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Divagação

Divagação
(Maria Ester Vidal, Helio Augusto)

Um dia sentado num banco pequeno,
Olhando pequeno também o fogão,
Senti lá no fundo doer qualquer coisa
Que não tinha nem jeito de ser solidão!

Pois...As coisas que gosto estão todas aqui,
O mate, a chaleira, o campo tão vasto...
- Por que me desgasto com o que nunca mais vi?

O frio na vidraça embaça a planura que sempre tem fim
E o mate depura a mágoa, a lonjura...
E não varre teu rastro que é sempre tão vasto
Aqui dentro de mim!

Pois voas nas chamas da lenha que inflama,
Me tocas...Me amas...quase posso te ver.
E fico extasiado com este momento
Querendo deveras de ti esquecer!

E sonho acordado na frente do fogo...
Vivendo momentos há muito distantes,
Sorrio sozinho, e volto no instante
Em que a bomba ofegante na cuia roncou!

Pois tu me tocavas, sorrias...E, brincavas,
Igual mansa brisa que tempestuou...!
Voltei a recanto do banco em que estava...
Assim divagava e estava feliz!

Olhei ao redor, não mais te senti,
Tomei mais um mate, me encolhi no meu catre;
Enrodilhei a saudade,
E chorei...E morri!



DIVAGAÇÃO by Maria Ester Vidal

O Cachecol Da Montanha

O Cachecol Da Montanha
(Maria Ester Vidal)          Amadrinhador: Miguel Brasil

No cachecol da montanha feito por nuvens esparsas,
Debruça um ar de bombacha, com pala feito de sol;
Reponta um vento minuano que se perde campo a fora,
E o frio como tranco de espora vai pintando o arrebol!

Da janela enfumaçada pelas lenhas do fogão,
Um olhar lacrimejante pousa num tempo distante,
Em que os cavacos de prosa, na roda do chimarrão,
Ensinavam-nos pra sempre, como se portar como gente,
Na lida com a multidão.

Eram os invernos que a vida usava pra educação...!
O frio servia pras noites, enluaradas ou não,
Cobrir com o poncho fraterno, o pensar ainda terno,
Do piazedo em ascensão!

Ao redor daquele fogo, se falava do angico,
De gado, campo e ancestrais...
De como lidar com a vida, sem esquecer os demais!
E tudo era aprendido...! E como aquele fogo tinindo,
O coração ia indo se aquerenciar nos rosais!

E este olhar na janela, que vê a nuvem passar...
Vê passar também a trote, todo e qualquer suporte,
Para homens sem linguajar!
É a cultura do Rio Grande que ensina desde pequeno,
Moral, ética, valores,
Formando reais doutores com a essência do lugar!

No cachecol da montanha debruço sonhos de infância,
Alambro naquela estância a sombra dos parreirais...!
Lembro das grandes figadas
Que ficavam no fogão,
Endossando as gargalhadas
Das piadas de galpão!

Nelas ficaram incrustadas
Lições de pais e avós,
Que nestes invernos sulinos,
Acalentam seus meninos,
Para serem homens de voz!

Pena que na montanha o cachecol faça a manha
Sem hoje muito esperar!
Este abraço de invernias que ensinava e protegia,
Hoje perdeu a magia... Hoje é difícil de achar!



11 O CACHECOL DA MONTANHA by Maria Ester Vidal

Nativa, Dezoito Anos!

Nativa, Dezoito Anos!
(Maria Ester Vidal)          Amadrinhador: Miguel Brasil

Num sonho de estância...Que acorda em silêncio
Botei um Crescêncio a chimarrear no galpão;
Ele olhando a planura da terra querida,
Chimarreou a minha vida e me deu dimensão!

Escorreguei pelos pampas como um córrego puro
Que hidrata esta terra para o trigo florir,
Quis cantar o Rio Grande do passado e futuro,
Quis nascer para um povo que precisa sorrir!

O barulho da água me trazia conforto
Porque eu era somente a semente plantada,
Eu sabia que alguém desejava este encontro,
E então me entreguei sem medo de nada...!

Esperneei sem descanso no peito maduro;
Desenhei minha vida na mente serena;
Acompanhei nas manhãs o Crescêncio seguro,
Moldando minha vida na cuia pequena...!

Sentia-me forte pulsando nas veias
Dos braços que abraçavam as causas sensíveis,
Não era impossível a que sonhos semeia
Topar a parada...E colocar-me no mundo para dar volta e meia

E Crescêncio em silêncio nas lindas manhãs
Em que o vento assoviava no velho galpão,
Trocava de erva...Ouvia a chaleira...
...E a essência campeira ganhava mão!

Na água do mate eu tocava em raízes
Que tinham matizes de seus ancestrais...
Imaginava-me ele, quando olhava a janela,
Que eu entrando por ela, faria dos lares, nativos lugares
Para cantar o Rio Grande num canto de iguais!

Crescêncio me ouviu como um pai ouve a um filho...
Deu-me quincha e lombilho para acalmar meus temores;
Escutei suas falas que me mostravam o trilho,
Pois sabia que eu vinha para perpetuar seus valores...!

Enfim...Despertei num dia de abril!
O céu era anil e o outono chegava;
O vento embalava meu vôo primeiro
E num verso trigueiro esta história iniciava!

Entrei nas janelas e em ouvidos campeiros
Que entendem a essência da boa canção;
Abriram as portas, me deram as tramelas...
Fui sentando na sala para tomar chimarrão!

Hoje sou a Nativa repontando emoções!
Sou a alma cativa de um povo guerreiro
Que planta o Rio Grande onde quer que se vá!
Sou um laço de estrelas, seguindo a boeira,
E sempre lindeira com o mundo a cantar!

- Obrigado Crescêncio!!!! Por aquele silêncio pós sonho de estância!!
No furor desta ânsia me fizeste ecoar!
Hoje sou a calhandra que atravessa oceanos,
Uma prenda que chega aos seus dezoito anos,
E que com seu povo esta data brindar!!!



NATIVA 18 ANOS - Maria Ester Vidal by guascaletras

Alvorecer

Alvorecer
(Maria Ester Vidal, Beto Pires)

Há sol nas janelas que se erguem nas pedras,
E um raio de luz num lar entreaberto.
É sombra nos cantos,
É riso nos prantos,
Um sol que fareja se acende e se beija,
Com as vidas de dentro,
Dos tetos de tantos!

E entra este sol e senta na sala,
E passa a varanda;
E vida tem tanta,
Que ri rente ao chão!

E assim intocável, nos toca, desperta, querendo chegar
E pousa...
De longe nos olha e tenta falar!
E ouça...
Pois há algo mais simples que um sol tão distante...
- É o breve instante do teu despertar!



09 ALVORECER by Maria Ester Vidal

Santa Maria

Santa Maria
(Maria Ester Vidal)          Amadrinhador: Miguel Brasil

Esta cidade é repleta de céus...
É rodeada de montes que a protegem de longe
E asseguram mensagens que os céus pronunciam
Quando a tarde se põe misturada de cores...!

Põem-se amarelos que o sol pincelando,
Vai dando matizes que extasia os pintores;
Vão entrando essas cores nas ruas cinzentas,
Que parecem coxilhas de asfaltos e torres.

Nestes tempos instáveis de chuva e de sol
Estes céus aparecem nas mais belas curvas;
Pode ver-se uma estrela perdida na chuva
E encontrar uma lua secando o arrebol...!

É a Santa Maria dos tantos louvores
Que se mostra dengosa no mormaço da tarde,
Suspira nos ventos que vêm com alarde,
Balançando a cidade, confundindo rumores!

É a Santa Maria que na boca do monte
Cumprimenta o horizonte com seus céus desiguais,
Tem um braço de ferro a beira dos cerros
Que é um orgulho mantê-lo pra lembrar ancestrais!

Revoam as pombas de um lado pra outro
Ligando essas ruas num branco fugaz,
E o barulho da chuva que vem e ecoa
Desfaz o mormaço e põe céus em postais...!

Quando os sinos repicam pras Ave-Marias,
Um manto declina de um destes céus...
É o véu de Maria nos dando esta glória
De ter toda esta história em padrões culturais!

Permite também que na morada que é Sua
Fiquem marcas dos pés no estreito das ruas
Quando os homens caminham, se abraçam, se aninham...
Para buscar sua graça no caminho da fé!

E com tanta beleza, o poeta se perde, suspira, se agita
Porque não acredita em tudo o que vê...!
Vê um Deus escrevendo a verdade infinita
E um mundo que veio para ser altruísta...
Agora egoísta... Sofrendo...! – Por quê?


08 SANTA MARIA by Maria Ester Vidal

Poema Materno

Poema Materno
(Maria Ester Vidal)              Amadrinhador: Miguel Brasil

Hoje é um dia como tantos outros...
Um amanhecer, a brisa soprando leve,
Um sol a nos aquecer...Uma vida rotineira, breve.

Algo, porém se evidencia...As flores saíram dos jardins, deixaram os quintais
E são bem mais...! São buquês, são botões, são nada iguais,
Que perfuma a cidade, e não há diversidade na emoção que se refaz!
Dia das mães...É festa!
O vento, já perfumado, bate em janelas diversas,
Traz a emoção submersa de um dia cheio de paz...!
Mãe que percorre as calçadas nos afazeres do dia,
Hoje as ruas te sustentam como tapetes e guias...
Abraçam-te em cumprimentos...Sabendo do que és capaz!

Tens no olhar a vivência que sempre nos quer passar,
Sabedoria dos monges com cantigas de ninar!
Nos teus braços há sempre um lume
Igual ao dos vaga-lumes que nos indicam o lugar!

Mãe, que filha te dizes da grande Nossa Senhora
Bendita se faz esta hora em que eu poso dizer:
- Abençoado é o dia em que me olhas de longe
E com uma Ave-Maria procuras me proteger!

Que teus olhos sempre atentos, possam enxergar sentimentos
Que não soubemos dizer! Que possam ler o poema
Que apesar do belo tema, não se consegue escrever!



POEMA MATERNO - Maria Ester Vidal by guascaletras

Ao Som De Um Bandoneom

Ao Som De Um Bandoneom
(Maria Ester Vidal, Carlinhos Lima)

Ao som de um bandoneom
O fogo de chão,
Por fim silencia...!

Lá fora...Ninguém!
Com o céu embaçado
Histórias se fazem
No peito de alguém!

Pensando se vive;
Ouvindo se aprende
E a noite revive
O que vai e não vem!

Ao som de um bandoneom
Histórias se contam,
Sentimentos despontam
E são de ninguém!

Mistura bandoneom com fogo de chaõ;
Agasalha no peito seu riso cortado...
E basta um galpão e um amigo do lado
Que a dor que era sua não passa a ninguém!

E o fogo calado
No tição queimado,
Se sente embalado
Na chama que tem...!

E vai definhando
Sob os olhos atentos
Que procuram nos ventos
A canção que convém...!

E nos mostra, abrasado,
Que a cinza é legado;
Essência de terra,
Que o homem não tem...

Não fica parado o homem cansado...
Sofrido...calado...
Quando a dor lhe entretém!

Mistura bandoneom com fogo de chaõ;
Agasalha no peito seu riso cortado...
E basta um galpão e um amigo do lado
Que a dor que era sua não passa a ninguém!



AO SOM DE UM BANDONEON by Maria Ester Vidal

Montado a Cavalo

Montado a Cavalo
(Maria Ester Vidal)  Amadrinhador: Miguel Brasil

(Para Antonio Augusto Ferreira)

A campanha entristecida
Com um poente incomum,
Levantou-se estarrecida
Porque se ia mais um!
...Um que há pouco era tantos
E agora, de tantos... – Nenhum!

Um que falava de poço
Onde a alma em alvoroço
Veterana se acalmava...!
Falava também da morte
E pontuou a sua sorte
No tempo que se acabava!

Onomatopéias tristonhas
Ecoaram pelos ventos
Assustando pensamentos
Porque o ponto final... Exclamava!

Os rios que correm na pampa
Foram além das barrancas
Num pranto descomunal!

Também chorou o sabiá,
O quero-quero calou,
O pingo escaramuçou...
E a mata nativa não quis se expressar!
Olhava pra o céu
Balançando seus galhos
E morta em borralhos
Era o lume da ronda
Que o Rio Grande, por certo,
Não queria enfrentar!

A roda do mate,
Estendeu-se até tarde,
Elevou-se em verdades
Desta essência genuína
Que deixou sua sina
Num tropel de saudade!

Montou num cavalo
Que passava pra o céu...
Um rodeio de pronto
Se fez em escarcéu...!
Sacudimos os arreios,
Tentamos os freios...
Mas foi tal o sofrenaço
Que só com braços de aço
Pra segurar tal sovéu!

Evaporaram as rimas
Daquela alma de poço
Pra correr em nossos rostos
Cristalizadas de cismas,
De quem vendia o carisma
De viver com raça e gosto!

Por isto foste montado
No cavalo que passou...
Pois voltarás em mil poças,
Em cacimbas cristalinas
Hidratar as maçanilhas
Do pago que te gerou!



05 MONTADO A CAVALO by Maria Ester Vidal

Tropeadas

Tropeadas
(Maria Ester Vidal)  Amadrinhador: Miguel Brasil

O sol pintou a campanha de um crepúsculo amarelo
E o céu olhando de cima a beleza que lhe deu,
Achou graça deste feito, e sem entender direito
Assim permaneceu!

E de repente... Um rebuliço,
De cascos lá na coxilha,
E o campo que já cochila
Se alerta com o pedregulho...

É falação, é mugido...
É estalido de espora
Parece que está na hora
De repousar neste chão!
Não é ainda acampamento
Este entrevero do peão...!

O entrevero é de emoção
Que desperta em noite calada,
E a lua olhando sentada
Acalenta o alazão...!

Aos poucos tudo se ajeita
Como se fosse o galpão!

O quero-quero se alerta,
O boi muge no fundão...
E o tropeiro já cansado,
Pega o pelego suado,
Dá um grito às vezes com o gado
E se atira pelo chão...

E a trempe aceita fogosa
A fumaça do carvão!
E a panela do feijão recém botada no fogo,
Balançando suas penas, borbulha sua canção...!

E o fogo fica acordado... Dando luz a este instante,
E a lenha queima, ofegante, e a fumaça de mansinho
Vai afastar os bichinhos, que vendo novos vizinhos,
Vêm saudar seus visitantes!

E logo vêm as lembranças... De casa... De seus encantos...
E Deus postado nos cantos, ouve atento a oração:
Agradecendo o piazito, que brinca meio solito
Em rebuliço com o cão!
E dentro de si vagueia, tropeando essa solidão...
A prenda que passeia no compasso do coração!

Com rosto desfigurado, do seu lado... Vê o violão,
Mexe-se meio guasquiado, toma mais um chimarrão,
No seu pelego sentado, dedilha sua canção...!

É um momento de amor este tropeiro acampado,
Este prosear milongueado
Que vem com certa aspereza... E aí...
Aí... –Chega doer a beleza,
Ao se abraçar com a tristeza,
Olhando o fogo de chão...

E aos poucos... Tudo se ajeita,
Como se fosse o galpão!



TROPEADAS - Sérgio Guedes by guascaletras

Companheiro Sem Queixas

Companheiro Sem Queixas
(Maria Ester Vidal, Enio Medeiros)

Sentado a beira do fogo
Depois de um dia campeiro,
Aqueço-me junto ao braseiro,
Como quem pesca um luzeiro,
Na lida com o pai de fogo!

E por cima um pala antigo,
Que envelheceu no meu ombro...
Velho, sujo e mal dobrado...
Muitas vezes de mendigo,
Por tê-lo assim, fui chamado.

No calor de suas fibras,
Muitas lágrimas secaram,
Quando no frio do abandono,
Eu sem ela, tão sem dono
Juntito dele chorava!

E assim, me identificava
Aquele pala surrado,
Que no verão se atirava
Por cima de algum lajeado,
A mostra pras lavadeiras
Pra descansar e ser lavado!

Ah, companheiro sem queixas,
Que o peão nem pensa largar...
Serve de catre, de quincha;
Às vezes leva nos ombros
Este Rio Grande a cantar!



COMPANHEIRO SEM QUEIXAS  by guascaletras

Marcas Do Sul

Marcas Do Sul
(Maria Ester Vidal)   Amadrinhador: Miguel Brasil

Quando sentei no meu banco,
Enfumaçado do fogo,
Protegido com pelego,
Aqui no velho galpão...
Dei de mão na cuia quente,
Que descansava ao meu lado,
E dei de rédea no tempo,
Para absorver o passado...!

Fui longe!...
Não dá nem para dar detalhes
De onde meu zaino andou...
Mas sei o que eu sentia...
-Ah! Isto sim, me tem valia,
Pois me relata quem sou!
Meu peito frágil se esguia
Para ancorar estes símbolos,
Meus olhos olham o céu,
Procuram a estrela guia,
Pois sei que todos os dias,
Um gaúcho a cumprimenta!

Na amada vestimenta,
Tenho orgulho de ser forte!
De ter no lenço o suporte
Que identifica ancestrais;
De ter um chapéu tapeado,
E este perfil respeitado...;
De ter no olhar um legado,
Que se espalha como o vento
E me remete a contento,
Ao caminho aonde vou...!

A coxilha, que é verde,
Observa do alto,
O vermelho do sol
Se pondo na serra...!
E a macela amarela
Que enfeita este pago,
Completa as três cores
Levantadas na guerra!

E assim me enraízo
Na pampa que falo...!
Vou contemplando a paisagem
Que nem vejo do galpão,
Porque nem precisa visão
Para correr a cavalo Num campo onde eu me embalo
Quando sorvo um chimarrão!

São marcas que vão ficando
Neste percurso campeiro,
É a bomba roncando,
É o som do gaiteiro;
É peão, capataz, ao redor do braseiro...!
...São as marcas do sul,
Que o plantarem-se na gente,
Espalharam a semente:

-De ter cerne, ser amigo;
-De confrontar no que digo,
A lealdade ao parceiro!!!



MARCAS DO SUL - Sérgio Guedes by guascaletras

Chinelo de Couro

Chinelo de Couro
(Maria Ester Vidal)  Amadrinhador: Miguel Brasil

Este chinelo de couro
Postado à beira da cama,
Silencia muitos passos,
Deixa cheiro e muitos rastros
E fica de ancoradouro!

O seu arrastar no assoalho,
Como fosse nas manhãs,
Ornamentadas de orvalho,
Reacendendo algum borralho
Para o mate de todo o clã!

Ouve-se o canto do galo,
O cacarejar de galinhas,
O relinchar de um cavalo...
E o chinelo já surrado,
Entre eles todos caminha!

Às vezes se distancia...
Está à beira do açude
Limpando caminhos rudes
E colhendo ervas daninhas!

Às vezes serve pra o laço,
Pra o bem de toda a piazada
Que brinca, mas pra fazer arte,
Sobra sempre algum espaço!

No alto, um chapéu surrado,
No meio, um porongo pequeno...
No outro extremo, parado,
Este chinelo que falo
Marcando grama e sereno!

São detalhes! São bobagens!
Falar de um couro moldado
Que só se tem por bagagem
Correndo pra todo o lado!

Ah! Mas um chinelo de couro
Na mala que vem ou vai...
Não tem aí nenhum tesouro...
– É verdade, é só um pedaço de couro,
Que se gasta... Arrebenta... E vai!

...Mas quando fica parado
Aos pés da cama do pai,
Silencioso... Forte... Usado, É um cálice para as lembranças,
Embala o sono; bebe-se com entono,
Lições ao canto do galo!

E assim... Respondam por mim...
-É só um chinelo velho que na mala vem ou vai?

Não! Não! É um chinelo de “ouro”
Que deixa o assoalho e a lida
Dá limite a si e à vida
E da lembrança não sai!

E então... Parado... Quieto...
Postado aos pés desta cama
Enfeitando o chão que habita,
Lembra ancestrais que se ama...
Faz esta casa bonita!

E só quem teve ao seu lado
Um pai sensível, inquieto
Com coisas que a alma inflama
E que via nos detalhes, entalhes do que era belo,
Pode atribuir a um chinelo,
A paternidade infinita!



CHINELO DE COURO de Maria ESter Vidal interpretação de Sergio Guedes by Maria Ester Vidal

Apertando o Chão

Apertando o Chão
(Maria Ester Vidal, Delci Taborda)

Um Gaúcho acriolado
Tem sempre a cuia e a chaleira
E uma canção galponeira
Fazendo-lhe algum costado

Pra outro pago não parte
Sem alambrar a querência
É um cevador de experiências
Depois de amansar o mate

Deixa amigos em taperas
E atiça um fogo de chão
Bordoneando um violão
Num banco sempre na espera

Cabresteado pela vida
Vai abrindo mais fronteiras
E a lembrança caborteira
É como boeira da lida

E se o mate der saudade
Não pensa no desafogo
E aquece com toda a vontade
Na cuia, na bomba e no fogo,

Pra outro pago não parte
Sem alambrar a querência
É um cevador de experiências
Depois de amansar o mate



APERTANDO O CHÃO - Delci Taborda by guascaletras

O Espelho De Minh’alma

O Espelho De Minh’alma
(Maria Ester Vidal, Delci Taborda)

Atrás dos meus olhos cavalguei nesta estrada
Sem nunca indagar-me sobre o que perseguir...
Precisou um sabiá sentar no meu ombro,
E retirar o escombro para eu me sentir!

O sol já poente tocou a janela,
Convidando a um passeio no céu que encobri,
Emprestou-me suas asas o sabiá viageiro,
E saí mundo afora sem demora de ir!

Andei no infinito das canções que escrevi,
Pude ver a leveza que um poeta experimenta;
Misturei-me às nuvens sem deixá-las cair,
Voando nas frases que a alma arrebenta!

Meus olhos que viam tão claro o momento,
Embaçaram o espelho com gotas de amor,
O céu já vermelho me deu o firmamento
E me vi abraçado com o sabiá e o cantor