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ÚLTIMA COLHEITA

 

TÍTULO

ÚLTIMA COLHEITA

COMPOSITORES

LETRA

MARCELO D’ÁVILA

MÚSICA

MATHEUS LEAL

INTÉRPRETE

MATHEUS LEAL

RITMO

VALSEADO

CD/LP


FESTIVAL

1º ESTEIO DO CANTO FRONTEIRO

MÚSICOS

 

PREMIAÇÃO

1º LUGAR

MELHOR LETRA

 

ÚLTIMA COLHEITA

(Marcelo D’ávila, Matheus Leal)
 
Ficou no tempo o pelo mouro das melenas
Restam apenas estes fios com a cor da prata
Como a geada que branqueia a açucena
Quando o inverno se anuncia em serenata.

Lancei sementes pelo campo empobrecido
E cada sulco que tracei por este chão
Se espalha agora no meu rosto envelhecido
Curtido a suor, a sal, a sol - a solidão.
 
Gastei meus dias no cuidado do plantio
Botei pedaços de mim mesmo em cada grão
Matando a sede da seara me fiz rio
E a semente germinou, a vida não.

Ficou no tempo a força bruta dos meus braços
Puxando arado na inclemência de outras tardes
Resta uma sombra do que fui - e este cansaço
De candeeiro que se apaga sem alarde.

Talvez a hora da colheita derradeira
Venha chegando a trote largo, pela estrada,
E a mesma terra que deu vida - parideira -
Há de abraçar-me em minha última morada.

JOÃO CÂNDIDO, ALMIRANTE NEGRO


TÍTULO
JOÃO CÂNDIDO, ALMIRANTE NEGRO
COMPOSITORES
LETRA
MARCELO D’ÁVILA
MÚSICA
TELMO VASCONCELOS
ROBLEDO MARTINS
INTÉRPRETE
KAKO XAVIER
TRIBO MAÇAMBIQUEIRA
RITMO
IJEXÁ/MAÇAMBIQUE
CD/LP
29ª MOENDA DA CANÇÃO
FESTIVAL
29ª MOENDA DA CANÇÃO
DECLAMADOR
AMADRINHADOR
PREMIAÇÕES


JOÃO CÂNDIDO, ALMIRANTE NEGRO
(Marcelo D’Ávila, Telmo Vasconcelos, Robledo Martins)

O sangue jorrava das peles escuras
Tingindo de rubro o convés das fragatas
E o sal do suor queimava a amargura
Das chagas abertas por fome e chibata

E o João que lutava pela liberdade
Foi João, foi Miguel, foi Silva, foi tantos...
Guerreiros da raça, sem rumo ou guarida
Perdidos na proa, nos seus desencantos

Armados nas barras dos encouraçados
Os negros, suas guias e seus orixás;
E o João castigado de açoite e vergonha
Lutou por justiça e direitos iguais.

Nas cândidas águas da azul Guanabara
O João foi buscar respeito e desforra
E o sonho vencido pela tirania
Nasceu novamente no frio das masmorras

O sangue do sul corria nas veias
E o ardor libertário do pago distante
Em vez de coxilhas, no mar das sereias,
O filho de escravos se fez Almirante


A LINGUAGEM DA MILONGA

Título
A LINGUAGEM DA MILONGA
Compositores
LETRA
MARCELO D’ÁVILA
MÚSICA
ROBSON GARCIA
Intérprete
DANIEL CAVALHEIRO
Ritmo
MILONGA
CD/LP
5º MOINHO DA CANÇÃO GAÚCHA
Festival
5º MOINHO DA CANÇÃO GAÚCHA
Declamador

Amadrinhador

Premiações


A LINGUAGEM DA MILONGA
(Marcelo D’Ávila, Robson Garcia)

Esses versos que eu componho
Tendo o pinho no costado
São como nesgas de sonho
Pra se sonhar acordado.

Versejo como quem planta,
Obedecendo a lição:
O trigo nasce semente
Pra só depois virar pão.

Eu canto o que o campo cala
Em seu mutismo de sombra
Há sóis na voz de quem fala
A linguagem da milonga.

Zeloso, fiz uma trança
Com as cordas do violão
E a milonga veio mansa
Lamber sal na minha mão.

Vou milongueando minhas penas
No mate do fim de tarde;
Das coisas tristes que trago
Todas elas são saudade.


A Paixão De Maria Clara

A Paixão De Maria Clara
(Marcelo D’Ávila, Nilton Junior da Silveira)

Corriam os anos de sangue e degola
Nas lutas mais brutas que o Sul conheceu
E nesse entrevero de morte e tristeza
Em tempos de guerra, o amor floresceu.

A Santa Maria da Boca do Monte -
De federalistas e republicanos –
Foi palco da história de sonho e poesia
De Maria Clara e Júlio Bozano.

O amor é uma planta que exige cuidados,
Que nasce semente e em flor desabrocha;
Assim foi a vida de entrega e paixão
De Maria Clara Mariano da Rocha

Mas a realidade prepara armadilhas
E a guerra não poupa heróis nem amantes:
No tiro certeiro da mão assassina
O jovem Bozano tombou, cambaleante.

A morte maleva cumpriu seu mandado
E o flete do tempo, impassível, passou,
E Maria Clara, fiel ao amado,
Num luto eterno jamais se casou.

O amor é uma planta que exige cuidados,
Que nasce semente e em flor desabrocha;
Assim foi a vida de entrega e paixão
De Maria Clara Mariano da Rocha

A dor e a tristeza tornaram-se força
E a moça buscou por um novo ideal
Nos bancos e livros da universidade
Formando-se médica na capital.

E Maria Clara, agora doutora,
Seguindo sua sina de amor e esperança,
Viveu a cuidar de outras Marias,
Marias-meninas, Marias-crianças.


Intérprete: Maria Helena Anversa, Robledo Martins


Casas Velhas

Casas Velhas
(Marcelo D’Ávila, Caine Teixeira Garcia)

Há sempre acordes de valsa
Pairando nas casas velhas
E um misto de geada e estrela
Prateando o ruivo das telhas.

Nas fontes frias dos pátios
Os gatos matam a sede
E o tempo pinta suas cores
Na memória das paredes.

O vento toca violino
Pelas frestas das janelas
Para que bailem as cortinas
À pálida luz das velas.

Nos sótãos empoeirados
(Que essas casas sempre os têm)
Se escondem baús antigos
Cujos donos são ninguém.

Respiram, as casas velhas,
Com uma quietude de poço –
Fecham seus olhos cansados
E sonham seu tempo moço.

Nas floreiras desbotadas
Restam cinzas e miasmas
E o silêncio das varandas
Conta histórias de fantasmas.

A cristaleira da sala
Guarda o vazio das demoras
E o relógio dorminhoco
Marca sempre a mesma hora.

Intérprete: Jean Kirchoff

Relicário

Relicário
(Marcelo D’Ávila)                                                        Amadrinhador: Henrique Scholz

Meu simples galpão de estância
Guarda lembranças antigas
Em cada nesga de história
Pendurada na parede;
Restos de tempo e memória
Que em rondas quase esquecidas
Reculutei nas distâncias
Em primaveras mais verdes.

Essas relíquias cravadas
No cerne da costaneira
São como livros abertos
Trazendo causos de campo:
Recuerdos vagos, incertos,
Que ao pé de algum fogo bueno
Um viejo de alma embrujada
Contava pra os pirilampos.

Meu galpão é um relicário
Com tesouros bem guardados...

Nas rudes obras de arte
Há uma cambona retinta
Mal sustentada na alça
Pregada à madeira crua:
Quantas noites repetidas
Se aquerenciou entre as brasas
Pra esquentar a água do mate
Sob o candeeiro da lua.

Ao lado, preso de um tento,
Um par de rosetas gastas
Lembra estrelas temporonas
Clareando o céu do galpão;
Vão longe as tardes de doma
Em que as esporas de prata
Riscavam o lombo tenso
De algum bagual redomão.

Acomodado num canto,
Em seu mutismo de sombra,
Um rádio a válvula espera
Que alguém venha despertá-lo:
Nunca mais uma milonga
Sobre ginete e cavalo!
Neste silêncio, o espanto
De quem se sabe tapera.

Também enfeita a parede
Uma guampa retorcida
Que fez as vezes de lança
Em bravas brigas de touro -
E hoje, depois de curtida,
É o pote pra canha branca
Que sempre mata minha sede
Quando desfilo no mouro.

Lá fora, bem junto à porta,
Onde o sol brinca de artista
Desenhando silhuetas
Entre as janelas fechadas
Uma roda de carreta -
Com as raias gastas e tortas –
Recorda quieta, intimista,
Seu tempo de carreteadas.

Tantos espólios da lida
Que o tempo juntou aos poucos
Neste campeiro inventário
Em madeira emoldurado;
Se os poetas, como os loucos,
Inventam sua própria vida,
Meu galpão é um relicário
Com tesouros bem guardados...

Nas tardes frias de junho
Quando o sol dorme mais cedo
E um chimarrão a capricho
Vem trazer reminiscências
Eu adivinho os segredos
Que se escondem pelos nichos
E me planto, mais terrunho,
No ventre da minha querência.

E quando a china maleva
Que tropeia a campo fora
Me pealar nessas andanças
Nos rumos da imensidão,
Será chegada minha hora –
Da vida nada se leva! –
Eu também serei lembrança
Nas paredes do galpão.


Declamador: Valdemar Camargo


Rodeio Dos Ventos

Rodeio Dos Ventos
(Marcelo D’Ávila, Aline Ribas)

Quando a cruz dobrou a lança
À sombra da catedral,
Vergada ao peso das preces
Morreu a crença ancestral.

O europeu cravou bandeira
No coração guarani
Profanando o ventre fértil
Da Grande Mãe Nhandecy.

Tupã conjurou seus ventos
Nesta luta desparelha
Cobrindo o céu das Missões
Com o pó da terra vermelha.

Tal qual inúbia de guerra
Num sonoro chamamento
Ergueu-se o sopro bravio
Deste Rodeio dos Ventos.

O tempo seguiu seu rumo
Nas patas ágeis de um flete:
O inimigo agora é outro
Mas a história se repete.

Quem sabe dobrem os sinos
Nos altos dos campanários
Pra evocar, noutro rodeio,
Novos ventos libertários.


Intérprete: Grupo Mas Bah

Pra Libertar A Milonga

Pra Libertar A Milonga
(Marcelo D´Ávila, Geovani Silveira)

Trancei as crinas do flete
Pra acordoar a guitarra
Que a milonga tinha pressa
De romper suas amarras.

Campeei nos fundos de campo
Os segredos das taperas
Que a milonga se assoleava
Com a solidão das esperas.

Busquei nos rumos do pampa
O motivo das demoras
Pra libertar a milonga
Da rigidez das esporas.

Reculutei meus silêncios
E repensei os meus planos
E a milonga voou livre
No sopro do Minuano.

Montei no lombo do tempo
Tendo o vento por sinuelo
E galopei campo afora
Com a milonga nos peçuelos.


Intérprete: Mauricio Oliveira

Proseando

Proseando
(Marcelo D'Ávila, Telmo Vasconcelos, Clóvis de Souza)

Pulpeiro, me serve um liso
Que ando sovado da lida
Um bom cavalo é preciso
Quando a estrada é comprida

Venho apanhando faz tempo
E a vida descolorida
Não cuida, nem faz de conta
De amadrinhar as feridas

Solito, vou refletindo
Que o mundo roda ligeiro
Que falta faz um cavalo
Bueno de rédea e parceiro

Pulpeiro, me serve um liso
Que ando sovado da lida
Um bom cavalo é preciso
Quando a estrada é comprida

Pulpeiro, venho cansado
Levando o mundo nos ombros
Não tenho folga e ninguém
Que amacie os meus tombos

Trago o lombo calejado
Das rodadas repetidas
Que falta faz um cavalo
Quando a estrada é comprida


Intérprete: Maurício Oliveira, Clóvis Souza e Marciano Reis Filho