Timbre De Galo
(Aparício Silva Rillo, Pedro Ortaça)
Rio Grande, berro de touro,
Quatro patas de cavalo.
Quem não viveu este tempo,
Vive esse tempo a cantá-lo
E eu canto porque me agrada
Neste meu timbre de galo.
É verdade que alguns dizem
Que os tempos hoje são outros,
Que o campo é quase a cidade
E os chiripás estão rotos,
Que as esporas silenciaram
Na carne morta dos potros...
Cada um diz o que pensa
Isso aprendi de infância,
Mas nunca esqueça o herege
Que as cidades de importância
Se ergueram nos alicerces
Dos fortins e das estâncias.
Não esqueça, de outra parte,
Para honrar a descendência,
Que tudo aquilo que muda,
Muda só nas aparências
E até num bronze de praça
Vive a raiz da querência.
Eu nasci no tempo errado
Ou andei muito depressa,
Dei oh de casa em tapera,
Fiquei devendo promessa
Mas se pudesse eu voltava
Pra onde o Rio Grande começa.
E se me chamam de grosso,
Nem me bate a passarinha.
A argila do mundo novo
Não tem a mescla da minha,
Sovada a cascos de touro,
Com águas de carquejinha...
Rio Grande, berro de touro,
Quatro patas de cavalo
Quem não viveu esse tempo
Vive esse tempo ao cantá-lo,
E eu canto porque me agrada
Neste meu timbre de galo...