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Mostrando postagens com marcador Grupo Horizonte. Mostrar todas as postagens
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Timbaúva

Timbaúva
(Luiz Carlos Borges, Luiz Antero Peixoto)

Timbaúva, foste árvore
Foste casa, foste chão
Hoje é cinza, é saudade
Tapera em meu coração

Em teus galhos, muitas vezes,
Me abriguei do vento norte
Tempo xucro, chuva forte
E também de cerração
Abriguei-me até da morte
Em arruaça de galpão

Timbaúva, foste árvore
Foste casa, foste chão
Hoje é cinza, é saudade
Tapera em meu coração

O teu tronco forte e rijo
Se elevava nas coxilhas
Enxergavas pelas trilhas
Compridas como um sovéu
Te erguias até o alto
Como se tocasses o céu

Timbaúva, foste árvore
Foste casa, foste chão
Hoje é cinza, é saudade
Tapera em meu coração

Foste mais do que um pulmão
Para toda a humanidade
Mas o homem por maldade
Te curvou de sol e chuva
O machado e o fogo
Te levaram, timbaúva

Foi timbaúva
Veja o tempo que passou
Os anos foram troteando
Minha hora também chegou

Os anos foram troteando
Minha hora também chegou


Evocação

Evocação
(Luiz Carlos Borges, Dirceu Pombo)

Vida boa, vida boa, vida boa, vida boa
Vida boa, vida boa, vida boa, vida boa
Vida boa, vida boa, vida boa ...
Cuidado o bicho papão

A noite boleava o dia
Com as três-marias do céu
E a sombra descia o véu
Na hora da Ave-Maria

Menino, acende o candeeiro
Que a luz do sol já morreu
E o pavio que acende o lume
É igualzinho ao vaga-lume
Que lá no campo acendeu

Vida boa, vida boa

E um coro de vozes claras
Ressoa lá na lagoa
Vida boa, vida boa, vida boa, vida boa

Menino, reza uma prece
Que a tua mãe te ensinou
Olha que é noite fechada
E o menino não rezou

Mansa e doce a noite desce
Com mão negra a sombra tece
Mistérios e assombração
Menino, dorme que é tarde
Cuidado o bicho papão

Noite alta, silenciosa
Vem da sanga a viração
O tempo bom passa augúrios
De colheitas e searas
De lagoa, só murmúrios

E um coro de vozes claras
Por toda a várzea ressoa
Vida boa, vida boa
E um coro de vozes claras
Ressoa lá na lagoa
Vida boa, vida boa, vida boa ...


O Bugio

O Bugio
(Luiz Carlos Borges, Luiz Guilherme do Prado Veppo)

Aqui é o Rio Grande onde o Brasil termina
E o sol se inclina pra dizer adeus
Onde a mutuca tira o boi do mato
E nesse fato muito ensina Deus

Onde o UruguaI com sua voz mais pura
Doce murmura um cantochão de paz
Tropeando almas pelo pampa bruto
Flores e frutos vai deixando atrás

É do Brasil esta paisagem
Fronteira imposta pela coragem
É brasileiro este bugio
Que vem pro palco em desafio

Onde os pelinchos sempre zombeteiros
Cantam brejeiros nos maracujás
E a garça branca, de um açude à beira
Pousa faceira entre os caraguatás
Onde os capinchos sobre as barranqueiras
Horas inteiras fingem meditar
Quando anoitece a perdiz afoita
Procura a moita pra se agasalhar

É do Brasil esta paisagem
Fronteira imposta pela coragem
É brasileiro este bugio
Que vem pro palco em desafio

Aqui onde o homem olha o horizonte
Sente o reponte mesmo nesse olhar
E campereando pela imensidade
A liberdade leva em seu sonhar
Onde o chimarrão vai correndo à roda
Como é a moda ainda no galpão
E um índio vago de avançada idade
Canta a saudade do seu coração

É do Brasil esta paisagem
Fronteira imposta pela coragem
É brasileiro este bugio
Que vem pro palco em desafio

Aqui é o Rio Grande onde o Brasil termina ...

É do Brasil esta paisagem...



Luiz Carlos Borges E Grupo Horizonte - O Bugio by Guascaletras

Rumos Perdidos

Rumos Perdidos
(Vinícius Pitágoras Gomes, Luiz Bastos)

Gaúchos farrapos de barbas tostadas
Cavalgam corcéis de pelo carvão
Farejam no tempo os rumos perdidos
Galopam silêncios sem patas no chão

Rebanhos imóveis, estátuas de sal
Ruminam as cinzas no campo queimado
E os peixes que saltam das sangas de óleo
Beliscam as iscas na pá de um arado
E os peixes que saltam das sangas de óleo
Beliscam as iscas na pá de um arado

Cuidado com a terra que a volta virá
Semeando desertos, ninguém colherá
Cuidado com a terra que a volta virá
Semeando desertos, ninguém colherá
Cuidado com a terra que a volta virá

Sutis aguapés nas velhas lagoas
Sepultam raízes em negro veneno
E as garças esguias de asas cansadas
Já não podem voar seu vôo sereno

Pupilas exaustas das rondas insones
Procuram na estrela as fontes da vida
E a mão que semeou a terra exaurida
Espera a semente que não germinou
E a mão que semeou a terra exaurida
Espera a semente que não germinou

Cuidado com a terra que a volta virá
Semeando desertos, ninguém colherá
Cuidado com a terra que a volta virá


Cria Enjeitada

Cria Enjeitada
(Humberto Gabbi Zanatta, João Chagas Leite)

Não tenho pressa e nem penso em ter mais pressa
Vou no meu tranco como boi na verga vai
Este meu jeito meio rude falquejado
Herdei da vida e um pouco de meu pai

Trago lembranças das grandes matarias
Das águas puras e das sangas sossegadas
Dos vales férteis, das serras e dos campos
Da natureza que era ainda respeitada

E sinto cheiro de terra após a chuva
De tantas flores perfumando sem cobrar
Do pão de forno, do apojo e da canjica
Da pitanga, da tuna e do araçá

E há em mim uma saudade latejando
Vozes de pássaros pedindo pra cantar
Gritos de bichos, sementes pequeninas
À espera de que possam germinar

Hoje a ambição fez pousada à minha volta
Plantou desertos em sementes traiçoeiras
Cria enjeitada do progresso que importamos
Batendo palmas à ganâncias estrangeiras

Só temos pressa e mais pressa pra ter pressa
Receita louca que inventamos pra morrer
De neuroses, de calmantes, pesticidas
Matando a vida que está doida pra viver

E sinto cheiro de terra após a chuva
De tantas flores perfumando sem cobrar
Do pão de forno, do apojo e da canjica
Da pitanga, da tuna e do araçá

E há em mim uma saudade latejando
Vozes de pássaros pedindo pra cantar
Gritos de bichos, sementes pequeninas
À espera de que possam germinar

Só temos pressa e mais pressa pra ter pressa
Receita louca que inventamos pra morrer
De neuroses, de calmantes, pesticidas
Matando a vida que está doida pra viver
Pra viver ...


João Chagas Leite e Grupo Horizonte - Cria Enjeitada by Guascaletras

Lições Da Terra

Lições Da Terra
(Humberto Zanatta, Ribamar Machado)

Por esta verga rotineira em que caminhas
Como boi manso ponteando a lavração
Vira e revira no silêncio do arado
A nova terra para outra plantação.

Neste teu rosto existem rugas que são vergas
E pelas veias do teu corpo correm rios
Os grossos dedos de tuas mãos são como adagas
Cortando a terra e as tranqueiras com seus fios.

Pequeno agricultor, tu és o grande
Plantador da nova roça que sonhamos
Do calo de tuas mãos há de brotar
O fruto da justiça que buscamos.

Tem muita gente que é mais àrida que a terra
Quando te explora, te expulsa e te maltrata
A terra bruta, como homem não se entrega
E vai um dia se vingar de quem a mata.

Quanto se aprende olhando claro em nossa volta
Semente frágil se transforma em linda fruta
Neste entrevero de homens, plantas e de bichos
Brota a certeza de que a vida é sempre luta.

Léguas De Solidão

Léguas De Solidão
(Humberto Zanatta, Luiz Carlos Borges)

Em andanças por caminhos
Fez sua vida carreteando
O próprio destino de peão.
Cruzou sanga, cruzou mar,
Pedra e pó encurtando
Distâncias ganhou o pão

Traçando estradas
Nos atalhos primitivos
No horizonte do bem longe andejou
Como cobra
Se estendendo nas coxilhas
Novas querências o seu rastro demarcou

Transportou com segurança
Os mantimentos
Para o comércio dos bolichos
Nas estradas

Carreteou cargas de lã
De sal e charque
E a própria história
No ajoujo da boiada

Nas pousadas foi plantando
Vilarejos no ofício
Da campeira geografia
Pelo pago teve amores
Que marcaram qual o canto
Da carreta que rangia

Rasgou o pampa
Em léguas de solidão
E da carreta fez trincheira e fez morada
Fez da lua, do cachorro e dos avios
Companheiros incansáveis das jornadas

Do roda roda do tempo vão sumindo
A junta mansa e a carreta velho trastes
Porém a fibra do remoto carreteiro
Não há tempo ou pedregulho que desgaste

Romance Na Tafona

Romance Na Tafona
(Antonio Carlos Machado, Luiz Carlos Borges)

Maria florão de negra,
Pacácio negro na flor
Se negacearam por meses
Para uma noite de amor.

Na “tafona” abandonada
Que apodreceu arrodeando,
Pacácio serviu a cama
E esperou chimarreando
Do pelego fez colchão,
Do lombinho travesseiro,
Da badana fez lençol,
Fez estufa do braseiro.

A tarde morreu com chuva
Mais garoa que aguaceiro,
E incendiaram de amor
A “tafona” antes tapera.

A noite cuspiu um raio
Que correu pelo aramado
Queimando trama e palanque
Na hora desse noivado
E o braço forte do negro
Entre rude e delicado
Protegeu Negra Maria
Do susto desse mandado.