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ENTRE DEUS E OS QUE ME ESCUTAM


TÍTULO
ENTRE DEUS E OS QUE ME ESCUTAM
COMPOSITORES
LETRA
LISANDRO AMARAL
MÚSICA
LISANDRO AMARAL
INTÉRPRETE
LISANDRO AMARAL
RITMO
MILONGA
CD/LP
15º ACAMPAMENTO DA CANÇÃO NATIVA
FESTIVAL
15º ACAMPAMENTO DA CANÇÃO NATIVA
DECLAMADOR
AMADRINHADOR
PREMIAÇÕES

ENTRE DEUS E OS QUE ME ESCUTAM
(Lisandro Amaral)

Rebenque argola de alpaca,
Mais que humilde nazarena,
Um baio de tranco manso
Que apelidei Lua Buena

Cuido um campo - como meu -
Entre a fé destas ruinas
E o que eu recorro cantando
Benzo com vento nas crinas.

Eu cuido um campo entre Sete Reduções
Reserva bugra de empedrado e mato fundo
Eu cuido um campo onde ao redor florescem grãos
E os meus irmãos sabem bem pouco do meu mundo

Eu cuido um campo entre Deus e os que me escutam
Reservo a voz juntando gado em mato fundo
E os palcos largos que me esperam canto antigo
Rezam comigo todo amor que devo ao mundo

Abro picadas pra o gado
Que há muito não ia lá
E um zaino bueno que encilho
Guarda pitangas no olhar

Bocal de ouro em sua raça
Hoje em pilchas couro cru
Cincha terneiro, amadrinha
E às vezes corre um tatu.
    
Pedi nas rezas este campo e pingos novos
Reservo a eles meus conselhos cavaleiros
Onde as coxilhas no outono abrigam gado
Vou educá-los como pingos de guerreiro

Eu cuido um campo entre ruínas e miséria
Pele morena avermelhando m’boitatá
Nasci num pago onde a semente anda mudando
E poucos sabem porque vim Maçambará

Cavalo bom companheiro
É o que respira sereno
Engrossa o pelo no inverno
E sabe a hora que enfreno

Eu seleciono tropilhas
Recorredor envelheço
Respeito o campo e seu povo
E o que me toca agradeço

Nas noites claras rezo em canto aos que me escutam
Reservo ao índio meu pedido de perdão
Também de pedra meu cantar não se termina
Pois tenho a sina Tiarajú no suor das mãos.




SEMENTE DE LUA

Título
SEMENTE DE LUA
Compositores
LETRA
LISANDRO AMARAL
MÚSICA
LISANDRO AMARAL
Intérprete
LISANDRO AMARAL
Ritmo

CD/LP
3ª ALDEIA DA MÚSICA DO MERCOSUL
Festival
3ª ALDEIA DA MÚSICA DO MERCOSUL
Declamador

Amadrinhador

Premiações
1º LUGAR
MELHOR ARRANJO
MELHOR LETRA
MELHOR INTÉRPRETE: LISANDRO AMARAL

SEMENTE DE LUA
(Lisandro Amaral)

De uma semente de lua
Nasce o cantar de um tropeiro
Que acende olhos noturnos
para enxergar alma adentro

No céu escrito entre amores
Na poesia dos ventos
E em toda vida na estrada
Com seus presságios de tempo

Apeio e componho as garras
Olhando a tropa que sente
Porque meu canto de ronda
Tem um mistério inconsciente

Que aperto junto da cincha
Olhar de lua em semente
E vejo que o campo é Deus
Rondando a alma da gente

Canto semente de lua
Pedindo luz pra viver
Sorriso livre entre a noite
Que espera o sol pra morrer

Canto de paz maternal
No olhar da lua redonda
Bebendo alma e sereno
Benzendo aquele que ronda

"Talvez o próprio silêncio respire junto ao meu mouro
Que adormeceu sobre as garras, suas virtudes de touro
Talvez entenda, sonhando, porque é semente de lua
Que bebe a voz do sereno, germina um canto charrua
Depois se funde ao orvalho e sobre a tropa flutua
Escute a voz escondida que mora além da paisagem
Perceba além desta imagem que te oferece o silêncio
Onde respiro o que penso à noite, a noite q que passeia nua
E sobre o campo flutua na poesia dos ventos
Pra germinar alma adentro uma semente de lua".


NA ESTÂNCIA DO SOSSEGO

Título
NA ESTÂNCIA DO SOSSEGO
Compositores
LETRA
GUILHERME COLLARES
MÚSICA
LISANDRO AMARAL
CRISTIAN CAMARGO
Intérpretes
LUIZ MARENCO
CÉSAR OLIVEIRA
Ritmo

CD/LP
19ª GAUDERIADA DA CANÇÃO NATIVA
Festival
19ª GAUDERIADA DA CANÇÃO NATIVA
Declamador

Amadrinhador

Premiações
MELHOR TEMA CAMPEIRO

NA ESTÂNCIA DO SOSSEGO
(Guilherme Collares, Lisandro Amaral, Cristian Camargo)

"Diz o Lalinho pro Olavo na cozinha:
- Toca a tropilha do potreiro do açude
E grita o Lúcio pro Beto, lá na mangueira:
Levamo os poncho, facilita o tempo mude"

Um galo corta o silêncio da madrugada
A lua nova vem mangueando a escuridão
A cavalhada chega quieta, e na mangueira
Vapor de lombo se mistura à cerração

Levo a cabresto este meu baio cabos negros
Um companheiro de trabalho e de anarquia
Groseio os cascos, amolecidos de sereno
Enquanto a D'alva reponta a barras do dia

O negro Olavo sai falando nas mimosa
Tapeando a cara de um mouro bruto de freio
E grita o Beto pra baia marca virada:
- Afrouxa o lombo, que o mango te parte ao meio

É no rodeio do Sinuelo que eu sou gente
Abro meu baio pro lado oposto da trança
Um touro berra laçado da meia cara
Garreia o bruto, tio Lalo, que ele se amansa

No fim do dia, de volta a hora do mate
De causo e risos que um campeiro não se entrega
Sem nos dar conta resgatamos nossa essência
Enquanto a lua vai nascendo atrás das pedras

Estância velha, Sossego, Rincão das Palmas
És rumo e norte, aonde encontro guarita
Herança bruta timbrada a casco de potro
Lida gaúcha que da força à nossas vidas.


Iramirim

Iramirim
(Rafael Machado, Kiko Goulart)

Iramirim resmungão...
Bom vizinho, companheiro,
Tão semelhante ao Barreiro
No quesito construção
Salvo pela decisão
De mesmo portando asas
Ter escolhido erguer casa
Pra baixo, dentro do chão!

Rude noção de ternura
Somada - antes de tudo -
Ao pampiano conteúdo
Da gaúcha arquitetura.
Só o colégio da planura
Sabe que ao descampado
Uma coisa é ser alado
Outra é gostar de altura.

Quando sem ocupação
Chuleio teu ir e vir.
- Como me entrete assistir
Tua movimentação!
Com tanto encargo, função...
Duvido muito sobrar
Tempo para lamentar
Ter nascido sem ferrão!

Como se nunca, jamais...
Por um acaso ou azar
Pudessem ameaçar
Tuas posses territoriais.
Numa dessas teus anais
Garantem que tua vinda
Pra essa terra tão linda
Foi para não sair mais!

Além disso – meu lindeiro –
Tem esse mel que fabricas.
- Não há doçura mais rica
E pura no mundo inteiro!
Quantas vezes de meleiro
Semeei punhados de cinza
Pra não perder – João ranzinza –
O rumo de teu carreiro.

- Quantos anos desde a infância...
Destas lides, seus enredos?
- Não posso contar nos dedos
Saudade, tempo... Fragrâncias!
Hoje os rumos são distância
E as cinzas, um pesadelo
À entordilhar meus cabelos
Conforme as circunstâncias.

Neste ofício pacholento
De amar o chão e cantá-lo
Já me espelhei nos galos,
Nos grilos, no próprio vento!
Só agora me concentro
E confesso sentir ciúme
Do telurismo que assumes
Embicando terra adentro!


Intérprete: Lisandro Amaral

Contrariedades

Contrariedades
(Miguel Cimirro, Cristian Camargo)

Os campos estão vazios
E ventos não sopram mais
Na suavidade ondulada
Das coxilhas e parronais
Já sem gados e manadas
No pasto chora el rosilho
E a quietude manhãneira
Que um quero-quero feriu

A sanga da várzea do salso
Foi cortando mansamente
Da água restou quimeras
Que morreram nas nascentes
E o velho posto do umbu
É tapera nas lonjuras
Só em silêncio um palanque
Testemunhando amargura

"Por certo, as contrariedades
Que florescem nos humanos
Apeiam na hora triste
Daqueles que aqui plantaram
Seguem silêncio o palanque
E eu já nem sei de mim mesmo
Os campos seguem vazios
E os homens seguem a esmo"

Como ter vida serena
Se não há alma memória
Pra que ter pilas e glórias
Se o mundo anda avesso
Ninguém entende mais nada
Ou nem sabe de si mesmo
Eu ando a buscar respostas
Ainda que eu ande a esmo

A sanga da várzea do salso
Foi cortando mansamente
Da água restou quimeras
Que morreram nas nascentes
E o velho posto do umbu
É tapera nas lonjuras
Só em silêncio um palanque
Testemunhando amargura


Silêncio e Pedra

Silêncio e Pedra
(Lisandro Amaral, Aluísio Rockembach)

Silêncio e pedra, molho a alma qual o rio
Canoa e remo, misterioso igual tajã,
Temendo as chuvas, pesco aos olhos veraneiros
De um céu inteiro, que reflete o Camaquã

Andei no tempo igual as águas, nada mais
Por tempo sei que os meus silêncios pensadores
Igual a tantos que remando anoiteceram
Silêncio e pedra um tanto mais que pescadores

Alma e rio, dorme o cio de quem passou
Junto a barranca que me viu, silêncio e medo
Alma em cio, sabe o rio que em mim plantou
Água e vida que se escapam pelos dedos.

Silencio e pedra, molho a vida em meio ao rio
Remo e canoa, mais alerta que um tajã
Temendo os ventos, sonho aos olhos veraneiros
De um mundo inteiro, que remei no Camaquã

Andei no tempo igual as águas, nada mais
Por tempo sei que os meus silêncios pensadores
Igual a tantos que remando anoiteceram
Silêncio e pedra um tanto mais que pescadores

Alma e rio, dorme o cio de quem passou
Junto a barranca que me viu, silêncio e medo
Alma em cio, sabe o rio que em mim plantou
Água e vida que se escapam pelos dedos.


Milonga de Tempo e Vento

Milonga de Tempo e Vento
(Lisandro Amaral)

Transportei - me ao tempo largo
Dos tribais e tolderias,
Poder que tem a poesia
De ir onde a alma implora,
Alma que vem e que chora
- Com saudade do seu tempo-
É a mesma alma do vento
Que nunca sabe onde mora...

Desencilhar - tempo novo-
É acordar primavera,
Ressuscitar as taperas
Quinchadas pela existência...
É despertar muita ausência
E andar sovando badana
Numa milonga pampeana
-Saber a voz da querência-

Veja a luz da minha estrada
Refletir na estrela antiga
Do meu picaço que abriga
Florão de lua na fronte
E sabe dos meus repontes
Por andar há muito tempo
Seguindo o rumo do vento
Que sopra os meus horizontes

E aqui estou – tempo velho-
Cruzando o portal da vida...
Quem sonha buscar guarida
Sabe os motivos que imploro,
Sabe dos versos que choro
Com saudade do meu tempo
Por ter a alma do vento
Também não sei onde moro...

Porém eu sei dos andantes,
Suas almas e seus medos,
Das lágrimas e segredos
Que habitam as madrugadas
Porque a vida é uma estrada,
Passo -a - passo pelo vento,
Onde só a mão do tempo
Sabe o fim da caminhada...


Mirada

Mirada
(Lisandro Amaral)

Nem o sol clareava bem a humildade dos campeiros
E a milícia de tropeiros já ia ao tranco na estrada;
Reinava a força dos pingo, pechando pra São Domingos todo o vigor da boiada.

(A tropa lenta e manheira, pesava no corredor,
E o empenho da culatra – cantava no arreador -
E o capataz comandava, junto à poeira que tapava, os que faziam fiador.)

CAMINHO largo aos que miram com olhos de chegar cedo,
CAMINHO lento aos que enxergam as distâncias de um tropeiro…

Mil e pico de boi gordo rumo ao céu de uma charqueada;
Passo lento, feito todos, que meus olhos bolicheiros,
Viram passar resmungando entre berros e bocejos…
…junto ao destino de boi que leva a própria carcaça
E deixa a imagem que passa chorando o próprio cortejo…

Cria "dadonde" o mulato corpo leviano num mouro?
E aquele feições de touro que, quando ergue a soitera
Parece erguer a bandeira numa "escramuça" de guerra?

Maior herói farroupilha se torna o taura em vigília,
Num fiador ou na culatra, somente a estampa relata
Donde vieram os pampeanos que empurram bois e existência,
Pra terem mais que a experiência na altivez de vaqueanos!

CAMINHO largo aos que miram com olhos de morrer cedo,
MIRADA índia que enxerga a vida além das janelas…

Um céu de maio nos ombros denuncia o veranico;
Um bragado – pingo e pico – atrás de um boi se desmancha quando a tropa negaceia,
Parece levar nas veias coragem abrindo cancha, por crioula e libertária,
E a nobreza no combate que se escapa e não se prancha
Por que traz de Gato y Mancha sua alma hereditária.

Muitos anos de bolicho, tantos outros de quilero
E me aquerenciei pulpero, dono de mim, junto aos meus,
Numa linha de fronteira onde a altivez campeira perpetuou-se em hombridade!

E as previsões de taperas que assombram quem permanece:
Lavrando a boi – feito prece – mariposeando a quietude
Mesmo que o campo se mude para expandir-se a cidade…
Hão de beber humildade estes tropeiros do nada,
Que sempre encontram aguada nos descaminhos do rumo
Em pulperias pro fumo e goles de madrugada!

CAMINHO lento que para junto ao balcão do vendeiro,
AGUADA antiga que nutre a solidão de um tropeiro…

Buenos dia!!!
- Da onde o fumo? Pergunta um, dos que chegaram primeiro.
- De onde veio – lhe devo! Pro céu te leva certeiro!

Num sorriso ergueu-se a face judiada do forasteiro.
- Deste mesmo, um naco bueno, pra o picumã do chapéu
Que dos perigos da estrada somente quero a morada e o catre largo do céu!

- A canha sim te garanto a procedência serrana;
De enfeitiçar querendonas e adormecer no teu ninho.

- La pucha! Melhor que vinho! Disse o segundo campeiro.
- Duas garrafas pulpero.
Que não me falte dinheiro pois quero ainda umas bala.
Pois mais adiante se fala de um povoado além do passo
E se não rondo – me passo – e adoço alguma janela
Roubando alguma donzela pra descansar no meu braço.

- Não facilita os cachorro te manotearem do pala
E no lugar da donzela, tu te agarre com o pai dela que gosta muito de bala.

Caminho largo que para pra algum sorriso guardado,
Bolicho amigo que espera algum tropeiro cansado!

Quatro mudanças de lua, somente quatro estações…
Centenárias gerações: novo gado, outro dono,
Sai verão, acorda outono… TROPA!!! TROPA!!! Afina no cotovelo,
Que os arame do Curbelo tem mais remendo que trama
E se apertá se derrama no outro lado do potreiro!

VOLTA BOOOI!!!

Aboio largo se perdendo junto ao tempo…

VENHA BOOOI!!!

Chamado errante do ponteiro que caminha,
Convidando a tropa larga para o seu próprio cortejo.

Resmunga o gado andarilho…
E o meus olhos bolicheiros enquadram tropa e tropeiros.

Num veranico de maio pintei mais uma aquarela…

MIRADA índia que enxerga a vida além da janela…

Tempos Lindos


Tempos Lindos
(Eron Vaz Mattos, Cristian Camargo)

Tenho canções no assovio
Que juntei dos corredores
Misto de amargos e flores
Refrãos de sangas e grotas
Sinais de loros nas botas
Riscos de espinho e espora
Ontem marcando o agora
Em cada verso que brota

Final de esquila na Estância do Arbolito
A trotezito larguei meu rumo na estrada
Pealei uns potros lá na Estância do Açude
Vim “jogá” um truco na venda da encruzilhada

Comprei uns “vício” no “boliche” do Quintino
Por teatino me fui de trote chasqueado
Seguindo rumo chapéu com poeira na copa
“Faturá” tropa no Rodeio Colorado

Osvaldo Moura, João da Guarda e o Marino
Tavam domando na Estância das Casuarinas
Potrada linda com vigor de campo bueno
Trote sereno e maçaroca nas crinas

O negro Cléo laçava rindo de tirão
No mangueirão que o negro Adão embuçalava
Ciência de doma nas voltas do maneador
Fibra e valor nas tropilhas que amansavam

Escola antiga do tempo do Diamantino
Índio sulino com sabedoria pampa
Tinha marcantes traços da gente charrua
Na fronte nua livro de história na estampa

Xucras vivências pelos rincões do meu pago
Por isso trago no meu olhar de lagoa
Saudade funda nublando os rumos que tenho
De onde venho e a própria vida encordoa

Nesses caminhos beirando canhadas
Enxergo meu tempo na sombra que faço
Colhendo milongas das aves que cantam
E os pastos levantam depois do meu passo

Vive a carência no meu canto de a cavalo
No jeito antigo que tenho de tempos findos
Da gente nobre que tinha campo no rosto
Da estância ao posto naqueles tempos tão lindos!!