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O Evangelho Segundo Martin Fierro


O Evangelho Segundo Martin Fierro
(Xirú Antunes,Sérgio Carvalho Pereira)

Do sacramento pampeano
Nasceu o livro sagrado,
O crioulo apostulado
Que a terra testemunhou,
E minha alma forjou
Nas contas do velho tempo,
Os primeiros documentos
Na escrita do pajador.

Com o terço da guitarra
E o sem fim dos descampados,
Sobre o lombo do cavalo,
Defini o dialeto
Ao reforçar o trajeto
Do primeiro cruzador
Que emprestou sua dor
Aos rumos do universo.

Eu que fui , um cristiano
Crucificado em guitarra,
Jamais feri a palavra
Do alfabeto dos fatos,
Ao escrever cada salmo
Acriolado de história,
"Esqueci o que foi ruím
Pra seguir tendo memória".

Do sacramento pampeano
Nasceu o livro sagrado,
O crioulo apostulado
Que a terra testemunhou,
E minha alma forjou
Nas contas do velho tempo,
Os primeiros documentos
Na escrita do pajador.

Com o terço da guitarra
E o sem fim dos descampados,
Sobre o lombo do cavalo,
Defini o dialeto
Ao reforçar o trajeto
Do primeiro cruzador
Que emprestou sua dor
Aos rumos do universo.

Eu que fui , um cristiano
Crucificado em guitarra,
Jamais feri a palavra
Do alfabeto dos fatos,
Ao escrever cada salmo
Acriolado de história,
"esqueci o que foi ruím
Pra seguir tendo memória".

Lembro um amigo e irmão,
Que morreu no meu costado,
Feito eu um tigre alçado,
Que à noite o instintoconduz,
Se eu só lhe fiz uma cruz,
Pois cruz carregou no nome,
É que rezar não consome
A imensa fome de luz.

Me roubaram a claridade
Nesta vida de desterro,
Um cortejo de enterro
Foi minha passagem na pampa,
Minhas mortes foram tantas
Que eu aprendi o segredo
De pulsar ferro sem medo,
Quando a foice se levanta.

E afinal ressucitei
Na biblia capa de couro,
Eu, minha adaga, meu mouro,
Meu evangelho, minha lei,
Toda fronteira troquei
Pela imensidão do verso
E fui viver no universo
Das almas que não tem rei.

Pampa

Pampa
(Rodrigo Bauer, Fabrício Harden)

A Pampa é um país com três bandeiras
E um homem que mateia concentrado,
Seus olhos correm por sobre as fronteiras
Que o fazem tão unido e separado!

A Pampa é um lugar que se transcende,
Fronteiras são impostas pelas guerras;
“y el gaúcho”, com certeza, não entende
Três nomes, três brasões pra mesma terra!

O campo a se estender, imenso e plano,
Alarga o horizonte “mas allá”...
Talvez seja por isso que o pampeano
Enxerga além... De onde está!

Assim é o povo fronteiro,
Tropa, cavalo e tropeiro
Vão na mesma vez...
Pátria e querência na estampa,
Somos um só nesta pampa,
Mas se contam três...
Por que se contam três?

Meu verso vem de Jaime e Aureliano,
De Rillo e Retamozo – um céu azul!
Sou Bento e Tiaraju, heróis pampeanos
Da forja desse Rio Grande do Sul!

A voz vem de Cafrune e canta assim,
A rima de Lugones, minha sina,
E a fibra de Jose de San Martín;
A História é quem me inscreve na Argentina!
Meu canto vem de Osíris, voz antiga
Da Pampa que em meu sangue não se esvai...
Comigo vem Rivera, vem Artigas..
Legenda eu sou... No Uruguai

Rumos dessa Pampa Grande,
Viemos dos versos de Hernandez,  
Somos céu e chão...
Todo o pampeano, sem erro,
Tem muito de Martin Fierro
Pelo coração...
Dentro do coração!

Cantadores

Cantadores
(Márcio Nunes Corrêa, Fabiano Bacchieri, Joca Martins)

Cantadores...
São os galos que despertam a estância e sua gente
Quando esporas em cantiga madrugam o continente.
O cantochão dos cavalos no movimento da indiada
E um latido ovelheiro por clarim da campereada.

Cantadores...
O entono do passaredo na crista de um pessegueiro
Que chamando a primavera sabem das flores primeiro,
Um casal de quero-queros lembrando o ninho dos seus
E os ventos daqui do sul que são assobios de Deus.

Um cantador...
É um sentimento que canta,
Tendo o corpo por imagem
E a alma como garganta.
Cantadores somos todos nós
Quando mostramos nos olhos
Nosso amor pela pampa.

Cantadores...
São os bastos que ringindo vão moldando as caronas
Quando um veiáco se pega ou se carrega uma dona.
Os cascos dos bem domados cruzando na cruz da estrada
Onde alguém deixou seu canto porquê foi cedo e mais nada.

Cantadores...
Os bois seguindo o aboio, mugindo no corredor,
A cordeirada berrando a própria paz no parador,
Pirilampos que a tardinha cantam luzindo boieiras
Num contra-canto a coscorra da gateada escarceadeira.

Cantadores...
...cantam bem mais que suas dores!

Os Olhos Do Meu Cavalo

Os Olhos Do Meu Cavalo
(Gujo Teixeira, Cristian Camargo)

Aos poucos vão indo embora
As coisas que eu mais gostava...
Quando morreu meu cavalo
Por certo Deus descansava.

Era uma tarde de outubro
Com silêncio de sol-por
Um vento nas madressilvas
Ventava anúncios de dor.

No céu azul do potreiro
A corvada, em vôos rasos,
Trazia garras de morte
Mas a gente nem fez caso.

Quando a manhã veio cedo
Na recolhida pra encilha
Faltava um baio cebruno
Na forma da minha tropilha.

Um peão de olhos baixos
De freio e mango na mão
Me disse com dor na alma:
- Morreu seu baio, patrão!

As crinas entre as macegas
Cardavam teias de aranha
Que a manhã, ainda agora,
Tinha posto na campanha

E os olhos do meu cavalo
Que há pouco não viam nada
Já tinham ganhado o céu
Pelas garras da corvada!

Ficou um silêncio largo
Talvez faltando um relincho...
Só um choro pelo arame
Pelo cantar dos pelinchos.

Olhando o baio estendido
Pensei bem quieto comigo...
Isso não é coisa parceiro
Isso não é coisa parceiro
Que se faça com um amigo!

Coisa triste de se ver
Um amigo desse jeito...
Ontem mesmo lhe apertei
A cincha no osso do peito!

E hoje lhe vejo assim
Posto em partida, sem viço...
Se Deus bem sabe o que faz
Não tava sabendo disso!

As crinas entre as macegas
Cardavam teias de aranha
Que a manhã, ainda agora,
Tinha posto na campanha

E os olhos do meu cavalo
Que há pouco não viam nada
Já tinham ganhado o céu
Pelas garras da corvada!
Já tinham ganhado o céu
Os olhos do meu cavalo!

Se vai embora o meu baio
O pingo que eu mais gostava
Quando morreu meu cavalo
Quando morreu meu cavalo
Por certo Deus descansava

Não Era Pra Ser

Não Era Pra Ser
(Márcio Nunes Corrêa, Hélvio Luis Casalinho, Fabiano Bacchieri)

Foram três luas amanunciando um potro
E nem sinal de se entregar prás corda
Olhar de mau, meio frestiando a franja
Coiceando a sombra desde que o sol acorda

É o sereno da manhã de maio,
De quando um bufo despertava a cena
Falsa quietude atada ao palanque
Imagem xucra de um mouro pavena

Filha pequena, flor do meu jasmim
Pelo terreiro num semblante em festa
Sonhando cores n’alguma cantiga
Na liberdade que a inocência empresta

Como um lampejo brincou rumo às patas
Meiando a franja no garrão do potro
E eu no assombro da encruzilhada
De correr por pai ou de rezar pro outro

Nem a forneira fez cantar de ensaio
E até o vento mermou no arvoredo
As quatro patas igual a um palanque
Se enraizaram a esconder segredos

Então a prece que ecoou distância
Fez a flor linda pintar os meus braços
O próprio maula quis poupar a infância
Pela pureza de seus ternos traços

Me dá a cabeça pra eu tira o bucal
Assim com jeito vou te dar benção
E nesse lombo apenas geadas
Vão fazer pátria pela gratidão

Potro Sem Dono

Potro Sem Dono
(Paulo Portela Fagundes)

A sede de liberdade
Rebenta a soga do potro
Que parte em busca do pago
E num galope dispara
Rasgando a coxilha ao meio
Mordendo o vento na cara.

Bebe horizonte nos olhos,
Empurra a terra pra trás
Já vai bem longe a figura,
Mostra um caminho tenaz
Da humanidade sofrida
Que luta em busca da paz

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Se a morte lhe faz negaça,
Joga na vida com a sorte
Desprezo da própria morte,
Não se prende a preconceitos
Nem mata a sede com farsas,
Leva um destino no peito.

Na seiva das madrugadas
Vai florescendo a canção
Aquece o fogo de chão,
Enxuga o pranto de ausência,
Esta guitarra campeira,
Velho clarim da querência.

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Pra Quem Solta Um Cavalo

Pra Quem Solta Um Cavalo
(Fabiano Bacchieri)

Me fui rumo a tarde campeando horizonte
Um passo de tropa pela sesmaria
Buscando o verde mais verde da várzea
No fundo do campo mais fundo que havia

De um lado de um zaino seguia a cadência
Um vento abanando as rédeas torcidas
Do outro o tempo fazendo a culatra
Tocando por diante as coisas da vida

E eu na forquilha tristeza inquietude
Bombeava pra o tozo cuidando o embalo
Levava na alma uma dor estropeando
E as penas de um taura que solta um cavalo

E o pingo sereno rumando pra o fim
Da pátria de bastos das lidas buenaças
Até pressentia inquietando o coscoz
Num garbo sulino de cruzar em praça

Um bater de argola cinchão barrigueira
Carona e xergão boleados no pasto
Fumaça no lombo, suor escorrido
E um tempo findando do peso dos bastos

Na troca das garras no meio do campo
Havia um nada fazendo a escolta
E o tordilho parcero olhando parado
O aperto da cincha no zaino da volta

E dizem que fletes não sabem nem sentem
Que vivem por pouco por conta dos anos
Mas o meu cavalo por certo entendeu
Que foram se os dias de fibra e tutano

Que soltei um amigo entenda quem queira
Cumpria o mandante que na autoridade
De uns pilas herdados sentiu o direito
De soltar pro mundo minha outra metade

Quando levei a mão por detrás da orelha
Ladeou o pescoço, roçou no meu braço
Sonando impaciente pedindo retorno
Qual filho que parte querendo um abraço

Virou a cabeça direito ao lagoão
Num adeus de campanha que a franja abanou
E viu refletido nos seus próprios olhos
O sal da saudade que um homem chorou

Por isso que hoje me ajustei de peão
Caseiro de estância, o tordilho sou eu
Por conta dos anos pulpando solito
As penas de um taura que espera por Deus

E sempre me aquieto mateando constante
Bandiando minha´lma que vem ajojada
Num sonho antigo de ouvir pataleios
Daquele tordilho nalguma canhada.


Colaboração de LUTIANI ESPELOCIN, gracias pelo costado

Os Da Última Tropa

Os Da Última Tropa
(Sérgio Carvalho Pereira, Luiz Marenco)

A poeira dos cascos,
Baixava de manso,
Ganhando a canhada,
E o eco morrente da tropa pesada,
Termava no léu,
Como envolto em um véu,
Um par de aspas claras,
A Deus levantava,
Um franqueiro ponteava
Mugindo tristonho,
Olhando pra o céu.

O capataz pensa em seis dias de marcha,
E mais cinco rondas,
E bombeia o horizonte,
Pra ler pela barra
Que a chuva não vem.
Com os anos que tem,
Encordoa a tropa
Que estende e se alonga,
Pra rede do areal o passo do rio,
Até embarcar no trem.

Se finava o maio,
Que já fora mês de tão grandes tropas,
Campeiros regressam em capas e ponchos,
Depois de dez dias.
Como estátuas de cerne,
Quebrados de aba,
E batidos de copas.
Descortejam a volta,
Coruja na trama,
A estrada vazia.

Se foram sumindo os da última tropa,
Na volta da estrada.
E um ventito sureño.
Assobiava cantigas,
Chamando a invernia.

Vai com mãos macias,
Brincando com areia
De apagar pegadas
Das tropas mais nada,
Que marcas de fogo pelas sesmarias.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão debaixo dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão debaixo dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

Se finava o maio,
Que já fora mês de tão grandes tropas,
Campeiros regressam em capas e ponchos,
Depois de dez dias.
Como estátuas de cerne,
Quebrados de aba,
E batidos de copas.
Descortejam a volta,
Coruja na trama,
A estrada vazia.

Se foram sumindo os da última tropa,
Na volta da estrada.
E um ventito sureño.
Assobiava cantigas,
Chamando a invernia.

Vai com mãos macias,
Brincando com areia
De apagar pegadas
Das tropas mais nada,
Que marcas de fogo pelas sesmarias.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão debaixo dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

E vira a primavera e o pasto rebrota
Esquecido do fogo,
Já pro ano nas safras,
Não cruzaram xucros pelo corredor,
Sobram os homens do basto,
E do meio um capão que baixou dos pelegos.
Culatriar seus recuerdos,
Com as cercas da estrada,
Gritando em fiador.

Eeeera boi!