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Mostrando postagens com marcador Xirú Antunes. Mostrar todas as postagens
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De Fogões E Inverneiras

De Fogões E Inverneiras
(Xirú Antunes, Joca Martins, Jari Terres)

Um vento forte me reboja o pensamento
Desquino um tento pra não ter o que pensar
Mergulho os sonhos no banhado do potreiro
E a noite grande vem me por a guitarrear.

Traço caminhos pra seguir no outro dia
E a alma encilha novos fletes pra domar
Nas invernadas que se perdem nas distância
Mato essas ânsias extraviadas no cantar.

Fogões me agradam no clarim das inverneiras
Almas campeiras que povoam no galpão
São sonhos xucros mesclados com o Minuano
Que este haragano há muito tempo já domou

Lá fora a vida se desmancha em chuva fria
Cordoando tropas, buscando se acomodar
Um quero-quero se anuncia na coxilha
Ensaia rimas de saudade a recordar.

Negra parceira que o fogão te viu ausente
E até o poente se perdeu do teu olhar
Repasso rimas de fogões e inverneiras
Almas campeiras que me põe a guitarrear

Fogões me agradam no clarim das inverneiras
Almas campeiras que povoam no galpão
São sonhos xucros mesclados com o Minuano
Que este haragano há muito tempo já domou

O Sonho

O Sonho
(Xirú Antunes, Adriano Gomes, Juliano Gomes)

Quem sabe meu sonho
Ficou negaciando
Na costa de um mato
Nos ritos de um trago
Das últimas luzes
Que estreitam domingos.

Ficou nas ramadas
Encilhando um mouro
Depois da sestiada
Ou nas madrugadas
Num quarto de ronda
De alguma tropeada.

Meu sonho rebolca
Nas xergas tão velhas
Moldadas de lombo
Guardando suores
Tal qual as relíquias
De um tempo precioso.

Fareja cambonas
Com jujos de campo
Pelas madrugadas
Chuliando cancelas
Que abertas prá o dia
Envidam potradas.

Meu sonho falqueja
As tramas de angico
Nas chuvas de agosto
E saca as penúrias
De tanta invernera
Nos cardos de um poncho.

Galopa num vento
Desfiando saudades
Soprado da estância
Abanos de pala
Mesclados nas rimas
De crina e guitarra.

Talvez quando escute
Os gritos da pampa
N’alguma ilusão
Limite o silêncio
Fazendo fronteiras
Na paz de um galpão.

Esse Jeito De Domingo

Esse Jeito De Domingo
(Xirú Antunes)

Lá vem Natalício Perdomo
No seu mouro destapado
E um ovelheiro do lado
Costeando a franja do pala

Será que andou de cismado
Numa bailanta argentina
Com alguma correntina
De pêlo amorenado

Ou uma milonga campeira
Mesclada com uma carreira
Lhe pealou pelo sombreado
De um capão de pitangueira

Quem sabe as suas razões
De andejar nos domingos
São as mesmas destes índios
Que habitam os galpões

Que fazem as solidões
Se multiplicarem nos cascos
De um mouro negro ou picasso
Pra os olhos de alguma china

Não é só a geografia
Deste meu povo de campo
Mas também fisionomia
De quem tem seu próprio canto

E alimenta suas raízes
Com jujos da própria alma
Filosfias de calma
Paciência de acalanto

Este meu povo de campo
De geratrizes antigas
Mistura de pulperias
Ternura mansa de rancho

Tem memoriais escondidos
Nas dobraduras do arreio
De andar nos pastoreios
Esparramando cultura

Coplas Para Um Galpão De Estância

Coplas Para Um Galpão De Estância
(Xirú Antunes, Severino Moreira, Jari Terres)

Estes cernes consumidos em tua alma de brasedo
Por certo foram segredos no centro das inverneras
De repousar as basteras retovando o garreril
Principiando o assobio de uma milonga galponera

Quem tem lembranças guardadas como regalo
Dos velhos tempos quando tudo era estância
Cruzar querência sobre o lombo do cavalo
E  por instinto ter o tempo e a distância

Rever as garras penduradas num galpão
Chiar de tição nos respingos da cambona
Sentir o gosto desta xucra infusão
Bebendo acordes de guitarras redomonas

Galpão de estância marca viva do meu mundo
Cheiro de garras e pingos suados da lida
Tosca cantiga do estralar dos gravetos
Ar de sereno com carqueja ressequida

É a mais antiga das crenças de um payador de ofício
Mescla de guitarra e vício, és meu galpão centenário
Que por certo foi o cenário de improvisos e saudades
No bordonear de ansiedades de algum poeta visionário

Quando o soluço do inverno abre o poncho
Ou mormaceando o verão traz sualheiras
Tua tronqueira de saludo abraça a gente
Ilha quinchada no mar verde sem bandeira

Testemunha da raça dos potreadores
Que no teu chão conceberam bruxarias
Benzer as cismas dos lampejos de aurora
E atar esporas antes do clarear do dia

Galpão de estância marca viva do meu mundo
Cheiro de garras e pingos suados da lida
Tosca cantiga do estralar dos gravetos
Ar de sereno com carqueja ressequida

Andarilho

Andarilho
(Xirú Antunes, Luiz Marenco)

Abro a porteira e me aparto do campo verde estancieiro
Só pra estender meu baixeiro no capão dos corredores
Sou destes que os cantadores batizaram nas guitarras
No peito dum malacara vivo empurrando horizontes

Minha bíblia é um "Martin Fierro", sempre esbarro numa china
E a imagem que me domina é um parador de rodeio
Já tive um rancho senhores e tardes de primaveras
Onde eu lavava a erva sentindo o cheiro das flores

Sou ponto vivo e consciente na estância real das estradas
Vivo domando as mágoas de um passado inconveniente
Nas horas das rondas claras o pensamento é tordilho
Eu recorro cada estrela recostado no lombilho

Meus olhos horizontais pintam quadro em campo alheio
Cada porteira é um anseio pra um calmo desencilhar
Talvez um dia eu encontre um olhar destes morenos
Sem baldas e nem venenos, e aqui me ponha a cantar

Carta á Querência

Carta á Querência
(Mauro Raupp Martins, Xirú Antunes, Paulo Timm)

“Empessou já faz uns dias, de uma pomba de asa quebrada
E achei sua mirada tão parecida com a minha
Acontece com quem caminha e com quem voa também
Ave que céu não tem homem no lugar errado
Pássaro sem bater asas, homem desterrado”

Desde então eu amanheço e no espelho reconheço
Na minha cara espelhada a de meu pai em mim talhada
Minha mãe em meus olhos vejo e parece que me olhando
Sabe os motivos que ando com coração apertado
Por andar tão apartado das coisas que tanto amo

Tenho um olhar mal dormido de andar mateando comprido
Varando as madrugadas de quem já topou parada
E traz silêncios mais fundos sensação de fim de mundo
De quem perde a referência que eu não sei como se fala
E me ordena a arrumar a mala e partir rumo á querência

“É quando um vento levanta e já faz três dias que venta
Com uma voz agorenta me embrujando os ouvidos
Falando de eu já ter ido pra terra que anda em mim
Pro barro e pro capim, pedra moura e galpão
Pras cosas do velho chão, pitangueira e alecrin”

Assim no mais me despeço ajeito de novo um mate
Antes de mim este chasque á querência da figueira
Uma espécie de aviso a tudo que eu quero bem
Logo me vou daqui ao chão moreno que prezo
E já no mais me despeço da pena que vive em mim

Tenho um olhar mal dormido de andar mateando comprido
Varando as madrugadas de quem já topou parada
E traz silêncios mais fundos sensação de fim de mundo
De quem perde a referência que eu não sei como se fala
E me ordena a arrumar a mala e partir rumo á querência


Enviada por Lutiani Espelocin