleta do Minuano
E galopou pelo tempo
Na cancha reta dos anos.
E dando rédeas ao flete
Deu um grito no más:
Biribibiujuju...e o tempo ficou pra trás.
Biribibiujuju...agora já não se escuta.
Biribibiujuju...perdeu a força da luta.

Lá vai pelo tempo vencido,
Dobrado, esquecido, o Velho Xirú
E nos alambrados o vento
Lhe grita zombando biribibiujuju...

Agora, no fim do caminho,
No sono do vinho,
Jogado no chão,
Adormece na beira da estrada,
Não pede pousada
Pois sabe do “não”.
E ainda o perseguem nos sonhos
Os uivos medonhos do vento a gritar:
Biribibiujuju... Biribibiujuju... Biribibiujuju...