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Mostrando postagens com marcador Leonardo Quadros. Mostrar todas as postagens
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Me Lembro De Ti

Me Lembro De Ti
(Leonardo Quadros)

Ao contemplar a luz da lua
Lembro do teu corpo xirua
E ao ver brilhar ao longe os pirilampos
Lembro os teus olhos claros cor do campo

E as flores lindas, ao desabrochar
Me fazem do teu perfume lembrar

Será que foi este teu jeito
Que invadiu o meu peito
E pealou meu coração

Ou foi então eu que sonhei
E assim me apaixonei
E acordei com a solidão


Intérprete: Leonardo Quadros

Se Foi A Estância Antiga

Se Foi A Estância Antiga
(Leonardo Quadros)

A estância antiga se foi
Na lembrança do passado
Se foi o arreio sovado
E as potreiras no garrão
O verdadeiro peão
Do mate e das esquilas
Hoje reside nas vilas
Changueando pelo seu pão

Foi-se o tempo das carneadas
Em que tudo era fartura
Do mate com água pura
Da vertente junto às casas
Do Chibo assado nas brasas
Nas comparsas de janeiro
Quando o mestre do terreiro
Abre o peito e bate asas

A estância antiga se tornou distância
Brotando ânsias num peito campeiro
Se foi o campo e veio a cidade
Matando aos poucos o pago fronteiro
Se foi o taura das ``garrão de potro``
E o gado pampa pelas invernadas
Ficou estradas para ir embora
E campo afora não restou mais nada

Assim foi morrendo imagens
De taperas e galpões
Do patrão com os seus peões
E o gado pampa no pasto
Homens já não sovam bastos
Nas lidas a campo fora
Nem se vê rastros de esporas
Marcando caminhos gastos


Intérprete: Leonardo Quadros

Criolla

Criolla
(Leonardo Quadros)

Pra surrá de todo relho
Tem que ter força no braço
E dá bóia pras roseta
Das nazarenas de aço

Depois que esconde o toso
De vereda já me aplumo
E saio buscando o rumo
Em pêlo, garupa ou basto

Não me entrego pra matungo
Com fama de caborteiro
Já quebrei muito topete
No ofício de peão campeiro

Tenho confiança no braço
E no ferro das esporas
E ando sempre amadrinhado
De Deus e Nossa Senhora

Enraizado nos bastos
Eu me vou deixando rastros
Sem nunca floxá a forquilha
Topando qualquer parada
Na lida da gineteada
Enfrentando essas tropilhas

Do Laço O Destino


Do Laço O Destino
(Leonardo Quadros)

Doze braças de uma armada
Quatro rodilhas na mão
Argola, ilhapa e presilha
E rês bolqueada no chão

O laço é parte da lida
A campo fora ou mangueira
Botando pealo por farra
Pra marcá ou curá bicheira

Vai preso ao tento basto
Presente em qualquer apero
E nas mãos de um campeiro
É que ganha seu destino
O golpe forte de um pealo
Ou as aspas de um brazino

É o laço que sustenta
As lidas brutas do campo
O tirão ele que aguenta
Se laço e fico cinchando

Um pealo de sobre lombo
Ou então um de cucharra
É ele quem dá o tombo
Quando nos pulsos se agarra

De Manhãzita


De Manhãzita
(Leonardo Quadros)

De manhãzita, quando o sol já vai surgindo
Os galos cantam, acordando a madrugada
O dia é longo, e a lida empeza cedo
Café bem forte, pra sustância da indiada
               
Bater de argola, no galpão das encilhadas
E o trim da espora, contraponteando com os freios
Lá na mangueira,  já vai formando a tropilha
Pegamo a estrada, rumo a invernada do meio

Num grito de venha
Minha voz se mistura, com a tropa encordoada
Recorro invernada
Em meio a poeira que brota na terra
Num trono Crioulo
Bem bueno de boca, pra lida e estrada
Espora atada
E um relho de braça, minhas armas de guerra

Reponto o gado, do banhado da macega
Gritos de pega, e as vez algum sapucay
Lida sem luxo, mas com alma muy campeira
Há muitos anos, aqui na estância se vai

Algum malino, desses pampas colorado
Trocou de ponta, num sobre-lombo cuiúdo
Foi o Silvino, que por sinal bem montado
Botou um pealo, com seu sovéu cabeludo

Coisas de Galpão


Coisas de Galpão
(Leonardo Quadros)

Um galpão velho assombrado, pra contar histórias
E pra ter memória, dos antepassados
Que cevaram mates, pelas invernias
Nas tardes mais frias, de inverno no pago

Dizer que hay fantasmas, de gaúchos paysanos
Fulanos, ciclanos de alma lavada
Legendas antigas, parceiros da morte
Que na tava botam, de sorte clavada

Essas milongas pampeanas,que sonam aos quatro ventos
Vão ficar de documento, da história do nosso estado
É um palanque bem cravado, no próprio solo pampeano
Pra deixar de ano após ano, atada a história do pago

Um galpão bueno e mais nada, pra milonguear pensamentos
Ouvindo o choro do vento, e o relincho da potrada
Uma guitarra afinada, e um mate cara alegre
É assim que a vida segue, no galpão minha morada

Sempre Ao Fim Da Lida


Sempre Ao Fim Da Lida
(Leonardo Quadros)

Sempre ao fim da tarde quando o sol vai indo embora
Refletem na aguada lua e estrela de espora
Na água do açude mata a cede e lava o lombo
E ao chegar nas casas o campeiro faz o fogo

Mate e prosa boa no galpão da velha estância
Descansam arreios já surrados das distâncias
E ao pé do fogo onde pinga o costilhar
Nasce um verso novo na guitarra a bordonear

Um mate cevado recostado na cambona
Um cusco do lado, e silenciar de choronas
Descanso dos tauras, campeiros das sesmarias
Galponeando a vida no final de mais um dia

Camas de pelego forram o chão desparelho
Calam-se as basteiras e o estouro dos relhos
Então o silencio toma conta do lugar
Só se ouve um grilo sua toada cantar

Descansam os tauras campeiros das sesmarias
Esperando aurora pra despertar mais um dia
E empeçar a lida na clarinada dos galos
Sovando os arreios no lombo de seus cavalos

Um Verso Antigo


Um Verso Antigo
(Leonardo Quadros)

Se chega o verso pedindo vaza
Em frente as casa num jeito antigo
Então recosto cuia e cambona
Pra matear na tarde com um bom amigo

Assim o verso se faz poesia
Com melodia e cheio de encanto
Alma e garganta em sinfonia
Com a quietude de um fundo de campo

Quando um verso antigo vem pedir pousada
Encurtando a estrada, abrindo porteiras
Charla galponeira, pelas madrugadas
Num jeitão de campo, de várzea e fronteira

No fim da tarde mate lavado
Um pingo atado num tarumã
Relincha alerta mais entonado
Que o galo que canta nas manhãs

No galpão grande o fogão acorda
Tinir de cordas de uma guitarra
Fundo de campo voz de tajã
E o picumã na quincha se agarra

Chamarra Do Meu Jeito

Chamarra Do Meu Jeito
(Leonardo Quadros)

Minh`alma é cerne de anjico
Que não queima assim no más
Não me entrego pra milico
Pra patrão ou capataz

Não gosto de maturrango
Tão pouco de calavera
Tenho minh`alma encordoada
Numa chamarra fronteira

Do meu jeito essa chamarra
Cheirando a campo e a terra
É o meu grito de guerra
É a minha alma encordoada
É o mundo de cola-atada
Disparando num varzedo
É minha vida em segredo
É o meu jeito em payada

Eu trago alma encardida
De andar pelos galpões
Calejada de bordões
Por cantor e guitarreiro

Sei que o destino é traiçoeiro
E a coisa anda apertada
Se não tem carta jogada
Não me meto no entreveiro

Eu sou bem isso que falo
Nos versos que hoje canto
Mescla de estrada e campo
Um bravo tigre da pampa

Por onde for que eu ande
Abro o peito e não me inleio
E se preciso, peleio
Pra defender minha estampa

Ao Tranquito


Ao Tranquito
(Leonardo Quadros)

Me vou ao tranquito me vou
Levando esta flor colorada
Pra o cabelo de uma prenda
Chinoquinha tão amada

Me vou ao tranquito me vou
Ao passo da minha gateada
E a lua estrela charrua
Ilumina minha estrada

Eu sei que chego
Pra os braços da minha prenda
Depois de léguas
Cansado de tanto andar
Quando voltar
Pra estância num upa-upa
Na minha garupa
Esta prenda vou levar

Me vou ao tranquito me vou
Ao passo da minha gateada
E a lua estrela charrua
Ilumina minha estrada

Me vou sem pressa
E com  pensamento nela
Junto a cancela
Com sorriso a me esperar
Quando voltar
Pra estância num upa-upa
Na minha garupa
Esta prenda vou levar

A Bruxa Da Estância


A Bruxa Da Estância
(Leonardo Quadros)

Noite de inverno gelado
Ela vem pelo costado e se esconde no galpão
Trança a clina da potrada
Canta dança e dá risada metendo medo no peão

É a bruxa aqui da estância
Que assombrou minha infância e hoje voltou pra assombrar
Que me espia da janela
Do meu rancho sem tramela quando empeço a milonguear

Bruxa véia campesina
É uma formosa china que se perdeu por aqui
Te canto essa melodia
Pois eu sei que todo o dia vem pro galpão pra me ouvir

Dizem que tu é malvada
Que tu é alma penada e que não tem coração
Sei que tu é muy gaúcha
Me responda Dona bruxa porque ronda meu galpão

Em noite de lua cheia
Tua vassoura veiaqueia e até escuto os laçaços
Esssa Bruxa é muy Gineta
Crava espora na paleta e até arranca pedaço

Pra mim que vivo lidando
Junto uns cobre trabalhando nessas estâncias gaúchas
Pouca coisa não me assombra
Pois a miséria que ronda é pior do que essa bruxa

A senhora não se acanha
Bruxa veia de campanha, venha pro galpão comigo
Com grande satisfação
Vou cevar um chimarrão pra matear junto contigo



Quatro Esteios da Milonga


Quatro Esteios da Milonga
(Leonardo Quadros)

Campo e guitarra, alma e garganta
São quatro esteios, da milonga que hoje canto
Ao pé do fogo, que aquenta água pro mate
Neste arremate, de quem tem alma de campo

Toco o meu verso, pro potreiro da milonga
Que ta cercado do alambrado da guirtarra
Ponho cucharra nas palavras dessa rima
Monto pra cima do lombo, ferra e se agarra

Quem tem alma de milonga
Madruga cedo pra lida
E esporeia
Se o verso renega as garras
Traz nas esporas
Sangue e pêlo de aporreado
Embodocado
Nos acordes da guitarra

Estes esteios, que sustentam a milonga
Vertem das veias, cordas vivas da guitarra
O campo é a alma e a guitarra é o coração
E a vida é um verso, quando a milonga desgarra