Décima do Candinho Bicharedo
(Francisco Alves)
Toda mentira pode ser verdade
Toda verdade pode ser mentira
Candinho enganou a vida
E partiu mentindo pra eternidade
"Eu vim pra contar a estória
De alguém que já morreu
Sempre contando lorotas
Por este mundo de Deus"
Candinho provou ser ligeiro
Acendendo um palheiro
Na chispa do raio
Ganhou uma carreira do vento,
Outra do pensamendo
Montado num baio
Contava que em horas de apuro
Num potreiro escuro
Seu pingo buscou
Pensando montar seu tubiano,
Num bárbaro engano
Um tatu gineteou
Com toda a força do braço
Jogou o seu laço pialou uma estrela
Prendeu-a a guisa de espora
Montou o destino e saiu campo afora
Candinho Bicharedo sou capaz de apostar
Que até pra Deus, agora, estás mentindo
Imagino até vê-lo sorrindo
Fingindo acreditar em suas aventuras
Lorotas tão puras...
Lorotas tão puras...
E assim eu contei a história
De alguém que já morreu
Sempre contando lorotas
Por este mundo de Deus.