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Cantiga de Rio e Remo


Cantiga de Rio e Remo
(Aparicio Silva Rillo, José Gonzaga Lewis Bicca)

Olha o dourado que bateu no espinhel
Traz a canoa que rio fundo não da pé
Olha o dourado que bateu no espinhel
Traz a canoa que rio fundo não dá pé

Esta cantiga é muito antiga é muito amiga
Que me acompanha desde o dia em que nasci
Pego a canoa quando eu saio noite afora
Pescando estrelas no Uruguai ou no Ibicuí

Ela é remanso, é cachoeira é lua cheia
Ela é piava ela é dourado é surubi
Ela e o espanto do piá que a vez primeira
Tirou das águas para o solo lambari

É o pão da mesa para fome de quem pesca
O peixe arisco da aventura que há de estar
Na voz humilde de quem canta esta cantiga
Sem outros sonhos que não seja o de pescar

Minha Terra

Minha Terra
(Aparício Silva Rillo)

Sou uma cria da fronteira
Criado a leite de vaca
Eu fui templado ao rigor
Nem mesmo a gripe me ataca
Moro no meio do campo
Lá no capão do xiró
Tenho um cavalo amilhado
E gosto de viver só

Minha mãe uma chinoca
Que usava fror no cabelo
Me pariu a campo fora
Pra ser gaúcho e campeiro
Saiu esse queixo roxo
Há de cumprir sua sina
Sou taura e não cabresteio
Nem com sinuelo de china

Cresci como cresce um touro
Levantando terra e escarvando
Desde o ventre da minha mãe
Já saltei atropelando
Berrando grosso e bem forte
Sobre a costa do Uruguai
Pois sou filho do Rio Grande
Me orgulho de ti meu pai

Intérprete: Mano Lima

Bruxinha De Pano

Bruxinha De Pano
(Aparicio Silva Rillo, José Gonzaga Lewis Bicca)

Bruxinha de pano,
Corpo de trapo,
Olhos de retrós
Encantaste as meninas de outrora,
Que agora são mães e avós

Ninguém mais te lembra, bruxinha de pano
De ti só ficou a saudade cruel
Nuns trapos de chita num fundo de mala
Nos restos de linhas de algum carretel

O mundo hoje é outro, os homens mudaram
E até as meninas de agora não são
Aquelas meninas, de fitas nas tranças
Nanando bruxinhas, no berço das mãos

Bruxinha de pano,
Corpo de trapo,
Olhos de retrós
Encantaste as meninas de outrora,
Que agora são mães e avós

Parece que vejo as bruxinhas de pano
Tornadas humanas por graça de Deus
Dançando uma valsa dolente e antiga
Aos tempos passados, dizendo adeus

O mundo hoje é outro, os homens mudaram
E até as meninas de agora não são
Aquelas meninas, de fitas nas tranças
Nanando bruxinhas, no berço das mãos


 

Timbre De Galo

Timbre De Galo
(Aparício Silva Rillo, Pedro Ortaça)

Rio Grande, berro de touro,
Quatro patas de cavalo.
Quem não viveu este tempo,
Vive esse tempo a cantá-lo
E eu canto porque me agrada
Neste meu timbre de galo.

É verdade que alguns dizem
Que os tempos hoje são outros,
Que o campo é quase a cidade
E os chiripás estão rotos,
Que as esporas silenciaram
Na carne morta dos potros...

Cada um diz o que pensa
Isso aprendi de infância,
Mas nunca esqueça o herege
Que as cidades de importância
Se ergueram nos alicerces
Dos fortins e das estâncias.

Não esqueça, de outra parte,
Para honrar a descendência,
Que tudo aquilo que muda,
Muda só nas aparências
E até num bronze de praça
Vive a raiz da querência.

Eu nasci no tempo errado
Ou andei muito depressa,
Dei oh de casa em tapera,
Fiquei devendo promessa
Mas se pudesse eu voltava
Pra onde o Rio Grande começa.

E se me chamam de grosso,
Nem me bate a passarinha.
A argila do mundo novo
Não tem a mescla da minha,
Sovada a cascos de touro,
Com águas de carquejinha...

Rio Grande, berro de touro,
Quatro patas de cavalo
Quem não viveu esse tempo
Vive esse tempo ao cantá-lo,
E eu canto porque me agrada
Neste meu timbre de galo...

Águas de Rio

Águas de Rio
(Aparício Silva Rillo, José Gonzaga Lewis Bicca)

Cachoeira!...
Rolando...rolando...rolando
...a rolar...

As águas que vinham mansas
Como flete sem espora
Ao tranquilo no mais,
Ao tranquilo no mais...
...se despenham pedra abaixo,
Potro fera, potro macho
A golpear-se sem paz
A golpear-se sem paz...

Eu também sou cachoeira,
Água vinda de rio manso,
Se for fora sou remanso,
Sou por fora sou remanso,
Sou por dentro “rolador”.
Mescla de pedra e guitarra,
Posso ser tigre ou cigarra,
Canto de guerra ou de amor!...
Cachoeira sou!
Canto de guerra ou de amor!...

João Campeiro

João Campeiro
(Aparício Silva Rillo, José Gonzaga Lewis Bicca)

- João Campeiro...
- João Campeiro...

É como um grito de repente que levasse
Um boi na tropa e não o homem que foi João...

E entretanto, no reponte deste grito,
O João Campeiro vai sumindo – já se foi...
Ele que outrora repontava o boi na estrada,
Vai ao reponte, estrada a fora, igual o boi...

Ninguém tem culpa, João,
Ninguém...
Ninguém tem culpa, João, ninguém.
Teria que ser assim,
Tudo o que nasce, um dia tem fim...

Semente boa que deu flor e que deu fruto,
Planta do campo que deu sombra, e que há de dar
O derradeiro galho seco para o fogo
Onde o João novo que nasceu vai se aguentar...

Ninguém tem culpa, João,
Ninguém...
Ninguém tem culpa, João, ninguém.
Teria que ser assim,
Tudo o que nasce, um dia tem fim...

- João Campeiro...
Tudo o que nasce um dia tem fim...

Redomona

Redomona
(Aparício Silva Rillo, Luiz Carlos Borges)

Redomona minha gaita querendona,
No abre e fecha no fole e que vem e vai,
Roncos de onça, assovios de ventanias,
Bater de remos nos remansos do Uruguai.

Redomona minha gaita quicentona,
Mesmo que a aba debochada de um chapéu,
De horizontes que se encolhem que se espicha,
Troõoes e brisas galopando pelo céu.

Duas fileiras, oito baixos por parceiros
Galos canteiros nos puleiros das manhãs
Chio de cambona num borralho pura brasa
Do galpão velho retomado a picumã

Minha parceira, companheira de surungo
China Maria, que amacia minhas penas
Riscando a alma no meu povo queixo duro
Num timbre macho de punhais de nazarena




Enviada por Luis Alessandro da Silva