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Dúvidas Brasinas

Dúvidas Brasinas
(Jayme Caetano Braun, Lúcio Yanel)

Meu irmão de crinas brancas
D'onde vem a rebeldia
Das gerações de hoje em dia
Subindo pelas barrancas

Será que são diferentes
Que as nossas rebeldias
Usando outras geografias
Sonhando outros continentes

Será que com sol e vento
Nosso couro se curtisse
E a gente ao menos não visse
Que somos frutos do tempo

Será que ao matar fronteiras
Aos filhos e descendentes
Não fomos imprevidentes
Esquecendo outras maneiras

Será que cuidando a lida
Com rubeis e cavalos
Esquecemos de norteá-los
Para as tropeadas da vida

Que será que mudou tanto
Meu irmão crina prateada
De onde vem esta tonada
E essa revolta no canto

Será que nos excedemos
Ao falar em liberdade
Quando foi fraternidade
A herança que recebemos

Nestas dúvidas brasinas
Eu penso correr das luas
Será, meu irmão de crinas
Que não perdemos as duas?

Será, meu irmão de crinas
Que não perdemos as duas?


De Como Cantar Um Flete


De Como Cantar Um Flete
(Lucio Yanel , Gaspar Machado)

Nesta folga domingueira
Trancei um buçal de estouro
Pra amanunsiar a meu modo
Esta beleza de mouro

Lonqueando tentos cantava
Minha própria confidência
Pra fazer deste cavalo
O melhor desta querência

Um bocal de tamanduá
Lombilho, cincha e carona
E aquele entono de quebra
Pra levantar a sia dona

Quem doma sabe o valor
De um flete manso e ordeiro
Valente e doce de boca
Para um aparte campeiro

Pelo fiador do buçal
E ao meu santo protetor
Este cavalo de lei
É a alma do domador

O valor de sua raça
Semeará aos quatro ventos
Co'a força do seu estado
A bate cola dos tentos

E o Rio Grande que de longe
Vem montado neste embalo
Será grato a vida inteira
Às patas deste cavalo

Alambrador

Alambrador
(Valdo Nóbrega, Lucio Yanel)

Ergue a pau o alambrador
E os buracos vão brotando
E os moirões se enfileirando
Que nem soldados pra guerra.

Um socado de capricho
Pra que ninguém se desgoste
Por grosso que seja o poste,
Não lhe deixa sobrar terra.

Gira a pua sai fumaça
Num moirão de guajuvira
E o alambrado se estira
Tal qual um pinho afinado.

O serrote marca os trastes
Já vem o atilho depressa
Se enroscando na promessa
De viver sempre abraçado.

Rabicho e morto de angico
Pra que o cinronaço agüente
Amordaça, gruda os dentes
Espicha firme o arame.

A chave enrodilha a ponta
Como quem guarda um segredo
Quando escapa e dá nos dedos
Alamaula, dor infame!

À noite á beira da carpa
Ao ver a estrela cadente
Três pedidos, num repente
Faz depressa antes que apague.

E a cada alambrado firme
Tenha outro pela frente
E um piazito sorridente
Para ensinar-lhe o que sabe.

Rabicho e morto de angico
Pra que o cinronaço agüente
Amordaça, gruda os dentes
Espicha firme o arame.

A chave enrodilha a ponta
Como quem guarda um segredo
Quando escapa e dá nos dedos
Alamaula, dor infame!





Gracias Luis

Bailongo no Mato Grande

Bailongo no Mato Grande
(Jayme Caetano Braun, Lucio Yanel)

Um par se vem
Outro se vai, outro que fica
E a gaita louca se desmancha no salcero
Salta faísca com fumaça de candeeiro
Que reberbera no cabelo da marica.

 
A gaita velha muitas vezes é culpada
Do diz que diz que dos cochichos e segredos
Mas o gaiteiro faz de conta e não diz nada
Porque ele sabe que os culpados são os dedos. 


De cada china cada olhar é uma aripuca
Promessa linda que tonteia quando chama
Na vanerita que se adoça e se derrama
Um céu de estrelas nas pupilas da maruca.


Um galo canta, um cusco acoa, um touro berra
E na penumbra a parceira se abaguala
O chinaredo farejou cheiro de terra
E há uma neblina galopeando pela sala.


E a gaita xucra se aveluda, 
Depois se amansa num soluço de ansiedade
E anda nos ares gaguejando uma saudade
Não há quem saiba de onde vem tanta ternura.