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A LINGUAGEM DA MILONGA

Título
A LINGUAGEM DA MILONGA
Compositores
LETRA
MARCELO D’ÁVILA
MÚSICA
ROBSON GARCIA
Intérprete
DANIEL CAVALHEIRO
Ritmo
MILONGA
CD/LP
5º MOINHO DA CANÇÃO GAÚCHA
Festival
5º MOINHO DA CANÇÃO GAÚCHA
Declamador

Amadrinhador

Premiações


A LINGUAGEM DA MILONGA
(Marcelo D’Ávila, Robson Garcia)

Esses versos que eu componho
Tendo o pinho no costado
São como nesgas de sonho
Pra se sonhar acordado.

Versejo como quem planta,
Obedecendo a lição:
O trigo nasce semente
Pra só depois virar pão.

Eu canto o que o campo cala
Em seu mutismo de sombra
Há sóis na voz de quem fala
A linguagem da milonga.

Zeloso, fiz uma trança
Com as cordas do violão
E a milonga veio mansa
Lamber sal na minha mão.

Vou milongueando minhas penas
No mate do fim de tarde;
Das coisas tristes que trago
Todas elas são saudade.


Alma De Um Poeta

Alma De Um Poeta
(Robson Garcia)

Quisera fazer poemas
Que já nascessem perfeitos
Quem sabe eu fosse um poeta
Deixavas as portas abertas
Pra o verso fugir do peito

O coração emudece
Se a inspiração vai embora
Inquieta persiste a alma
E o poeta só se acalma
Se na ideia um verso aflora

Quem cresceu fazendo versos
Não vive de solidão,
Pois na alma de um poeta
A poesia voa quieta
Com as asas da emoção

Talvez buscando algum rumo
Os versos partem também
Alguns nos trazem só flores
Outras promessas de amores
Mas nunca dizem de quem

Eu sei que a dor das canetas
Não vive sobre o papel
Se a alma do poeta é pura
Faz do fel das amarguras
Um doce favo de mel

Quem cresceu fazendo versos
Não vive de solidão,
Pois na alma de um poeta
A poesia voa quieta
Com as asas da emoção


Intérprete: Robson Garcia



Chasqueira Saudade

Chasqueira Saudade
(Rafael Ferreira, Robson Garcia)

Depois que virei a rédea do mesmo zaino de sempre
Pisando a réstia da lua, fio branco cortando estrada,
Nem quis olhar pelo ombro, aquilo que o rastro deixa,
Pois pra trás ficou um tanto, na tua trança colgada...

Me ajustei de peão por dia, na estância capitulina,
Golpeando égua de cima, buscando a plata que falta,
Mas na folga busco a volta, te olhando no pensamento,
Com teu sorriso de faixa, e o aroma bueno que exaltas,

Te mando um recadito, neste papel enrolado
Me desculpe os "modo errado", mereces mais, é verdade,
Mas cada linha é o meu peito, por entre um suspiro e outro,
Pois vi que o golpe de um potro tem menos dor que a saudade.

Atei com fita mimosa, colorada igual teu beijo,
Mandei uma flor juntito, que bem colhi tão rosada,
Talvez na hora que a pegues, ja esteja pálida e seca
Mas te prenda na intenção, não jogues fora por nada

Vai junto deste papel, um retalhinho de couro,
Uma lasca da desquina do bocal que vem sovado
Pois é a maior amostra da obrigação que sustento
Depois "das doma" eu regresso, pra ganhar o teu costado.

Intérprete: Marciano Reis


Pra Cantar O Que A Alma Tem

Pra Cantar O Que A Alma Tem
(Marcelo D’Ávila, Robson Garcia)

Não vou cansar minha guitarra
Com milongas extraviadas
De acordes duros de boca
E versos que dizem nada.

Porque é preciso tenência
Pra cantar o que alma tem:
O verso é palavra morta
Se não disser a quê vem.

Quem canta aquilo que sente
Tem razões pra ser feliz;
Se deixo alguma semente
É porque tive raiz.

Avesso a cantos estranhos
De rimas tão diminutas
Meu verso tem a crueza
Do campo em matéria bruta.

O verso é munício da alma
Contra a prisão das encerras
Por isso faço meus versos
Com forte cheiro de terra.

Herdeiros De Sepé


Herdeiros De Sepé
(Marcelo D’Ávila, Robson Garcia)

Os pés descalços ainda são os mesmos
Andando a esmo nos beirais da estrada
Os trapos gastos é que são diversos
Da velha força guarani: mais nada.

Mesmos os olhos, mesma a tez da pele,
Igual a luta pelo pão diário;
A mão aberta, estendida a palma,
Espera em vão, o gesto solitário.

É o mesmo sangue do ancestral guerreiro
Que ousou gritar que a pampa tinha dono;
E em vez de ter a terra prometida
Herdou apenas fome e abandono.

Ficou, da velha raça guarani,
Somente a pele, o olhar, os pés descalços
Pois seus herdeiros trazem a incerteza
De haver sonhado tantos sonhos falsos.

Hoje vagueiam pelos vãos das pontes,
Vendem balaios, pedem caridade;
Pra quem, um dia, foi dono da terra
Restou o frio concreto da cidade.

Quando O Rio Grande Corre Pelas Veias


Quando O Rio Grande Corre Pelas Veias
(Marcelo D´Ávila, Robson Garcia)

Nalgum fundo de campo da fronteira
Um índio bem montado mira ao longe
E a pampa inteira cabe nos seus olhos
Repletos de coxilhas e horizontes.

Há muito de querência neste homem,
Há séculos de história escrita em versos
E a herança da Campanha se reflete
Na simples amplitude de seus gestos.

A singeleza de cevar um mate
E alçar a perna pra espiar estrelas
É a liturgia do ritual campeiro
Quando o Rio Grande corre pelas veias.

Nalgum fundo de campo da fronteira
Com a proteção sagrada do chapéu
Um índio afina as cordas da guitarra
Olhando a pampa comungar com o céu.

Sou eu o homem que bombeia ao longe
Repleto de coxilhas e distâncias;
O campo é minha razão, é minha essência,
Porque eu sou eu e minhas circunstâncias.