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Mostrando postagens com marcador Mauro Moraes. Mostrar todas as postagens
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A Amada

A Amada
(Mauro Moraes)

Amada eu tenho andado vago
Penando a lo largo nesta solidão
O campo me parece alheio
Pois perdi o freio do meu coração.
Não fosse esse orgulho macho
Se metendo a besta pra me atazanar
Eu juro que quebrava o cacho
E virava o tacho só pra te abraçar.

De louco fui pensar que a lida
Amansava a vida para te esquecer
Nem mesmo minhas tralhas todas
Nestas trilhas longas podem me deter
Perdi aquele encanto antigo
De correr perigo por um par de esporas
Agora vivo em desabrigo
Sem teu beijo amigo pra sair na aurora.

Amada, a pampa inteira é nada,
E a primavera é imensa para os meus pessuelos
Sem ti eu vou viver sozinho
Sem seguir sinuelo pelos descaminhos.  








Campereando

Campereando
(Mauro Moraes)

Na charla dos milongueiros
Contraponteando o silêncio
Eu sempre digo o que penso
Quando o violão me golpeia
E me garanto por terra
Cantando coisas do campo
Sem molestar o quebranto
Dum bordoneio queixoso
Daqueles do olhar lacrimoso
Quando voltamos pra dentro...

Campereando vou, campereando, vou
Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!

Guardo nas léguas dos olhos
Remorsos nunca esquecidos
Um catre "bueno" curtido
Pros dias que não enfreno
Tropilhas do mesmo pelo
Parceiras das invernadas
Quando amadrinho quarteadas
No pampa do meu Estado
E um coração solidário
Velando à luz dos luzeiros...

Campereando vou, campereando, vou
Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!

Sabe comadre milonga
Fulana nem sei das “quanta”
Sempre que um sonho se planta
Tenho com quem conversar
Ando de laço atorado
Marcado pelo meu jeito
Quando a dor abre o peito
E o vento nada responde
Talvez buscando horizontes
Eu mude a cara do tempo...

Campereando vou, campereando, vou
Vou eu a cavalo, encurtando o pago, campeador!

A Pedra Da Boleadeira

A Pedra Da Boleadeira
(Gujo Teixeira, Mauro Moraes)

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

A pedra da boleadeira era do campo e da terra
Ganhou as asas do céu pra ser palavra de guerra
Quando era pedra redonda, moradora deste chão
De certo já derrubava por conta de um tropicão

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Depois foi feita redonda, eterna em ciclos de lua
Paciência por precisão nas mãos de um índio charrua
Eram só pedras de campo, cansadas de andar à toa
Até que um dia alguém disse: Ah! Será que pedra não voa?

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Ganhou parceiras pra guerra e tentos pra irem ao céu
Uma firme e duas soltas, rodando sobre o chapéu
Voava de rumo e vento fazendo um “zum” pelo rastro
Quando pegava era um tombo, quando cruzava era pasto

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Pra bolear potros velhacos bem antes dos alambrados
A pedra da boleadeira tem ressábios do passado
Hoje em dia nem se enxerga Três Marias pelos céus
Se foi o tempo dos tombos, das potreadas e mundéus

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Mas sei que ainda destino na pedra, na boleadeira
Que quando tem rumo certo é muito mais que certeira
Mas sei que hay um rumo certo na pedra, na boleadeira
Que quando tem rumo certo é muito mais que certeira

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Campo Santo

Campo Santo
(Mauro Ferreira, Luiz Bastos)

Não, não digas nada
Que o silêncio é muito
Respeite a ausência de quem foi embora
Os caminhos no mundo de quem chora
Não tiveram o rumo que elegeram
Este é o lugar dos que adormeceram
Para uma noite imensa e sem aurora

São vazias as frases de consolo
A tristeza que aqui abre-se em véu
Faz baixarem-se as abas do chapéu
Para banhar um olhar de estrelas rasas
Esse é o lugar dos que bateram asas
Contaram nuvens e fizeram céu

Junto ao corpo sepulta-se a ilusão
Das sementes plantadas sobre as cruzes
Só tristezas e saudades brotarão
A terra que criou também desfaz
Na cruz cravada sob a dor dos vivos
O tempo que passou não volta atrás

Por isso visto negro e olho triste
Carregado das mágoas que confesso
Só o silêncio e mais nada é o que te peço
A morte ao levar uns maltrata os outros
Esse é o lugar dos que encilharam potros
E alçaram uma viagem sem regresso

Não, não digas nada
Que o silêncio é muito

Milonga Abaixo De Mau Tempo

Milonga Abaixo De Mau Tempo
(Mauro Moraes)

Coisa esquisita a gadaria toda,
Penando a dor do mango com o focinho n'água
O campo alagado nos obriga a reza,
No ofício de quem leva, pra enlutar as mágoas...

O olhar triste do gado atravessando o rio,
A baba dos cansados afogando a volta,
A manhã de quem berra num capão de mato,
E o brado de quem cerca repontando a tropa...

Agarre amigo o laço,
Enquanto o boi tá vivo,
A enchente anda danada molestando o pasto,
Ao passo que descampa a pampa dos "mirréis"
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser...

Amada!
Me deu saudade,
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo,
Que o baio anda solto,
E que toda a cuscada lá em casa comeu!

Coisa mais sem sorte este peste medonha,
Curando os mais bichados deu febre no gado,
Não fosse a chuvarada se metendo a besta,
Traria mil cabeças com a benção do pago...

Dei falta da santinha limpando os peçuelos,
E do terço de tento nas preces sinuelas,
Logo em seguidinha é semana santa,
Vou cego pra barranca e só depois vou vê-la!

Agarre amigo o laço,
Enquanto o boi tá vivo,
A enchente anda danada molestando o pasto,
Ao passo que descampa a pampa dos "mirréis"
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser...

Amada!
Me deu saudade,
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo,
Que o baio anda solto,
E que toda a cuscada lá em casa comeu!

Amada!



A Cusco E Mangaço

 A Cusco E Mangaço
(Mauro Moraes, Anomar Danúbio Vieira)

Quando esparramo meu laço
Calçando o zaino na espora
Num combate campo a fora
Contra um boi mandando pata
Quis a mala suerte ingrata
Que eu errasse aquele pealo
E que rodasse o cavalo
Virge! quase que me mata

Mas como eu sou vaqueano
Cruzei a perna ligeiro
Só escutei o entrevero
De pingo, terra e boléu
Quando finco meu chapeú
Bem debochado na nuca
Nem diabo, nem arapuca
Me cambeiam lá pro céu

Chega, chega, pega, pega
Que o zebu é caborteiro!
Me entrincheirei nas macegas
Atiçando os ovelheiros

E não é que o boi me veio
Causa do pala encarnado
Trazia um cusco agarrado
Bem na junta do garrão
Meu cachorro Tradição
Mordendo o tronco da oreia
Pressentindo a coisa feia
Virei o mango na mão

E aprumei o pitangueira
Bem no miolo do tirano
Nisso já vinha meu zaino
Me procurando no espaço
Coisas da lida de laço
Pra quem anda de à cavalo
Se eu não derrubo de um pealo
Derrubo a cusco e mangaço

Chega, chega, pega, pega
Que o zebu é caborteiro!
Me entrincheirei nas macegas
Atiçando os ovelheiros

Batendo Casco

Batendo Casco
(Mauro Moraes)

Num trote fronteiro de atirar o freio,
Vou topando o vento, só por desaforo
De ganhar a vida num gateado oveiro,
Louco de faceiro, junto dos cachorros

Pelo campo-fora, pelas campereadas,
Apresilho os olhos num florear lindaço
De arrastar pro toso as ovelha-mestra,
E tudo que não presta de arredor do rancho

Me pilcho bem lindo, tipo pro namoro
Cabresteando as rugas deste amor bagual
Que ao cambiar das léguas, vai boleando a perna
Pra Santana Velha do Rio Uruguai

De sovéu bem curto, vamo meu cavalo,
Amagando pealos nesse mundaréu
Atorando as chircas numa manga d'água,
Amadrinhando a mágoa sem tirá o chapéu

Semo um do outro sem rasgá baxeiro,
Adelgaçando o pelo neste manancial
Aparando as crinas, do pescoço a orelha,
De uma égua prenha sem passa o bucal

Me pilcho bem lindo, tipo pro namoro
Cabresteando as rugas deste amor bagual
Que ao cambiar das léguas, vai boleando a perna
Pra Santana Velha do Rio Uruguai

Do Rio Uruguai, do Rio Uruguai, do Rio Uruguai

A Boa Vista Do Peão De Tropa

A Boa Vista Do Peão De Tropa
(Mauro Moraes)

Nos rincões da minha querência, arrabaleira conforme a vontade
Me serve um mate, pampa minha, nesta vidinha que me destes
Antes que embeste a novilhada, prá o mundo alheio das porteiras
Saúdo a poeira destas crinas, que me arrocinam sujeitando

E da garupa do cavalo, faço um regalo à ventania
Que na poesia destas léguas, tomo por rédeas e conselhos
Chamo no freio a coisa braba, o tempo é feio, mas que importa
Quando se engorda na invernada, não falta nada
Prá quem baba de focinho levantado e mais curioso

A fim de ir, a estância do passo, na direção de casa, costeando o arvoredo
O meu desespero porfia co'a tropa, fazendo o que gosta ao sul de mim mesmo
E todo o bem que havia maneado ao destino, divide caminho com a rês que amadrinha
O rio que eu não via, mimando de sede, a minha saudade

Na função dos meus afazeres, rememorados conforme a manada
Vou ressabiando afeito a fadiga, nas horas mingas de sossego
Talvez melhore durante a sesteada, sou por demais igual a campanha
Tamanha a alma de horizonte, ali defronte os cinamomos

Já não habita a teimosia, atropelando o meu rodeio
Quando me agüento no forcejo, pra erguer no laço os caídos
Não me lastimo, nem receio, vou pelo meio do sinuelo
Tocando manso os mais ariscos, só pelo vício de por quartos
Cuidar do gado, rondando o baio, que amanuceio

A fim de ir, a estância do passo, na direção de casa, costeando o arvoredo
O meu desespero porfia co'a tropa, fazendo o que gosta ao sul de mim mesmo
E todo o bem que havia maneado ao destino, divide caminho com a rês que amadrinha
O rio que eu não via, mimando de sede, a minha saudade





Juntando Os Gravetos

Juntando Os Gravetos
(Mauro Moraes)

Eu tenho muito, dessa mania de querer escrever de fazer de tudo um pouco
E sempre dedilho a palavra de alma lavada juntando este tempo louco
Se a trova anda em desova é porque o violão dilacera quem lê
E a porta logo escancara com os olhos em brasa pagando pra vê

Na distância de quem espera à léguas ando tocando o cavalo
Um baio bem encilhado, e às vezes topo com o gado, lambendo o sal no rodeio

Ando à procura de alguém que me de um aparte também é verdade
E ainda tiro o chapéu, olhando firme pro céu, queimando a carne
E desde cedo me vejo em conflito comigo, levando cada baita pealo,
Coisas de pampa e fronteira, campo e campeiro, tomando mate

Tristeza vou pôr uma beca, sair campo a fora, prosear com a querência
Juntando os gravetos saber como anda as ovelhas
E algumas porqueiras que eu gosto de ter

Lá em casa na hora do rango, a cuscada late, bate-cola
O cheiro da bóia é bom, saudade me passa o pão e o leite dos guachos
No pátio a solidão varre o cisco, o coração sabe disso e se esparrama nos galhos
Logo o violão mete bronca e antes que a vida responda, que mal tem um agarro

Tristeza vou pôr uma beca, sair campo a fora, prosear com a querência
Juntando os gravetos saber como anda as ovelhas
E algumas porqueiras que eu gosto de ter

Um Milongão Dos Veiaco

Um Milongão Dos Veiaco
(Anomar Danúbio Vieira, Mauro Moraes)

Aba larga retovado, pala de seda no braço
E o choro fino do aço das chilenas no garrão
Encilhei um milongão, não vi que era dos veiaco
E sacudiu os meus caco bem no que sai do violão

No alambrado das cordas quis me apertar num floreio
Aprumei um bordoneio bem na dobra da virilha
Quando um taura se enforquilha é duro de se pelar
Se me ponho a guitarrear sou pampa em riba da encilha

Prá ginetear de bolada um milongão dos veiáco
Hay que tener fé no taco e uma alma guitarreira
Um batidão de fronteira mais firme do que um palanque
Que desde o primeiro arranque já enrede o mal na açoiteira

Do jeito que o diabo gosta se prendeu mandando garra
No parador da guitarra escondeu a cara com as mão
E eu gritei com o milongão e aticei a cachorrada
Que a vida não vale nada se não se tem tradição

Tem que ter corpo leviano e um dedilhado campeiro
Pra mostrar pra um caborteiro qual é o pau que dá cavaco
Calça os ferro no sovaco, esfrega o pala na cara
Não é qualquer um que pára num milongão dos veiaco

Prá ginetear de bolada um milongão dos veiáco
Hay que tener fé no taco e uma alma guitarreira
Um batidão de fronteira mais firme do que um palanque
Que desde o primeiro arranque já enrede o mal na açoiteira

Moirão a Moirão

Moirão a Moirão
(Mauro Moraes)

De certa feita lá pelas tantas
Troquei de manhas meu andejar
Lanhei meu braço, tiro de laço
Na picardia do linguajar
Num gole feio de um tira gosto
Num buenas tardes me fui chegando
Desencilhando qualquer domingo
Onde termino me aquerenciando

E vez por outra num lusco-fusco
De brilho um forte me tapo o rastro
Onde me escapo da marcação
E num boleio de despedida
Me desespero levando a vida
Como alambrado
Moirão a moirão

Por certo ainda de muito andar
Meu fim de mundo terá lugar
E as distâncias que peregrinam
Darão aos lírios onde brotar
De palo a palo tranqueando a sorte
Por invernadas irei seguir
Arremedando os vagalumes
Meus queixumes virão bulir

E vez por outra num lusco-fusco
De brilho um forte me tapo o rastro
Onde me escapo da marcação
E num boleio de despedida
Me desespero levando a vida
Como alambrado
Moirão a moirão



Enviada por Liane

Fim de Mês

Fim de Mês
(Mauro Moraes, Juliano Trindade)

Fim de mês, é minha vez
Outra vez ao teu encontro estou indo
Pra rever o teu sorriso infindo
E também beijar os teus lábios tão lindos
Fim de mês, estou feliz
Os meus rumos cantam, o coração me diz
É chegada a hora de bandear aquela estrada
Pra poder rever a minha namorada

(Não sei viver sem tua cantilena
Morena linda que é meu bem querer
Tudo que eu preciso são tardes de domingo
Aflorando o nosso conviver
Tudo que eu preciso são tardes de domingo
Aflorando o nosso conviver)

Toda vez que estou por vir
A saudade é um campo que não tem mais fim
Teus anseios são gorjeios em serenata
Festejando a anunciação das madrugadas

 
Enviada por Liane

Assim no Más

Assim no Más
(Mauro Moraes)

Por conhecer a lida que a vida me deu
Meu galopar de moço escramuça de dor
Quando te vejo vindo meu fruto da mata
Arrastando alpargata carente de amor

Parece que o silêncio das rondas noturnas
Amontam o potro arisco da imaginação
Quando te espero cedo meu rumo isolado
Lavando o amargo apesar da ilusão

Esporiei reminiscências com pesadas nazarenas
Na esperança que a saudade amansasse as minhas penas
Mais dias menos dias domando pelegos
Vou arranjar sossegos que a espera me deu
Embriagando mágoas nas águas da sanga
Onde sovei as pampas meus sonhos nos teus

Nas ressolanas tardes de anseios trocados
A terra prometida arando restevas
Guardando pra semana o mel da lichiguana
E a manhã castelhana que habita as estrelas

E assim no más me perco alumbrado de achegos
Em meio a circunstância dos mesmos juncais
Que te acolheram nua meu resto de lua
No poente charrua emponchado de paz



Gracias Liane