Cadastre seu e-mail e receba as atualizações do Blog:

Mostrando postagens com marcador Noel Guarany. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Noel Guarany. Mostrar todas as postagens

Meus Dois Amigos

Meus Dois Amigos
(Jayme Caetano Braun, Noel Guarany)
     
Um zaino negro de pechar num touro
Bem na paleta e de cruzar por cima
E cabresteando no costado o mouro
Mais agarrado do que amor de prima

O zaino é manso do andar das chinas
O mouro é quebra e só respeita o dono
Mas são dois cuscos sacudindo as crinas
Que até nem dormem prá cuidar meu sono

O mouro é um tigre de escorar num upa
Até um turuno num aperto bravo
De levantar um rancho na garupa
De manotear se for preciso o diabo

Não tenho pressa porque sei que chego
Ao fim da estrada de gaúcho touro
De dia ao trote do meu zaino negro
De noite ao tranco no meu pingo mouro.

Canção Do Peão Arrieiro

Canção Do Peão Arrieiro
(Noel Guarany)
     
Em primeira e segunda é que canta o peão arrieiro
Em primeira e segunda é que canta o peão arrieiro
Carregadito de penas campeireia o dia inteiro
Em primeira e segunda é que te canta o peão arrieiro

De noite lá fazenda forma roda galponeira
De noite lá fazenda forma roda galponeira
Canta o peão as suas queixas pra ingrata linda e faceira
Em primeira e segunda num estilo de fronteira

Será que o patrão não quer me empregar de peão posteiro
Será que o patrão não quer me empregar de peão posteiro
Ergo um rancho pra minha linda e campeireio o ano inteiro
Em primeira e segunda é que se queixa o peão arrieiro

Por isso mesmo que eu canto deste jeito meu parceiro
Por isso mesmo que eu canto deste jeito meu parceiro
Em primeira e segunda num velho estilo campeiro
Em primeira e segunda é que te canta o peão arrieiro.

Eu E O Rio

Eu E O Rio
(Glênio Fagundes, Noel Guarany)

Mateando a sede do pago
Na sonolência das margens
Sobre um espelho de imagens
Passa o rio tranqüilamente

Estrada clara de seiva
Lua de estrelas prateado
Onde peleia o dourado
Na boca dos espinhéis

Peregrino dos caminhos
No rumo dos horizontes
Adeus no calor dos ninhos
Acena o sonho dos montes

Meu corpo, barca perdida
Entre canções despraiando
Passando no rio da vida
Vagando, sempre vagando

Debruça em sono a barranca
Deslisa a balsa sonhando
Por entre nuvens rogando
Mistérios dos aguapés

Nunca retorna ao caminho
Desmaiado em suas ânsias
Mergulha pelas distâncias
Sem saber bem o que quer

Meu corpo, barca perdida
Entre canções despraiando
Passando no rio da vida
Vagando, sempre vagando

Peregrino dos caminhos
No rumo dos horizontes
Matando a sede da terra
Vivendo a sede de andar.

Gaudério

Gaudério
(Aureliano De Figueiredo Pinto, Noel Guarany)

Na estância toda a semana
Campereei de sol a sol
E hoje é Sábado e com gana
Me corto a ver a tirana
Com duas braças de sol.

Num zaino negro galhardo
Abro o pala em cima d’anca
E alarga bombacha branca
Sobre a badana de pardo
Fogoso pingo estradeiro
Sabe onde vou e onde vai
E segue mascando o freio
A galopito no mais.

Nas quebradas e coxilhas
As canções das sangas claras
Estão pedindo silêncio
Para os ruflos do meu lenço
E o alvoroço do meu pala.

Sobe dos pastos do chão
De toda a quieta querência
O cheiro fino da essência
Chinóca e manjericão.

Chego enfim à paizanita
Dis-me adeus num lindo momo
Com a graça humilde e esquisita
Que hay na flor do cinamomo

E no aconchego do rancho
Dentro da noite invernal
Paira um campeiro perfume
Da flor guaxa entre o xircal
Cai geada e o flete relincha
Tranqueando a soga arrepiado
Olha a noite pela frincha
Inté o silêncio é gelado.

É um frio que ninguém se arrima
Que hai até em noites daquelas
Neve coalhada lá em cima
Nas cositas das estrelas.
E os nossos peitos amantes
O ar parece que corta
Como os fogões dos andantes
Acesos na noite morta.

Fandango Na Fronteira

Fandango Na Fronteira
(Noel Guarany)

Vou te contar bem direitinho,
De um fandango na fronteira;
Vaneirão se dança chote,
Também se dança rancheira;
Os gaúchos são valentes,
E as chinocas são faceiras;
E os índios tinem esporas,
No balanço da vaneira!

Este fandango que eu falo,
É na fronteira do estado;
Primeira estância da querência,
No Rio Grande é o mais falado;
E lá dos pagos missioneiros,
É a catedral chucra do pago!

Prá dançar lá na fronteira,
O salão sempre é folgado;
São gaúchos caprichosos,
Sempre estão bem arrumados;
Guaiaca, bombacha larga,
Lenço branco ou colorado!

Vou te contar bem direitinho,
Das chinocas missioneiras;
Dos olhares feiticeiros,
Carinhosas e candongueiras;
Umas que são argentinas
E outras que são brasileiras!

Quando vem clareando o dia,
Que já termina o fandango;
Se ouve o ronco dos trinta,
E o forte estalo de mangos;
Mas não é briga, não é nada,
São os gaúchos pacholeando!

E foi assim que eu te contei,
Que é um fandango na fronteira;
Vaneirão se dança chote,
Também se dança rancheira;
Os gaúchos são valentes,
E as chinocas são faceiras;
E os índios tinem espora,
No balanço da vaneira!

Romance Do Pala Velho

Romance Do Pala Velho
(Noel Guarany)

Uma vez fui na cidade
Na maldita perdição
Lá perdi meu pala velho
Que me doeu no coração
Quando voltei da cidade
Vinha com dor na cabeça
Cheguei fazendo promessa
Deus permita que apareça

Encontrei xiru do posto
E não deixei de maliciar
Quem achou meu pala velho
E não queria me entregar
Fui dar parte ao comisário
Ficou prá segunda-feira
Me levaram na conversa e
Se foi a semana inteira.

Veja as coisas como são
Como se forma a lambança
Que pelo mau dos pecados
Era o forro das crianças
Com este meu pala rasgado
Passava campos e rios
Com este meu palinha velho
Não temo chuva nem frio.

Foi forro para carpetas
Em carreiras perigosas
Inté serviu de agasalho
Prá muitas prendas mimosas
Inté nas noites gaudérias
Meu pala soltito ao vento
E abanando pachola
Pras luzes do firmamento

Informem nas vizinhanças
Este triste sucedido
Quem tiver meu pala velho
Que prendam este bandido
Neste mundo todos morrem
Da morte ninguém atalha
Me entreguem meu pala velho
Prá mim levar de mortalha.

Filosofia De Gaudério

Filosofia De Gaudério
(Noel Guarany)
     
Senhores peço licença,
Licença pede atenção.
Pois junto com meu violão
Num estilo missioneiro,
Num lamento bem campeiro,
De gaudério payador.
Porque gaúcho senhor
Que em toda pampa existe,
É o homem que canta triste:
Por isso nasci cantor.

Peço perdão aos senhores,
A minha chucra linguagem,
Pois nela eu trago a imagem
Da pampa de muitos anos.
De índio sul-americano,
Bordoneado de heroísmo,
Que o meu crioulo ativismo,
Num gesto de reverência,
Força minha inteligência:
Ser poeta sem catecismo.

Eu aprendi cantar versos,
Em faculdade campeira,
Em reuniões galponeiras
E em bolicho de campanha,
Tomando um trago de canha,
Para afinar a garganta,
Pois necessita quem canta,
A inteligência agitada,
Se acaso levar rodada
Dá um gritito e se levanta.

São versos de selva e campo,
Se perdem ao vento teatino,
Repontando meu destino,
Campeia meu pensamento,
Seguem juntitos com o vento,
Se amadrinhando comparsas,
Qual duas nuvens esparsas,
Em mútuo solidarismo,
Acariciando o lirismo,
De um branco bando de garças.

Andei por terras estranhas,
No mundo muito aprendi,
Desde a língua guarani,
Ao clássico espanhol.
Campereei de sol a sol
Nas estâncias de fronteiras,
Peleei e corri carreiras,
Montei em potro aporreado,
Só honras eu tenho dado
À minha terra missioneira.

Tem muita gente que fala
Do meu viver teatino,
Mas eu tranço meu destino
Como manda a lei divina,
São ordens que vêm de cima
Do patrão onipotente.
Somente a gente que sente,
Se ronda um noite inteira,
Quando uma estrela matreira
Se perde no continente.

Mais triste que urutau,
Mais chucro que o pantanal,
Meu canto tradicional
Há de cruzar mil fronteiras,
Em toadas galponeiras,
Romances do meu rincão,
Num desabafo de peão
Que aprende a cantar sólito,
Quando de noite ao tranqüilo
De medo da solidão.

Nunca vou cantar para o mal,
Meus versos são para o bem,
Muitos caminhos me vêm
Quando me encontro payando,
E se por peão pobre eu ando,
E se me alegro com meu canto,
Meus versos cheirando a campo
Faz-me prever sonhador:
Que se eu nasci pra cantor,
Eu hei de morrer cantando.

Potro Sem Dono

Potro Sem Dono
(Paulo Portela Fagundes)

A sede de liberdade
Rebenta a soga do potro
Que parte em busca do pago
E num galope dispara
Rasgando a coxilha ao meio
Mordendo o vento na cara.

Bebe horizonte nos olhos,
Empurra a terra pra trás
Já vai bem longe a figura,
Mostra um caminho tenaz
Da humanidade sofrida
Que luta em busca da paz

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Se a morte lhe faz negaça,
Joga na vida com a sorte
Desprezo da própria morte,
Não se prende a preconceitos
Nem mata a sede com farsas,
Leva um destino no peito.

Na seiva das madrugadas
Vai florescendo a canção
Aquece o fogo de chão,
Enxuga o pranto de ausência,
Esta guitarra campeira,
Velho clarim da querência.

Vai potro sem dono.
Vai livre como eu.

Balseiros Do Rio Uruguai

Balseiros Do Rio Uruguai
(Barbosa Lessa)

Oba, viva veio a enchente
O Uruguai transbordou
Vai dar serviço p'ra gente.
Vou soltar minha balsa no rio,
Vou rever maravilhas
Que ninguém descobriu.

Amanhã eu vou m'embora
Pra os rumo de Uruguaiana
Vou levando na minha balsa
Cedro, angico e canjerana.

Quando chegar em São Borja,
Dou um pulo a Santo Tomé
Para ver la correntina
E pra bailar um chamamé.

Oba, viva veio a enchente
O Uruguai transbordou
Vai dar serviço p'ra gente
Vou soltar minha balsa no rio,
Vou rever maravilhas
Que ninguém descobriu.

Ao chegar no Salto Grande
Me despeço deste mundo,
Rezo a Deus e a São Miguel
E solto a balsa lá no fundo.
Quem se escapa deste golpe,
Chega salvo na Argentina.
Mas duvido que se escape
Do olhar das correntinas.

Oba, viva veio a enchente
O Uruguai transbordou
Vai dar serviço p'ra gente.
Vou soltar minha balsa no rio,
Vou rever maravilhas
Que ninguém descobriu.

Milonga de Tres Banderas

Milonga de Tres Banderas
(Jayme Caetano Braum, Noel Guarany)

Vieja milonga pampeana
Hija de llanos y vientos,
Chiruza de cuatro alientos
De la tierra Americana;
Vieja milonga paisana
De los montes y praderas,
Tus mensajes galponeras
Trenzaran en la oración
Al pié del mismo fogón
Los gauchos de tres banderas.

Brasileño y Oriental,
Rio-Grandense y Argentino,
Piedras del mismo camino,
Aguas del mismo caudal,
Hicieran, de tu señal,
Himnos de patria y clarin,
Hasta el mas hondo confin,
Bajo el cielo americano,
De Osório-Artigas-Belgramo,
Madariaga y San Martín!

A tu conjuro peliaran,
Vieja milonga machaza
Los centauros de mi raza
Que al más allá se marcharan
Y las hembras te besaran
Con cariño y con amor
Cuando en la guitarra flor,
Enriedada en el coraje,
Fuiste un llamado salvaje
Al corazón del cantor!

Milonga - poncho y facón,
Calandria pampa y lucero,
Grito machazo del tero,
Calor de hogar y fogón,
Milonga del redomón,
Llevando pátria en las ancas,
Milonga de las potrancas
Milonga de las congojas
Milonga divizas rojas,
Milonga divizas blancas.

Blanco y azules pañuelos,
Celeste verde amarillos,
Milonga de los caudillos
Que hilvanaran nuestros suelos,
Milonga de los abuelos
De las cepas cimarronas,
Milonga de las lloronas
Repiquetiando de lejos,
Milonga de los reflejos
En las trenzas de las peonas.

Martín Fierro - El Viejo Pancho,
Blau Nunes y Santo Vega,
Tu sonido gaucho llega
Parido del mismo rancho
a lo largo y a lo ancho
Dibuja el suelo patrício
Cuando el payador de ofício
Repunta en vuelo bizarro,
Lanceros de Canabarro,
Rastreadores de Aparício.

Con tu sonido encadenas
Nel mismo pampa dialecto,
Antonio de Souza Neto,
Poncho - lanza y nazarenas,
Milonga sangre en las venas
De la história que se aleja,
Legenda de pátria vieja
Que hizo del cielo diviza
Con Justo José de Urquiza,
Juan Antonio Lavalleja.

Milonga de tres colores
Punteada en cuerdas de acero,
Cuando el último jilguero
Ensaya sus estertores,
Nosotros los payadores,
De la tradoción campera,
Saldremos a campo fuera,
Por los ranchos y fogones,
Tartamudeando oraciones
Para que el gaucho no morrera.

Pero el jamás murirá,
Gaucho no puede morir,
Es ajes y el porvenir,
Lo que fué y lo vendrá,
La lanza y el chiripá
Podran quedar nel repecho,
Pero - libertad e derecho,
Dignidad y gaucheria,
El patriotismo y la hombria
Los guardamos en el pecho.

Milonga de tres banderas,
Templada por manos rudas,
Mensaje de Dios, sin dudas
Sin cadenas ni fronteras,
Mañana por las praderas
Quando el sol gaucho se ponga
El viento pampa resonga
Con su guitarra de estrellas

Haciendo pátria con ella
Pues donde hay pátria, hay milonga.



Colaboração de LUTIANI ESPELOCIN, gracias pela Milonga!!!