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Rodeio da Vida

Rodeio Da Vida
(Elton Saldanha, Antônio Augusto Ferreira)

Domando potros alheios gastei a vida
Nos meus arreios clareava o dia
Ficaram tantas saudades da rebeldia
De um potro abanando as crinas na ventania

Se trago as pernas cambota destes cavalos
Caminho igual um marinheiro fora do barco
E sinto muita alegria de haver domado
Fazendo fama nos fletes em todo o pago

Pouco me importa la suerte se o tempo é feio
Se é vida ou morte na sorte monto sem freio
Até minha sombra se assusta e hoje não veio
Qualquer cavalo é cavalo quando chego num rodeio

Então se larga pra mim larga, larga pra mim
Larga, larga pra mim larga, larga pra mim
Os cavalos do Rio Grande vão saber porque que eu vim

De Deus vem o meu destino é o dom do braço
Andar afagando potros para domá-los
Montado sou um centauro homem-cavalo
Se eu ando a pé te juro falta um pedaço
Não refuguei caborteiros para meus bastos
Por mim que arranque ligeiro se é desconfiado
Pior são esses bulidos mal começados
Com ódio e medo nos olhos por aporreados

Negro Bonifácio


Negro Bonifácio
(Luiz Bastos, Antônio Augusto Ferreira, Mauro Ferreira)

Mataram o Bonifácio num comércio de carreira
Caiu o negro peleando para que a morte sotreta
Se espoje na carne preta, sem perguntar: até quando?
Caiu o negro peleando.

Era tão linda Tudinha,
De enfeitiçar qualquer um.
E aquele negro muçum,
Que encanto será que tinha?

Como entender seu achego?
Tinha nas mãos o Nadico!
Tanto moço branco e rico,
E aquele caso com um negro!

Em casos de valentia,
Há sempre um negro no flanco.
Bonifácio fosse branco
Nem história se teria.

Caiu o negro peleando para que a morte sotreta
Se espoje na carne preta, sem perguntar: até quando?

Bonifácio teus direitos permanecem obscuros
Enredados nos impuros caminhos dos preconceitos.

Pago Perdido

Pago Perdido
(Antonio Augusto Ferreira, Everton Dos Anjos Ferreira)

Um rebenque, um freio, um para de esporas
Restos de história onde a saudade esbarra
Quem já foi tropa, mas é tento agora
Afina o coração pela guitarra

Nasci onde nasceu o continente
Sou do tempo das tropas e manadas
Pintei de rubro o cerne dessa gente
Gastei poncho e cachorro nas estradas

Tive tropilhas de pêlo e procedência
Para amansar os rumos da querência

Antes dos bretes e dos corredores,
Rincões abertos para casco e guampa,
As madrugadas de Deus eram melhores
E mais rosadas as manhãs do pampa

Cavalos, gados, campos, armas, sedas,
Relíquias guascas que a memória trago,
Perderam-se nos rumos e veredas
Por onde andou a história do meu pago

Tive tropilhas de pêlo e procedência
Para amansar os rumos da querência.

Entardecer

Entardecer
(Antonio Augusto Ferreira, Everton Dos Anjos Ferreira)

Um matiz cabloco
Pinta o céu de vinho
Pra morar sozinho
Todo pago é pouco.
Todo céu se agita,
O horizonte é louco
No matiz cabloco
De perder de vista.

Amada, amada,
Por viver sozinho
Não me apego a nada

O Minuano rincha
Nas estradas rubras
Repontando as nuvens
Pelo céu arriba.
O sol poente arde
Em sobre-lombo à crista
Quando Deus artista
Vem pintar a tarde.

Amada, amada,
Por viver sozinho
Não me apego a nada

O matiz de chumbo
Predomina agora.
Vai chegando a hora
De pensar meu rumo.
Alço o olhar lobuno
Mais além do poente
Onde vive ausente
Meu sonhar renhuno.

Amada, amada,
Por viver sozinho
Não me apego a nada

Alma de Poço

Alma de Poço
(Antonio Augusto Ferreira, Vinicius Brum)

Madrugada mais lubuna mateio desprevenido
Tenho andado mal dormido com paixões demais pra um
Os meus olhos tresnoitados se voltam mesmo pra dentro
A vida põe sal na boca e o mate não mata a sede

Querência fica distante mesmo andando dentro dela
Que me importa o sol na cara se a alma não amanhece?
Não quero sonhar de novo renascer não vale a pena, ai
Alegria pouco importa quando a vida anda pequena, ai

Solidão bate no rancho já me sabe mais covarde
Vou cultivando um silêncio que vai florescendo à tarde

(Ai, ai, ai... de mim, corpo de moço,
Jeito de rio
Ai, ai, ai de mim, alma de poço,
Peito vazio
Ai, ai, ai... de mim, corpo de moço,
Jeito de rio)



Enviado por Liane