Cadastre seu e-mail e receba as atualizações do Blog:

Mostrando postagens com marcador César Oliveira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador César Oliveira. Mostrar todas as postagens

À Uma Tropilha Veiaca

À Uma Tropilha Veiaca
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Inté parece que o chão vem se abrindo aos poucos
Quando esses loucos se entropilham na invernada
E vem roncando marcando a casco este pampa
Mostrando estampa, topete e cola aparada.

Zainos, tordilhos, gateados, baios e mouros
Pingos de estouro que se aporrearam por malos
Negando o estribo ao índio que joga sorte
De encontro à morte no lombo desses cavalos.

É das baguala esta tropilha que eu canto
E lhes garanto não hay eguada mais dura
Um querosena da marca de Dom Reinaldo
Deixa arrepiada a mais taura das criaturas.

Quem tem coragem, força na perna e destreza
Sente firmeza quando um sotreta se atora
Porque um veiaco da tropilha da floresta
Enruga a testa do guasca que calça espora.

Esta tropilha é conhecida por veiaca
Pra maritacas e rebenques não se entrega
De ponta a ponta cruza o meu pago sagrado
Com lombo arcado dando coice nas macegas.

Eguedo quebra se entona soprando as ventas
Porque sustenta mil marcas entreveradas
Pois o destino d’um flete que não se amansa
Deixa lembranças numa tropilha aporreada.

Pingos de fama pato preto e chacarera
Moura cruzeira, rebordosa e temporal
São entre outros malevas que escondem o rastro
Em pêlo e basto seja argentino ou oriental.

Por isso aonde o cincerro bater mais forte
E o vento norte assoviar junto das frestas
Andarão soltos na fumaça do entrevero
Os caborteiros da tropilha da floresta.

Romance De Flor E Luna

Romance De Flor E Luna
(Jairo Lambari Fernandes, Gujo Teixeira)

Quando um dia Rosaflor chegou no rancho
Pequeno mundo num fundão de corredor
Enxergou um pingo baio encilhado
E um gaúcho com um gateado no fiador
Mariano Luna domador seguia os ventos
Trazendo mansos pra cambiar pelas estradas
E Rosaflor filha mais moça do seu Nico
Lavava roupa junto às pedras da aguada
Rosaflor num riso manso e buenas noite
Entrou no rancho com seus olhos de querer
Mariano Luna com suas pilchas já puídas
Disse a moça um outro buenas sem dizer, sem dizer

Mariano Luna que tinha lua nos olhos
Entregou esse clarão aos olhos dela
E apagou a luz extrema que continha
Da outra lua que apontava na janela
A lavadeira pouco sabia das luas
E ainda menos dos olhares que elas têm
E descobriu então nos olhos do andante
Que de amores nem as flores sabem bem
Que de amores nem as flores sabem bem

O domador que só sabias desses campos
Sabia pouco do azul que vem das flores
Mas descobriu depois de léguas de estradas
Que há muito tempo não cuidava seus amores
De flor e luna se enfeitou o rancho tosco
Pequeno mundo num fundão de corredor
Que sem saber ficou mais claro e mais silente
Depois que lua debruçou-se sobre a flor
Ficou a estrada sem ninguém pra ir embora
E risos largos diferentes do normal
Um baio manso pastando pelo potreiro
E bombachas limpas pendurada no varal, no varal

Pampa

Pampa
(Rodrigo Bauer, Fabrício Harden)

A Pampa é um país com três bandeiras
E um homem que mateia concentrado,
Seus olhos correm por sobre as fronteiras
Que o fazem tão unido e separado!

A Pampa é um lugar que se transcende,
Fronteiras são impostas pelas guerras;
“y el gaúcho”, com certeza, não entende
Três nomes, três brasões pra mesma terra!

O campo a se estender, imenso e plano,
Alarga o horizonte “mas allá”...
Talvez seja por isso que o pampeano
Enxerga além... De onde está!

Assim é o povo fronteiro,
Tropa, cavalo e tropeiro
Vão na mesma vez...
Pátria e querência na estampa,
Somos um só nesta pampa,
Mas se contam três...
Por que se contam três?

Meu verso vem de Jaime e Aureliano,
De Rillo e Retamozo – um céu azul!
Sou Bento e Tiaraju, heróis pampeanos
Da forja desse Rio Grande do Sul!

A voz vem de Cafrune e canta assim,
A rima de Lugones, minha sina,
E a fibra de Jose de San Martín;
A História é quem me inscreve na Argentina!
Meu canto vem de Osíris, voz antiga
Da Pampa que em meu sangue não se esvai...
Comigo vem Rivera, vem Artigas..
Legenda eu sou... No Uruguai

Rumos dessa Pampa Grande,
Viemos dos versos de Hernandez,  
Somos céu e chão...
Todo o pampeano, sem erro,
Tem muito de Martin Fierro
Pelo coração...
Dentro do coração!

Décima Dos Potreadores

Décima Dos Potreadores
(Eliezer Tadeu Dias de Sousa, César Oliveira)

Enquanto o mundo for mundo e um potro arrastar o toso
Se orquetá num cusquilhoso, será uma ginete constância
E na mangueira das estâncias ao formar a cavalhada
Haverá uma reservada prá que alguém prove o tranco
E há de estar um minga blanco prá topar essa bolada.

Filósofo de à cavalo, Saragoza, um cruzador
Esse platino condor que tempo adentro revoa
E a sua fama encordoa para amansar os anseios
Socando bocal e freios nas esperanças potreadas
No seu reino das estradas sobre o trono dos arreios.

Sid Vigil, potreador, por todo pago que ande
Ginete do meu Rio Grande, raiz de pátria e querência
Largando sua descendência sobre petiços d’em pêlo
É um gauchaço modelo, grudado em lombos de potros
E mesmo que surjam outros, servirá qual um sinuelo.

Dom Raul Beliciartu, irmão de pátria parceira
Que atravessou a fronteira trazendo potros por diante
Um ginetaço, um andante, amanuciando as distâncias
Domando léguas de ânsias, repassa sonhos bolidos
E galopeia os sentidos no varzedo das estâncias.

Almeida, melena branca, centauro nesta fronteira
No laço e na boleadeira traz maçarocas de crina
É um cacique na campina com lunarejos de allá
O rancho de lado de cá, a divisa, um fio de lombo
E as esporas que é um assombro nos costilhar do Aceguá

Jardim Silva e Alberdanha e outros que omiti
Me perdoem, porque aqui o tempo se pára escasso
Já na presilha do laço o verso é tropa, se afina
Já rebentou toda crina e falta força na perna
É a lei que nos governa, o que começa termina

Pra O Índio Que Gineteia

Pra O Índio Que Gineteia
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Quando me salta um floreio
De milonga pela boca
Me dá uma vontade louca
De “atorá” a guitarra ao meio
Sou um homem dos arreios
Conheço parada feia
Pois trago dentro das veias
Minha estampa palanqueada
E esta cantiga aporreada
Pra o índio que gineteia

Ginetear é uma vocação
Que o índio já trás de berço
Onde aprende a rezar o terço
Desta chucra religião
Pois quem trás no coração
Tropilhas de mal-costeados
Crinudos e descrinados
Maulas da marca borrada
São mestres das gineteadas
Entre potros e aporreados.

O mundo troca de ponta
E a vida toreia a morte
Porque o destino e a sorte
De gineteadas nos contam
De baguais que se desmontam
No meio da polvadeira
Treme o chão da fronteira
Quando um paysano se atora
Amarrando um par de esporas
Num par de botas “potreiras”.

Quem tem alma de palanque
Conhece a força do lombo
Mas não se entrega num tombo
Se algum corcóvo lhe arranque
Porque a volta do rebenque
Num floreio rasga o vento
A coragem é um sentimento
Que fez do taura um sulino
Esporeador dos malinos
Que sentem “cosca” do tento.

Pra o índio que gineteia
Este cantar é um regalo
Pois quando empeço a cantá-lo
O meu sangue corcoveia
Uma ânsia se boleia
“Inté” parece feitiço
Pois me agrada o reboliço
Que se apronta mano a mano
Co’as garras de algum paysano
Ou os ferros de um fronteiriço.

Na Boca Da Noite

Na Boca Da Noite
(Rogério Villagrán, César Oliveira)

Na boca da noite costeando a picada meu zaino que é um gato se para carancho
Bombeando distante pras bandas do poente parece que sente o calor de algum rancho
Eu trago na estampa um jeito teatino porque o destino quis que eu fosse andejo
E a noite serena chega e me provoca campear a chinoca e roubar-lhe um beijo

Um ventito manso me alvorota o pala então eu me aprumo e tapeio o chapéu
Enxergo teu corpo no clarão da lua e os teus lindos olhos brilhando do céu
Eu sinto no peito um guascaço mui forte, inté acho que tenho coração de potro
Que bate ligeiro quando enxergo a flor, se é meu este amor não preciso de outro

A alma de um taura que vaga solito se para mais quebra rumbiando pra o fim
E as ânsias que tenho acolherei com a gana de ver a paisana que espera por mim
Já não vejo a hora de encontrar minha linda e dizer que trago entalado na goela
A felicidade que tanto preciso achei no sorriso que Deus deu pra ela

Que lindo seria se um dia eu pudesse te erguer na garupa do meu zaino bueno
Talvez me perdesse no toque dos dedos campiando os segredos de um corpo moreno
Mas numa volteada te levo comigo pro posto do fundo da estância da barra
Pra ser minha dona e cuidar dum ranchinho e dum pichonzinho que herdará minhas garras

Na boca da noite

Coplas De Tosador

Coplas De Tosador
(Francisco Luzardo, Rogério Melo, Giovani Vieira)

Tá chegando as esquilas!
Já sinto cheiro de cera, e as comparsas da fronteira
Já andam reculutando a indiada flor de tesoura
Que grude de toda folha e o couro fique alumiando!

Já desaguachei a moura
Afiei bem as tesouras
Tô pronto pro que vier
Ferro com as folha benzida
E os braços pra ganhá a vida
No cabo desses talher

Vou me enturmar na comparsa
Que vai lá pra Paz das Garças
Tosar miles de capão
Corriedale sem escolha
De mete de toda folha
Acolherando as duas mãos

Sendo pra lotá ficheira
Me tapo de lã e cera
Pouco me importa o calor
Se resolvo soltá o braço
Quase mato no cansaço
Quem se mete a agarrador

É dois pulsos no martelo
Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador
Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada
Berrando pra o tosador

Grudo a marca santaninha
Solto lisa e rosadinha
Porque o braço não se micha!
E n’alguma escapada
Boto cortiça queimada
Garanto que não abicha!

Se me topo com as mirina
Apelo pra cangibrina
Arrolhadita atrás da porta
E no couro murcilhado
Sigo de ferro embuchado
Nas rugas campeando as volta

A pobreza é igual capacho
E só biqueando por baixo
Que um pobre cristão se safa
Quando largo da tesoura
Nas patas da minha moura
Prossigo espichando a safra!

É dois pulsos no martelo
Tchaque-tchaque e atiro o velo
Por cima do atador
Ferro e folha e não tem nada
Vai embora guacha pelada
Berrando pra o tosador

Cavalinho De Pau

Cavalinho De Pau
(Edilberto Teixeira, César Oliveira)

Meu cavalinho de pau
Crioulo da fantasia
Tinha a cola que não crescia
E a boca sem comer pasto
Tinha o lombo meio cião
E o pescoço de gavião
E uma rachadura no casco.

Tinha raça de taquara
Cruzada com carafá
Delgado como um virá
E um pêlo bem pangaré
Parente da cobra verde
Com seu galope de rente
Ia escrevendo com o pé.

Brincando de faz de conta
Lhe ensinei a velhacar
Dar coices e escramuçar
Com jeito de um redomão
Só nunca pude frastá-lo
Sofrenado meu cavalo
Fincava a cola no chão.

Com a cola dele pra o céu
Apontava estrela guia
Um olho na pontaria
Mirava pra os pica-paus
Pauleava as caranguejeiras
E as gatas namoradeiras
Que me aturdiam aos miaus.

Batia os galhos das árvores
Derrubava frutas no chão
No ombro foi mosquetão
Espada para o meu cinto
No seu galope macio
Nas longas tardes de frio
Tropeei ninhadas de pinto.

Corri carreiras de a pé
Medi fundura de poço
Fiz raias pra jogar osso
E guiada pros bois a pipa
Fiz flechas pros meus caminhos
Furei o fundo dos ninhos
E o bando das caturritas.

Um dia jogando talho
Outro piá espadachim
Paulada não foi pra mim
E às brincas, perdi o jogo
Quebrou-se o meu cavalinho
No outro dia bem cedinho
Virou gravetos pro fogo.