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Mostrando postagens com marcador Marco Aurélio Vasconcellos. Mostrar todas as postagens
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A Pedra Da Boleadeira

A Pedra Da Boleadeira
(Gujo Teixeira, Mauro Moraes)

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

A pedra da boleadeira era do campo e da terra
Ganhou as asas do céu pra ser palavra de guerra
Quando era pedra redonda, moradora deste chão
De certo já derrubava por conta de um tropicão

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Depois foi feita redonda, eterna em ciclos de lua
Paciência por precisão nas mãos de um índio charrua
Eram só pedras de campo, cansadas de andar à toa
Até que um dia alguém disse: Ah! Será que pedra não voa?

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Ganhou parceiras pra guerra e tentos pra irem ao céu
Uma firme e duas soltas, rodando sobre o chapéu
Voava de rumo e vento fazendo um “zum” pelo rastro
Quando pegava era um tombo, quando cruzava era pasto

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Pra bolear potros velhacos bem antes dos alambrados
A pedra da boleadeira tem ressábios do passado
Hoje em dia nem se enxerga Três Marias pelos céus
Se foi o tempo dos tombos, das potreadas e mundéus

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

Mas sei que ainda destino na pedra, na boleadeira
Que quando tem rumo certo é muito mais que certeira
Mas sei que hay um rumo certo na pedra, na boleadeira
Que quando tem rumo certo é muito mais que certeira

Era pedra, e seguiu pedra, era mato
E virou lenha, era tropa
E se foi embora num grito de venha venha

A Pátria À Beira De Um Rio

A Pátria À Beira De Um Rio
(Martin César Gonçalves, Paulo Timm, Alessandro Gonçalves)

Roda carreta é o destino
Andar por anos a fio
A pátria ainda é um menino
Brincando à beira de um rio

Depois virão as fronteiras
Marcando a sangue esta terra
Trezentos anos de poeira
Da história de tantas guerras.

Range a carreta do tempo
Singrando a pampa sem fim
Seu canto antigo é um lamento
Que eu trago ponteando em mim.

Cerro, canhada... recuerdos
De secas, cheias e geadas
O mundo tranqueia lento
No mesmo andar da boiada

Ferro, madeira... silêncio
Do tempo que tudo acalma
Carreta, estrada... é o vento
Três pátrias dentro da alma

O Mangrulho

O Mangrulho
(Knelmo Alves, Marco Aurélio Vasconcellos)

No distante passado
As lutas da posse
Raizes da raça
Que aqui ficaria

Um rancho perdido
E solito no pampa
E atento mangrulho
Bombeando distâncias

Mangrulho, mirante
Cuidou desta terra
De assaltos cobiças
E sanhas de guerra
E sanhas de guerra

O que era do dono
Com o dono ficou
E o velho mangrulho
No tempo passou

A cobiça estrangeira
Porém nunca passa
Eu a vejo tentando
Dobrar esta raça

Mas cavando raízes
Me emponcho de orgulho
Pois em cada gaúcho
Eu vejo um mangrulho

Astronave de Papel

Astronave de Papel
(Marco Aurélio Vasconcellos, Jaime Vaz Brasil)

É prima dos cataventos,
Mas não vive em cativeiro.
Ela conversa com anjos,
Veste sol no corpo inteiro.

Astronave campesina,
Astronave de papel.
Leva sonhos estrelados
Pelas fronteiras do céu.

Pássaro imóvel nas brisas,
Inquieto nas ventanias.
Asa aberta em tardes claras.
Passaporte de alegrias.

Na armação dessa nave,
Folhas leves e sortidas.
São remendos do espaço,
Com estampas coloridas.

Essa pandorga, tão mansa,
Que à mão dos ventos flutua,
Carrega olhos atentos,
Direto ao mundo da lua.

É uma janela nas nuvens,
Transportando as fantasias,
Do astronauta menino,
Que namora as três-marias.

Gaudêncio Sete Luas Fala de Crendices e Assombrações

Gaudêncio Sete Luas Fala de Crendices e Assombrações
(Luiz de Martino Coronel, Marco Aurélio Vasconcellos)

Eu dormi numa tapera
No inverno a noite dói
Acordei na primavera
Num campo de girassóis

Boitatá é alma penada
Fugindo do purgatório
Tá pedindo água abençoada
E três rezas de ajutório.

É raio pra toda parte
Se não tem um pé de umbu.
Enferruja o bacamarte
Quem dá tiro em urubu.

Dê boa noite se for dia
Ao passar pela arueira.
Vizinha tem simpatia
Pra veneno de cruzeira.

Sorte é fogo de palha,
Alegria é sanga rasa.
Coruja rasgou mortalha
Na cumieira da tua casa.

Olha a mula sem cabeça
Como tesouro dos jesuítas.
Talvez sexta ela apareça
Pulando que nem cabrita.

Canto de Morte de Gaudêncio Sete Luas

Canto de Morte de Gaudêncio Sete Luas
(Luiz de Martino Coronel, Marco Aurélio Vasconcellos)

Silêncio, abanem os lenços,
Chora o vento em despedida.
Gaudêncio, velho Gaudêncio,
Pulou a cerca da vida.

Adaga atirou no rio,
É mais um peixe de prata
Sete Luas já partiu
Com seu poncho cor de mata.

Esporas jogou ao léu,
Boleando a imensidão.
Mandou estrelas pro céu
Quem se deitou nesse chão.

Nas mãos levou sementes,
Nada mais ele precisa.
No eucalipto se sente
Que Gaudêncio virou brisa.

Dormindo em cova rasa,
Sem nome ou data nenhuma.
Se um pássaro bater asas,
É Gaudêncio envolto em plumas.

Quem quer levar oferenda
Pra Gaudêncio em noite escura:
Leve bom trago de venda,
Mate amargo e rapadura.