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REPASSANDO UM TENTO


TÍTULO
REPASSANDO UM TENTO
COMPOSITORES
LETRA
FABIO PRATES
ZECA ALVES
MÚSICA
FABIO PRATES
INTÉRPRETE
FRANCISCO OLIVEIRA
RITMO
CD/LP
1º CANTO FARROUPILHA DE ALEGRETE
FESTIVAL
1º CANTO FARROUPILHA DE ALEGRETE
DECLAMADOR
AMADRINHADOR
PREMIAÇÕES
3º LUGAR

REPASSANDO UM TENTO
(Fabio Prates, Zeca Alves)

Deitado na porta de um rancho estancieiro
Um cachorro ovelheiro espreguiça com sono
O tempo passou e ajustou de caseiro
Em outra estância, o coleira e seu dono

Na sombra espichada beirando a cozinha
Boceja e se aninha encostado na bota
De quem por vaqueano enxergou que a velhice
Traria outro encargo e o serviço de volta

Não sai mais para o campo na sombra do pingo
Nem quando um campeiro assoviando o convida
Empurra a cuscada mais nova e retorna
Que a idade lhe cobra os trompaços da vida

O tento ficou bem passado na trança
Das braças de um laço, chamado amizade
Que livra os tirões e se estende por conta
Firmando na cincha o peso da idade.

Quem n'outro serviço largou-lhes por velhos
Às vezes visita pra ver como estão
Então o coleira os recebe com festa
E faz da humildade uma grande lição.


Que Assim Seja

Que Assim Seja
(Zeca Alves, Daniel Cavalheiro)

Quando o silêncio vai pelo caminho, buscando a volta que a estrada tem,
Levo comigo as penas que me tocam, e tiro delas o que me convém;
Mirando longe, vou livrando as pedras, nesse destino que se fez regalo,
Pois, hoje sei que a cruz que se carrega não é motivo pra estropiar cavalo.

Levei um tempo pra entender a vida, na direção daquilo que procuro,
E perceber que a luz mostra o sentido, pra guiar quem vê melhor no escuro;
Talvez, por isso, encilho pingos "buenos", e não sofreno, por saber que assim...
Evito a dor primeira de cortá-los, e a do remorso que ia ser pra mim.

Se tenho sede de uma boa aguada, e de uma sombra pra desencilhar,
A própria sede serve de motivo, pra que eu procure onde descansar;
Digo, em verdade, que os meus cavalos, são a razão deste pensar, também,
Porque, se levo algum pelo cabresto, tem um disposto a me levar além...

A cada escolha que me dita um rumo, se estende o rastro pelo corredor,
Com fé na alma, vejo as consequências, e se me fiz, ou não, merecedor;
Por ter saído em busca de respostas, a vida, às vezes, cobra mais empenho,
Daí, reviso minhas atitudes, pra evoluir nessa missão que tenho.

É mais feliz quem sabe ver o mundo, com olhos claros, muito além daqui,
E recomeça reparando os erros, quando descobre a humildade em si;
Nem sempre o mínimo que faço é pouco, nem sempre o máximo é suficiente,
Só que meu ser tende a cuidar com jeito, do que preciso pra seguir em frente.

Notei então que, nada é por acaso, tão logo, a sina me afastou dos meus,
E, que a lonjura que nos faz distante, nos aproxima ainda mais de Deus.
Mas, se tiver de ser, que assim seja; sigo adiante no meu estradear,
Conforme posso, num tranco largo, sou dos que sabem onde quer chegar.

Mas se tiver de ser, que assim seja...




Que Assim Seja - Daniel Cavalheiro by guascaletras

Naquele Dia


Naquele Dia
(Zeca Alves, Jairo Lambari Fernandes, Márcio Rosado)

Naquele dia que partiste florerita
Ficou tão triste, tão profundo meu olhar
Rolaram lágrimas sentidas pelo rosto
E até o sorriso resolveu me abandonar

Restou o assombro do silêncio e a solidão
Peito vazio, rancho tapera e poesia
E a lua cheia lá no alto, florerita
Com tua ausência pareceu estar vazia

Na lividez da noite longa, o abandono
Perdendo o sono, vi o luar trocar de ponta
Naquele dia nem o sol nasceu tão forte
Pois do sereno do meu pranto não deu conta

No teu semblante pude ver, meu bem querer
Que voltarias pra esquecer aquele adeus
Porém minh'alma sem aguada dos teus olhos
Passará sede, ressecando os lábios meus

Com o teu silêncio eu aprendi na tua espera
Toda saudade é pra quem parte e pra quem fica
Quando a distância traduziu nosso destino
Aqui estavas de chegada, florerita

E junto a ti, vi meu sorriso retornar
A lua cheia sem lugar pra solidão
Amanheceu e o sol brilhou intensamente
Ao ver-te linda, de retorno pra o rincão

Na lividez da noite longa, o abandono
Perdendo o sono, vi o luar trocar de ponta
Naquele dia nem o sol nasceu tão forte
Pois do sereno do meu pranto não deu conta

No teu semblante pude ver, meu bem querer
Que voltarias pra esquecer aquele adeus.
Porém minh'alma sem aguada dos teus olhos
Passará sede, ressecando os lábios meus

Naquele dia que voltaste florerita...



Instintos


Instintos
(Zeca Alves, Érlon Péricles)

No campo o sereno, o pasto e a macega
E os olhos vidrados da égua parida;
É a sina dos guachos, que o tempo não erra...
Botando sentido no ciclo da vida

No céu da querência uma cruz de asas largas
Fazia da sombra o agouro à partida,
E as garras afiadas enchiam de medo
Os olhos da cria que mal foi lambida.

Um vento abafado soprava do norte
E armava outro bote a cruzeira em rodilhas,
Por certo sabendo que a sobrevivência...
Peleia co' a morte por sobre a coxilha.

A lei do mais forte num voo rasante
Mostrou equilíbrio entre o campo e os seus;
Do instinto da cobra ao do velho carancho,
A vida renova-se aos olhos de Deus.

O tempo no campo consome a carcaça
E a égua renasce na origem da cria,
No bico, o carancho degusta sua presa...
Co'a própria frieza que a mesma teria.

Um vento abafado soprava do norte
E armava outro bote a cruzeira em rodilhas,
Por certo sabendo que a sobrevivência...
Peleia co' a morte por sobre a coxilha.

A lei do mais forte num voo rasante
Mostrou equilíbrio entre o campo e os seus;
Do instinto da cobra ao do velho carancho,
A vida renova-se aos olhos de Deus.

Pescoceiro


Pescoceiro
(Zeca Alves, André Teixeira)

“La pucha” o corpo delgado
“Bien cepillado”, pêlo de lontra!
Mal “empezado” traz no olhar a “mala suerte”
“Aun que” se enraiva o boleador troca de ponta.

Sempre atorado, desinquieto, relinchando
“Medio” pelado das “cadenas” do buçal
“Cavallo lindo pero lleno” de rancor
Por faltar o maneador e a ciência do bocal.

Morde a si mesmo, “sacando” o couro “del pecho”
E por “derecho” se desdobra num salseiro
Aperto a cincha, senta e abraça o palanque
Sempre com gana de extravear os meus arreios.

Por sem costeio “solamente es tenteador”
Sai me porfiando, canta a espora no garrão
E a tal confiança no ensino racional
Nos apresenta mais baldas do que função.

Que judiaria uma tronqueira desse porte
Ter o destino pelo bridão extraviado
Pois é melhor dar “uns tirão” e impor respeito
Que vê-los feito pescoceiro e desbocado.