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O Que Me Encanta O Olhar

O Que Me Encanta O Olhar
(Caine Teixeira Garcia)

De nada vale um sorriso
Com falsidade no olhar
E de que serve um abraço
De quem não quer afagar
E aquele aperto de mão
Perde o sentido e a razão
Se ao invés do coração
Traz só inveja “no más”

Qual serventia de um laço
Se a destreza nos faltar
Esporas são mero enfeite
Em quem não sabe montar
E reafirmando o que falo
Qual o valor de um cavalo
Que pra lida se faz malo
Sem as rédeas respeitar?

Os horizontes são feitos
Para os que sabem sonhar
A vida tem mais sentido
Quando aprendemos a amar
As coisas simples do campo,
A china, o pingo, meu rancho
O meu guaipeca buerano
É o que me encanta o olhar

De nada vale o silêncio
Quando é preciso falar
A palavra é fio de adaga
Quando mais vale calar
E a seiva do verde amargo
Sorvida de trago em trago
Somente se faz regalo
Se há prazer em ofertar

De que nos servem arreios
Sem pingos para encilhar
Estrivos só são esteios
Prá quem sabe se firmar
O campo que dá o sustento
Também sabe dos  tormentos
Da dor e ressentimento
De quem foi prá não voltar...


Intérprete: Raineri Spohr

Queromana Mariquita


Queromana Mariquita
(Diego Müller, Eron Carvalho, Leonardo Borges, Filipe Corso, Rafael Ferreira)

Queromana – Mariquita – te traigo junto do peito,
Com lembranças de tuas "rédia”... que me deixaram sujeito!...
– Feito um “romance” antigo: daqueles que a gente conta,
E quedam presos no tempo... que inté o tempo perde à conta!

Atei o bocal no queixo do meu pingo, Zaino – estrela –
Pra “curá o trote” na estrada, tendo a desculpa de vê-la!...
Mas teu ranchito enfeitado, na beira do corredor,
Mostrou, nas portas fechadas, um semblante em desamor!...

Mariquita – pequenita – porquê estás fazendo assim?...
– Às vezes olha em meus olhos... noutras desvias de mim!...
Qualquer dia esbarro o zaino junto aos teus sonhos de prenda...
...E conto a minha intenção, querendo que me compreenda!

Queromana – Mariquita – sonhei contigo, é verdade:
Queria vencer as distâncias no corredor da saudade!...
Quem dera ser o teu par nalgum baile de “enramada”,
E num verso recitado... te convidar: – Namorada!

Sonho um dia – este tempo! – unindo nossos destinos...
E com um templo de leivas deixar de ser um teatino!...
Até imagino – faceiro – tu com um mate na mão,
Esperando que eu desencilhe bem no portal do galpão!

Mariquita – pequenita – esperando por teu sim,
Mandei bordar num lençinho um raminho de alecrim!...
...Pra te dar – como em regalo – selando o meu sentimento,
Depois que meu coração tu colgar junto a teus tentos!!!


Intérprete: Raineri Spohr



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*Queromana Mariquita: Tema dos antigos, como um romance, recolhido e divulgado por Paixão Côrtes. Muitas quadrinhas e estórias da Queromana Mariquita (ou Queromaninha Mariquita, ou só Mariquita) se perderam com o tempo.
*Romance: Modo como os antigos chamavas poemas contando estórias folclóricas, ou décimas, ou Romances. Ex.: Décima do potro baio – romance do potro baio – Romance do potro baio.
*Curá o trote: Desenvolver e firmar o trote do bagual.
*Bagual: Animal equino em estágio de doma, também chamado de redomão.
*Colgar: atar, juntar, enlaçar.

Pra Quem Já Conhece


Pra Quem Já Conhece
(Marçal Furian, Marcelo D´Ávila, Raineri Spohr)

Que estranho silêncio na volta do rancho –
Não vejo sorrisos nem ouço um saludo –
Os causos do tempo quedaram-se mudos,
Só resta a tapera no olhar dos caranchos.

O sol testavilha, na hora do ocaso,
Com nuvens lobunas fazendo fiador
Mostrando pra gente que mesmo a dor
Não surge no mais, por obra do acaso.

O mundo por si tem sempre dois lados:
A sombra só existe por causa da luz,
O brilho da lua é o sol que conduz,
Aprende com tombo o bagual bem domado

A lágrima triste no couro do rosto
Às vezes precede a alegria de um riso;
As flores rebrotam no tempo preciso
Depois das geadas das noites de agosto.

Pra cada rodada que a vida reserva
Há um pingo estradeiro bem manso de boca;
O amargo do mate será coisa pouca
Pra quem já conhece a doçura da erva.



Naquele Dia


Naquele Dia
(Zeca Alves, Jairo Lambari Fernandes, Márcio Rosado)

Naquele dia que partiste florerita
Ficou tão triste, tão profundo meu olhar
Rolaram lágrimas sentidas pelo rosto
E até o sorriso resolveu me abandonar

Restou o assombro do silêncio e a solidão
Peito vazio, rancho tapera e poesia
E a lua cheia lá no alto, florerita
Com tua ausência pareceu estar vazia

Na lividez da noite longa, o abandono
Perdendo o sono, vi o luar trocar de ponta
Naquele dia nem o sol nasceu tão forte
Pois do sereno do meu pranto não deu conta

No teu semblante pude ver, meu bem querer
Que voltarias pra esquecer aquele adeus
Porém minh'alma sem aguada dos teus olhos
Passará sede, ressecando os lábios meus

Com o teu silêncio eu aprendi na tua espera
Toda saudade é pra quem parte e pra quem fica
Quando a distância traduziu nosso destino
Aqui estavas de chegada, florerita

E junto a ti, vi meu sorriso retornar
A lua cheia sem lugar pra solidão
Amanheceu e o sol brilhou intensamente
Ao ver-te linda, de retorno pra o rincão

Na lividez da noite longa, o abandono
Perdendo o sono, vi o luar trocar de ponta
Naquele dia nem o sol nasceu tão forte
Pois do sereno do meu pranto não deu conta

No teu semblante pude ver, meu bem querer
Que voltarias pra esquecer aquele adeus.
Porém minh'alma sem aguada dos teus olhos
Passará sede, ressecando os lábios meus

Naquele dia que voltaste florerita...



Pitanga


Pitanga
(Filipe Corso, Rafael Ferreira,Vitor Amorim)

Morava sem muito luxo
Quase na beira da sanga
Era vizinha da tuna
Do cardo e da japecanga

E tinha por seu costume
Adoçar simples desejos
Pois quando um homem passava
Na boca lhe dava um beijo

Tinha a pureza estampada
Sob o semblante do rosto
E embora moça direita
Muitos provaram seu gosto

E assim passava seus dias
Sempre de trás da cancela
Dando o seu doce pra tantos
Sem deixar de ser donzela

E assim passava o aroma,
Seduzindo em cor tão bela
Junto ao vívido vermelho
Nas bordas do corpo dela

Se espalhava pelo vento
Embalada em seus perfumes,
Feitiço pra muitos tantos
Principiando os ciúmes

Lindeira, igual a tantas
Num viver dependurada
Esperando um moço certo
Que lhe colhesse adoçada

Já lhe quiseram impura
Com mistérios e artimanhas
Já foi motivo de amores
Afogada numa canha

E quando o inverno chegou
Seu rancho virou tapera
O doce se foi embora
Deixando o amargo da espera

E quem no inverno passou
E achou seu rancho tapera,
Não se preocupe a pitanga
Voltará na primavera!


Coração de Madeira


Coração de Madeira
(Adriano Alves, Cristian Camargo)

Pulso em ti, sou coração
Pulso em ti, a vida inteira
Trago em mim, a saudade dos teus tempos
Pulso em ti, em ti, madeira

Ouço o idioma que vive nos matos
Na lágrima que espelha junto à sanga
No céu dos ventos e asas solitárias
No chão que abriga os passos quando anda

Ouço a voz das luas claras, madrugadas
Sua intenção mais pura, poesia
Que beija a face d'alma e bebe em cantos
Vertente cristalina em melodia

Sou eu, teu coração vida e madeira
Silêncios, nostalgia e oração
Saudade, melodia em minhas veias
Que vibram no pulsar de outro coração

"Sou eu, pulsando em ti a vida inteira
Tenho marcas que colhi no céu dos tempos
E que abriguei junto ao meu corpo
Madeira, cada marca em mim batizo melodias
Que o timbre rouco da minha voz mostra seu jeito
Pois sou teu coração a traduzir
O que diz o coração dentro do peito"

Sou eu, teu coração vida e madeira
Silêncios, nostalgia e oração
Saudade, melodia em minhas veias
Que vibram no pulsar de outro coração

Pulso em ti, sou coração
Pulso em ti, a vida inteira
Trago em mim, a saudade dos teus tempos
Pulso em ti, em ti, madeira

Pulso em ti, a vida inteira
Sou eu, teu coração vida e madeira
Sou eu, teu coração vida e madeira

Instintos


Instintos
(Zeca Alves, Érlon Péricles)

No campo o sereno, o pasto e a macega
E os olhos vidrados da égua parida;
É a sina dos guachos, que o tempo não erra...
Botando sentido no ciclo da vida

No céu da querência uma cruz de asas largas
Fazia da sombra o agouro à partida,
E as garras afiadas enchiam de medo
Os olhos da cria que mal foi lambida.

Um vento abafado soprava do norte
E armava outro bote a cruzeira em rodilhas,
Por certo sabendo que a sobrevivência...
Peleia co' a morte por sobre a coxilha.

A lei do mais forte num voo rasante
Mostrou equilíbrio entre o campo e os seus;
Do instinto da cobra ao do velho carancho,
A vida renova-se aos olhos de Deus.

O tempo no campo consome a carcaça
E a égua renasce na origem da cria,
No bico, o carancho degusta sua presa...
Co'a própria frieza que a mesma teria.

Um vento abafado soprava do norte
E armava outro bote a cruzeira em rodilhas,
Por certo sabendo que a sobrevivência...
Peleia co' a morte por sobre a coxilha.

A lei do mais forte num voo rasante
Mostrou equilíbrio entre o campo e os seus;
Do instinto da cobra ao do velho carancho,
A vida renova-se aos olhos de Deus.

Romance De Estrada


Romance De Estrada
(Xirú Antunes, Marcelo Oliveira, Cristian Camargo)

Morena potykuru, deusa bugra dos meus sonhos
Teus olhos de noite buena, teu corpo cheirando a campo
Os olhos negros profundos são serenatas dormidas
Fugindo aos tristes do mundo pras horas calmas da vida

Amanhecia o herval com brisas de primavera
Te vi linda, enfeitiçada pelos aromas da terra
Eu já andava solito, mirando o tempo que passa
E ao te ver pelo caminho, arrastando alpargatas

Recorri à minha ternura sem murmúrios de palavras
Resguardei os meus encantos pra os acordes da guitarra
Outras manhãs, mais ardentes, recordaram a palavra
Que o vinho dos teus lábios derramou na madrugada

Depois vieram as lágrimas, veio a lembrança morena
Veio o teu nome na imagem das rondas de lua cheia
Ainda me encontro solito, abraçado na guitarra
Recuerdos da lua branca, dormida de serenata

Morena potykuru, deusa bugra dos meus sonhos
Teus olhos de noite buena, teu corpo cheirando a campo





potykuru : palavra do idioma guarani- botão de flor

Pescoceiro


Pescoceiro
(Zeca Alves, André Teixeira)

“La pucha” o corpo delgado
“Bien cepillado”, pêlo de lontra!
Mal “empezado” traz no olhar a “mala suerte”
“Aun que” se enraiva o boleador troca de ponta.

Sempre atorado, desinquieto, relinchando
“Medio” pelado das “cadenas” do buçal
“Cavallo lindo pero lleno” de rancor
Por faltar o maneador e a ciência do bocal.

Morde a si mesmo, “sacando” o couro “del pecho”
E por “derecho” se desdobra num salseiro
Aperto a cincha, senta e abraça o palanque
Sempre com gana de extravear os meus arreios.

Por sem costeio “solamente es tenteador”
Sai me porfiando, canta a espora no garrão
E a tal confiança no ensino racional
Nos apresenta mais baldas do que função.

Que judiaria uma tronqueira desse porte
Ter o destino pelo bridão extraviado
Pois é melhor dar “uns tirão” e impor respeito
Que vê-los feito pescoceiro e desbocado.

Guitarreiro


Guitarreiro
(Raineri Spohr, Fábio Maciel)

Guitarreiro sobre um cepo
Inda antes um mateador
Quem sabe em cada acorde
Aos poucos eu mate a dor

Tão saudoso te procuro,
Minha clara lua linda,
Não te vejo, sou mais triste
Nesse quarto que não se finda!

Há uns dias eu bombeava
E meu rosto refletia
Um pouco do que me entregas
Num jeito de quem sorria

Promisso pra quem te ronda
E por certo este teu riso
Te regalo uma milonga
E me basta, é o que preciso!

Faço um verso pra milonga,
Bem no quarto que és inteira
Até estranho o meu gosto
Pois a noite que é trigueira!

Guitarreiro sobre um cêpo
E logo mais um mateador
Quando amanhecer, vou vê-la
Sem um naco de dor!

Já temi o teu semblante
Em que vais minguando o claro
Mas teu sorriso ás avessas
Aos meus olhos já é raro

Pois me abanco junto á aguada
Sem os remansos do dia
Tem teu lume ao meu agrado,
De um tempo sem nostalgia!

Talvez eu suma um dia
E não me veja te olhando
Pois sou bem menos que o tempo
Que acaba me levando!

Mas é só buscar a volta
Tremeluzindo uma estrela
Quem sabe eu do teu lado
Na ansiedade de tê-la!

Faço um verso pra milonga,
Bem no quarto que és inteira
Até estranho o meu gosto
Pois a noite que é trigueira!

Guitarreiro sobre um cêpo
E logo mais um mateador
Quando amanhecer, vou vê-la
Sem um naco de dor!

Ponta De Lança

Ponta De Lança
(Márcio Nunes Correa, Fabiano Bacchieri)

Da minha tropilha crioula
Que mal chegou do banhado,
Trazendo barro encruado
Cardando pêlo e crina

Aparto o mouro tapado
Pra sentar um cogodilho
E acomodar meu lombilho
Pra lida que é minha sina

Quando encilho pra rodeio
Minha rosilha prateada
Uma corneta afiada
Vai desenhando o pescoço

Sento um de passarinho
Pra depois correr um cacho
Desses de amansar debaixo
Só pela arte de moço

Por isso que de a cavalo
Num pingaço bem tosado
Me sinto tão arranchado
Na querência tricolor

Porque me gusta demais
A contradança parelha
Da franja lambendo orelha
De um gateado escarceador

Pelos Vinte de Setembro
Numa zaina amilhada
Que abanando a cola atada
E embalando o meio-toso

Faz a sua reverência
Firmando a marcha troteada
Na avenida que é a morada
Pra o campo fazer seu poso

Que lindo um ponta de lança
Num curso bem calibrado,
Em matungo bem tosado
Um defeito vira nada.

Se o toso for beliscado
Eu tenho uma lei sulina:
Faço um de cola e crina
E devolvo pra invernada

Por isso que de a cavalo
Num pingaço bem tosado
Me sinto tão arranchado
Na querência tricolor

Porque me gusta demais
A contradança parelha
Da franja lambendo orelha
De um gateado escarceador

Até O Fim Dos Meus Dias

Até O Fim Dos Meus Dias
(Eduardo Muñoz, Hélvio Luiz Casalino, Raineri Spohr)

Por certo o primeiro pranto
Foi obra do nosso encontro
Pois quando apontei no brete
Já vinha de laço pronto
A mim não restou escolha
Pra honrar a contradição
Ajoujo de corpo e alma
Pelo talho do cordão

A alma tem dessas coisas
Que o corpo não acompanha
Será por esse motivo
Que tanto a gente se estranha?
Nessa tormenta de anseios
Ninguém apela pra fuga
Mas dá sentido pra vida
Na trajetória das rugas.

Me fiz cartão de visita
Pra quem eu nem conhecia
Mas garantia o costado
Até o fim dos meus dias
Pela quietude das horas
A alma ceva conselhos
E a cada gole de mate
Se quebram nossos espelhos.

A alma não se contenta
Enquanto a gêmea não vem
E nem faz causo de nada
Pra ofertar-se pra alguém
Me toca o peso da cruz
Quando a paixão adormece
Serão da carne os pecados
Que o coração reconhece?

A vida compõe espelhos
Em todo e qualquer lugar
Por um exemplo de glória
Por um sorriso no olhar
Mas um vistaço não lê
Toda a essência contida
E até na face do açude
A lua vem destorcida.

Me fiz cartão de visita
Pra quem eu nem conhecia
Mas garantia o costado
Até o fim dos meus dias
Pela quietude das horas
A alma ceva conselhos
E a cada gole de mate
Se quebram nossos espelhos.

O Gado No Corredor

O Gado No Corredor
(Márcio Nunes Corrêa, Hélvio Luis Casalinho, Rui Carlos Ávila)

A tropa magra na estrada pastando a sobra das cercas
Na extensão do caminho onde o sol tinge o rincão
Não há raças nesta fome nem repontes ressolando
Mas recuerdos ecoando pelos silêncios de peão

Qual será o fundamento que submete o campeiro
A costear gado e família no largo de um canhadão
Sorvendo a poeira do sul por um olhar lacrimado
Um despachado da sorte nos campos cá do garrão

Na estampa da cruz cravada um eco de solidão
Mirando de uma prisão o vasto de um horizonte
À beira do corredor vai compondo o universo
Gado e o homem num reverso do que é próprio deste chão

Por certo estes tropeiros cuidando o gado na estrada
Tiveram os sonhos minguados num mundo sem compaixão
Este que planta futuro jogando vidas pra margem
Emoldurando outra imagem, criando outra nação

E a ponta pura orelhana, lascando o casco na pedra
Faz poesia num lamento vagando sem direção
Umas cheias outras falhadas um só destino no ventre
No mesmo ofício indigente dos changueadores de pão

Por isso não julgues mal os filhos destes tropeiros
Que não empunham bandeira tendo paz no coração
São apenas conseqüência desta armadilha rude
Que lhes obriga atitude na inconsciência de uma ação

Na estampa da cruz cravada um eco de solidão
Mirando de uma prisão o vasto de um horizonte
À beira do corredor vai compondo o universo
Gado e o homem num reverso do que é próprio deste chão

Baeta Colorada

Baeta Colorada
(Adriano Alves, Raineri Spohr)

Desponta em alma de noite
Por sobre olhar de vida
Por ser chegada e partida
Sangrando em carnal vermelho
E a retina por espelho
Reflete e lua estampada
Na linda flor colorada
Que china prende o cabelo!

E pelo olhar feiticeiro
Sereno de tempo e céu
Pra o saludo no chapéu
De quem traz sonhos por dentro
E arrincona sentimentos
Que a noite por si conhece
Frente ao vermelho d’um leque
Que imita o bailar do vento.

Num rasguido compassado
De luzir tempo e espora
O lenço encarnado aflora
Na própria estampa campeira
Que se vê sangrar inteira
Em cada nota tirada
Na baeta colorada
Que é alma das três ilheiras.

E ao findar a sinfonia
De vida, sonho e candeeiro
Frente ao olhar do gaiteiro
Ressurge a linda guaiñita
Vermelho vestido em chita
E um sorriso por sinuelo
Oferta a flor do cabelo
E um beijo por despedida.

Retorna em alma de dia
Por sobre o olhar de vida
Por ser saudade e partida
Sangrando em carnal vermelho
Na retina por espelho
A luz do sol estampada
Na linda flor colorada
Que a china prendia o cabelo.