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Cismando Com O Vento

Cismando Com O Vento
(Severino Moreira, Caine Teixeira Garcia, Zulmar Benitez)

Igual a um potro desbocado
Que se perde campo à fora
Treme barbelas e argolas
E assobia no alambrado
Arrepia os descampados
E o pêlo da cavalhada
Vem numa copla afinada
Duetando o berro do gado

Desbocado vento norte
Que vem me bater à fronte
Já chega de três ontonte
Me açoitando o chapéu
Vem fazendo escarcéu
Num redemoinho de fumaça
Por certo depois que passa
Nuvens choram lá no céu

Eu também sou desbocado
Cruzando a mesma querência
Tu abstrato, eu essência
Tu no ar e eu no chão
Tens no sopro a razão
Com a força que nos norteia
Tu cantas por boca alheia
E eu pelo coração

Vem mareteando os açudes
Levantando geada preta
Quando o dia faz careta
E não dá vaza ao campeiro
E quando vira pampeiro
E vai da alma até o osso
Vazando o pano grosso
Que abriga um fronteiro

O Vento e a Sanga

O Vento e a Sanga
(Zulmar Benitez, Miguel Cimirro)

Com o vento companheiro eu andava conversando
Reclamei das suas vozes que estão sempre cambiando
E no toco ele me disse: Feche os olhos, vá pensando
Pois quem fala com o vento, tem que estar imaginando

Foi falando como sanga, com seu jeito debochando
Numa longa gargalhada a flor d’água encrespando
La brisa calma del sauce quase muda de mansinho
Um sussurro ao ouvido, um romance, um carinho

No caminho fui pensando como um viejo cismador
Vou pedir pra um guitarreiro tocar pro vento cantor

Palha que entorna o mato, es peligro dos perigos
São tiflidos do passado, relembranças de perdidos
Lamenta o galho caído ao roçar no outro toco
Parece que ouve gritos de quem já estava morto

Foi tormenta de verão, veio logo a calmaria
Abriu o sol, ficou quietito, nem um galho se movia
Cantou longe o cardenal e o vento eu não ouvia
Foi-se embora o meu amigo, voltarei num outro dia

No caminho fui pensando como um viejo cismador
Vou pedir pra um guitarreiro tocar pro vento cantor


De Estância e Saudade

De Estância e Saudade
(Guilherme Collares, Zulmar Benitez)

Senti um nó na garganta
Quando saí da querência...
Tantas memórias recuerdos,
Que a alma velha acalanta,
E passam despercebidos!
Só se fazendo presentes
Quando a saudade maleva,
No peito sente a distância...

Acácia velha da estância,
Do adeus da m’ia partida,
Esperançava um retorno
Com flores amareladas,
No galpão dos meus arreios
Pelas guascas engraxadas,
Domavam potrada alçada
No lombo dos meus anseios.

Quando mirei as esporas,
Estrelas largas de sonhos
Pelas formas das rosetas,
Senti que a vida aragana
Também rodava dispersa
Como os destinos emersos.
Nas tristezas das partidas
E alegrias dos regressos!

Cada pedra do terreiro
Relembrava qualquer coisa
De algum passado remoto.
Num recuerdo caborteiro!
E a alma velha da estância
Gritava, em todos os lados,
Em contrapontos calados
Aos berros das minhas ânsias.

Da tropilha do destino,
Embuçalei a saudade
Que já vinha laço a fora
Na mangueira da m’ia alma.
Não tive sorte na doma!
E hoje, é potro caborteiro
Que, corcoveia no peito
Quando um recuerdo retoma...



De Estância e Saudade by guascaletras

Das Cruzes


Das Cruzes
(Severino Moreira, Cristian Camargo, Zulmar Benitez)

“Uma cruz é bem mais que uma cruz.
Depende da forma que se vê”.

São tantas a Cruzes, que o mundo tem
Porém raras vezes, se para pra pensar,
Que nem todas simbolizam suplicio
Nem todas nos plantam, argueiros no olhar.

O olhar que cruza. É um buenas tarde
Saúda quem chega, acena quem vai
E quando a mão é cruz sobre o peito
Simboliza a fé. “Em nome do Pai”.

Uma cruz que envelhece no vazio da Pampa,
É de quem carregou a cruz mais pesada,
E a cruz que ressalta n´algum mausoléu,
Traduz uma vida, que não faltou nada.

As cruzes que voam, em tarde de sol,
Se tem asas negras, são funerais,
Mas quando aparecem, com branco nas asas,
Retinas vislumbram os tempos de paz.

A cruz das estrelas, na quincha do pago,
É que da o sentido, na cruz da estrada
E as cruzes do pingo, que uso por trono
É onde eu cruzo feliz nas canhadas.

Os braços abertos é a cruz do corpo
É alma aberta, sentimento fraterno,
E esse calor, que brota por dentro,
Ameniza agruras, de qualquer inverno.

Na cruz de uma adaga, escora-se o golpe
A cruz no estanho é fogo mortal,
A cruz missioneira multiplica braços
E revive a história, num canto imortal.

A cruz na boca pede silencio,
A cruz a quem benze, tem dialeto,
A cruz no papel é escola da vida,
O aval na palavra, do analfabeto.

Esta na cruz, a paixão de Cristo
Da Cruz se fez o nome de alguém
Se a cruz representa, santíssima Trindade,
Tem a fé que traduz, o caminho do bem.

Estiagem


Estiagem
(Severino Moreira, Zulmar Benitez)

“Pra quem é de campo, ver o gado lambendo o barro e um campeiro desgalhando o mato para que não morra e fome.
Dói na alma. Não é o sul que nossos olhos acostumaram”.

Ao ver a pampa estendida
Até onde a vista alcança
Torreira triste descansa
Sem pressa de ir embora
Miséria gastando esporas
No pastiçal já gateado
Remoendo a fome meu gado
Aponta os ossos pra fora.

A sanga perdeu as forças
Que nem na ladeira anda
E o Patrão Velho não manda
O Vento Norte que falo
Lamber o pasto já ralo
Que só a chuva renova
Vai a Cheia e vem a Nova
Sem nenhum “rabo de galo”

O açude rachou a taipa
Numa soleira bagual
No fundo um lodaçal
Minguando a cada dia
- Quem sabe venha de cria
A negritude do poente
Que alumia a alma da gente
Quando o tempo velho estia

Mirando a quincha do pampa
No rumo do meu “Patrão”
Na mudez de uma oração
Que nunca aprendi a fazer...
Até me custa entender
Esse flagelo do gado
Se a mim sobram pecados
A tropa não deve ter.

A Pedra

A Pedra
(Severino Moreira, Zulmar Benitez)

“Um dia foi o bem e o mal.
Hoje é o flagelo de uma nação.
Nosso país está envelhecido,
Por que a juventude se consome pelo vicio”.

Da terra vem o começo
Na pedra se resume o final,
Pois na terra ressurge vida
E a pedra planta o funeral.

Da pedra surgiu a lança,
Que arrematou numa cruz,
É quem acende a cobiça,
Quando destapa e reluz.

Riscada foi “pai de fogo”,
Moldada se fez boleadeira,
Foi dor de escomungados,
“Mundanas” e feiticeiras,

Nos pés é fio que castiga,
Por vezes cala bem fundo,
Na cabeça mutila sonhos,
E a dor espalha no mundo.

Trás a sede que não sacia,
Deixa tudo em reviravolta,
Transitar “o caminho da pedra”,
É trilhar caminho sem volta.

É seixo na caricia das águas,
E gelo ao despencar do céu,
Na doutrina dos “Sete Povos”,
Foi o batismo dos “incréus”.

Na coxilha é monumento
Trincheira numa canhada,
No galpão “assenta o fio”,
Pra “gravata colorada”.

Assim se define “Pedra”,
Uma palavra universal,
Traduz miséria e luxo,
Todo o bem e todo o mal.

De Tempo e Tropa


De Tempo e Tropa
(Guilherme Colares, Zulmar Benitez)

A lenta imagem da tropa
Serpenteia estrada afora
Sucessão de hora após hora
Fundindo terra e peçunha
Rigores de mesma alcunha
Pro tropeiro linda estampa!
Conduzindo couro e guampas
Numa procissão terrunha.

Trago embebidos na imagem
Os verões e as soalheiras
Mastigando a polvadeira
Da gadaria assolhada
Trago no couro estampada
A marca das invernias
Poncho molhado faz dias...
...Até a alma gelada.

O mouro das mi'as confiança
Tranqueia mascando freio,
Carregando os meus anseios
Nos rumos dos meus desponte.
Companheiros de horizontes
Bem mais que um simples vassalo...
...Porque tropeiro e cavalo
São como a estrela e a noite.

A gadaria contesta
Berro após berro a tristeza
Ruminando as incertezas
De cambear rumo e querência
Longínquas reminiscências
De tantas tropas de outrora
Que rumbearam mundo afora
Ensimesmada de ausências

Já gastei basto e carona
Mangueando boiada "ajena"
Plantei luzes nas canhadas
Dos rincões por onde andei
Muitas tropas entreguei
Nessa sina de tropeiro...
...Voltei sempre repisando
Os caminhos que trilhei.

O mouro da mi'as confiança
Tranqueia mascando freio,
Carregando os meus anseios
Nos rumos dos meus despontes.
Companheiros de horizonte
Bem mais que um simples vassalo...
...Porque tropeiro e cavalo
São como a estrela e a noite.

Baile De Ramada


Baile De Ramada
(Luiz Godinho, Zulmar Benitez)

Quatro esteios, varas toscas, mata olho
De chão batido que nem eira pra feijão
São imagens criativas dos campeiros
Que deram origem ao nosso carramanchão.

O Marculino puxa o zaino frente aberta
Atira as garras e se bandeira pro outro lado
De rancho em rancho convidando a gauchada
Para um fandango com gaiteiro afamado.

Pena que o tempo galopeia sem parar
E lá adiante pode ser o fim da estrada
Talvez não tenha um baile destes campeiros
De chão batido debaixo de uma ramada.

A lua cheia vem chegando sem convite
E as estrelas se apresentam temporonas
O João Quati dá uma sova no pandeiro
E a rapaziada vai chinchando as querendonas.

Uma vaneira penetra  fundo na alma
E a gauchada se enleia de paixão
O mestre-sala anuncia o fim do baile
Se vai à noite e com ela uma ilusão.

Pena que o tempo galopeia sem parar
E lá adiante pode ser o fim da estrada
Talvez não tenha um baile destes campeiros
De chão batido debaixo de uma ramada.

Estampa


Estampa
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Fulgor de tropa no entrevero de um combate
Sabor de mete no romper das madrugadas
Mescla de sangue com fumaça de candeeiro
Clarim campeiro dos tahãs pelas aguadas

Sina andarilha e rancho a beira da estrada
Onde a pousada para o andante será eterna
Linha de espera ressojando na barranca
Graxa na anca da potrada que se inverna

É goela rouca de um cantador flor de taita
Ronco de gaita deusa borra do fandango
É um bagual que perde a doma e se retrata
Pra serenata das esporas e do mango

Isso é querência, isso é pátria, isso é nação
Isto é Rio Grande assim moldou-se a sua estampa

Rudes arados rebolcando a terra bruta
Mil recolutas e tropéis de gado alçado
Tiro de laço e boleadeiras nos varzedos
Velhos segredos de um galpão mal assombrado

É cancha reta e patacoadas nos domingos
Cacho de pingo bem quebrado a cantagalo
Olhar matreiro da morena, china linda
Que eu lembro ainda quando tive que campeá-lo

Boiada De Penas



Boiada De Penas
(Valdir Disconzi, Zulmar Benitez)

De pouco importa se o potro malacara
É de taquara e a invernada é só o terreiro,
A galopito por entre galpões e a casa,
Um piá dá asas ao instinto de tropeiro.

Enche seus olhos a criação reunida:
Vacas paridas e alguns touros pelo meio.
Não vai ser fácil para o nosso campeirinho
Levar sozinho esse gado até o rodeio.

Um ganso macho que tem pêlo de sinuelo,
Dá gosto vê-lo troteando firme na ponta,
Puxando a tropa que traz alçados e mansos,
Que sejam gansos, o que importa é o faz de conta.

Deus te permita, meu gurizito tropeiro,
Ser um campeiro de dobrar qualquer torena,
Mas por enquanto,  vai enfeitando teus dias
Com esta magia de tropear teus bois de penas.

Uma picaça vai se abrindo de mansito
E ele aos poquitos traz de volta a que destoa,
Leva o cavalo com cuidado e sem alarde
Porque já sabe que se apertar ela voa.

Por certo, pensa em um guri de cinco ou seis anos:
Faz falta um mano que me entenda e que me ajude
Vencer distâncias empurrando essa boiada,
Nessas tropeadas lá de casa até o açude.

Estância Velha Sou Eu


Estância Velha Sou Eu
(Guilherme Collares, Zulmar Benitez)

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e canto
Ofereço este acalanto
Ao que foste e que resiste
Ao progresso duro e triste
Que ameaça teu valor
Dor, angústia e dissabor
Que a despatriar nos insiste

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e sonho
Como um Angüera tristonho
Pelos ermos campos vastos
Com saudade dos meus bastos
Sanga, grotões e peraus
São tropas cruzando o vau
Do rio desses tempos gastos.

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e sei
És o legado que herdei
Dos sonhos dos meus antigos
Testamento proferido
Timbrado a pó de mangueira
Inventário de fronteira
Dos meus terrunhos sentidos

Estância velha, sou eu
Que sinto que penso e faço
Sou o derradeiro lanssaço
Da resistência em defesa
Da cultura e da nobreza
De não suportar teu fim
Que não quer que seja assim
A roubarem-te a beleza

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e falo
Sou centauro de à cavalo
A render-te este lamento
A nombrar-te aos quatro ventos
Como Gaúcho sem dono
Testemunha do abandono
Dos teus últimos intentos

Estância velha, sou eu
Que sinto, que penso e sei
És o legado que herdei
Dos sonhos dos meus antigos
Testamento proferido
Timbrado a pó de mangueira
Inventário de fronteira
Dos meus terrunhos sentidos

Xucro Ofício

Xucro Ofício
(Anomar Danúbio Vieira, Zulmar Benitez)

Nem bem clareia e já me encontro chimarreando
Ao pé do fogo que aquenta as madrugadas
Daqui um pouquito o sol desponta no horizonte
To desde ontonte com as idéias engarrafadas

Pra o parapeito do galpão arrasto as garras
Buçal na mão vou tiflando pra mangueira
Meio sestrosa me cuidando a matungada
Vem da invernada e fica flor de caborteira

Mas que me importa pois me levantei aluado
Cano virado das minhas botas garroneiras
Toda segunda tem bagual de lombo inchado
Adivinhando que passei de borracheira

Junto as argolas do cinchão no osso do peito
Procuro um jeito busco a volta e me enforquilho
Depois que monto e atiro o caixão pra trás
Só Deus com um gancho pra me sacar do lombilho

Me dá vontade de prender o buçal na cara
Deste picaço que esqueceu como se forma
Mas eu garanto que embaixo dos meus arreios
Conhece o freio e aprende a respeita as normas

Prego no grito e tacho os ferros na paleta
De boca aberta o queixo roxo vem de garra
Lida baguala que em muitos mete medo
Meu xucro oficio que por vicio fiz de farra