Filosofia De Gaudério
(Noel
Guarany)
Senhores
peço licença,
Licença
pede atenção.
Pois
junto com meu violão
Num
estilo missioneiro,
Num
lamento bem campeiro,
De
gaudério payador.
Porque
gaúcho senhor
Que
em toda pampa existe,
É
o homem que canta triste:
Por
isso nasci cantor.
Peço
perdão aos senhores,
A
minha chucra linguagem,
Pois
nela eu trago a imagem
Da
pampa de muitos anos.
De
índio sul-americano,
Bordoneado
de heroísmo,
Que
o meu crioulo ativismo,
Num
gesto de reverência,
Força
minha inteligência:
Ser
poeta sem catecismo.
Eu
aprendi cantar versos,
Em
faculdade campeira,
Em
reuniões galponeiras
E
em bolicho de campanha,
Tomando
um trago de canha,
Para
afinar a garganta,
Pois
necessita quem canta,
A
inteligência agitada,
Se
acaso levar rodada
Dá
um gritito e se levanta.
São
versos de selva e campo,
Se
perdem ao vento teatino,
Repontando
meu destino,
Campeia
meu pensamento,
Seguem
juntitos com o vento,
Se
amadrinhando comparsas,
Qual
duas nuvens esparsas,
Em
mútuo solidarismo,
Acariciando
o lirismo,
De
um branco bando de garças.
Andei
por terras estranhas,
No
mundo muito aprendi,
Desde
a língua guarani,
Ao
clássico espanhol.
Campereei
de sol a sol
Nas
estâncias de fronteiras,
Peleei
e corri carreiras,
Montei
em potro aporreado,
Só
honras eu tenho dado
À
minha terra missioneira.
Tem
muita gente que fala
Do
meu viver teatino,
Mas
eu tranço meu destino
Como
manda a lei divina,
São
ordens que vêm de cima
Do
patrão onipotente.
Somente
a gente que sente,
Se
ronda um noite inteira,
Quando
uma estrela matreira
Se
perde no continente.
Mais
triste que urutau,
Mais
chucro que o pantanal,
Meu
canto tradicional
Há
de cruzar mil fronteiras,
Em
toadas galponeiras,
Romances
do meu rincão,
Num
desabafo de peão
Que
aprende a cantar sólito,
Quando
de noite ao tranqüilo
De
medo da solidão.
Nunca
vou cantar para o mal,
Meus
versos são para o bem,
Muitos
caminhos me vêm
Quando
me encontro payando,
E
se por peão pobre eu ando,
E
se me alegro com meu canto,
Meus
versos cheirando a campo
Faz-me
prever sonhador:
Que
se eu nasci pra cantor,
Eu
hei de morrer cantando.
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