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Mostrando postagens com marcador César Oliveira e Rogério Melo. Mostrar todas as postagens
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Os Loco Da Fronteira

Os Loco Da Fronteira
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Não afroxemo nem os lançante
Pois semo loco de dá com um pau
Cruzemo a nado se o rio não dá vau
Neste mundo véio flor de cabuloso
E o mala bruja quando esconde o toso
Nós esporiemo bem no sangrador
Em rancho de china, se campiemo amor
Entremo sem sono e garantimo o poso

Semo medonho no cabo da dança
Gostemo mesmo é do bochincho grosso
Que é pra sair tramando o pescoço
Ao trote largo nalguma rancheira
E bem campante, levantando poeira
Coisa gaúcha, vício de campanha
Limpemo a goela num trago de canha
Pois semo loco de lá da fronteira

Semo bem loco, loco de bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve e viremo a cabeça
Por Deus, paysano! Ninguém ataca

Nós semo loco lá da fronteira
De raça tranquila, mas de pouca cincha!
E de vereda quando o lombo incha
Saiam de perto que a xucreza é tanta
Cremo em percanta que seja percanta
Apartemo os maula pra outra invernada
E a nossa bebida mais sofisticada
É canha gelada, num “samba com fanta”

Nós semo loco, mas não semo bobo
Semo parceiro de quem é parceiro
Nas horas brabas e no entrevero
Nunca dexamo um amigo solito
Pode ser feio pode ser bonito
Mas é nosso jeito de levar a vida
Por ser de campo e por gostar da lida
É que volta e meia nós preguemo o grito

Semo bem loco, loco de bueno
Mas temo veneno na folha da faca
Quando o sangue ferve e viremo a cabeça
Por Deus, paysano! Ninguém ataca

Vida De Peão

Vida De Peão
(Enio Medeiros, Rogério Villagrán)

Com minha mala no ombro chapéu de aba tapeada
Um pañuelo colorado e o pala da cor da geada
Quando o sol mostra o fucinho entre os ramos da canhada
Eu já tô com as trouxa pronta esperando na parada

A embarcação barulhenta se arrasta batendo lata
Levo lembranças amigas, recuerdo, saludo e plata
Esta noite eu perco a doma e arrasto as alpargatas
Lá no rancho do Abrelino, nos braços de uma mulata

De vez em quando, quando posso
Dou uma voltita no povo
Tiro uns três ou quatro dias
De retoço com as guria
E volto pra estância de novo

Já paguei conta atrasada
Sempre fui um bom pagador
E na rua do chapéu
Posei enredado de amor
Comprei um par de bota nova
E um pala bueno de fato
E domingo gastei uns trago
Com as moça do maragato

Segunda-feira bem cedo, me acordo lôco de pena
De não ter guardados um quilo dos carinhos da morena
Volto à estância novamente, pois esta vida é um confronto
Rebentando aspa de boi, trompando égua dos encontro

De vez em quando, quando posso
Dou uma voltita no povo
Tiro uns três ou quatro dias
De retoço com as guria
E volto pra estância de novo

A Morte De Um Potro

A Morte De Um Potro
(Rogério Ávila, Carlos Madruga)

Na pata do potro, o talho do arame
Do sangue no pasto, o golpe no chão
Se desata a rédea e a campana do estrivo
Vai sonando nos basto uma prece ao rincão!

A morte de um pingo na lida da doma
É triteza que assoma no olhar de um campeiro
Se vinha blandeando, terceando com a espora
Num berro, que agora, é silêncio ao potreiro!

Assim cruza o rastro, o índio vaqueano
Buscando o abandono do que amadrinhou
Saber da trompada queu viu contra o mato
E o potro veiáco se descogotou!

Retardam chilenas e as cordas de arrasto
A cincha e os basto numa ausência de lombo
Ficou um pedaço de pampa estendido
E o pago sentido no quadro de um tombo!

Talvez a querência anoiteça mais triste
Mas o campo se arrima na sorte de um outro
Ficou a mirada lembrando do estouro
Na falta do couro das garrão de potro!

Assim cruza o rastro, o índio vaqueano
Buscando o abandono do que amadrinhou
Saber da trompada queu viu contra o mato
E o potro veiáco se descogotou!

O Campo

O Campo
(André Oliveira, Rogério Melo)

Parou o pampeano
Esbarrou um picaço
Estendeu-se o laço
Da ilhapa à presilha
Do outro lado um gateado
Cinchava uma pata
O boi berra e se estaca
Prevendo a sangria
Na ponta da faca
O destino é traçado
E o sangrador e cortado
Manchando as flexilhas

Afrouxaram-se os laços
O pampeano se ajoelha
Sobre a mancha vermelha
No chão do potreiro
A folha chairada
Já risca o couro
No ritual crioulo
De um pago fronteiro
Se foi mais um boi
Pra “corda” e munício
E o matambre pro vício
Do assado campeiro

A força do campo
Rebrota invernadas
Engorda boiada
E sustenta a nação
É a mesma contida e vivida
Ostentando esta vida
Deste sul de rincão.
E o campo de novo
Viçoso floresce
Pois tem alicerce
De várzea e coxilha
Renasce na morte
E se torna mais forte
Bebendo a sangria.

E assim segue a lida
Tranqueando na estância
Firmando a constância
De manter existência
Levando a pecuária
Em ranchos e galpões
Em sobrados e mansões
Em longínquas querências
Pra que o mundo conheça
O valor de uma raça
Mostrando o que passa
O campo e sua essência

A força do campo
Rebrota invernadas
Engorda boiada
E sustenta a nação
É a mesma contida e vivida
Ostentando esta vida
Deste sul de rincão.
E o campo de novo
Viçoso floresce
Pois tem alicerce
De várzea e coxilha
Renasce na morte
E se torna mais forte
Bebendo a sangria.

Quando O Verso Vem Pras Casa

Quando O Verso Vem Pras Casa
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

A calma do tarumã ganhou sombra mais copada
Pela várzea espichada com o sol da tarde caindo
Um pañuelo maragato se abriu no horizonte
Trazendo um novo reponte prá um fim de tarde bem lindo

Daí um verso de campo se chegou da campereada
No lombo de uma gateada frente aberta de respeito
Desencilhou na ramada já cansado das lonjuras
Mas estampando a figura campeira bem do seu jeito

Cevou um mate pura-folha jujado de maçanilha
E um ventito da coxilha trouxe coplas entre as asas
Prá querência galponeira onde o verso é mais caseiro
Templado à luz de candeeiro e um quarto gordo nas brasa

A mansidão da campanha traz saudade feito açoite
Com olhos negros de noite que ela mesma querenciou
E o verso que tinha sonhos prá rondar na madrugada
Deixou a cancela encostada e a tropa se desgarrou

E o verso sonhou ser várzea com sombra de tarumã
Ser um galo prás manhãs, um gateado prá encilha
Sonhou com os olhos da prenda vestidos de primavera
Adormecidos na espera do sol pontear na coxilha

Ficaram arreios suados e um silêncio de esporas
Um cerne com cor de aurora queimando em fogo de chão
Uma cuia e uma bomba recostada na cambona
E uma saudade redomona pelos cantos do galpão

Apaysanado

Apaysanado
(Anomar Danúbio Vieira, Marcello Caminha)

Floreio o bico da gansa
Nesta gateada lobuna
A melhor das minhas alunas
Na doma tradicional
Por favor não levem a mal
Este meu jeito fronteiro
Filho de pai brasileiro
Hijo de madre oriental

Não carrego pretensão
Mas não sou de me achicar
Decerto trouxe de alla
O gosto pela guitarra
Quando a saudade se agarra
Num bordoneio entonado
É o meu povo enforquilhado
Num bagual mandando garra

Sou assim apaysanado
Domador e guitarreiro
Diariamente peão campeiro
Nas folgas campeio festa
Tapeio o chapéu na testa
Pra ver melhor as imagens
Talento fibra e coragem
Não se compra nem se empresta

Quem é do garrão da pátria
Alma sangue e procedência
O amor pela querência
Traz retratado na estampa
Retovos de casco e guampa
No repertório da lida
Pra que o sentido da vida
Finque raízes na pampa

No cabo de uma solinge
Sou mais ligeiro que um gato
No aporreado um carrapato
Largando só no garrote
E macho pra me dar bote
Não se perca por afoito
Junte mais uns sete ou oito
E me atropelem de lote

Numa milonga crioula
Numa chamarra gaúcha
Prego um grito de a la pucha
E me acomodo no embalo
Mateio ao canto do galo
Gosto do assunto bem claro
E se de a pé já não disparo
Quanto mais bem a cavalo

Sou assim apaysanado
Domador e guitarreiro
Diariamente peão campeiro
Nas folgas campeio festa
Tapeio o chapéu na testa
Pra ver melhor as imagens
Talento fibra e coragem
Não se compra nem se empresta

Um Milongão Dos Veiaco

Um Milongão Dos Veiaco
(Anomar Danúbio Vieira, Mauro Moraes)

Aba larga retovado, pala de seda no braço
E o choro fino do aço das chilenas no garrão
Encilhei um milongão, não vi que era dos veiaco
E sacudiu os meus caco bem no que sai do violão

No alambrado das cordas quis me apertar num floreio
Aprumei um bordoneio bem na dobra da virilha
Quando um taura se enforquilha é duro de se pelar
Se me ponho a guitarrear sou pampa em riba da encilha

Prá ginetear de bolada um milongão dos veiáco
Hay que tener fé no taco e uma alma guitarreira
Um batidão de fronteira mais firme do que um palanque
Que desde o primeiro arranque já enrede o mal na açoiteira

Do jeito que o diabo gosta se prendeu mandando garra
No parador da guitarra escondeu a cara com as mão
E eu gritei com o milongão e aticei a cachorrada
Que a vida não vale nada se não se tem tradição

Tem que ter corpo leviano e um dedilhado campeiro
Pra mostrar pra um caborteiro qual é o pau que dá cavaco
Calça os ferro no sovaco, esfrega o pala na cara
Não é qualquer um que pára num milongão dos veiaco

Prá ginetear de bolada um milongão dos veiáco
Hay que tener fé no taco e uma alma guitarreira
Um batidão de fronteira mais firme do que um palanque
Que desde o primeiro arranque já enrede o mal na açoiteira

O Sonho

O Sonho
(Xirú Antunes, Adriano Gomes, Juliano Gomes)

Quem sabe meu sonho
Ficou negaciando
Na costa de um mato
Nos ritos de um trago
Das últimas luzes
Que estreitam domingos.

Ficou nas ramadas
Encilhando um mouro
Depois da sestiada
Ou nas madrugadas
Num quarto de ronda
De alguma tropeada.

Meu sonho rebolca
Nas xergas tão velhas
Moldadas de lombo
Guardando suores
Tal qual as relíquias
De um tempo precioso.

Fareja cambonas
Com jujos de campo
Pelas madrugadas
Chuliando cancelas
Que abertas prá o dia
Envidam potradas.

Meu sonho falqueja
As tramas de angico
Nas chuvas de agosto
E saca as penúrias
De tanta invernera
Nos cardos de um poncho.

Galopa num vento
Desfiando saudades
Soprado da estância
Abanos de pala
Mesclados nas rimas
De crina e guitarra.

Talvez quando escute
Os gritos da pampa
N’alguma ilusão
Limite o silêncio
Fazendo fronteiras
Na paz de um galpão.

Paleteada

Paleteada
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Vem se escorando no freio
Se enforcando na peiteira
E quase que se debruça
No grito de upa e se foi
Meu gateado frente aberta
Brazino nas quatro patas
Devereda se desata
E se acolhera com o boi

Num mouro marca de H
O Junico me faz costado
E o osco canela fina
Se para cheio de assombro
Meu gateado vem por cima
E mouro não frouxa um tento
E o osco espragueija o vento
Quando lhe cuspo no lombo.

Grito a grito, peito a peito;
Repontemo até o rodeio
Este matreiro teimoso
Que refugou na picada,
De à cavalo eu não refugo
Embora o tempo desabe
E o mais matreiro já sabe
Que me gusta a paleteada.

Paleteada é lida bruta
Nascida nas escramuças
Quando se apartavam tropas
Em machaços atropelos
A encontro e a bico de bota
Tirava o boi do refugo
Que reboleava o sabugo
Na direção do sinuelo.

Grito a grito, peito a peito;
Repontemo até o rodeio
Este matreiro teimoso
Que refugou na picada,
De à cavalo eu não refugo
Embora o tempo desabe
E o mais matreiro ja sabe
Que me gusta a paleteada.

Velório do Juca Torto

Velório do Juca Torto
(Anomar Danúbio Vieira)

Fui no velório do querido Juca Torto
Eu era íntimo do morto
Pero mucho mas da viúva
Babava água pesos de terra e trovão
Entrei de chapéu na mão
E poncho encharcado da chuva

Tomei um trago de canha meio sem jeito
É que tenho esse defeito de gostar de coisa triste
E quem resiste a um vélório com cachaça,
com rapadura, bolacha e umas véia pra dizer um xiste

Varei a sala arrastando as nazarenas
Corri os olhos da morena
Chorando embaixo de um véu
Tinha um gaitero vaqueano das horas brabas
Que floreava uma pianada pedindo as bençãos pra o céu

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Eu tinha um lenço bordado com as inicial
E ofereci mui cordial tapado de sentimento
Não te preocupa que os amigos são pra isso
Fica aqui meu compromisso te amparar neste momento

Vendo a quietude que negaciava ambiente
Fui pra o lado de um parente falando que era preciso
Me deem licença que eu conheci o finado
Sei que ia querer o coitado
Que eu cantasse de improviso

Sentido eu faço este verso
Em respeito ao falecido
Que era muito meu amigo
Desde os tempos de guri
Se agora me encontro aqui
Pra te dizer por inteiro
Pode ir te embora parceiro
Que a viúva eu cuido pra ti
 
Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Porque a saudade é um mal que o tempo cura
Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura

Não chora linda, não chora minha querida
Que nessas voltas da vida a gente acha o que procura