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Mostrando postagens com marcador Nilton Ferreira. Mostrar todas as postagens
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Ao Pé Da Serra

Ao Pé Da Serra
(João Ari Ferreira, Nilton Ferreira)

Tenho uma casinha simples junto ao pé da serra
Onde eu e a felicidade moramos por lá
Tenho uma viola parceira que se faz companheira nas noites de luar
E uma varanda em florada, cantando pra amada e pra gente do lugar

Chora viola, chora que o meu coração
Abraçou a emoção que acabou de chegar
Pela fresta deste rancho
Um facho de lua abençoa o cantar

Quando rompe a luz do dia vem a sinfonia
Da natureza com sua beleza em tom matinal
Há um murmúrio de rio no fundo do terreiro
Onde um galo faceiro faz seu recitar
A paz que tem neste lugar
Não tem hora marcada pra se manifestar

Chora viola, chora que o meu coração
Abraçou a emoção que acabou de chegar
Pela fenda dos postigos
Um raio de sol vem me despertar

Bem ao jeitinho do rancho meu poema é singelo
Mas de palavra em palavra toca o coração
Enquanto a luz da paixão clareia a morada,
Um verso pra amada logo vira canção
A paz que tem neste lugar
Não tem hora marcada pra se manifestar

Chora viola, chora que o meu coração
Abraçou a emoção que acabou de chegar
Pelos palcos e varandas
Nos sobram motivos pra gente cantar

O Poeta E A Estrela


O Poeta E A Estrela
(Carlos Omar Vilella Gomes, Nilton Ferreira)

Ele buscava, sangrado,
Coisas suaves pra dizer...
Mas tinha versos povoados
De morte e de renascer.
Ela, tão bela, assistia
A alma dele incendiar...
Virar bem menos que cinzas
Pra depois ressuscitar.

Ele maldizia o sol
Que lhe ofuscava a visão;
Ela flutuava tão plena
No céu do seu coração.
Ela jamais desbotava...
Não deixava de brilhar;
Ele, sedento, implorava
Ganhar asas pra voar.

Ela de longe sorria
Pra quem sonhava tê-la
E no seu peito trazia
O céu de só uma estrela.
Ele sequer desconfiava
Entre suas nuvens de pó,
Que a estrela que lhe encantava
Era de um poeta só!

Que asas o levariam
Ao mais bonito dos céus?
Buscou asas de poesia
Com alma, pena e papel.
E ele então revoou
E desvendou infinitos,
Levando nessas alturas
Os seus amores aflitos.

Ele morreu, renasceu,
E continuou a escrevê-la...
Até que um dia encontrou
Os olhos da sua estrela.
E os dois zombaram da morte
Que castigava sem dó;
O céu de só uma estrela...
A estrela de um poeta só!

Depois Das Léguas Da Carreteira

Depois Das Léguas Da Carreteira
(Osmar Proença, Igor Silveira)

Na carreteira a estrela D’alva acorda os bois
Um galo canta, outro responde mais ao léu
Mate lavado, cafezito camboneado
E o dia avança luzindo um florão no céu

Madrugadita enserenada no potreiro
Luar prateando, boi no pasto, água na sanga
Enquanto a légua arranca notas do cincerro
O boi da aurora vem lamber o sal da canga

Meu pensamento encontra o vento e cria asas
Pra estar nas casa em meio a moda no rincão
Enternecer este motivo que eu sustento
Junto ao rebento e a mulher do coração

E da cantiga do cincerro bem atado
Faço um legado para os outros que virão

"Lenha embarcada e os avio das precisão...
Chamo do arreio a junta mestra veterana;
Meus bois da ponta tem muita estrada nos cascos
Que nem carece o marimbondo da picana..
Rancho andarengo na cadência da boiada,
Calmo assovio pra acompanhar tua cantiga,
No teu costado encho os olhos de Querência
E lavo a alma no regresso à gente amiga."

Cascos de bois fizeram rastro lado a lado
Na paz, na guerra, no plantio e na colheita
Enquanto o homem, o cachorro e o cavalo
Envelheceram no costado da carreta

Resta aos antigos um recuerdo, um devaneio...
Mirar nublado por debaixo do chapéu
Cada carreta um barco amigo no horizonte
Singrando as pontas entre os campos no céu

Meu pensamento encontra o vento e cria asas
Pra estar nas casa em meio a moda no rincão
Enternecer esse motivo que eu sustento
Junto ao rebento e a mulher do coração

E da cantiga do cincerro bem atado
Faço um legado para os outros que virão

Sonho, Flor e Truco

Sonho, Flor e Truco
(Carlos Omar Villela Gomes)

O sonho é marca que encandece em brasa
Retoçando o peito machucando o couro
O sonho é alma que fugiu de casa
Só pelo gosto de se renegar

Já não tem olhos pra mirar solito o fundo das grotas
Seguindo os passos de algum par de botas
Criando história por este lugar
Já não esconde que seu horizonte é maior que a estância
E os olhos teimam em campear distâncias
Que existe o mundo pra se rebolcar

O sonho é vida que trocou de ponta
Que pechou de frente que mostrou a cara
É um braço grande de abraçar o mundo
Um laço forte pra pealar a dor

O sonho é um potro galopando livre pelo tempo afora
Por mais que o mundo lhe apresente esporas
Não foi parido pra cabresteador
O sonho é um potro que não foi parido pra cabresteador

Tanta rodada por esses lançantes
Quem não se garante acaba estropeado
Mas se o tal sonho for dos bem gaúchos
Já se levanta e recomeça a andar

Este meu sonho é uma longa bruta de onde tiro os tentos
Trançando os dias onde me sustento
Pelos arreios que a vida me dá
Este meu sonho é feito um amigo estendendo a mão
Tem quincha buena do melhor galpão
É flor e truco sem calaverear

O sonho é vida que trocou de ponta
Que pechou de frente que mostrou a cara
É um braço grande de abraçar o mundo
Um laço forte pra pealar a dor

O sonho é um potro galopando livre pelo tempo afora
Por mais que o mundo lhe apresente esporas
Não foi parido pra cabresteador
O sonho é um potro que não foi parido pra cabresteador

Identidade De Campo

Identidade De Campo
(Anomar Danúbio Vieira, Rogério Melo)

Ergo meu canto e me acho
“Muy gaúcho... Cual Martin Fierro”
E em qualquer lombo de cerro
Faço morada e me planto

Por Rio Grande me garanto!
Sempre que calço as esporas
E largo assim, campo a fora
Toda emoção deste canto.

Canto de pampa e estância
Mais novo a cada manhã,
Na goela de algum “tajã”
Semeia a sina andarilha...

É cheiro de maçanilha
Que brota xucra da terra,
Voz de querência que berra
Num parador de coxilha.

Num entrevero de patas
Meu canto é doma e carreira
É rangido de porteira
No vai e vem das cruzadas,

É a alma da gauchada
Nos gestos da minha gente
Que vive e morre contente
Só por se livre...e mais nada!

Sempre que canto... renasço!
Volto às planuras de novo
Buscando origens de um povo
Que fez pátria de a cavalo
E que deixou de regalo
Pra nós, herdeiros da história!
Um torrão pleno de glória
E a identidade ao cantá-lo.

Canto de tropa estendida,
Seiva de grama pisada
Pelos cascos da potrada
Que no varzedo retoça,

Fruta que aos poucos se adoça
A cada noite de geada
É chuva forte, guasqueada
Que nas estradas faz poça.

Canto as coisas do meu povo
Suas crenças, tradições
Campos, mangueiras, galpões
Gineteadas e bochinchos

Berros de touro, relinchos
Orquestrando as invernadas
Marcas de laço queimadas
Num tirador de capincho

Sempre que canto... renasço!
Volto às planuras de novo
Buscando origens de um povo
Que fez pátria de a cavalo
E que deixou de regalo
Pra nós, herdeiros da história!
Um torrão pleno de glória
E a identidade ao cantá-lo.