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Mostrando postagens com marcador Gujo Teixeira. Mostrar todas as postagens
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Romance de Quem Aprende


Romance de Quem Aprende
(Jairo Lambari Fernandes, Gujo Teixeira)

Junto à cancela Rosa Flor firmava a cuia
E entre um mate olhava ao longe dois campeiros
Que nos seus baios vinham juntos pela estrada
Os seus Marianos pai e filho e companheiros.

Mariano Luna num bagual recém pegado
Bocal e rendas, um galope ia estendendo
Outro mariano, no seu baio cabos-negros
De rédea firme, espora curta e aprendendo.

No corredor seguia o tempo lado a lado
Um domador pra mansidão de mais um potro
E um moço novo que entre prosas e conselhos
Batendo estribos, ia um cuidando o outro.

Rosa Flor entre um sorriso e uma angústia
Olhava os dois como a firmarem um compromisso
Lembrou de um tempo que passou já fazem luas
Quando esse moço era um piá no seu petiço.

Mariano Luna foi chegando pro galpão
Soltando o corpo pronto pra desencilhar
Mas o seu baio, por maleva ou assustado
Já quase manso quis pegar a corcovear.

Mas é aí que a vida encilha e cobra um dia
E o outro Mariano, chegou logo no bagual
E amadrinhando com olhar de quem já sabe
Firmou o baio, pela argola do bucal.

Mariano Luna se ajeitando nos arreios
Por que quem doma até por nada vai ao chão
Viu com seus olhos de confiança e satisfeito
Que suas palavras de saber não foram em vão.

Quem sabe o tempo, domador igual a tantos
Um dia entregue outros potros pra amansar
Vai um Mariano amadrinhando e outro domando
E Rosa Flor na mesma angustia de esperar.

Vai um Mariano amadrinhando e outro domando
E Rosa Flor na mesma angustia de esperar

Junto à cancela Rosa Flor firmava a cuia...

Romance De Outro Mariano

Romance De Outro Mariano
(Gujo Teixeira, Jairo Lambari Fernandes)

Depois das luas Rosa Flor mimava um piá
De olhos calmos, bem querer e olhar risonho
Se o tempo moço tinha espera pra lhes dar
Então a vida lhe entregou bem mais que um sonho

Outro Mariano pra encilhar junto com o pai
Seu peticinho baio ruano e bom de patas
Era um campeiro mal calcando o pé no estribo
De boina negra, de bombacha e alpargata

Mariano Luna lhe ensinava o jeito certo
De encilhar, firmar nas rédeas e sujeitar
Ia contando ao piazito sobre a vida
E o que ela tinha de bom pra ofertar

Pela ansiedade Rosa Flor era um sorriso
Que se perdia entre as flores da janela
Depois de um mate a mesma cena repetiu-se
E os dois Marianos acenaram na cancela

Mariano Luna ai ao passo no seu baio
E o peticinho rédea atada que obedece
Outro Mariano que aprendia ser do campo
Pequeno mundo bem maior do que parece

E Rosa Flor então sabia nos seus mates
Que era o tempo cruzar poucas primaveras
Que o guri ia também encilhar baios
Porque a vida é um ciclo eterno de espera

Mais uma vez a estrada foi e despedia
Pois pra quem fica uma manhã é a vida inteira
E os dois Mariano já voltavam do potreiro
Pra Rosa Flor e sua saudade costumeira

Então o rancho agora em três é bem maior
Bombachas grandes e pequenas no varal
Só o silêncio nunca mais foi o mesmo
Pra um romance que jamais terá final

De Plano Feito

De Plano Feito
(Gujo Teixeira, Luiz Marenco)

Ando assim
De plano feito...
Rumando ventos,
No meu chapéu
Tocando a estrada,
Sempre por diante
Sei que o distante,
É pra lá do céu.

Sou do campo
De alma estradeira
Sonhos contados
Bem na saída.
Pra não cansar
Tranco e paciência
Porque a querência
É pra toda vida.

Vou por conta
Sou destes pagos
E tenho os rastros
Na minha mão.
Um dia volto
Se Deus quiser
- mas se não der -
Vou ser rincão.

E assim pra sempre
Eu vou ficar
Pelos galpões
Entre a gauchada.
Pra cada um
Fica meu canto
Um rumo e tanto
Na mesma estrada.

Pois hoje sigo
Campeando a volta
E um ideal
Que sonhei pra mim.
Cavalo bueno
Porque a vida
É tropa estendida
Pro mesmo fim...

Mais quem conhece
E sabe o jeito
De plano feito
Vai mais além...
Não desencilha
Em qualquer ramada
E escolhe a estrada
Que lhe convém...

Bem Gaúcho Deu Pra Ver

Bem Gaúcho Deu Pra Ver
(Gujo Teixeira, Érlon Péricles, Ângelo Franco)

Que taura bem entonado aquele que vem na estrada
Vem numa pose de chefe, embora não mande nada
Vem faceiro escramuçando uma rosilha bragada
Que não come o ano inteiro, mas em setembro é amilhada

Os “arreio” do pachola, até se param “engraçado”
É um xergão de carda grossa, mas pequeno e desfiado
Pra sentar bem a carona, de couro seco empenado
Vai um basto duas “cabeça” da marca “Lombo Pisado”

Um loro de cada de cada pêlo, por supuesto remendado
Estribos de dois tamanho, um liso e um “trabaiado”
Sem se falar dos “pelego”, tingido e já punilhado
E a cincha no osso do peito, com uns 8 fio remendado

E assim se vai pela estrada, pachola abanando os “trapo”
Se sentindo um farroupilha, muito mais do que um farrapo
Com a mesma fibra de antes que a História mostra o porque
Embora meio estropiado, bem gaúcho, deu pra ver

Bem gaúcho, deu pra ver, assim se vai pela estrada pilchado no próprio ser

Vai num bocó nos “arreio”, Creolin e umas “bolacha”
No outro pra contrapeso, meio litro de cachaça
Nos tento duro e sem sova um laço de 12 braça
Remalhado “quaje” todo e há mais de ano não laça

Os “apero” corda chata são de feitio caprichado
Da marca do velho Guiba, por ele mesmo emprestado
Da pilcha nem se comenta, é uma bombacha amarela
E umas espora bem grande pra conversar com a barbela

Chapéu desabado e torto, um lenço azul, desbotado
Por sobre a camisa branca, com nome de um deputado
Faca de prata e revólver abraçados na guaiaca
Com 120 moedas que valem mais do que a faca

Pra Poncho Que Topa Vento

Pra Poncho Que Topa Vento
(Luciano Maia, Gujo Teixeira)

Venho do campo, onde a indiada se governa
E tem mais força na perna, quando cobra as precisão.
Firmo as esporas, onde a estrela da roseta
Risca o couro da paleta, no susto de um redomão.

Cavalo novo, que se assusta é um causo feio
Há de se firmar no freio, mas com jeito e mão certeira.
Por quase nada, se corta a boca de um pingo
Ainda mais se um domingo, se cruza a segunda-feira.

Faz muito tempo, que estendo pingo na estrada
E ando de espora atada, calçando no estrivo as bota.
Mais tempo ainda, venho aprendendo com os outro
Que é o lombo de um potro, que deixa as pernas cambota.

O Tio Lautério, me deu um baio de regalo
Que é um rancho de cavalo, de cruzá o mundo encilhado.
Me disse ele, que com calma e corda forte
E um arremedo de sorte, se faz um pingo domado...

E me garante, que com pingo que se assusta
Geralmente a gente custa, pra tirar sestro e mania.
Pois acredita em bocal, espora e reio
Pro causo dum tempo feio, se topar com ventania.

Um dia desses, acomodo um do meu jeito
E aperto no osso do peito, a cincha no meu lobuno.
E num trancão, no Tio Lautério me apresento
Pra mostrar o fundamento das doma do seu aluno.

Pois sou do campo, donde nasce o pega-pega
E a potrada ainda se nega, quando o vento faz assombro.
E já lhes disse, donde hay razão, hay sustento
E poncho que topa vento, sabe quem vai pelos ombros!


Romance De Quem Parte

Romance De Quem Parte
(Jairo Lambari Fernandes, Gujo Teixeira)

De manhã cedo Rosaflor cevou o mate
Com erva buena, maçanilha e despedida
Pra ofertar com mãos de espera ao seu amado
Antes que a estrada lhe contasse da partida

Mariano Luna do galpão trazia um baio
Bueno de boca pra entregar noutra estância
Um baio claro feito a lua que esses tempos
Foi sua guia e companheira nas distâncias

Roncou o mate do estribo na cancela
E um silêncio tomou conta do lugar
Deixando apenas dois olhares se encontrarem
Que Rosaflor ficou sem jeito pra falar

Mariano Luna ia num baio frente aberta
Pilcha bonita, deu de rédea e disse adeus
E Rosaflor, a flor mais linda do rincão
Tomou o mate pra beijar os lábios seus

Mariano Luna só levou poncho e mais nada
Um gosto bom e uma certeza pela boca
É só um dia de estrada e quem partiu
Volta pro rancho que a saudade não é pouca

Em frente ao rancho Rosaflor olhava ao longe
Dois baios mansos e um amor seguirem a estrada
Depois deixou cuia e cambona recostadas
E foi lavar seus sonhos todos junta à aguada

Assim a estrada novamente foi distância
Mas esta vez por ter retorno e boas vindas
Mariano Luna que seguia sempre os ventos
Agora tinha os olhos claros da sua linda

Mariano Luna, o domador, levava um baio
Também de tiro uma saudade de quem parte
E Rosaflor juntou mais jujos pelo campo
Para lhe esperar no fim da tarde com outro mate!

A Memória Da Pedra


A Memória Da Pedra
(Gujo Teixeira, Cristian Camargo)

Era pedra e seguiu pedra
Por eterna, a vida inteira
Que um dia ficou no campo
Cansou de ser boleadeira.

A pedra da boleadeira
Nesta terra se perdeu
Mas nos meus olhos de campo
Um dia assim, renasceu...

Brotou do ventre da terra
Com paciência secular
Esperando pra ser vento
E assim, de novo voar.

Não voou por muitos anos
Perdida das outras duas
Mas sempre guardou a forma
Redonda, em feito de lua...

Foi surgir desenterrada
Do mesmo jeito que veio
Junto de um cocho de sal
Num parador de rodeio.

Pela lembrança da terra
Muitos séculos de história
Que guardou fundos de campos
No rastro de sua memória...

Por fora suja de terra
Mas com mistérios por dentro
Mostrando o vinco do couro
Bem recortado em seu centro.

Trezentos anos talvez!!!
Renascida sobre a terra
Mansa, serena qual pedra
Quem já foi arma de guerra.

No alto de um coxilhão
Bem onde foi esquecida
Ganhou palavra de terra
Pois meu olhar lhe deu vida

Das mãos de um índio charrua
Pra minhas mãos de campeiro
A pedra da boleadeira
Tem sempre rumo certeiro...

Romance Para Quem Chega


Romance Para Quem Chega
(Jairo Lambari Fernandes, Gujo Teixeira)

Um dia desses Rosaflor olhava um sonho
Na sanga clara junto à sombra do arvoredo
Guardava um beijo pra entregar quando voltasse
E uma palavra que ainda pouco era um segredo.

Mariano Luna no galpão cevava um mate
Cuidando um baio que escarceava com buçal
Foi quando a tarde então pintou-se de outono
Era sua linda que apontava no portal.

Rosaflor chegou de manso, como chegam
Notícias boas, brisa e sol e um novo dia
E então contou das tantas luas que viriam
Até que o rancho ia encher-se de alegria.

Mariano Luna nem cabia em seu sorriso
Tomou um mate e mais outro sem notar
Passou a mão sobre o ventre da sua prenda
E viu que o tempo tinha esperas pra entregar.

Toda alegria resumiu-se num abraço
E num silêncio igual à calma do rincão
Que se ouviu o canto claro de um barreiro
Moldando um rancho na janela do galpão.

Foi um cantar de anunciação ele sabia
Outro casal que erguia um rancho na querência
Era o destino que entregava a luz da lua
Pra junto à flor deixar raiz e descendência.

E Rosaflor falou da casa e das bonecas
Das coisas boas que essa vida ia lhes dar
Mariano Luna já pensou num rancho novo
E de amansar um peticinho pra o piá.

Agora era só o tempo dessas luas
Que sabem bem de o ciclo certo das esperas
Trazer a vida num sorriso de um piá
Ou de outra flor que chegará com a primavera.

Mariano Luna nem cabia em seu sorriso
Tomou um mate e mais outro sem notar
Passou a mão por sobre o ventre da sua prenda
E viu que o tempo tinha esperas pra entregar.

Toda alegria resumiu-se num abraço
E num silêncio igual à calma do rincão
Que se ouviu o canto claro de um barreiro
Moldando um rancho na janela do galpão.

Um dia desses Rosaflor olhava um sonho.



Botando Um Pealo

Botando Um Pealo
(Luiz Marenco, Gujo Teixeira)

Um pampa-brazino mocho
Ganhou o mundo da porteira
Levantou terra por touro
E disparou na mangueira.
Eu ajeitava minha armada
Quatro rodilhas e um destino
Um doze braças, de oito
De couro de um boi salino.

Zuniu o vento no céu...
Bateram bombos na terra...
Era um encontro ao acaso
Era um combate de guerra.
Cruzou o pampa-brazino
Meu laço seguiu seu rastro
“Tava” com fome de um pealo
Pois foi lambendo o pasto.

O pampa juntou as mãos
Deu cara-volta e plantou-se
Estendeu umas dez braças
E depois acomodou-se.
Parece que foi rezar
Pra o seu santo protetor...
Mas o meu santo é mais forte
E ainda é pealador!

Pois quando boto um pealo
Meu tirador nem faz conta
Quadro o corpo e só escuto
O estouro na outra ponta.
Deixo assim, que se estenda
Depois que espiche meu laço
Que eu ainda me governo
Seja com jeito ou no braço.

Logo se vem o capataz
Com a peonada apertando
Firma a cabeça e coleia
Por que a marca vem queimando.
E a faca no serviço
Por bem afiada se guia
E deixa um risco de sangue
Coloreando na "viria".

Depois foi um e mais outro
Serviço de tarde inteira
Era um buraco no chão
Na saída da porteira.
Pra resumir essa história
Vou lhes contar como foi:
Quando caia era touro
Depois do pealo era boi...