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Chuva De Verão

Chuva De Verão
(Edilberto Teixeira, Juliano Moreno)

Fechou o tempo e, de repente,
Veio uma chuva temporona
E o vento, assoprando quente,
Tapou de cinza e cambona.

Foram os cerros se tapando
Sumindo com um pala branco,
Longe o céu trovejando
E a chuva lavando o campo.

A imprevista molhaceira,
Com um cheiro de coisa morta,
Chorou logo nas goteiras
E entrou de baixo da porta.

Tapada com o chuvisqueiro
A natureza está rindo,
‘’A chuva é como o dinheiro’’
Que lá do céu vai caindo.

Os pingos d’água, fininhos,
Parecem os olhos de um gato
Tremelicando os copinhos
Nas lagoinhas do pátio.

Pra botar o peito n’água
O peão se tapa com a xerga,
Cuidando as pontas de adaga
De um raio cortando a cerca.

Mermando os pingos na calha,
O peão adianta o serviço
E apara uns maços de palha
Pra negociar no bolicho.

Depois que a chuva se abranda
Se transformando em garoa,
Espera o sol na varanda
Com um chimarrão de erva boa.

E o sol retorna com essa
Campeira observação:
A vida passa de pressa
Como uma chuva de verão.

A Pedra

A Pedra
(Severino Moreira, Zulmar Benitez)

“Um dia foi o bem e o mal.
Hoje é o flagelo de uma nação.
Nosso país está envelhecido,
Por que a juventude se consome pelo vicio”.

Da terra vem o começo
Na pedra se resume o final,
Pois na terra ressurge vida
E a pedra planta o funeral.

Da pedra surgiu a lança,
Que arrematou numa cruz,
É quem acende a cobiça,
Quando destapa e reluz.

Riscada foi “pai de fogo”,
Moldada se fez boleadeira,
Foi dor de escomungados,
“Mundanas” e feiticeiras,

Nos pés é fio que castiga,
Por vezes cala bem fundo,
Na cabeça mutila sonhos,
E a dor espalha no mundo.

Trás a sede que não sacia,
Deixa tudo em reviravolta,
Transitar “o caminho da pedra”,
É trilhar caminho sem volta.

É seixo na caricia das águas,
E gelo ao despencar do céu,
Na doutrina dos “Sete Povos”,
Foi o batismo dos “incréus”.

Na coxilha é monumento
Trincheira numa canhada,
No galpão “assenta o fio”,
Pra “gravata colorada”.

Assim se define “Pedra”,
Uma palavra universal,
Traduz miséria e luxo,
Todo o bem e todo o mal.

Diálogo De Luz E Sombras


Diálogo De Luz E Sombras
(Marcelo D´Ávila, Juliano Moreno)

(Honório):
- Quem chega em meu rancho sem dar “Ó de casa!” –
Com passos pesados, embora em silêncio?
Envolto num poncho de noite sem lua,
Pilchado de sombras – será quem eu penso?

(“O Outro”):
- Se enxergas meu vulto de bota e bombacha,
É só uma forma, das muitas que tenho:
Meu nome não digo, nem mostro meu rosto
Mas sei que imaginas quem sou e a quê venho.

Em cada refrega estive a teu lado
No Passo do Guedes, no teu Caverá –
Agora é o momento da paz derradeira:
Meu zaino te espera do lado de lá.

(Honório):
- Meu nome é Honório, me chamam Leão!
Tracei meus caminhos a ponta de adaga!
(“O Outro”):
- Descansa tuas armas, vem junto comigo,
Que a vida é candeeiro que um dia se apaga!

(Honório):
- Nas minhas batalhas venci tantas vezes
Em outras sofri o amargo revés.
Mas este combate já sei que é perdido
Porque finalmente percebo quem és.

- Gastei meus outonos em bárbaras lutas,
Tingindo de sangue o Ibirapuitã
E bem quando chegas, buscando por mim,
Vislumbro o horizonte de um novo amanhã.

(“O Outro”):
- O corpo cansado já pede repouso,
O braço fraqueja empunhando a garrucha.
Te levo comigo mas deixo gravado        
Teu sonho imortal na alma gaúcha.

(“O Outro”)
- Teu nome é Honório, te chamam Leão!
Teus feitos ficaram na tarca da história!
(Honório):
- Estende tua mão: vou junto contigo,
Meu tempo é passado! O resto é memória.

A Lição de Martim Fierro


A Lição de Martim Fierro
(Marcelo D'Ávila, Juliano Moreno)

Sou dos que opinam cantando
Porque creio na palavra;
Semente de boa lavra
Floresce até no deserto.
O bom ginete, por certo,
Não roda nem se escalavra.

Sou de cantar opinando,
Não canto por diversão.
Na mesa onde falte o pão,
No rancho onde falte a sorte:
Aí cantarei mais forte
Meu canto com opinião.

Meu canto tem a crueza
Do verso em matéria bruta
Que se estende em reculuta
Pra destravar as tramelas
E abrir portas e janelas
Na ideia de quem me escuta.

A lição de Martim Fierro
É clara como uma luz
E se algum Sargento Cruz
Quiser seguir a meu lado
Basta fazer um costado
Pra estes versos que compus.

Quem canta por conveniência
Pensando só em agradar
Com medo de contrariar
Tantas vaidades alheias
Deixa que que botem maneias
E buçal no seu cantar.

De Cacerías


De Cacerías
(Marcelo Holmos, Juliano Moreno)

De día nomás me voy
Silbando pa' un "caponete"
Dejar alguna trampita
Media escondida de verde
La ratona "madriguera"
Podrá quedar enlazada
Pues dejé por calavera
Una maroma trenzada

Al otro día yo salgo
para revisar mis trampas
Ya aprovecho mi "cuscada"
Para recorrer las pampas
Llegando al capón cerrado
Encontré  allí en la orilla
De algum lechón desgarrado
“Pegaditas” bien sencillas

Con el rifle a media espalda
Salgo al tranco para el monte
En una mano la caña
En la otra el foco alto
Escucho lejano el ruido
En las aguas algún bicho
Me parece que ha metido
Un "mergullo" algún capincho

Prendo el foco al otro lado
Y así veo seis patacas
Que me miram paraditas
Como si fueran estacas
Apunto mi rifle chico
Mis ojos tiemblan la mira
Un disparo muy certero
Los dos al agua se tiran

Pero queda un arrojado
Parece que pataleando
Me pongo al agua helada
Al otro lado nadando
Descansé sobre mis bastos
El capincho que cace
Lleve pa' casa el ratón
Y enseguida tempere

Con el cuero un tirador
La cabeza pa' algún chancho
Con la carne una semana
Tengo comida en el rancho
Y es así una cacería
Alguno hay que matar
Sí para alguien mantener-se
No para desperdiciar

Quando O Rio Grande Corre Pelas Veias


Quando O Rio Grande Corre Pelas Veias
(Marcelo D´Ávila, Robson Garcia)

Nalgum fundo de campo da fronteira
Um índio bem montado mira ao longe
E a pampa inteira cabe nos seus olhos
Repletos de coxilhas e horizontes.

Há muito de querência neste homem,
Há séculos de história escrita em versos
E a herança da Campanha se reflete
Na simples amplitude de seus gestos.

A singeleza de cevar um mate
E alçar a perna pra espiar estrelas
É a liturgia do ritual campeiro
Quando o Rio Grande corre pelas veias.

Nalgum fundo de campo da fronteira
Com a proteção sagrada do chapéu
Um índio afina as cordas da guitarra
Olhando a pampa comungar com o céu.

Sou eu o homem que bombeia ao longe
Repleto de coxilhas e distâncias;
O campo é minha razão, é minha essência,
Porque eu sou eu e minhas circunstâncias.

Meu Verso Chimarrão

Meu Verso Chimarrão
(Marcelo D´Ávila, Juliano Moreno)

É bem verdade que meu verso não tem marca
Pois traz o couro imaculado dos libertos;
É como um potro mal domado que se aparta
Do conformismo e da mesmice de outros versos.

Não tem no lombo aquele estigma do ferro
Que grava em brasa a assinatura de um patrão
Porque bem sabe que a essência de ser verso
É a liberdade plena de fúria e de som.

O verso é vida, o verso é vício e vice-versa,
É ave rara, um verde vale num deserto;
Verdade e dúvida, vertente, é descoberta
Que um verso livre é bem mais vasto que o universo.

E é deste jeito que meu verso não tem marca
Nem traz no couro a cicatriz dos compromissos
Talvez por isso seja um potro que se aparta
Dos que preferem outros versos, sem sentido.

Não tem no lombo aquele estigma do ferro
Que grava em brasa a assinatura de um patrão
Porque bem sabe que a essência de ser verso
É a liberdade plena de fúria e de som.

De Duas Pátrias

De Duas Pátrias
(Marcelo D´Ávila, Juliano Moreno)

"Caudillo blanco" forjado a ponta de lança,
Foi ordenança, "cabo viejo" e general;
Com Gumercindo peleou em noventa e três,
A uma só vez, riograndense e oriental.

Hay lenços brancos nas fileiras maragatas -
Índios do Prata tendo a guerra por ofício.
Vai na vanguarda o General de Duas Pátrias
E na culatra umas novilhas pro munício.

Marcham valentes nos caminhos da fronteira,
Rumo à Rivera sem temer o sacrifício,
De peito aberto, ouvindo o vento que assopra
Alguma copla em honra a Dom Aparício.

Em Masoller trançaram aço com aço
Quando um balaço disparado pela raiva
Pôs fim ao homem, mas criou um novo mito
No último grito de Aparício Saraiva.

O poncho velho que em tantas noites escuras
Foi armadura na barbárie das batalhas
Agora cobre o corpo inerte do guerreiro
Num derradeiro e terno abraço de mortalha.

Romance A Um Par De Rédeas

Romance A Um Par De Rédeas
(Mateus Neves da Fontoura, Juliano Moreno)

Na trança daquela rédea
Pendurada no galpão
Há lembranças avoengas
E a vida firmando a mão

Pra voltar no próprio rastro
A escramuçar soledades
Tal se enfrenasse saudades
Na boca do coração

Na trança daquela rédea
Apeio um dia de infância
Na primeira campereada
Ao repontar vacas mansas

E por afoito que eu era
Pouca perna e muito estribo
Escutei de um velho amigo
Vai na tua mão a confiança

Pendurada no galpão
Distante do esquecimento
Aquela rédea trançada
Traz memorial em seus tentos
Aquela rédea trançada
Traz memorial em seus tentos

Com ela muito orelhano
Se transformou em cavalo
Pingo de dança no embalo
De contra-ponto com vento
Pingo de dança no embalo
De contra-ponto com vento

Na trança daquela rédea
Recuerdos pra vida inteira
E uma saudade insistente
Que não será passageira

Que levo dentro da alma
Por onde quer que eu vá
Pois nunca irei de me olvidar
Dessa lembrança campeira

Na trança daquela rédea
Que um velho amigo deixou
Esta confiança garrada
Que nunca mais se quebrou

Naquela rédea trançada
O tempo se palanqueou
E em cada tento tramado
Lembro de ti meu avô

Pendurada no galpão
Distante do esquecimento
Aquela rédea trançada
Traz memorial em seus tentos
Aquela rédea trançada
Traz memorial em seus tentos

Com ela muito orelhano
Se transformou em cavalo
Pingo de dança no embalo
De contra-ponto com vento
Pingo de dança no embalo
De contra-ponto com vento