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Entrega De Tropa

Entrega De Tropa
(Eduardo Soares, Joca Martins)

O “Alceu Moreira” já entregou a tropa
E se foi na estância com a cavalhada
Dos potros de doma só um vem sovado
O caminho era brabo, para as galopeadas

A zaina bolida que tirou pra estrada
“Chegô” bastereada do negro “sotel”
Pescoço estendido de pedra e caminho
Do toso ao machinho, “pêlo” do sovéo

Entrega de tropa, coisa mais gaúcha
Contando a boiada na frente da estância
Veio até o “mulato” pra fazer fiador
Contra o corredor que guarda minhas ânsias

Cruzou dois consumos, junto com os cavalos
Até vi o gargalo da “barriga mol”
É sobra de tropa no bocó do “Juca”
Na tarde que se alarga com braças de sol

Veio colorindo, talvez por regalo
Uma flor do campo preza à cabeçada
Já meio judiada dessa mormaçeira
E dos escarçeios da buena gateada

Eu Tenho Um Verso Gaúcho

Eu Tenho Um Verso Gaúcho
(Roberto Paines Nunes, Fabrício Harden)

Eu tenho um verso gaúcho, forjado pela história
De um povo com trajetória de sangue, fibra e coragem
E sou na estampa a imagem dos ancestrais de alma guapa
Que à cavalo ergueram a pátria no sem fim dessas paragens.

Então se fez o gaúcho bem mais que um povo - legenda.
Porque história não é lenda, verdade não se contesta,
E sempre que a noite empresta inspiração pras cantigas
Canto esta raça antiga de chapéu quebrado na testa.

E aos que dizem que meu tema guarda sempre a mesma essência
Eu respondo que a querência, mãe de todos, é vertente
Desse amor que a gente sente e faz do pampa universo
Talvez, por isso, cada verso não pareça diferente.

E meu verso, por gaúcho, carrega o pó dos arreios
É voz dos tauras campeiros, eco de várzea e potreiro
Pois só quem aprendeu cedo a lida e sua rudeza
Sabe entender a beleza que tem num verso campeiro

E ademais venho de um povo Gaúcho, mas brasileiro
Foram da pátria guerreiros, sempre agüentando o repuxo
Por isso me dou ao luxo de cantar desse meu jeito
Me perfilo e abro peito, num verso flor de gaúcho!!!

A Tropilha Maragata

 A Tropilha Maragata
(Rodrigo Bauer, Fabrício Harden)

Na missioneira São Borja,
Plantada lá na Fronteira,
Tem uma tropilha guapa,
Uma eguada caborteira
Que corcoveia por nada;
Mas oigaletê “porquera”!
Tem a picaça Dondoca
Que sai escavando toca,
“chacoaiando” o calavera!

Na Tropilha Maragata
Quem relinchar “veiaqueia”;
E o Júlio que é o proprietário
Conhece a parada feia!
Vem de família campeira,
Que não se enreda em maneia...
Dizem que foi batizado
No lombo de um aporreado
E até a sua vó gineteia!

Tem a gateada Katurra
Que, na gurupa, é um tufão!
No lombo da Vanessinha
Quem monta já está no chão!
O pintado Pega Leve...
E a zaina Tequila, então?
No basto oriental é certo!
E a Coral pra o basto aberto
Mostra que tem vocação!

Tem a zaina Água Bonita
Para animar o rodeio,
A colorada Doutora
Que receita um tombo feio,
A gateada Castelhana
Que atora o Rio Grande ao meio!
Não sei se acorda amanhã
Quem pega a Camburetã
Bufando que nem rio cheio!

No rincão dessa tropilha
Ninguém respeita cancela,
Até o petiço aguateiro
Já sai batendo tigela,
As “véia” brigam de foice,
Vaca do tambo atropela...
No galpão só tem bandido,
Por qualquer mal-entendido
Voa um pela janela!

De Fronteira E Chamamé


De Fronteira E Chamamé
(Rodrigo Bauer, Luciano Maia)

Quando a alma de fronteira morde o freio e longe vai,
O silêncio se emociona, transformado em sapucay!
O meu baio troca orelhas e parece que prevê
Que o instinto me convoca pra bailar um chamamé!

Troco o flete pelo barco... O Uruguai se faz pequeno
Pra saudade que eu abraço quando abro estes dois remos!
O meu peito tem remansos, camalotes, cachoeiras...
E nas cheias lava as mágoas aumentando as corredeiras!

A bailanta é de campanha, não tem luxo no lugar,
Mas tem uma correntina que acorrenta o meu olhar!
Traz nos olhos dois candeeiros que não cansam de luzir
E a magia da lunita que ilumina Taragüí!

Só quem mora na fronteira sabe o antes e o depois
De quem tem um só destino mas divide ele por dois...
Pois quem ama na argentina mas trabalha no brasil
Traz a alma canoeira recortada pelo rio!

Um cambicho desconhece as fronteiras e a distância,
Não importa se o sujeito é doutor ou peão de estância!
Chega manso e nos envolve, mesmo sem dizer porque
E é por isso que eu me encharco de fronteira e chamamé!

Com O Coração Nas Esporas

Com O Coração Nas Esporas
(Anomar Danúbio Vieira, Fabrício Harden)

Quem traz o campo num floreio de cordeona,
E um tilintar de “choronas” nas madrugadas tropeiras,
Tem neste fundos o berro da gadaria
Orquestrando as sesmarias, num concerto de fronteira.

Por “orelhano”, não tenho marca e sinal
Par de rédeas e um bocal me bastam pra ser feliz
E toda vez que estendo um “xucro” na estrada,
Sinto a alma enraizada no garrão do meu país.

Sou do Rio Grande, sou da pátria de à cavalo
Por isso que não me calo pras modas que vem de fora
Chuva guasqueada e geada grande não entanguem,
Quem tem a pampa no sangue e o coração nas esporas!

Minha rebeldia tem sotaque e procedência
Cerne puro de querência templado pelo rigor,
Todo “pampeano”, que canta a terra nativa
Conserva uma história viva mesmo depois que se for.

Nas campereadas forjei a sina vaqueana,
Sovando basto e badana, groseando casco de pingo
Firme na crença, de que a vida se ilumina
No sorriso de uma china numa tarde de domingo.

Nalgum bolicho, na volta de um corredor,
Já fui peão e fui senhor oitavado junto à copa
Se me extraviei, campeando algum movimento
Fui me encontrar, pelo tempo, nalguma ronda de tropa.






Cantadores

Cantadores
(Márcio Nunes Corrêa, Fabiano Bacchieri, Joca Martins)

Cantadores...
São os galos que despertam a estância e sua gente
Quando esporas em cantiga madrugam o continente.
O cantochão dos cavalos no movimento da indiada
E um latido ovelheiro por clarim da campereada.

Cantadores...
O entono do passaredo na crista de um pessegueiro
Que chamando a primavera sabem das flores primeiro,
Um casal de quero-queros lembrando o ninho dos seus
E os ventos daqui do sul que são assobios de Deus.

Um cantador...
É um sentimento que canta,
Tendo o corpo por imagem
E a alma como garganta.
Cantadores somos todos nós
Quando mostramos nos olhos
Nosso amor pela pampa.

Cantadores...
São os bastos que ringindo vão moldando as caronas
Quando um veiáco se pega ou se carrega uma dona.
Os cascos dos bem domados cruzando na cruz da estrada
Onde alguém deixou seu canto porquê foi cedo e mais nada.

Cantadores...
Os bois seguindo o aboio, mugindo no corredor,
A cordeirada berrando a própria paz no parador,
Pirilampos que a tardinha cantam luzindo boieiras
Num contra-canto a coscorra da gateada escarceadeira.

Cantadores...
...cantam bem mais que suas dores!

Cantar Galponeiro

Cantar Galponeiro
(Oacy Rosenhaim, Nilo Bairros de Brum)

Meu verso é rio de águas claras
Correndo para o remanso
É igual a um potro manso
De andar garboso e faceiro
Faz tempo que é meu parceiro
Pois é meu verso que acalma
As penas da minha alma
Nas horas de desespero

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Quem não renega as origens
É cerno de corunilha
Plantado numa coxilha
Palanque por vocação
Esta xucra devoção
Expressa através do verso
Participa do universo
Sem desgarrar do seu chão

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Meu verso carrega o timbre
Do sentimento nativo
E cada rima é um estrivo
Onde se afirma a consciência
E nessa busca de essência
Meu canto é quase sagrado
Porque projeta um legado
Além da minha existência

O meu cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago

Tino Sestroso

Tino Sestroso
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Eu tenho um tino sestroso de potro maula,
Que mostra o branco do olho pra quem quiser;
A alma que nem um tigre dentro da jaula
E um jeito de olhar a vida como ela é...

A vida é égua gaviona que não se cansa
E ensina a gente do campo sempre bem mais...
Por isso é que sei que o homem de fala mansa
É muito mais perigoso que os animais !

Mas quem me ganha a confiança numa bolada,
Encontra um amigo bueno de coração;
Parceiro sempre de jeito pra uma quarteada
E pode contar nas tarcas mais um irmão...

E assim a alma se amansa de andar no pêlo,
Desarmo as mãos pra cevar o meu chimarrão.
Meu tino xucro retorna pra ser sinuelo
E a vida vem ser tambeira neste galpão !

Porém é sempre preciso ser desconfiado !
Que bom seria se a história não fosse assim !
E o homem fosse sincero que nem o gado
Que pasta comunitário o mesmo capim !

Eu tenho um tino sestroso de gado alçado
E um coração de menino que canta, enfim...
Por bem me levam o pala, o chapéu tapeado !
Por mal nem mesmo um chinelo levam de mim !

De Bigode Repartido

De Bigode Repartido
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Como é lindo e “devertido”
Um “bailezito” campeiro!
Que ao índio mais caborteiro
“le gusta batê fervido!”
Um salão de chão batido
Onde o gaúcho, se espiando,
Esquece a vida bailando
De bigode repartido!

Um gaiteiro distraído
Olhando para as percantas,
Vai animando a bailanta
Numa vaneira, perdido...
E “às vez” um mal-entendido
Faz com que o taura, berrando,
Pare rodeio peleando
De bigode repartido!

E, depois do “assucedido”
Monta no flete seguro
Que sabe enxergar no escuro
O rumo desconhecido...
Traz aguçado o sentido
O pingo de quem peleia
E topa a volta mais feia
De bigode repartido!

Chega assim, amanhecido,
Na estância após o domingo,
Saca os recaus do seu pingo
E encilha um baio temido,
Que sai teso e recolhido,
Troteando de lombo duro
E o índio prevê o apuro
De bigode repartido!

Não se assusta o prevenido
Quando o baio se escancara...
De repente esconde a cara
Não se dando por vencido!
Mas sente o choro doído
Da espora mordendo o couro
No garrão do índio touro
De bigode repartido!

É assim o tempo vivido
De quem é livre qual vento,
Não se enreda em casamento
Nem em nada parecido;
Habita o campo estendido
No ofício de campereá-lo
E cruza a vida a cavalo
De bigode repartido      

Milongão De Madrugada

Milongão De Madrugada

(Gujo Teixeira, Joca Martins)

O galpão do meus arreios tem picumã na garganta
Por isso que logo cedo, pra madrugada ele canta...
Canta milongas de fogo, com lenha boa de aroeira
Na voz rouca das cambonas, alguma copla campeira.

O mate de erva nova recém clareia as janelas
E um galo preto abre o peito num moerão da cancela.
Parece que chama o sol que mete a cara em porfia
No horizonte acordando, com jeito de buenos dia!

Os pingos tudo na forma na volta do mangueirão
Esperam garras sovadas e rédea firme na mão
Pra depois n’algum aperto contra um brasino matreiro
Entenderem que na espora só anda pingo ligeiro.

Um baio marca de quatro por caborteiro relincha
É manso igual a espora que corta os fio da cincha.
E quando menos espera tranqueando de relancina
Agacha o toso pegando, pra tirá um cristão de cima.

Mas o campeiro que eu falo não é de quadro bonito
É daqueles que de foi feito, a tempo feio e a grito.
Dos que apartam campo a fora, a mango e bico de bota
E atropela em lançante, tirando boi dessas grota...

Por isso que o meu galpão tem vida nas madrugada
Fogo aceso, e uma milonga com as espora bem atada.
Pra o causo, nas precisão, entre um mate e mais outro
Precisar encilhar mais cedo e tirar as cóscas de um potro...

                                                          


De Fogões E Inverneiras

De Fogões E Inverneiras
(Xirú Antunes, Joca Martins, Jari Terres)

Um vento forte me reboja o pensamento
Desquino um tento pra não ter o que pensar
Mergulho os sonhos no banhado do potreiro
E a noite grande vem me por a guitarrear.

Traço caminhos pra seguir no outro dia
E a alma encilha novos fletes pra domar
Nas invernadas que se perdem nas distância
Mato essas ânsias extraviadas no cantar.

Fogões me agradam no clarim das inverneiras
Almas campeiras que povoam no galpão
São sonhos xucros mesclados com o Minuano
Que este haragano há muito tempo já domou

Lá fora a vida se desmancha em chuva fria
Cordoando tropas, buscando se acomodar
Um quero-quero se anuncia na coxilha
Ensaia rimas de saudade a recordar.

Negra parceira que o fogão te viu ausente
E até o poente se perdeu do teu olhar
Repasso rimas de fogões e inverneiras
Almas campeiras que me põe a guitarrear

Fogões me agradam no clarim das inverneiras
Almas campeiras que povoam no galpão
São sonhos xucros mesclados com o Minuano
Que este haragano há muito tempo já domou

Campeiro Cusco E Cavalo

Campeiro Cusco E Cavalo
(Rodrigo Bauer, Pedro Guerra, Joca Martins)

Eles são três companheiros
Distintos na identidade,
Forjando a cumplicidade
No velho ofício campeiro... 
São três irmãos galponeiros
Levados no mesmo embalo, 
Por entre tirões e pialos
Vão resumindo as distâncias
Os três soldados da estância
Campeiro, cusco e cavalo!

Vão patrulhando as lonjuras
Dessa querência estendida
E, em cada etapa da vida,
Vão madurando a procura...
Buscando a volta segura,
Tirando um golpe mais brusco...
Com sol ou no lusco-fusco,
Num dia brando ou mais potro,
Cada um cuida do outro:
Campeiro, cavalo e cusco!

Campeiro, cusco e cavalo,
Timbrados com o mesmo pó!
Campeiro, cusco e cavalo,
Três galhos de um tronco só!

São três monarcas pampeanos
Curtidos de terra e céu,
Ramais do mesmo sovéu
Que, entra ano e sai ano,
Dividem seus desenganos
No exílio desses potreiros;
São confidentes, parceiros,
Pelos verões e invernias,
Nessa imortal trilogia:
Cavalo, cusco e campeiro!

Um deles pensa e repara
Na vida que vai levando,
Os outros seguem troteando
No instinto de quem não pára;
E nessa amizade rara
Que nunca vai separá-los                                 
A pampa, como a saudá-los,
Derrama luz nas planuras
E, caprichosa, emoldura
Campeiro, cusco e cavalo!

Potro Sem Dono

Potro Sem Dono
(Paulo Portela Fagundes)

A sede de liberdade
Rebenta a soga do potro
Que parte em busca do pago
E num galope dispara
Rasgando a coxilha ao meio
Mordendo o vento na cara.

Bebe horizonte nos olhos,
Empurra a terra pra trás
Já vai bem longe a figura,
Mostra um caminho tenaz
Da humanidade sofrida
Que luta em busca da paz

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Se a morte lhe faz negaça,
Joga na vida com a sorte
Desprezo da própria morte,
Não se prende a preconceitos
Nem mata a sede com farsas,
Leva um destino no peito.

Na seiva das madrugadas
Vai florescendo a canção
Aquece o fogo de chão,
Enxuga o pranto de ausência,
Esta guitarra campeira,
Velho clarim da querência.

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

O Sonho

O Sonho
(Xirú Antunes, Adriano Gomes, Juliano Gomes)

Quem sabe meu sonho
Ficou negaciando
Na costa de um mato
Nos ritos de um trago
Das últimas luzes
Que estreitam domingos.

Ficou nas ramadas
Encilhando um mouro
Depois da sestiada
Ou nas madrugadas
Num quarto de ronda
De alguma tropeada.

Meu sonho rebolca
Nas xergas tão velhas
Moldadas de lombo
Guardando suores
Tal qual as relíquias
De um tempo precioso.

Fareja cambonas
Com jujos de campo
Pelas madrugadas
Chuliando cancelas
Que abertas prá o dia
Envidam potradas.

Meu sonho falqueja
As tramas de angico
Nas chuvas de agosto
E saca as penúrias
De tanta invernera
Nos cardos de um poncho.

Galopa num vento
Desfiando saudades
Soprado da estância
Abanos de pala
Mesclados nas rimas
De crina e guitarra.

Talvez quando escute
Os gritos da pampa
N’alguma ilusão
Limite o silêncio
Fazendo fronteiras
Na paz de um galpão.

Xucro Ofício

Xucro Ofício
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Nem bem clareia e já me encontro chimarreando
Ao pé do fogo que aquenta as madrugadas
Daqui um pouquito o sol desponta no horizonte
To desde ontonte com as idéias engarrafadas

Pra o parapeito do galpão arrasto as garras
Buçal na mão vou tiflando pra mangueira
Meio sestrosa me cuidando a matungada
Vem da invernada e fica flor de caborteira

Mas que me importa pois me levantei aluado
Cano virado das minhas botas garroneiras
Toda segunda tem bagual de lombo inchado
Adivinhando que passei de borracheira

Junto as argolas do cinchão no osso do peito
Procuro um jeito busco a volta e me enforquilho
Depois que monto e atiro o caixão pra trás
Só Deus com um gancho pra me sacar do lombilho

Me dá vontade de prender o buçal na cara
Deste picaço que esqueceu como se forma
Mas eu garanto que embaixo dos meus arreios
Conhece o freio e aprende a respeita as normas

Prego no grito e tacho os ferros na paleta
De boca aberta o queixo roxo vem de garra
Lida baguala que em muitos mete medo
Meu xucro oficio que por vicio fiz de farra

Baldas de Potro Cuiudo

Baldas de Potro Cuiudo
(Anomar Danúbio Vieira, Fabrício Harden)

O bagual mouro resolveu me exprimenta
Em seguida de munta quando campeava um estrivo
Mas que eu me lembre o homem comanda o cavalo
E o resto é pura bobagem criada pra vender livro

O bagual mouro resolveu me exprimenta
Em seguida de munta quando campeava um estrivo
Mas que eu me lembre o homem comanda o cavalo
E o resto é pura bobagem criada pra vender livro

Bagual tranqüilo nunca tinha corcoveado
De rédea andava costeado já no ponto de enfrenar
Deve ter sido por causa do Vento Norte
Se arrastou batendo forte com ganas de me sacar

Deve ter sido por causa do Vento Norte
Se arrastou batendo forte com ganas de me sacar

E as nazarenas que eu não carrego de enfeite
Resolveram provar os dentes tenteando a força na perna
O que se passa na cabeça de um matungo
Que agarra nojo do mundo e do tento que lhe governa

Pegou na volta com cacoetes de aporreado
Já que me encontro estrivado e ainda por cima de lua
Me fui na boca caiu sentado na cola
Já que frequentamo a escola da velha doma charrua

Levei os ferro e lhe enredei num quero-quero
Cavalo que eu considero respeita o índio campeiro
Deu mais uns talhos e viu que se topou mal
Seguiu mascando o bocal num trote bueno e ordeiro

Fiquei pensando co'as rédeas por entre os dedos
Nos mistérios e segredos deste ofício macanudo
Se um flete manso devalde se queda brabo
Deve ser obra do diabo ou baldas de potro cuiudo

Se um flete manso devalde se queda brabo
Deve ser obra do diabo ou baldas de potro cuiudo

E as nazarenas que eu não carrego de enfeite
Resolveram provar os dentes tenteando a força na perna
O que se passa na cabeça de um matungo
Que agarra nojo do mundo e do tento que lhe governa

Pegou na volta com cacoetes de aporreado
Já que me encontro estrivado e ainda por cima de lua
Me fui na boca caiu sentado na cola
Já que frequentamo a escola da velha doma charrua

Carta á Querência

Carta á Querência
(Mauro Raupp Martins, Xirú Antunes, Paulo Timm)

“Empessou já faz uns dias, de uma pomba de asa quebrada
E achei sua mirada tão parecida com a minha
Acontece com quem caminha e com quem voa também
Ave que céu não tem homem no lugar errado
Pássaro sem bater asas, homem desterrado”

Desde então eu amanheço e no espelho reconheço
Na minha cara espelhada a de meu pai em mim talhada
Minha mãe em meus olhos vejo e parece que me olhando
Sabe os motivos que ando com coração apertado
Por andar tão apartado das coisas que tanto amo

Tenho um olhar mal dormido de andar mateando comprido
Varando as madrugadas de quem já topou parada
E traz silêncios mais fundos sensação de fim de mundo
De quem perde a referência que eu não sei como se fala
E me ordena a arrumar a mala e partir rumo á querência

“É quando um vento levanta e já faz três dias que venta
Com uma voz agorenta me embrujando os ouvidos
Falando de eu já ter ido pra terra que anda em mim
Pro barro e pro capim, pedra moura e galpão
Pras cosas do velho chão, pitangueira e alecrin”

Assim no mais me despeço ajeito de novo um mate
Antes de mim este chasque á querência da figueira
Uma espécie de aviso a tudo que eu quero bem
Logo me vou daqui ao chão moreno que prezo
E já no mais me despeço da pena que vive em mim

Tenho um olhar mal dormido de andar mateando comprido
Varando as madrugadas de quem já topou parada
E traz silêncios mais fundos sensação de fim de mundo
De quem perde a referência que eu não sei como se fala
E me ordena a arrumar a mala e partir rumo á querência


Enviada por Lutiani Espelocin

Recuerdos da 28

Recuerdos da 28
(Knelmo Alves, Francisco Alves)

De vez em quando, quando boto a mão nos cobre,
Não existe china pobre nem garçom de cara feia,
Eu sou de longe onde chove não goteia
Não tenho medo de potro, nem macho que compadreia.

Boleio a perna e vou direto pro retoço,
Quanto mais quente alvoroço
Muito mais me sinto afoito.
E o chinaredo que de muito me conhece
Sabe que pedindo desce meu facão na 28.

Remancheio no boteco ali nos trilhos
Enquanto no bebedouro mato a sede do tordilho,
Ouço o mugido, o barulho da cordeona
E a velha porca retoçando no salão,
Quem nunca falta é um índio curto e grosso
De apelido de pescoço, da rabona o querendão.

Entro na sala no meio da confusão
Entro meio atarantado que nem cusco em procissão
Quase sempre chego assim meio com sede,
Quebro o meu chapéu na testa
De beijar santo em parede.

E num relance se eu não vejo alguém de farda eu grito:
- Me serve um liso daquela que matou o guarda.

Guardo o trabuco empanturrado de bala, meu facão,
Chapéu e pala e com licença vou dançar,
Nesses fandango levo a guaica recheada
Danço com a melhor china, que me importa de pagar,
O meu cavalo eu deixo atado num palanque
E só não quero que ele manque
Quando terminar a farra.

A milicada sempre vem fora de hora,
Mas eu saio porta a fora só quero ver quem me agarra.
Desde piazito a polícia não espero
Se estoura rebordoza me tapo de quero-quero,
Desde piazito a polícia eu não espero
Se estoura a rebordoza me tapo de quero-quero.

Entro na sala no meio da confusão
Entro meio atarantado que nem cusco em procissão
Quase sempre chego assim meio com sede,
Quebro o meu chapéu na testa
De beijar santo em parede.
E num relance se eu não vejo alguém de farda eu grito:
- Me serve um liso daquela que matou o guarda.

O Canto Das Esporas Andarilhas

O Canto Das Esporas Andarilhas
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Cansei muitos cavalos nas estradas,
Meus olhos se perderam pelos céus...
Carrego tantos sóis e chuvaradas
No feltro desbotado do chapéu!

Tal fosse um touro alçando que se esconde,
Meu sonho segue em mim além do vento...
As vezes vou buscar saber aonde
Se oculta no meu próprio pensamento.

Não tenho mais os braços de pau-ferro,
Mas muitas cicatrizes pelo couro...
E ouço, no silêncio, um triste berro
Do gado que levei pro matadouro...

Conheço a nostalgia e a paciência;
Carrego a imensidão nos meus aperos...
A estrada sempre foi minha querência
Na vida cotidiana de tropeiro...

E o canto das esporas andarilhas,
Repete-se em prenúncio do depois...
Pra sempre vou seguindo as mesmas trilhas,
No passo de quem vai junto dos bois...

Enquanto eu estradeio neste tranco,
O tempo anda correndo a evolução...
Eu fico com estes meus cabelos brancos
E as tropas vão, sem mim, de caminhão!

Não tenho mais os braços de pau-ferro,
Mas muitas cicatrizes pelo couro...
E ouço, no silêncio, um triste berro
Do gado que levei pro matadouro...

Conheço a nostalgia e a paciência;
Carrego a imensidão nos meus aperos...
A estrada sempre foi minha querência
Na vida cotidiana de tropeiro...

E o canto das esporas andarilhas,
Repete-se em prenúncio do depois...
Pra sempre vou seguindo as mesmas trilhas,
No passo de quem vai junto dos bois...

Enquanto eu estradeio neste tranco,
O tempo anda correndo a evolução...
Eu fico com estes meus cabelos brancos
E as tropas vão, sem mim, de caminhão!

E o canto das esporas andarilhas...

Mãezinha

Mãezinha
(Jayme Caetano Braun)

Estrela d'alva que ilumina a vida
Pelo fulgor que tem doçura e brilho
Nada é mais santo do que a mãe querida
Quando abre os lábios pra dizer: meu filho

Eu peço a Deus que possa sempre tê-la
Pois ela é vida que também é minha
O céu da noite tem por deusa a estrela
Mas no meu céu a estrela és tu mãezinha!