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Mostrando postagens com marcador Rodrigo Bauer. Mostrar todas as postagens
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Pela Querência

Pela Querência
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Minha querência tem várias querências,
O sol atende o chamado dos galos
E acende o pampa com calma e paciência
Emoldurando o campeiro a cavalo!

Lá nas missões, onde a estância inicia,
O bronze canta o seu hino de fé...
Terra vermelha onde brota a poesia
E nunca morre o ideal de Sepé!

Violão e gaita a camperear pela querência...
A voz do tempo a se espalhar por esse chão...
O pampa estampa a nossa própria referência,
O seu mapa é a querência do meu coração!

Tem a fronteira, seus rios e coxilhas;
Sua influência que nos determina...
Campos e várzeas, rodeios, tropilhas
Mesclam Brasil, Uruguai e Argentina!

Pela campanha, a força do braço
Ainda domina o bovino gavião...
Voam nos ventos os tentos do laço
E o cinchador não refuga o tirão!

Na capital uma estátua demarca
Um território de gente campeira
Que, na cidade, conserva essa marca
De sua origem de campo e mangueira!

No coração do Rio Grande a legenda
De quem habita a região mais central...
O sul do sul com seus doces e lendas,
Neve na serra, sol no litoral!

Quatro Cantos Do Planeta


Quatro Cantos Do Planeta
(Rodrigo Bauer, Ângelo Franco)
                       
São quatro irmãos, quatro tentos
De um laço sovado e forte!
Talvez os quatro elementos
Unidos no mesmo porte...
Ou mesmo a rosa-dos-ventos:
Leste, oeste, sul e norte...

...um trevo de quatro folhas
Prenunciando a própria sorte!

A sorte tem quatro faces,
Cada qual com seus atalhos!
Simbolizadas nos naipes
Pra quem conhece o baralho!
Na anca do pingo bate,
Mas volta sem atrapalho...

...a sorte anda num flete
Cola atada a quatro galhos!

São quatro vozes ouvidas
Nas estâncias, nos quintais...
Pelas várzeas estendidas,
Nas coxilhas, capitais...
Vão às vilas escondidas,
Voltam das perimetrais...

...quatro cantos do planeta
Com sotaques regionais!

Quatro pétalas contadas
Que formam um bem-me-quer...
No vento são espalhadas
Por onde o vento quiser!
Mas voltam na mesma estrada,
Cada um quando puder...

...são quatro irmãos, quatro tentos...
Três homens e uma mulher!

O Sábio Do Mate

O Sábio Do Mate 
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

No fundo desse meu mate habita um sábio,
Um velho de barbas brancas que tudo entende...
Das trenas, das longitudes, dos astrolábios;
Encerra tudo o que apaga, tudo o que acende!

Na água – suave remanso – de rio tão largo,
Na erva verde-coxilha virgem de arado;
Procuro a luz do caminho dentro do amargo
No sábio que me responde, mesmo calado...

Pra ele não há segredos, não há mistérios...
Por velho, sovou as rédeas do coração...
Talvez por isso, a lo largo, todo gaudério
Aceita tantos conselhos do chimarrão!

Um dia vai, outro chega, é esta a jornada...
Começa outro caminho se um chega ao fim...
E em cada mate que cevo na madrugada
O velho sábio se acorda dentro de mim!

Quem ouve o sábio do mate, sabe da vida!
Mateia, assim solitário, com toda a calma...
Pois no silêncio do mate, em contrapartida,
Se escuta a voz experiente da própria alma!

Pois dormem dentro da cuia: pialos, bravatas!
A história desta querência em seus alfarrábios,
Sorvida pela memória em bomba de prata...
No fundo desse meu mate habita um sábio!

Pra ele não há segredos, não há mistérios...
Por velho, sovou as rédeas do coração...
Talvez por isso, a lo largo, todo gaudério
Aceita tantos conselhos do chimarrão!

Um dia vai, outro chega, é esta a jornada...
Começa outro caminho se um chega ao fim...
E em cada mate que cevo na madrugada
O velho sábio se acorda dentro de mim!

Pampa

Pampa
(Rodrigo Bauer, Fabrício Harden)

A Pampa é um país com três bandeiras
E um homem que mateia concentrado,
Seus olhos correm por sobre as fronteiras
Que o fazem tão unido e separado!

A Pampa é um lugar que se transcende,
Fronteiras são impostas pelas guerras;
“y el gaúcho”, com certeza, não entende
Três nomes, três brasões pra mesma terra!

O campo a se estender, imenso e plano,
Alarga o horizonte “mas allá”...
Talvez seja por isso que o pampeano
Enxerga além... De onde está!

Assim é o povo fronteiro,
Tropa, cavalo e tropeiro
Vão na mesma vez...
Pátria e querência na estampa,
Somos um só nesta pampa,
Mas se contam três...
Por que se contam três?

Meu verso vem de Jaime e Aureliano,
De Rillo e Retamozo – um céu azul!
Sou Bento e Tiaraju, heróis pampeanos
Da forja desse Rio Grande do Sul!

A voz vem de Cafrune e canta assim,
A rima de Lugones, minha sina,
E a fibra de Jose de San Martín;
A História é quem me inscreve na Argentina!
Meu canto vem de Osíris, voz antiga
Da Pampa que em meu sangue não se esvai...
Comigo vem Rivera, vem Artigas..
Legenda eu sou... No Uruguai

Rumos dessa Pampa Grande,
Viemos dos versos de Hernandez,  
Somos céu e chão...
Todo o pampeano, sem erro,
Tem muito de Martin Fierro
Pelo coração...
Dentro do coração!

A Tropilha Maragata

 A Tropilha Maragata
(Rodrigo Bauer, Fabrício Harden)

Na missioneira São Borja,
Plantada lá na Fronteira,
Tem uma tropilha guapa,
Uma eguada caborteira
Que corcoveia por nada;
Mas oigaletê “porquera”!
Tem a picaça Dondoca
Que sai escavando toca,
“chacoaiando” o calavera!

Na Tropilha Maragata
Quem relinchar “veiaqueia”;
E o Júlio que é o proprietário
Conhece a parada feia!
Vem de família campeira,
Que não se enreda em maneia...
Dizem que foi batizado
No lombo de um aporreado
E até a sua vó gineteia!

Tem a gateada Katurra
Que, na gurupa, é um tufão!
No lombo da Vanessinha
Quem monta já está no chão!
O pintado Pega Leve...
E a zaina Tequila, então?
No basto oriental é certo!
E a Coral pra o basto aberto
Mostra que tem vocação!

Tem a zaina Água Bonita
Para animar o rodeio,
A colorada Doutora
Que receita um tombo feio,
A gateada Castelhana
Que atora o Rio Grande ao meio!
Não sei se acorda amanhã
Quem pega a Camburetã
Bufando que nem rio cheio!

No rincão dessa tropilha
Ninguém respeita cancela,
Até o petiço aguateiro
Já sai batendo tigela,
As “véia” brigam de foice,
Vaca do tambo atropela...
No galpão só tem bandido,
Por qualquer mal-entendido
Voa um pela janela!

De Fronteira E Chamamé


De Fronteira E Chamamé
(Rodrigo Bauer, Luciano Maia)

Quando a alma de fronteira morde o freio e longe vai,
O silêncio se emociona, transformado em sapucay!
O meu baio troca orelhas e parece que prevê
Que o instinto me convoca pra bailar um chamamé!

Troco o flete pelo barco... O Uruguai se faz pequeno
Pra saudade que eu abraço quando abro estes dois remos!
O meu peito tem remansos, camalotes, cachoeiras...
E nas cheias lava as mágoas aumentando as corredeiras!

A bailanta é de campanha, não tem luxo no lugar,
Mas tem uma correntina que acorrenta o meu olhar!
Traz nos olhos dois candeeiros que não cansam de luzir
E a magia da lunita que ilumina Taragüí!

Só quem mora na fronteira sabe o antes e o depois
De quem tem um só destino mas divide ele por dois...
Pois quem ama na argentina mas trabalha no brasil
Traz a alma canoeira recortada pelo rio!

Um cambicho desconhece as fronteiras e a distância,
Não importa se o sujeito é doutor ou peão de estância!
Chega manso e nos envolve, mesmo sem dizer porque
E é por isso que eu me encharco de fronteira e chamamé!

Tino Sestroso

Tino Sestroso
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Eu tenho um tino sestroso de potro maula,
Que mostra o branco do olho pra quem quiser;
A alma que nem um tigre dentro da jaula
E um jeito de olhar a vida como ela é...

A vida é égua gaviona que não se cansa
E ensina a gente do campo sempre bem mais...
Por isso é que sei que o homem de fala mansa
É muito mais perigoso que os animais !

Mas quem me ganha a confiança numa bolada,
Encontra um amigo bueno de coração;
Parceiro sempre de jeito pra uma quarteada
E pode contar nas tarcas mais um irmão...

E assim a alma se amansa de andar no pêlo,
Desarmo as mãos pra cevar o meu chimarrão.
Meu tino xucro retorna pra ser sinuelo
E a vida vem ser tambeira neste galpão !

Porém é sempre preciso ser desconfiado !
Que bom seria se a história não fosse assim !
E o homem fosse sincero que nem o gado
Que pasta comunitário o mesmo capim !

Eu tenho um tino sestroso de gado alçado
E um coração de menino que canta, enfim...
Por bem me levam o pala, o chapéu tapeado !
Por mal nem mesmo um chinelo levam de mim !

De Bigode Repartido

De Bigode Repartido
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Como é lindo e “devertido”
Um “bailezito” campeiro!
Que ao índio mais caborteiro
“le gusta batê fervido!”
Um salão de chão batido
Onde o gaúcho, se espiando,
Esquece a vida bailando
De bigode repartido!

Um gaiteiro distraído
Olhando para as percantas,
Vai animando a bailanta
Numa vaneira, perdido...
E “às vez” um mal-entendido
Faz com que o taura, berrando,
Pare rodeio peleando
De bigode repartido!

E, depois do “assucedido”
Monta no flete seguro
Que sabe enxergar no escuro
O rumo desconhecido...
Traz aguçado o sentido
O pingo de quem peleia
E topa a volta mais feia
De bigode repartido!

Chega assim, amanhecido,
Na estância após o domingo,
Saca os recaus do seu pingo
E encilha um baio temido,
Que sai teso e recolhido,
Troteando de lombo duro
E o índio prevê o apuro
De bigode repartido!

Não se assusta o prevenido
Quando o baio se escancara...
De repente esconde a cara
Não se dando por vencido!
Mas sente o choro doído
Da espora mordendo o couro
No garrão do índio touro
De bigode repartido!

É assim o tempo vivido
De quem é livre qual vento,
Não se enreda em casamento
Nem em nada parecido;
Habita o campo estendido
No ofício de campereá-lo
E cruza a vida a cavalo
De bigode repartido      

Campeiro Cusco E Cavalo

Campeiro Cusco E Cavalo
(Rodrigo Bauer, Pedro Guerra, Joca Martins)

Eles são três companheiros
Distintos na identidade,
Forjando a cumplicidade
No velho ofício campeiro... 
São três irmãos galponeiros
Levados no mesmo embalo, 
Por entre tirões e pialos
Vão resumindo as distâncias
Os três soldados da estância
Campeiro, cusco e cavalo!

Vão patrulhando as lonjuras
Dessa querência estendida
E, em cada etapa da vida,
Vão madurando a procura...
Buscando a volta segura,
Tirando um golpe mais brusco...
Com sol ou no lusco-fusco,
Num dia brando ou mais potro,
Cada um cuida do outro:
Campeiro, cavalo e cusco!

Campeiro, cusco e cavalo,
Timbrados com o mesmo pó!
Campeiro, cusco e cavalo,
Três galhos de um tronco só!

São três monarcas pampeanos
Curtidos de terra e céu,
Ramais do mesmo sovéu
Que, entra ano e sai ano,
Dividem seus desenganos
No exílio desses potreiros;
São confidentes, parceiros,
Pelos verões e invernias,
Nessa imortal trilogia:
Cavalo, cusco e campeiro!

Um deles pensa e repara
Na vida que vai levando,
Os outros seguem troteando
No instinto de quem não pára;
E nessa amizade rara
Que nunca vai separá-los                                 
A pampa, como a saudá-los,
Derrama luz nas planuras
E, caprichosa, emoldura
Campeiro, cusco e cavalo!

Assombração

Assombração
(Rodrigo Bauer, Jari Terres)

No campo da frente das casas da estância
Gritou o quero-quero, anunciando a chegada
O perro criollo alardeou na distância
Ninguém entendeu aquilo por nada

O ermo do campo estendia-se em léguas
Nenhum andarilho se via chegando
Somente as tambeiras, potrilhos e éguas
E o pasto nativo seguia brotando

São tantas as vezes que isso acontece
Os bichos pressentem que alguém vai chegar
E a gente que pensa, às vezes esquece
Que há coisas que os olhos não podem olhar

Barulhos de cascos chegando nas casas
E vozes que chamam por entre arvoredos
Imaginação que por vez cria asas
Ou velhos fantasmas na sombra do medo

A voz das taperas chorando pedaços
De um tempo remoto, em que o pago era moço
Histórias do velho enforcado no laço,
Da moça encontrada no fundo do poço

Taperas, restingas, grotões, cemitérios
Herança de um tempo de adaga e garrucha
Projeta incertezas, crendices, mistérios
No imaginário da gente gaúcha

São tantas as vezes que isso acontece
Os bichos pressentem que alguém vai chegar
E a gente que pensa, às vezes esquece
Que há coisas que os olhos não podem olhar

Barulhos de cascos chegando nas casas
E vozes que chamam por entre arvoredos
Imaginação que por vez cria asas
Ou velhos fantasmas na sombra do medo

O Canto Das Esporas Andarilhas

O Canto Das Esporas Andarilhas
(Rodrigo Bauer, Joca Martins)

Cansei muitos cavalos nas estradas,
Meus olhos se perderam pelos céus...
Carrego tantos sóis e chuvaradas
No feltro desbotado do chapéu!

Tal fosse um touro alçando que se esconde,
Meu sonho segue em mim além do vento...
As vezes vou buscar saber aonde
Se oculta no meu próprio pensamento.

Não tenho mais os braços de pau-ferro,
Mas muitas cicatrizes pelo couro...
E ouço, no silêncio, um triste berro
Do gado que levei pro matadouro...

Conheço a nostalgia e a paciência;
Carrego a imensidão nos meus aperos...
A estrada sempre foi minha querência
Na vida cotidiana de tropeiro...

E o canto das esporas andarilhas,
Repete-se em prenúncio do depois...
Pra sempre vou seguindo as mesmas trilhas,
No passo de quem vai junto dos bois...

Enquanto eu estradeio neste tranco,
O tempo anda correndo a evolução...
Eu fico com estes meus cabelos brancos
E as tropas vão, sem mim, de caminhão!

Não tenho mais os braços de pau-ferro,
Mas muitas cicatrizes pelo couro...
E ouço, no silêncio, um triste berro
Do gado que levei pro matadouro...

Conheço a nostalgia e a paciência;
Carrego a imensidão nos meus aperos...
A estrada sempre foi minha querência
Na vida cotidiana de tropeiro...

E o canto das esporas andarilhas,
Repete-se em prenúncio do depois...
Pra sempre vou seguindo as mesmas trilhas,
No passo de quem vai junto dos bois...

Enquanto eu estradeio neste tranco,
O tempo anda correndo a evolução...
Eu fico com estes meus cabelos brancos
E as tropas vão, sem mim, de caminhão!

E o canto das esporas andarilhas...