RIO DAS
FALAS (Jayme Caetano
Braun, Luiz Marenco) Nasceu pra
contador da velha história Que o tempo
dividiu em mais de duas De andar
vagando os céus, tropeando luas E bebedor
nativo das memórias Remanso em cada
canto onde se ajoelha Desde o sem fim
à imensidão de sóis Que vem beber
na sanga dos heróis Que a flor da
terra tinge de vermelha Há um repicar
de sinos missioneiros Num sonho
triste transformado em ausência E a mágoa
antiga que já foi querência No repicar dos
bombos bagualeiros Xirú vaqueano
de tropeada e domas Sem passaporte
pra bandear fronteiras E o rio da
história que hermanou bandeiras Na sina eterna
de trançar idiomas Índios e tigres
por matança e balas Ecos de um
grito, sapucay que sai Da flor das
águas transportando falas Do canto xucro
do Tupã Uruguai Caminho dos
chibeiros, contrabando Nascidos dos
dois lados que têm flores Leva nas águas
a mágoa dos sem nome Na espoliação
até não sabe quando Há um repicar
de sinos missioneiros Num sonho
triste transformado em ausência E a mágoa
antiga que já foi querência No retumbar dos
bombos bagualeiros Índios e tigres
por matança e balas Ecos de um
grito, sapucay que sai Da flor das
águas transportando falas Do canto xucro
do Tupã Uruguai
A geada é o
preço que jamais desconta
Nem mesmo um real no gauderiar que entangue
Branqueia tauras e regela o sangue
Mas se derrete quando o sol desponta.
Se faz
espelho no lagoão da sanga
Adoça as frutas e madura o trigo
Cinza do tempo que nos encaranga
Paguei o preço de brincar contigo.
Vai-se um
ano, mais outro, não me iludo
Foram tantas lichiguanas pelegueadas
Eu sinto frio, mas apesar de tudo
O meu destino é andar quebrando geadas.
Iguais as
que quebrei na juventude
Pisando vidros nas manhãs de gelo
As mesmas geadas da gamela do açude
Trago comigo esfarinhadas no cabelo.
Manta gelada
que não tem fragrância
E se faz água pra morrer neblina
As geadas pretas que esmaguei na infância
Viraram cinzas pra branquear minha crina.