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Mostrando postagens com marcador Matheus Leal. Mostrar todas as postagens
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Pacholeio

Pacholeio
(Adriano Alves, Carlos Madruga)

Pacholeio meu bragado,
Redomão de boca atada
Com olhos de madrugada
E o pelo da noite escura;
Manso pro andar da “chirua”
Que trouxe embaixo do poncho
Depois de um baile de rancho
Benzido com a luz da lua...

Pacholeio a flor vermelha
Que “olfateei” preza na trança
Enquanto floreava a dança,
Com feitiços de candeeiro;
Som de guitarra e pandeiro,
Com resmungos de alpargata
E um grito de “outra volta”
Pra chamarra do gaiteiro.

Pacholeio o lenço branco
Bem atado a meia espalda
Por “galhardão” ou por balda,
Por ser gaúcho, bem pilchado;
Jaleco escuro, bordado
Adaga de prata e ouro
E estrelas pintando o couro,
Nas manchas do meu bragado.

Pacholeio algum “silvido”
Na volta dum corredor
Onde o sereno e a flor
Bailam o silêncio das horas;
E uma coruja “pachola”
Assombra quem quer cruzar,
Com um “encarnado” no olhar
E um canto claro de esporas.

Pacholeio meu bragado
Com olhos de madrugada,
Redomão de boca atada
Que pra “chirua” floreio;
Na noite dos meus arreio
Que trago embaixo do poncho
Depois de um baile de rancho
Benzido num “Pacholeio”.


Intérprete: Matheus Leal


Meu Poncho

Meu Poncho
(Alex Silveira, Matheus Leal)

Meu poncho antigo
Com sua baeta encarnada
Igual ao matiz do pampa
Quando rompe uma alvorada

Permita a comparação
Parece um carnal sangrando
Talvez um sol maragato
Da lenha que vai queimando

Meu poncho véio
Que mostra sua flor madura
Coloreando do avesso
A sua própria moldura

Meu poncho amigo
Companheiro das tropeadas
Um galpão pra minha alma
No frio de alguma pousada

Parceiros da mesma essência
Campeiros do mesmo ato
Escutem o meu silêncio
Só pela imagem dos fatos

Faço minha própria estrada
Nos caminhos da fronteira
Sobre a anca do meu flete
Meu poncho é rancho e bandeira

Comigo andou em peleias
Onde cruzam os ventenas
Mas também serviu de catre
Para o sono da morena

Por isso quando eu me for
Parceiros tirem o chapéu
Por respeito vou levar
Meu velho poncho pra o céu


De Campo e Cidade

De Campo e Cidade
(Alex Silveira, Roberto Luçardo)

Trago rendilhas de sonhos
Pra tironear o bocal
E deixar doce de boca
A vida de ser rural.

Nessa alma teatina
Brotam ilusões de campeiro
Dois mundos que se atropelam
Num coração caborteiro.

Um teima em suas origens
De tapejara da estância
Outro procura uma estrada
Sem se importar com a distância.

Mas aos poucos minhas razões
Vão cedendo em suas vontades
E vejo o campo mais longe
E mais de perto a cidade.

É como o romper de um elo
Separando pai e filho
Um fica remoendo mágoas,
Outra parte é andarilho.

Pois me ausentei dos arreios
Sem impedir o destino
Hoje sou mais povoeiro
Com alma de campesino.


 

Na Sombra Do Cinamomo

Na Sombra Do Cinamomo
(Edilberto Teixeira, Carlos Leal)

Na sombra de um cinamomo
Olhando longe a coxilha,
Meus versos voam pra longe
Nas asas da redondilha.

A cuia, porongo quente,
Parece me acarinhar,
A grama verde me chama,
Vontade de me deitar!

Forro o capim com os pelegos
Pra poder me espreguiçar
Enquanto sorvo o amargo
De um verso rimado em ar.

Campeando o mote pra o verso
Me paro então a cismar,
E as rimas pobres se cansam
E morrem faltando o ar.

Minha alma está de lombeira
E o corpo meio esquisito,
Por mais que eu pense e repense
Não acho um verso bonito.

Sigo olhando as coxilhas
Maneado pelo aconchego
De um verso meio entrevado
Judiando a lã dos pelegos.

Na sombra de um cinamomo
Me espreguiçando com a rima,
O meu verso morreu de tédio
Nas tranças daquela china.


Sinal Certo

Sinal Certo
(Edilberto Teixeira, Matheus Leal, Carlos Leal)

Maçarico voa em bando
Nuvens d’água repontando,
Quero-quero avisa seca
Na lagoa se ajuntando.

Se a seriema águas a baixo
Sai correndo, vai chover.
Se, ao contrário, águas acima
Grande seca vai se ver.

João-de-barro bate palmas
Com a barreira pra cantar.
Êta, bicho mentiroso,
Quer bom dia anunciar!

Quando o burro se bolqueia,
Frente às casas, vai chover.
Saracura, quando canta,
Mesma coisa quer dizer.

Se o cavalo está suando
Sem se ter desaguachado,
“Vai chover de canivete”
Lá pras bandas do cercado.


Florzita

Florzita
(Matheus Leal, Leonardo Gadea, Trajano Jaques)

Nasce sempre junto ao pasto
Dando vida ao campo aberto
Florzita nativa da terra
Que tem seu destino incerto

Por vezes na boca d'um pingo,
Ou talvez da gadaria
É da mesma safra da geada
(Silhueta clara da invernia)

Brota de um jeito terno
Florzita das sesmarias,
Passa frio na madrugada
Mas brilha com a luz do dia

Nasce por perto de aguadas
Com suas pétalas amarelas
Faz parte das invernadas
Deixando as tardes mais belas

Eternizo florzita nesses versos
Tua beleza sem igual
E regalo pra outra flor
Num melodioso ritual

E ao recordar essas flores
Sinto não estar sozinho
Uma é dona da mirada
E a outra dos meus carinhos


Flor De Porongo

Flor de Porongo
(Edilberto Teixeira, Carlos Leal, Matheus Leal)

Moreninha cor de cuia
Que inspira um verso bonito
Curtida pelo infinito
Prazer de um beijo roubado.
Sabor de um mate lavado
Com vício doce da rima...
Cuia de casca morena
Tua essência verde é um poema,
Feitio de um corpo de china.

Porongo, flor de morena,
Parceira do peão solito
Mateando, bem despacito,
Na sombra de um cinamomo.
Desassombrando o abandono
Da tarde linda e gaviona,
Que se vai com o movimento
Do sopro manso do vento
Que imita o chiar da cambona.

Chininha, cuia morena,
Da cor do sol regalito,
Meu verso é um pássaro aflito
Que vem pousar na tua sombra.
Cada vez que eu beijo a bomba
Bebo a paz das horas quietas
Que dormem e acordam em teu bojo,
Roncando o mate do apojo
Da rima de outros poetas.

Moreninha cor de cuia
Cacimba que eu bebo aflito
Quando eu me sinto solito
Sem pátria e sem endereço.
Beijando a bomba eu me aqueço
Porque o mate é um lenitivo.
E, enquanto o beijo não cessa,
Eu bebo a sanga e a promessa
De mais um mate pra o estribo.

Moreninha cor de cuia
Que cabe dentro o infinito,
Com um sentimento esquisito
Te aperto com as duas mãos,
Porque o sabor temporão
Que tens na boca e amargo.
Tua bomba tem os lábios quentes
E a china o aroma envolvente
Desta saudade que eu trago.

Chininha, cuia morena,
Da cor do sol regalito,
Meu verso é um pássaro aflito
Que vem pousar na tua sombra.
Cada vez que eu beijo a bomba
Bebo a paz das horas quietas
Que dormem e acordam em teu bojo,
Roncando o mate do apojo
Da rima de outros poetas.


De Mudança


De Mudança
(Alex Silveira, Carlos Madruga)

Junta os caco muié véia, põe tudo no carretão
Panela, trempe, cambona o meu pala teu colchão
Não te esquece da tua loça, bacia balde e lampião
Vou recolhendo as galinha, uma leitoa emprenhada
Cachorro, gato, marreco, duas tambeiras mojadas
E a petiça piqueteira de pelagem colorada...

Do suspiro ao canta galo vou passa no Tiaraju
Toma um trago no Bugio e posá no Guabiju
Côa mudança toda atada com soga de coro cru...

Levo o mundel do guri, pra não fica resmungando
A caturra e o guaxinho que as cosa vão se ajeitando
Quem parte não deixa nada, se não acaba voltando
Bule, leitera e caneco vão embaixo do pelego
Pra não ir batendo lata estragando meu sossego
Que a viagem vai ser longa, vou parti de manhã cedo...

Do suspiro ao canta galo vou passa no Tiaraju
Toma um trago no Bugio e posá no Guabiju
Côa mudança toda atada com soga de coro cru...

Romance De Estrada E Bolicho

Romance De Estrada E Bolicho
(Otávio Severo, Matheus Leal)

Ranchito viejo de estrada é pulperia
Mostrou o pingo com olhar de pirilampo
Que lua buena tira o pala e faz costado
Pois do outro lado não há mais lugar pra santo

Frente ao palanque desapresilho o cabresto
Proseio baixo lastimando o companheiro
Permisso à pausa e a São Liso e ganho a porta
Acerto a volta e um até logo pra o copeiro

Adentro quieto pensando comigo mesmo
Destino maula que sobrou pra o cavalo
Enquanto um vai bolichando noite a fora
Sem querer o outro segue a esperá-lo

Me sirva aquela branca pura bolicheiro
Que a madrugada não me agarre dos garrão
Final de esquila, folga mansa de domingo
Queria o pingo me tirar deste balcão

Lembrei da linda que romanceia meus sonhos
E da tropilha redomona pra entregar
São mil imagens que habitam o fundo do copo
Velha magia que a canha pode ofertar

Relincha o pingo me convidando pra estrada
Na noite clara sereno o pala abanando
Rimando o canto genuíno das esporas
Me vou embora com a lua de contrabando

Adentro quieto pensando comigo mesmo
Destino maula que sobrou pra o cavalo
Enquanto um vai bolichando noite a fora
Sem querer o outro segue a esperá-lo

Me sirva aquela branca pura bolicheiro
Que a madrugada não me agarre dos garrão
Final de esquila, folga mansa de domingo
Queria o pingo me tirar deste balcão

Ao Trote No Silêncio

Ao Trote No Silêncio
(Evair Soares Gomez, Carlos Madruga)

Da ponta dos cascos bolcando a macega
Ao balanço da perna rodeando as chilenas
Ao trote no silêncio uma noite escura condena
Escutar a cantilena das encilhas do cavalo

Do laço nos tentos o barulho dos guizos
E um relho comprido ao arrastar da pontera
Vai rangendo as basteiras, na carona de couro
E a barbela do mouro sonando ao mascar do freio

Quem troteou no silêncio dessas madrugadas
Teve o estalo da "chala" que mingua o vento
Por birra ou lamento, apura o último pito
Pouco chão pra o ranchito, que não vejo faz tempo

Ao trote atiro o freio o mouro pedindo rédea
O vento deita a macega e se enreda no pega mão.
Golpeia a chave do arame junto a caneca enloçada
Que vem segura nas garra pra o desaiuno do dia

Segue arrodiando as chilenas o casco bolcando o pasto
A ringideira dos basto num recitado poema
A noite escura condena no trotear da madrugada
Romper o silêncio da estrada as encilhas do cavalo

Quem troteou no silêncio dessas madrugadas
Teve o estalo da "chala" que mingua o vento
Por birra ou lamento, apura o último pito
Pouco chão pra o ranchito, que não vejo faz tempo

Madalena Flor Do Campo

Madalena Flor Do Campo
(Rafael Teixeira Chiappetta, Carlos Madruga)

Madalena flor do campo,
Com dois olhos pirilampos,
De arrepiar então o pêlo.

Num domingo de carreira,
Me topei com a boieira,
Com uma rosa no cabelo.

Apeiei do meu picaço,
Já levando um tirambaço,
Do olhar da Madalena.

Num jeitão galanteador,
Fiz ruflar o tirador,
No compasso da chilena.

Era linda aquela china,
Num olhar de relancina,
Vi nos olhos um poema.

E num jeito sem alarde,
Recebi um buenas tarde,
Da xirua Madalena.

Ao sacar o meu sombreiro
Enganando um cavalheiro,
Me acheguei para uma prosa.

O motivo foi pra mim,
Em saber qual o jardim,
De onde veio aquela rosa.

A mais bela flor pampeana,
Esta prenda campechana,
Mais formosa que açucena.

Quando Deus criou as flores,
Pois eu digo pra os senhores,
Se inspirou em Madalena.

Quando então chegou a hora,
No picaço fui-me embora,
E a saudade foi ao tranco.

Nos meus sonhos vêm a cena,
Vejo então a Madalena,
Me abanando um lenço branco.